LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA
Padre, tenho tantas dúvidas de consciência! Que devo fazer?
Responderei com o célebre escritor espiritual e grande teólogo o Padre
Perriens. Este, por sua vez se baseia em Santo Afonso Maria de Ligori, que,
como todos sabem é a maior autoridade na Igreja no que se refere à Teologia
Moral.
"Quanto às dúvidas, que podereis ter, relativamente a
pecados que não estais certos de ter cometido, ou a confissões talvez mal
feitas, se quiserdes manifestá-las ao vosso diretor, para maior tranquilidade,
fareis bem, a menos que não sejais escrupulosos; pois, para os escrupulosos,
não aconselho a que confessem as suas dúvidas.
Todavia, é bom que conheçais alguns ensinamentos aprovados
pelos teólogos, que podem livrar-vos de muitas inquietações e dar-vos a paz.
1. Em primeiro lugar, não há obrigação de confessar os
pecados graves, quando duvidosos, ou quando há dúvida de terem sido cometidos
com pleno conhecimento ou consentimento perfeito e deliberado.
Além disso, as pessoas que levaram durante muito tempo vida
espiritual, quando duvidam de ter cometido ou não algum pecado grave, podem
estar certas de não ter perdido a graça de Deus; pois, é moralmente impossível
que uma vontade firme nos bons propósitos mude de repente, e consinta em um
pecado mortal, sem o conhecer claramente; porque o pecado mortal é um monstro
tão horrível, que não pode entrar em uma alma que teve por muito tempo horror a
ele, sem se fazer conhecer claramente.
2. Em segundo lugar, quando o pecado mortal foi cometido com
certeza, e se duvida se foi confessado ou não, então, não havendo razão para
julgar que tenha sido confessado, deve-se certamente declará-lo.
Mas, havendo razão ou presunção fundada de que o pecado foi
outrora confessado, não há obrigação de o confessar.
Daí, quando uma pessoa fez as suas confissões gerais ou
particulares com o cuidado requerido, e receia ter omitido algum pecado ou
alguma circunstância, não precisa acusar-se de novo, pois pode crer
prudentemente que fez o que devia. -
Mas, objetar-me-eis, se eu estivesse obrigado a dizer isso, sentiria muita
vergonha. Resposta: Não importa; desde que não estais obrigado a falar da vossa
dúvida, esta repugnância não vos deve inquietar. Basta dizer em vosso coração:
Senhor, se eu soubesse verdadeiramente que devia confessar-me, eu o faria logo,
qualquer que fosse a pena que tivesse de sofrer.
Demais, é bom que cada um descubra ao seu diretor as dúvidas
que o inquietam, não fosse isto senão para se humilhar, a menos que não seja
escrupuloso; pois, neste caso, não deve falar neles. [Escrupuloso: quem tem coceira
nas vistas, quanto mais esfrega, mas coça].
Mas o que eu queria principalmente é que fizéssemos conhecer
ao confessor as vossas PAIXÕES, as vossas INCLINAÇÕES e AS CAUSAS das vossas tentações, afim de que
ele pudesse achar as raízes do mal; pois, não se arrancando essas raízes, as
tentações não cessarão nunca; e há grave perigo de consentir nelas, quando se
pode afastar a causa e não se o faz.
É ainda útil, pelo menos, a algumas pessoas, para se
humilharem, descobrir as tentações que mais as humilham; tais são
especialmente, as tentações contra a castidade. "A tentação descoberta é meio vencida",
diz São Filipe Nery. Eu disse,
PELO MENOS A ALGUMAS PESSOAS, pois, para
outras, que são raras vezes tentadas, mas muito tímidas neste matéria, temendo
sempre ter consentido, é por vezes prudente proibir-lhes que se confessem sobre
tal ponto, enquanto não têm a certeza de ter consentido no pecado."
Gostaria de acrescentar que, uma pessoa que conta as
tentações, mas logo garante que não deu consentimento, isto é simplesmente
perder tempo no confessionário. Porque aí se contam pecados, e, quando não se
consente nas tentações, não há nenhum pecado. E se alguém, porventura só contar
tentações nas quais não consentiu, não pode receber a absolvição, a menos que
inclua pecados passados já confessados e dos quais tem certeza de ter arrependimento
de os ter cometido. Digo isto, porque temos de distinguir duas coisas: a confissão e a direção espiritual. Mas, quando há tempo suficiente, e não vai deixar outros penitentes esperando muito tempo, se pode por ocasião da confissão, fazer também a direção espiritual.
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