quinta-feira, 6 de abril de 2017

O CALVÁRIO E A MISSA. Autor: Fulton Sheen

   Há certas coisas na vida que são demasiado belas para serem esquecidas como, por exemplo, o amor de mãe. O retrato daquela que nos deu o ser é para cada um de nós uma espécie de tesouro.
   O amor dos soldados que sacrificaram as suas vidas pelo seu país é também demasiadamente belo para que o deixemos cair no olvido e, por isso, prestamos homenagem à sua memória. A maior bênção, porém, de quantos vieram ao mundo, foi, certamente, a visita do Filho de Deus, sob o forma humana. A sua vida, superior a todas as vidas, é demasiadamente bela para ser esquecida, e é por isso que exaltamos a divindade dos Suas palavras na Sagrada Escritura, e a caridade dos Seus feitos nas nossas ações de cada dia.

   Infelizmente, algumas almas limitam-se apenas a estas lembranças quando, na verdade, por muito importantes que sejam essas palavras e ações, não são a maior característica do Divino Salvador.
   O ato mais sublime da história de Cristo foi a Sua Morte.

   A morte é sempre importante porque sela um destino. Qualquer homem moribundo representa um cenário, e este é sempre um lugar sagrado. A literatura do passado deu especial relevo às emoções que rodeiam a morte, e é essa a razão pela qual ela nunca passou de moda. De todas as mortes registadas no mundo dos homens, nenhuma, no entanto, foi tão importante como a morte de Cristo.

   Todo aquele que nasceu veio ao mundo para viver. Nosso Senhor veio ao mundo para morrer.

   A morte foi um triste ponto final para a vida de Sócrates, mas foi uma coroa para a vida de Cristo. Ele próprio nos disse que veio "para dar a Sua vida pela redenção de muitos". Ninguém poderia tirar-lha, mas Ele podia dá-la voluntariamente.

   Se, portanto, a morte foi o principal momento para o qual Cristo viveu, ela foi também a única coisa pela qual Ele quis ser lembrado. Jesus não pediu aos homens que registrassem as Suas palavras numa Escritura, nem tão pouco que a Sua bondade para os pobres ficasse gravada na história; mas pediu que os homens recordassem a Sua morte. Para que essa memória não fosse entregue ao acaso das narrativas humanas, Ele próprio instituiu a maneira como devia ser lembrada.

   Essa memória foi instituída na noite anterior à Sua Morte e, desde então, se chamou "A Última Ceia". Tomado o pão nas Suas mãos, Jesus disse: "Isto  é o Meu Corpo que se dá por vós; fazei isto em memória de de Mim. Tomou também depois, da mesma maneira, o cálice, dizendo: "Este é o cálice do Novo Testamento em Meu Sangue que será derramado por vós" (S. Lucas, XXII, 19 e 20).

   E, assim, num símbolo incruento da separação do Sangue e do Corpo, pela consagração do Pão e do Vinho, Cristo ofereceu-se à morte, à vista de Deus e dos homens, e representou a Sua morte que devia ocorrer às três horas da tarde do dia seguinte. Ele oferecia-Se para ser imolado como vítima, e para que os homens nunca esquecessem que jamais homem algum dera maior prova de amor do que Aquele que renunciava à vida, em favor dos Seus amigos, e deu à Igreja esta ordem divina: "Fazei isto em memória de Mim".

  No dia seguinte, Jesus realizou cruentamente o que já havia antecipado de maneira incruenta na véspera. Foi crucificado e o Seu Sangue foi derramado pela redenção do mundo.
   A Igreja que Cristo fundou, não só preservou a palavra que Ele proferiu como ainda o ato que praticou, no qual nós recordamos a Sua morte na Cruz, e que é o Sacrifício da Missa - memória da última Ceia e renovação incruenta do Sacrifício do Calvário.
  
Por esta razão, a Missa é, para nós, a ato culminante da amizade cristã. O púlpito, onde as palavras de Jesus são repetidas, não nos une a Ele; o coro, no qual os suaves sentimentos são cantados, não nos aproxima tanto da Sua Cruz. Um templo sem altar de sacrifício não existiu entre os próprios povos primitivos, e nada significa entre os cristãos. Na Igreja Católica é, pois, o altar, e não o púlpito, ou o coro, ou o órgão, que representa o centro da amizade, pois  é ali que se renova a memória da Paixão. O valor da ato não depende daquele que o celebra, mas sim e apenas do Sumo Sacerdote e Vítima, Nosso Senhor Jesus Cristo.

   Ali estamos unidos com Ele, a despeito da nossa insignificância; unimos o nosso espírito, a nossa vontade, o nosso corpo, a nossa alma e o nosso coração tão intimamente com Jesus que o Pai Celeste não é a nossa imperfeição que vê, pois contempla-nos através de Aquele que é o Seu Filho Bem-Amado, no qual Ele pôs toda a Sua complacência.

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