"Não ameis o mundo nem as coisas do mundo. Se alguém ama o mundo
não há nele o amor do Pai, porque tudo o que há no mundo é concupiscência da
carne, concupiscência dos olhos e soberba da vida, e isto não vem do Pai, mas
do mundo" ( 1 S. João, II, 15 e 16).
Desde o Concílio Vaticano II que vem se instalando e se
avolumando uma desastrosa revolução dentro da Santa Madre Igreja. Na época em
que escrevi este artigo já se falava em uma Nova Igreja, com uma Moral Nova e
uma Liturgia Nova. Tudo mudou no sentido em que os Modernistas sempre tanto
almejavam. Tivemos a grande graça de sermos orientados por um Bispo, sábio,
humilde, homem de oração e de penitência, D. Antônio de Castro Mayer. Em abril
de 1971 escrevia ele, citando Paulo VI: "muitos fiéis se sentem perturbados na sua fé por um acumular-se de
ambiguidades, de incertezas e de
dúvidas, que atingem essa mesma fé no que ela tem de essencial. Estão neste
caso os dogmas trinitário e cristológico, o mistério da Eucaristia e da Presença
Real, a Igreja como instituição de salvação, o ministério sacerdotal no seio do
Povo de Deus, o valor da oração e dos Sacramentos, as exigências morais que
dimanam, por exemplo da indissolubilidade do matrimônio ou do respeito pela
vida. Mais: até a própria autoridade divina da Escritura chega a ser posta em
dúvida, em nome de uma 'desmitização radical" (Exortação Apostólica de
Paulo VI, A.A.S., 63, p. 99). Comentando estas palavras do Papa Paulo VI, diz
D. Mayer: "Como vedes, amados filhos, a crise na Igreja não poderia ser
mais profunda. Lendo as palavras do Papa, nós nos perguntamos: que ficou de
intacto no Cristianismo? pois, se não há certeza sobre o dogma trinitário,
mistério fundamental da Revelação cristã, se pairam ambiguidades sobre a Pessoa
adorável do Homem-Deus, Jesus Cristo, titubeia-se diante da Santíssima
Eucaristia, se não se entende a Igreja como instituição de salvação, se não se
sabe a que o Sacerdote entre os fiéis, nem há segurança das obrigações morais,
se a oração não tem valor, nem a Sagrada Escritura, que há de Cristianismo, de
Revelação cristã? (...) Depois D. Mayer mostra que havia um empenho por
construir uma nova Igreja psicológica e sociológica: "Tanto mais, escreve
o ínclito Bispo, quanto a Exortação do Santo Padre deixa entrever que há uma
verdadeira conspiração para demolir a Igreja. É o que se deduz do trecho
seguinte ao acima citado, no qual o Pontífice observa que às dúvidas,
ambiguidades e incertezas na exposição positiva do dogma, somam-se o silêncio
"sobre certos mistérios fundamentais
do Cristianismo" e a "tendência
para construir um novo cristianismo a partir de dados psicológicos e
sociológicos" no qual "a
vida cristã esteja destituída de elementos religiosos"(p. 99). Há,
pois, continua D. Mayer, entre os fiéis, um movimento de ação dupla convergente
para a formação de uma nova Igreja, que só pode ser uma nova falsa religião; de
um lado, criam-se incertezas sobre os mistérios revelados; de outro,
estrutura-se uma vida cristã ao sabor do espírito do século". (Carta Pastoral,
"Aggiornamento e Tradição", L. "Por um Cristianismo Autêntico,
p. 358 e 359).
Feita esta introdução, vamos agora ver o modo de agir dos
modernistas em relação ao mundo.
No texto último citado, no fim diz D. Antônio de Castro
Mayer: "Estrutura-se uma vida
cristã ao sabor do espírito do século". SÉCULO é sinônimo de MUNDO no
sentido explicado no texto em apreço.
É de todos evidente como a postura dos modernistas e dos
tradicionalistas na Igreja, em relação ao mundo, é muito diferente. Os
modernistas não se preocupam em combater o mundo; em advertir os féis contra
suas máximas, seus perigos, suas seduções. O que é preciso, dizem eles, é
satisfazer à mentalidade moderna. Dizem que a Igreja para não soçobrar precisa
acomodar sua doutrina ao mundo de hoje. Não pode ficar parada no tempo e no
espaço. Esta igreja nova estabelece a religião do homem e elimina tudo quanto
possa significar uma imposição à liberdade ou uma repressão à espontaneidade
humana. Desconhece assim a queda original e extenua a noção de pecado. Faz
esquecer a austeridade cristã, não fala em penitência. Tem toda indulgência
para o prazer mesmo venéreo, para os pecados da carne. Na vida conjugal e
familiar, a religião do homem sobrepõe o prazer ao dever. Os filhos são
considerados como um fardo pesado. Justificam os métodos anticoncepcionais. A
moral nova é indulgente e até favorável a homossexualidade, e a co-educação. A
imodéstia nos trajes, a frequentação de ambientes perigosos e pecaminosos,
como: carnaval, praias, piscinas, bailes; os namoros mais indecentes e
avançados, tudo isso é olhado com muita indulgência pela moral-nova da ala
progressista. E como os homens ou procedem como pensam ou terminam pensando de
acordo com seu procedimento, numa sociedade toda ela mergulhada na sensualidade,
começam a perder a noção do bem e do mal (hoje já perderam) e a criar para si
uma moral subjetiva que lhes não censure a conduta irregular. Daí a ojeriza a
tudo que lhes avive a consciência do estado moralmente deplorável. Parece que os modernistas querem tranquilizar
as consciências no pecado. Como as consciências, na maioria talvez, já estejam
cauterizadas, vão se familiarizando como o pecado, com os ambientes e costumes
pecaminosas e bebem o pecado como por brincadeira, "per risum": "É um divertimento para o louco fazer o mal"
(Prov. X, 23).
Por isto, a sociedade de hoje não tolera que se lhe fale no
inferno, que se lhe lembre que o demônio existe e é o príncipe deste mundo. Não
gosta que se fale em castigos. Como gostaria que tudo isso não passasse de
ilusões, quer viver como se nada disso tivesse consistência. Faz como a
avestruz que esconde a cabeça na areia para não ver o perigo. E além do mais,
os fautores e seguidores desta moral nova dos modernistas se colocam do lado do
mundo, e nisto não são incomodados pela imprensa, televisão, rádio e hoje,
Internet (Mídia), mas, pelo contrário, recebem todo apoio destes meios de
comunicação que, na maioria das vezes,(ainda bem que a Internet tem sua
aplicação para o bem, só depende de cada um) são, na verdade, agentes do mundo.
Os próprios sacerdotes da ala modernista deixam a batina e até o clergiman e se
sentem assim mais à vontade no mundo participando de ambientes dissipantes e
até pecaminosos. Jesus Cristo ia à casa de pecadores para convertê-los, mas estes
vão a ambientes onde se cometem pecados, e os pecadores ficam ainda mais
confirmados em sua enganosa tranquilidade de consciência . Mas sua verdadeira
conversão torna-se menos viável.
No próximo artigo, se Deus quiser, falaremos do modo de agir
da verdadeira Igreja, ou seja dos que seguem a Sagrada Escritura, segundo a
interpretação dos Santos Padres, ensinamento este transmitido pelo Magistério
vivo, perene e infalível da Igreja. Amém!
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