quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

DOUTRINA CATÓLICA SOBRE A SALVAÇÃO: O que o homem pode merecer

   33. O QUE O HOMEM PODE MERECER.

   Depois desta ligeira exposição sobre a doutrina da graça, surge naturalmente uma questão importante: Poderá o homem merecer alguma coisa com relação a Deus?
   Merecer - quer dizer: ter direito a uma retribuição POR JUSTIÇA. E o mérito propriamente dito supõe uma certa proporção, uma certa equivalência entre o ato merecedor e a coisa merecida.
   Sendo assim, o homem não pode merecer a graça primeira. Quem vem a ser a graça primeira? É a passagem do homem do estado de pecado para o estado de graça santificante.
   Todos nós nascemos com o pecado original. É preciso que um dia Deus nos dê a graça santificante. Pois bem, esta graça santificante nos é dada sem merecimento nenhum de nossa parte, por pura bondade e benevolência de Deus. 
  Suponhamos que a recebemos, quando éramos crianças sem uso de razão: o Batismo nos conferiu a graça santificante sem merecimentos nenhum de nossa parte, uma vez que nada tínhamos feito, nem éramos capazes de fazer livremente.
   Suponhamos, porém, o caso de um adulto que recebeu o Batismo. Ele precisou dispor-se para o Batismo, com já vimos, por atos especiais de fé, contrição etc. Porém, por mais boas obras que tenha feito, essas boas obras não têm proporção com a graça santificante que é um dom sobrenatural. A graça santificante vai tornar o homem um filho adotivo de Deus. E o servo, por mais obras que faça, não pode dizer que tem direito POR JUSTIÇA  a ser tratado e considerado como filho. Por outro lado, por maiores que sejam os pecados cometidos até então, desde que haja as necessárias disposições de fé, contrição etc. Deus não nega o Batismo com a consequente reabilitação do pecador; é como uma esmola que basta estender a mão para receber. Além disto, esta graça santificante só nos foi alcançada em virtude da morte redentora de Jesus Cristo que satisfez a Deus em nosso lugar, é um efeito da benignidade de Deus que quis sacrificar o seu Divino Filho, para que o servo se tornasse um filho adotivo. É por isto que diz São Paulo que somos justificados gratuitamente por sua graça, pela redenção que tem em Jesus Cristo (Romanos III-24).E se isto foi por graça, não foi já pelas obras; doutra sorte a graça já não será graça (Romanos XI-6). 

Cada vez, portanto, que passamos do estado de pecado mortal para o de graça santificante, isto Deus nos concede sem merecimento de nossa parte, por pura bondade e misericórdia sua, pois em estado de pecado nada podemos merecer. Para haver o merecimento em nós, é preciso que haja em nossa alma a graça santificante: Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. Como a vara da videira não pode de si mesmo dar fruto se não permanecer na videira, assim nem vós o podereis dar, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira; vós outros, as varas. O que permanece em mim, e o em que eu permaneço, esse dá muito fruto (João XV-4 e 5).

   Se temos a graça santificante, já as nossas boas ações são sobrenaturalizadas por Jesus Cristo que habita em nós e já se estabelece uma certa proporção entre elas e a recompensa, a visão beatífica que é sobrenatural também. A árvore em que corre esta seiva divina da graça já pode produzir frutos para a vida eterna. Pela graça santificante somos filhos de Deus e se morremos nesta graça, se morremos como filhos, é de justiça que se nos dê a herança da vida celestial, pois quem é filho é também herdeiro. A Escritura está cheia de textos em que o Justo Juiz nos promete um prêmio, um galardão, uma recompensa ou retribuição pelas nossas obras, coroando assim na eternidade os nossos merecimentos. 

   São Paulo diz aos Colossenses: Tudo o que fizerdes, fazei-o de boa mente, como quem faz no Senhor e não pelos homens, sabendo que recebereis do Senhor O GALARDÃO DA HERANÇA (Colossenses III-23 e 24). O mesmo São Paulo compara a vida eterna com o prêmio que se oferece nas competições esportivas, em que muitas vezes o atleta faz sacrifícios, se abstém de muitas coisas, com o pensamento de receber a palma da vitória: Não sabeis que os que correm no estádio correm sim todos, mas um só é que leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. E todo aquele que tem de contender de tudo se abstém, e aqueles certamente por alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, uma incorruptível (1ª Coríntios IX, 24 e 25). É a glória do céu, que vem coroar aquele que se esforçou, que fez sacrifícios e mortificações para consegui-la (castigo o meu corpo e o reduzo à escravidão - 1ª Coríntios IX-27), porque, como ele diz a Timóteo, usando a mesma comparação das lutas esportivas: o que combate nos jogos públicos não é coroado, senão depois que combateu conforme a lei (2ª Timóteo II-5).

   É por isto que ele próprio, Paulo, no fim da vida, depois de ter combatido o bom combate, espera uma coroa, mas uma COROA DE JUSTIÇA, realmente merecida pelas suas boas obras juntamente com sua fé e dada pelo JUSTO JUIZ: Eu combati o bom combate, acabei a minha carreira, guardei a fé. Pelo mais me está reservada A COROA DE JUSTIÇA que o Senhor, JUSTO JUIZ,  me dará naquele dia; e não só a mim, senão também àqueles que amam a sua vinda (2ª Timóteo IV- 7 e 8). Porque cada um receberá sua RECOMPENSA  particular SEGUNDO O SEU TRABALHO (1ª Coríntios III- 8). Os pequenos sofrimentos, bem aceitos em união com Jesus Cristo, produzem um efeito maravilhoso na vida eterna: O que aqui é para nós uma tribulação momentânea e ligeira, produz em nós, de um modo todo maravilhoso, no mais alto grau, um peso eterno de glória (2ª Coríntios IV-17). E São João diz na sua 2ª Epístola: Estai alerta sobre vós, para que não percais o que HAVER OBRADO, mas antes recebais uma PLENA RECOMPENSA (2ª João vers. 8).

   Esta doutrina dos Apóstolos não é mais do que a própria doutrina de Jesus Cristo que promete claramente no Evangelho a divina recompensa àqueles que sofrem por seu amor, àqueles que renunciam a tudo ou que praticam a caridade em seu nome: Bem-aventurados sois quando vos injuriarem e vos perseguirem e disserem todo o mal contra vós, mentido por meu respeito. Folgai e exultai, porque o VOSSO GALARDÃO é copioso nos céus (Mateus V-11 e 12). E todo o que deixar por amor do meu nome a casa, ou os irmãos, ou as irmãs, ou o pai, ou a mãe, ou a mulher, ou os filhos, ou as fazendas, receberá CENTO POR UM E POSSUIRÁ A VIDA ETERNA (Mateus XIX- 29). Amai, pois, a vossos inimigos, fazei bem e emprestai sem daí esperardes nada, e tereis MUITA AVULTADA RECOMPENSA (Lucas VI-35). O que recebe um profeta na qualidade de profeta receberá a RECOMPENSA de profeta, e o que recebe um justo na qualidade de justo receberá a RECOMPENSA de justo. E todo o que der a beber a um daqueles pequeninos um copo d'água fria, só pela razão de ser meu discípulo, na verdade vos digo que não perderá a sua RECOMPENSA (Mateus X-41 e 42). 

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