terça-feira, 11 de agosto de 2020

VERSÍCULO 26 DE ROMANOS VIII

ROM. VIII, 26

"O ESPÍRITO AJUDA TAMBÉM A NOSSA FRAQUEZA: PORQUE NÃO SABEMOS O QUE HAVEMOS DE PEDIR, COMO CONVÉM; MAS O MESMO ESPÍRITO ORA POR NÓS COM GEMIDOS INEFÁVEIS".

 Muitos se baseiam nestas palavras do Apóstolo para justificar o que chamam de "ORAÇÃO EM LÍNGUAS". Mas aqui quero apenas dar a explicação tradicional deste texto bíblico.

Em primeiro lugar apresento aqui a explicação dada já pelo célebre Escritor Eclesiástico, Orígenes (+ 253): "Como um professor ensinando aos seus pequenos alunos os primeiros rudimentos e, adaptando-se à sua ignorância, vai pronunciando as primeiras letras à frente deles, a fim de que estes, repetindo o que ouvem, terminem aprendendo; assim o Espírito Santo, vendo como o nosso espírito é perturbado pelas afeições terrenas e não pode saber o que deva pedir, começa Ele mesmo a oração e a inspira ao nosso interior, a fim de que o nosso espírito a continue; Ele propõe e provoca em nós os gemidos (choramingas) a fim de que o nosso espírito comece a gemer e assim o Senhor lhe seja propício".

Em que consiste nossa fraqueza na oração? Em consequência do pecado original, somos muito fracos. Jesus mandou que vigiássemos e orássemos para não cairmos em tentação, justamente porque a nossa carne é fraca. O pior é que somos fracos na própria oração; e isto por dois motivos: primeiro, porque não sabemos o que devemos pedir (quid oremus); e segundo, porque não sabemos como pedir (sicut oportet).

NÃO SABEMOS O QUE PEDIR: "Aconteceu que estando Ele (Jesus) a fazer oração em certo lugar, quando acabou, um dos seus discípulos disse-Lhe: Senhor, ensina-nos a orar..." (Lc XI, 1). E Jesus, então, ensinou-lhes o Pai-Nosso. Mas o divino Mestre quis deixar uma norma de oração comum a todos, ou seja, sem descer aos intermináveis casos particulares. E é aí que entra a ajuda do Espírito Santo. Jesus Cristo afirmou-lhes: "Eu disse-vos estas coisas, permanecendo convosco. Mas o Paráclito, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, Ele vos ensinará todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito" (Jo XIV, 25 e 26). O Espírito Santo vem, pois, expressamente para completar em cada um de nós os belíssimos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, para "ajudar-nos a nossa fraqueza" na oração, será preciso não somente a Sabedoria  mas também o Amor. Jesus foi dado ao mundo pelo Pai, como Mestre de todos: "Eis que O dei por testemunha aos povos, por capitão e por mestre às nações"  (Is LV, 4). O Espírito Santo nos é enviado como um gentil Professor que nos repete as lições de Cristo para que as possamos entender: "Lembrar-vos-á tudo o que Eu vos disse"  (Jo XIV, 26).

Resumindo: Jesus Cristo, a Sabedoria Eterna, ensinou-nos o Pai-Nosso, dando-nos a fórmula  perfeita de oração geral, comum a todos e não especificada em cada caso particular. Já o Espírito Santo, o Amor do Pai e do Filho, vem para adaptar as lições gerais do Pai-Nosso a cada um de nós; adapta-as não só à capacidade mas também às necessidades de cada um de nós. É assim que Ele nos ajuda orar, pedindo o que convém, e da maneira conveniente.

NÃO SABEMOS COMO PEDIR: Jesus Cristo e o Espírito Santo na Sagrada Escritura ensinam-nos que devemos orar com fé, reverência, confiança, humildade e perseverança. Mas, na verdade, a nossa fé é fraca. Para termos uma ideia da fraqueza de nossa fé, basta lembrarmo-nos desta palavra de Jesus aos  Apóstolos que perguntaram-Lhe porque não conseguiram expulsar o demônio de um menino: "Por causa da vossa falta de fé. Porque na verdade vos digo que, se tiverdes fé, mesmo que fosse do tamanho de uma semente de mostarda, poderiam dizer a este monte: Saia daqui e vá para lá, e ele iria" (Mt XVII, 20). E os Apóstolos reconheceram a fraqueza de sua fé e fizeram este pedido a Jesus: "Senhor, aumentai a nossa fé" (Lc XVII, 5). E no Pentecostes receberam esta fé firme e forte capaz de fazer milagres estupendos. Com certeza, temos necessidade, bem mais do que os Apóstolos, deste aumento da fé!

Como as outras qualidades da oração (respeito, confiança, humildade e perseverança) dependem da fé, devemos concluir que, sendo fraca a nossa fé, não temos força para orarmos com estas outras condições indispensáveis.  Vede quão grande é a nossa fraqueza na oração! Não sabemos o que pedir e nem como pedir.

COMO O ESPÍRITO SANTO NOS AJUDA A ORAR: "Mas o mesmo Espírito ora por nós com gemidos inexplicáveis" (Rm VIII, 26). 

"Postulat pro nobis" (latim) = O Espírito Santo pede por nós: "Diz-se, explica o P. Paulo Ségneri, S. J., que o Espírito Santo "pede", mas não é antes verdade que "nos faz pedir"? Sim, mas não se diz que o Espírito Santo fala nos profetas, nos pregadores, nos mártires? E por que se diz? Porque os fez ou faz falar. "Não sois vós que falais, mas , o Espírito de vosso Pai que fala em vós"  (Mt X, 20). Como se diz que "fala" porque faz falar, assim se diz que pede, porque "faz pedir"... Mas o sentido do termo "postulat" não só inclui o fato que "nos faz pedir", mas indica também que realmente o Espírito Santo "pede" por nós, como Advogado, como Paráclito, que está dentro de nós falando por via de amor".

Mas, como fala? Fala "com gemidos inefáveis". Aqui nos vêm à mente os arrulhos da pomba. Sabemos pelo santo Evangelho que o Espírito Santo apareceu no Batismo de Jesus no rio Jordão, na figura de uma POMBA: "E desceu sobre Ele (Jesus) o Espírito Santo em forma corpórea como uma pomba" (Lc III, 22). Ora, Deus, sendo a própria Sabedoria, não faz nada sem uma razão de ser, isto é, sem sentido. E qual seria, pois, a razão e o significado desta aparição do Espírito Santo em forma de pomba? É porque a pomba é símbolo da simplicidade: "Sede simples (disse Jesus) como a pomba" (Mt X, 16).  Pois bem, caríssimos, o Espírito Santo nos instrui em toda a nossa vida espiritual, e especialmente na oração que lhe é parte essencial. E assim, quanto mais a alma progride na vida interior, mais perfeita vai se tornando sua oração, pela ajuda do Espírito Santo. A oração da alma principiante (na via de purificação) é a meditação discursiva, (mais complicada) em que entra mais a inteligência. Já na via iluminativa, a alma passa para a oração mais afetuosa, onde entra mais a vontade (o coração). Já na via unitiva passa para a oração de SIMPLICIDADE, em que a alma, pela graça do Espírito Santo, simplifica toda a vida espiritual, agindo puramente por amor. Santa Teresa chama-a oração de recolhimento, porque a alma recolhe em si as suas diversas faculdades, para as concentrar em Deus, para O escutar e amar. É a oração em que a alma, pela ação do Espírito Santo, fixa o olhar afetuosamente em Deus, conserva-se em Sua presença, entrega-se em Suas mãos e ama-O. É algo inefável, isto é, tão sublime porque oriundo do Espírito Santo, que não se pode exprimir com palavras. E realmente a alma, nesta oração, não fala, só ama. As almas generosamente dóceis ao Espírito Santo chegam à oração de quietude e de contemplação. Ao olhar puramente natural dos homens, estas pessoas espirituais parecem embriagadas. Na verdade estão inebriadas, mas não de vinho, e sim do amor de Deus. Assim aconteceu com Ana, mãe do profeta Samuel (I Sm I, 13 e 14); assim aconteceu com os Apóstolos no Pentecostes (Atos II, 15 ). Farei, se Deus quiser, artigos para explicar todos estes tipos de oração; e assim este post será mais esclarecido.

Voltemos à explicação dos termos "GEMIDOS INEFÁVEIS".  Quanto ao GEMIDOS há outras passagens da Bíblia: O santo rei Ezequias fez uma oração belíssima e lá diz: "Eu soltava fracos gemidos de dor... e gemia como uma pomba" (Isaías XXXVIII, 14). E ainda em Isaías LIX, 11: "E todos nós... meditando, gememos como pombas". O canto da pomba são os arrulhos [coincidentemente, ouço agora os arrulhos de uma pombinha e o canto do bem-te-vi; o 1º não se exprime em palavras, o 2º sim, aliás, palavras que emprestam a este pássaro o seu nome].  Podemos supor que S. Paulo ao dizer que o Espírito Santo nos ajuda a rezar com gemidos inefáveis, tinha em mente os arrulhos da pomba, já que o próprio Espírito Santo, mostra orações como  "gemidos da pomba". Nos estágios de oração mais perfeita, a alma, na verdade, se comporta mais passivamente. Pois é o Espírito Santo que age e faz isto de maneira suave, oculta, isto é, mística. Deus não está na agitação e no barulho (I Reis XIX, 11). E a oração verdadeira não consiste em muitas palavras, e, nem muito menos, em palavras desconexas. "A ciência do insensato reduz-se a palavras mal digeridas" (Eclesiástico XXI, 21).

INEFÁVEIS: Inefável é aquilo que não pode ser expresso em palavras. Mas este termo ficou reservado para indicar coisas tão sublimes, divinas, que justamente por isso, as palavras humanas não são capazes de exprimi-las.  Por exemplo: São Paulo foi elevado ao Paraíso. De lá voltando, disse: "Ouviu palavras inefáveis que não é lícito a um homem proferi-las" (II Cor XII, 4). E, como veremos, a oração de simplicidade, quietude e contemplação infusa, são ações verdadeiramente INEFÁVEIS do Espírito Santo nas almas generosas que se esforçaram primeiramente na renúncia de si mesmas e do mundo; e, depois, em imitar a Jesus pela prática das virtudes. Daí receberam os sete dons e os doze frutos do Espírito Santo. E a muitas destas almas o Paráclito infundiu a contemplação.

Ó Divino Espírito Santo, aumentai a minha fé, ensinai-me a orar. Fazei que um dia possa exclamar com S. Paulo: "Vivo, mas não sou eu que vivo, é Jesus que vive em mim". Amém!

  

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