sábado, 10 de novembro de 2018

PRIMEIRO MANDAMENTO



Eu sou o Senhor teu Deus

(Excertos do capítulo VI do livro "OS DEZ MANDAMENTOS", de autoria de Mons. Tihamer Tóth)

(...) Deste fato fundamental: "pertenço absolutamente a Deus" fluem naturalmente dois deveres: 1 - Amar a Deus; 2 - Viver em Deus.
1 - Amar a Deus. - Amamos a Deus... Facilmente pronunciamos estas palavras; mas cuidado! Que não sejam mentirosas nos nossos lábios.
A nossa alma espiritual está encerrada na prisão do nosso corpo material. De aí o querermos sentir totalmente, isto é, tudo ver, ouvir, palpar; e o que escapa aos nossos sentidos fica-nos quando muito, apenas como conceito abstrato, obscuro, nebuloso, dentro da alma.
Por isso, lanço este brado de alerta. Não vemos a Deus, não o ouvimos, não o tocamos... e, não obstante, temos de o amar sobre todas as coisas. Como é possível? Quando poderei dizer que amo a Deus sobre todas as coisas? Talvez quando, ao pensar n'Ele, um calor sobrenatural, uma terna emoção, uma alegria mística produzem em mim a sensação de que Ele me inunda a alma? De modo algum. Nosso Senhor Jesus Cristo ensina claramente: "Nem todo o que diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos Céus; mas o que faz a vontade de meu Pai celestial, esse é que entrará no reino dos Céus" (S. Mat. VII, 21).
Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com toda a tua inteligência e com todas as tuas forças, é o eixo fundamental de toda a ética cristã. Ma sabeis quem ama a Deus? Sabeis o que significa o meu coração, a minha alma, a minha inteligência, a minha força? Significa o homem total, significa a vida toda.
2 - Viver em Deus. E com isto chegamos ao segundo postulado: saturar toda a nossa vida de Deus, enchê-la do pensamento de Deus, que tudo vê e está em toda a parte. Estou com Deus... aos domingos e nos dias de trabalho. Estou com Deus... na fábrica e no estabelecimento, na oficina e na escola. Estou com Deus... no escritório, no templo, nos lugares de divertimento [honesto]. Estou com Deus... mesmo quando a noite silenciosa me cobre com o seu véu. Sabeis quem ama deveras a Deus? Aquele que, chamado por Deus a qualquer instante do dia, no meio de qualquer ocupação, está preparado. O que, chamado seja a que hora for, a receber a sagrada comunhão, pode ir imediatamente... sem ter que lavar, antes, a sua alma.
Somos de geração divina! Podemos dizê-lo afoitamente. Há em nós uma centelha divina, um raio de luz, um veio de Deus. E esta centelha tende a voltar à origem eterna de todo o fogo; esta lua anseia por unir-se à fonte inesgotável de toda a claridade; e este veio, este arroio dirige-se, sem que nada o descubra, para o oceano infinito de toda a vida. O grande conhecedor das profundezas do coração humano, SANTO AGOSTINHO, escreve nas suas "Confissões": "Criaste-nos para Vós, Senhor, e o nosso coração está inquieto enquanto não repousa em Vós".
Sim, meu Deus. Vós sois o nosso Senhor. Vós sois o nosso Deus.
(...) Se eu quero ser filho obediente , fiel, do meu Pai celeste, então sei que tenho nos seus braços um apoio em que posso confiar inteiramente, ainda que se amontoem nuvens ameaçadoras por sobre a minha cabeça.
Sim; justamente porque alguns acreditam que a fé posta em Deus só dá juros que serão cobrados no outro mundo, quero eu acentuar agora que a fé posta em Deus possui uma força e uma influência incomparáveis também para a vida presente. (...)
"Eu sou o Senhor teu Deus". A coragem que o Senhor comunica se, no meio das ondas revoltas da tentação, ou no reino silencioso do sepulcro, nos diz: "Por que temeis, homens de pouca fé! Convosco está o Senhor!". Que significa, no meio da tentação: "O Senhor está comigo!"
Meus irmãos, vós, antigos mártires da fé cristã! Quando jazíeis às centenas, ensangüentados, na arena do coliseu romano, que é que vos dava força? O Senhor convosco.
Irmão, tu que num enorme prédio de cinco andares de uma cidade moderna, conservas a tua fidelidade inquebrantável ao nome de cristão, enquanto à tua volta, as ondas da idolatria e da impiedade, a adoração do bezerro de outro, a blasfêmia e a imoralidade subvertem todos os demais... Não vaciles... Persevera firma... O Senhor está contigo.
Irmão, tu que serves num bar, tu que ganhas o teu pão no mundo sarapintado do teatro, tu que mourejas entre as ondas da Sodoma e Gomorra... não vaciles: o Senhor está contigo.
Irmão, tu que és um aprendiz de dezesseis anos, quando, ao entrares na fábrica à segunda-feira de manhã, te encontras entre duzentos outros aprendizes... no meio dos rapazes que talvez não tivessem ouvida missa no dia anterior, que, possivelmente, levaram a noite na pândega, que todo o dia falam mal de Cristo, da tua religião e da tua vida virtuosa... Irmão, jovem aprendiz, não vaciles: O Senhor está contigo. (...)
Passemos a outro pensamento: "Que significa, no reino silencioso do túmulo": "O Senhor está conosco?"
Um dia encontrar-nos-emos, com o coração oprimido, junto da campa dos nossos queridos mortos e à medida que as folhas das árvores vão caindo... apodera-se das nossas almas a melancolia esmagadora da morte...
Não, não, irmãos! Corações ao alto! Sabeis o que significa possuir a Deus? Significa que a vida para mim continua ainda para além da sepultura. Tudo há de perecer à minha volta; tudo cai; tudo se desfaz em pó... há, porém, uma vida eterna. Se há Deus, tem de haver uma vida eterna!
Este pensamento comunica ao Cristianismo uma sublime dignidade. Se o suprimirmos, que lhe fica? Um formoso sistema de amor, de paz, de suavidade... falta-lhe, porém, o arcabouço que o sustenta. Sem o outro mundo, sem a preparação adequada para o mesmo, a Religião cristã seria apenas doença, água açucarada, poeira, decoração; mas não fonte séria de vigor moral para os transes em que a tentações assaltam.
E com isto fica explicado um fato interessante: Os filhos do mundo, os pecadores, se vivem alegres, morrem desesperados. Os cristãos, em compensação, se vivem com dificuldades, morrem em paz. E devem esse benefício ao pensamento do além. Ali onde não ajuda a ciência, nem a arte, nem o médico, nem a farmácia, nem o advogado, nem os parentes, nem os amigos...; ali, junto do leito de agonia; ali onde tesouro e pompa, beleza e poder, fama e honra abandonam o moribundo; ali não há outra coisa, não há outro pensamento que possa confortar, senão este: Há Deus!
Para aquele que considerou o Senhor como Deus, a morte não é fim, mas princípio; não motivo de ansiedade, mas porta pela qual há de passar. A seguir à pátria terrena, espera-o a Pátria Eterna; ao prefácio segue-se o livro; à morte na terra, o nascimento para uma vida melhor. (...)
O corpo ferido de morte é engolido pela sepultura, mas a alma espera a luz de Deus. Tê-la-á, se tiver vivido dignamente, segundo o primeiro Mandamento: "Eu sou o Senhor teu Deus". (...)
Temos que demonstrar, com a nossa conduta, que somos ao mesmo tempo homens modernos e católicos fiéis (...). O homem moderno também sabe inclinar humildemente a cabeça diante da lei, de eterna vigência, ditada pelo Altíssimo: "Eu sou o Senhor teu Deus".
AMÉM!

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