sexta-feira, 2 de novembro de 2018

A INFRAÇÃO DO DECÁLOGO. O PECADO



(Excertos do capítulo IV do livro "OS DEZ MANDAMENTOS" de autoria de Mons. Tihamer Tóth)

A infração da Lei de Deus, o pecado, é o maior mal do mundo; assim ensina a nossa religião sacrossanta. E por isso nos repete a cada momento esta sentença: 'Antes morrer que manchar-se'. (...)
QUE PENSA O MUNDO A RESPEITO DO PECADO?

O grande defeito, o principal, da nossa época, está justamente nisto: não se toma nada a sério, em nada vemos pecado. (...)

Se não vemos pecado em nada é porque não somos bastante sérios para o descobrir. Só o nosso divino Salvador podia dizer: Quem de vós me convencerá de pecado? (S. João VIII, 46). (...). Não há sinal mais espantoso do atual processo de decomposição: estamos submersos no pecado até ao pescoço, mas não o sentimos; ainda mais: nem gostamos de falar nele.

Os pecados são inúmeros; e apesar disso veremos os homens amontoarem-se em torno dos confessionários de manhã até à noite? Não. Porque morreu a consciência do pecado. (...)

Ao contemplar a cruz do Redentor dão-nos ânsias de gritar, de gritar com força, para que todo o mundo ouça e grave as palavras do seu coração: 'Homens, olhai e vede o que é o pecado! O que é o pecado que exige tal expiação!'

Deus criou o homem para a felicidade para que seja feliz já nesta vida terrena. No plano primitivo de Deus, o homem depois de passar a vida em tranqüilo gozo nesta terra, sem experimentar sequer as amarguras da morte, havia de entrar no reino do Céu.

E por que não é assim? Por que sofre e sofre tanto esse homem criado para a felicidade? Responde S. PAULO: 'Por um só homem entrou o pecado neste mundo e pelo pecado, a morte' (Rom. V, 12). Foi o pecado que nos perdeu, que tornou desgraçada a nossa vida. (...). O mundo inteiro não é mais que enorme escola de pecado em que todos gabem só o pecado. Vem um pintor e com o seu pincel traça o pecado, cheio de sedução, para que nos agrademos dele. 'É pecado?' Não é pecado! É arte moderna!' Vem o escultor e comunica vida à pedra; o poeta, às palavras. É pecado? Não é pecado! É arte, é literatura moderna!' O filósofo diz que não há pecado, que só há debilidade, defeito, falha, imperfeição... Eis como o mundo decide a respeito do pecado.
Mas...
QUE PENSA DEUS A RESPEITO DO PECADO?
(...)Possuímos um livro antigo que sabemos escrito por inspiração de Deus (a Bíblia). Este livro pinta-nos o primeiro pecado, a primeira queda.(...) A história do Paraíso Terrestre é a descrição não só do primeiro pecado, mas, em certo modo de todos os pecados. (...)

Qual a consequência do pecado? Que lhes (a Adão e Eva) prometeu o tentador? "Abrir-se-vos-ão os olhos...' Pois... abriram-se. Mas que foi que eles viram? Vergonha, temor, remorso. É a única ciência que o pecado comunica ao homem. A vergonha é a consequência de todo o pecado. O pecador pode ocultar-se do mundo, das leis, mas não de si próprio. Poderá haver homem tão depravado que se vanglorie do seu pecado. Pode haver um pseudo-filósofo que apresente o mal com aspecto de bem; um poeta que dedique hinos ao pecado!... Virão, porém, dias, momentos, em que a alma do depravado, do pseudo-filósofo, do pagão, do poeta, soluce, abatida sob a terrível vergonha do pecado. Ninguém pode evitar este castigo.

Principalmente se se acrescentar a segunda consequência do pecado: o temor. 'Ouvi a tua voz no Paraíso e tive medo' (Gen. III, 6). Tive medo! Medo de Deus? Ah! Quando não tínhamos pecados, que alegria para nós era conversar com Deus! Como nos ajoelhávamos diante do seu altar! Por que tens medo da Igreja, do confessionário? Porque gostarias de poder esquecer que há Deus, que tens alma, que há uma vida eterna, que terás de prestar contas. Porque tens medo de Deus!

Em vão pretenderia o pecador esconder-se. Aí temos o terceiro efeito do pecado: o remorso. Deus fala e pergunta a Adão: Onde estás? (ib. 10). Que é a voz da consciência senão a voz de Deus? Que fizeste? Onde está a tua inocência? que significa esta lama na tua alma? (...)

Se não tivéssemos outro argumento, bastava a consciência para provar com bastante evidência que há Deus e para nos dizer a maneira de pensar de Deus a respeito do pecado e como o próprio Deus vigia o cumprimento das suas leis. Por muito que te esforces, por mais que discutas com ela, não poderás calar-lhe a voz. Fala, testemunha, acusa. Não é tudo, arvora-se em juiz severo, em verdugo. Tem látego com que açoita; tem fogo com que toca a rebate; tem aguilhão com que pica. Nem de dia em de noite nos deixa em paz.

A alma pecadora espanta-se de si própria; repugna-lhe a sociedade; e, no meio das suas terríveis lucubrações, exclama muitas vezes: antes a morte do que este constante e terrível remorso!

Depois chega a morte. E neste ponto nos detemos agora, porque nele podemos ver com toda a claridade quanto Deus aborrece o pecado.

O CASTIGO DO PECADO: A MORTE.
Que é a morte? Chega o nosso corpo ao fim da sua vida. Decompõe-se, desfaz-se.

Costuma dizer-se que o homem é a criatura mais perfeita que Deus pôs na terra. E isto afirma-se não só pelo que diz respeito à alma, mas do mesmo modo pelo que se refere ao corpo. O nosso corpo é realmente uma obra-prima da mão de Deus; é o ser mais formoso de toda a criação visível. Que brilho nos olhos do homem! Que nobreza no seu porte! Que expressão inteligente no seu rosto! Mas, sobretudo, que instrumento mais adequado e obediente é o corpo para a alma imortal!

É possível que Deus tenha criado esta obra-prima para viver apenas uns minutos na terra e depois se desfazer em pó? Que pintor, que escultor cria a sua obra-prima para, no momento seguinte, a destruir? Que arquiteto constrói um palácio magnífico e logo que o dá por acabado o faz saltar com dinamite?

Pois era isto o que Deus fazia se criasse o corpo do homem para vida tão breve. Não. Originariamente, Deus não quis a morte. O pecado é que trouxe a morte.

Amigo leitor; medita um instante no que seja a morte. Chega-te junto desta cama  -  não tenhas medo; aqui tens um moribundo. Descansa; não te falo agora das suas dores atrozes, não te digo como anseia o seu coração, como lhe falta o alento, que espantosos fantasmas o aterram... Não. Por todos esses tormento passou já. Agora mal respira. E, contudo, era um rei poderoso, um sábio inventor, um riquíssimo Diretor de Banco, uma atriz de fama universal, uma jovem em plena primavera. E os vestidos que ela possuía! Que vestidos tão atrevidamente curtos e decotados! E como dançava um dia, a semana passada, o tango e o fox-trot! Olha esta cabeça tão nobre! quantos pensamentos nela e agora jaz silenciosa, amarela como cera, sobre a almofada. Olha para este braço robusto que, no ardor do combate, era senhor da vida e da morte. Vê lá: agora não pode mover-se. Olha para aqueles olhos maravilhosos que, com a força do seu encanto, arrastavam multidões de almas ao pecado, que sabiam olhar com coqueteria e sedução, que sabiam beber o pecado; olha para aqueles olhos: como estão apagados, gastos, vidrados, como são espantosos agora...

Mas espera. Tudo isto não é mais que o princípio do castigo. Deus castiga também o pecado cá em baixo, antes da morte, embora o castigue principalmente depois, na outra vida.

Ainda acabastes de morrer já vão abrir um frasco de perfume, porque o ar começa a corromper-se. Já começa a decomposição. Depois... apenas rezaram um Pai-Nosso junto do teu cadáver, e já vem a agência mortuária para te levar para o "depósito", a casa mortuária do cemitério. Não é possível manter-te em casa, porque estás a "corromper o ar". (...)

E depois do enterro? Que será de ti a poucas semanas da morte? Se alguém te visse, uns dias depois do enterro, gelaria de espanto. (...)

Aproxima-te agora e dize-me: "Que é o pecado? Nada. Um espantalho fabricado pelos sacerdotes" Vem agora repetir-me: "Gozo tanto, divirto-me tanto com este ou com aquele pecado. Não é possível que Deus leve a mal a minha felicidade". Podes falar-me com o coração nas mãos.

Irmãos! Que será o pecado, se Deus imediatamente, pelo primeiro pecado, infligiu ao homem, a sua criatura mais excelsa, um castigo tão grave: a morte humilhante, horripilante, inexorável! Meu Deus! quanto deve ofender-te o pecado!

Ainda há alguma coisa que nos surpreenderá mais.
Vivia na terra um homem que ao mesmo tempo era Deus. E também teve de morrer? Sim. Ele submetia-se à terrível sentença. Vede-o: como sua sangue no Monte das Oliveiras e como balbucia a comovedora oração: "Meu Pai, se é possível, afasta de mim este cálice" (S. Mat. XXVI, 39). Qual foi a resposta? Não é possível. Por ter querido tomar sobre si os pecados dos homens, teve de suportar os sofrimentos mais atrozes e expirar no meio de terríveis afrontas. Meu Deus! como há de ofender-te o pecado, se não perdoaste ao teu Filho Unigênito!

Mas, ao menos, visto que se consumou o grande sacrifício, visto que o Filho de Deus morreu por causa do pecado, terá acabado, enfim, a devastação da morte, não morrerão já os homens! Está à vista: o homem morre, mesmo depois daquele grande sacrifício.

Ao menos, porém, ter-se-á apagado o fogo da condenação? Não! Arderá eternamente.
Mas, decerto, os que lá estão hão de libertar-se um dia. Nem um só.
Oh! Senhor! Senhor! Então por que morreste? Que é a Redenção? A Redenção consiste em que os que querem, fixai-o bem, os que querem chegar a Deus, recebem a sua graça, mediante os santos Sacramentos; podem cancelar os pecados cometidos; adquirem forças para os não tornar a cometer; e por isso Deus tem misericórdia para com eles e ama-os. Mas os que continuam a querer os seus pecados e se obstinam, não serão introduzidos no Céu à força. Deus não os quer, Deus aborrece-os, porque deixaria de ser Deus no momento em que não aborrecesse o pecado.

Pelo exposto, vê-se o que significa o pecado aos olhos de Deus.

Meu Deus! Ajudai-nos a viver de tal modo que possamos assegurar o nosso sorriso... e não para dez anos, mas para a eternidade, para aquela eternidade serena, ditosa, das almas que vos são fiéis!
AMÉM!

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