terça-feira, 29 de maio de 2018

DESEJO ARDENTE DA COMUNHÃO



Além da fé viva, da humildade e máxime da pureza de coração, tão perfeita quanto nos é possível, disposições estas gerais para a sagrada comunhão, devemos ademais ter um desejo ardente por unirmo-nos a Jesus, já que Ele instituiu a Eucaristia desejando ardentemente se unir a nós.

Caríssimos, assim como a fome dos alimentos materiais indica ordinariamente a boa disposição em que está o corpo para os tomar e aproveitar, assim também um grande desejo de receber a Eucaristia é uma excelente disposição para participar abundantemente de seus benéficos efeitos. Santo Agostinho exprime-o com estas palavras: "Panis iste famem hominis interioris requirit" (Trat. XXVI in Joan.). Traduzido: "O homem interior deve ter fome do pão celestial (para o comer santamente)". Comentando o versículo 11 do Salmo 80: "Abre a tua boca e eu te encherei" o grande Santo Padre da Igreja, S. Jerônimo assim muito bem se exprime: "Quereis receber o alimento do Senhor? Ouvi o que Ele vos diz: Abri a vossa boca, e eu a encherei. Abri a boca do coração, porque recebereis à proporção que a abrirdes. A medida das graças que vos serão dadas, não depende de Mim, mas de vós". Caríssimos meditemos profundamente nestas palavras: Se desejas a Jesus Cristo, se O desejas com todo o ardor de que és capaz, recebê-Lo-ás todo, a Ele e todo o bem que quer fazer. Portanto, nunca jamais aproximemos da mesa eucarística com tibieza, por rotina, quase sem pensar na grandeza e sublimidade do ato que realizamos. Porque Jesus por nosso amor quis se ocultar tão humildemente, não vamos esquecer a sua grandeza e santidade, não O desprezemos nem O tratemos com indiferença. Avivemos a nossa fé e procuremos comungar com a mesma devoção e o mesmo respeito como se víssemos a imagem viva de Jesus na Hóstia em atitude de nos abençoar. Mas, "bem-aventurados os que não viram e creram".

Nunca estamos melhor dispostos a receber as graças deste sacramento, do que quando podemos dizer ao divino Salvador: "Minha alma vos desejou de noite; e despertarei de manhã, para vos buscar com o meu espírito e com o meu coração" "Anima mea desideravit te in nocte, sed et spiritu meo in praecordiis meis de mane vigilabo ad te" (Isaías XXVI, 9). Os primeiros cristãos viviam pela Eucaristia, e por isso, "era como se fossem um só coração e uma só alma". E eles chamavam à Eucaristia "DESIDERATA", porque ela era o centro de todos os seus desejos.

Caríssimos, consideremos duas coisas que contribuem precipuamente para excitar em nós o desejo de comungar: a REFLEXÃO e a MORTIFICAÇÃO. Na verdade, que é o desejo? É um movimento da alma, pelo qual, conhecendo o valor de um bem de que está privado, aspira a possuí-lo. É mister pois refletir sobre os maravilhosos frutos da sacramento dos nossos altares. Uma alma apaixonada pela sua união cada vez mais íntima com Jesus, que é já a santidade, e que conhece a virtude da Eucaristia, seja para destruir em si o pecado até à sua raiz (pois Ela amortece as paixões) seja para a elevar à mais sublime perfeição, arde necessariamente em desejos de A receber. Por esta razão quem não medita nos benefícios da comunhão bem feita, termina comungando sem o desejo ardente, e por conseguinte, pouco fruto tira da comunhão. Continua frio como dantes, embora tenha recebido dentro de si uma fornalha de amor, que é o Coração Eucarístico de Jesus. Coisa triste, lamentável e que, no entanto, não parece ser tão rara assim!!!

Mas ainda aqui é necessário juntar o jejum à oração, isto é, a mortificação dos sentidos à meditação dos bens infinitos, que obtém uma fervorosa comunhão. A procura dos prazeres terrestres diminui as forças da alma, e torna-a menos capaz de desejar os celestes. As alegria sobrenaturais têm pouco atrativo para um coração todo ocupado de gozos puramente humanos; mas se o privam desses gozos, como não poderia viver sem prazer, corre com todas as forças pelo caminho que lhe abrem, mostrando-lhe a doçura que experimentará no banquete eucarístico. Os hebreus deviam cingir os rins para comer o cordeiro pascal; deviam misturar com este alimento alfaces bravas e amargosas: para nos ensinar, com estes símbolos de mortificação, quão conveniente é dispor-nos para a comunhão com os exercícios da penitência.

Diz Deus no Livro do Apocalipse: "Darei ao que vencer um maná escondido" (II, 17). Assim Deus não promete o maná e a sua secreta consolação senão ao vencedor, isto é, ao homem que sabe domar as suas paixões. A Eucaristia é uma fonte de inefáveis delícias, mas para os que dominam a sua sensualidade, e não para os que são escravos dela.

Caríssimos, nada melhor do que terminar estas breves reflexões com as sábias e não menos ardentes palavras de Santo Agostinho: "Ó Senhor aproximar-me-ei com fé da Vossa mesa, participando dela para ser por ela vivificado. Fazei, Senhor, que eu seja inebriado pela abundância da Vossa casa, e dai-me a beber da torrente das Vossas delícias. Porque junto de Vós, está a fonte da minha vida: não fora de Vós, mas ali junto de Vós, está a fonte da vida. Quero beber para viver; não quero atuar por mim, pois posso perder-me, não quero saciar-me no meu coração para não ficar árido; quero antes aproximar a minha boca da fonte onde a água não se esgota. Suprirei as desculpas vãs e mesquinhas e aproximar-me-ei da ceia que me deve fortalecer interiormente. Não me detenha a altivez da soberba: não, não me torne orgulhoso a soberba; nem sequer me detenha a curiosidade ilícita, agastando-me de Vós; não me impeça o deleite carnal de saborear o deleite espiritual. Fazei que eu me aproxime e me fortaleça; deixai que me aproxime embora mendigo, fraco, aleijado e cego. À vossa ceia não vêm os homens ricos e saudáveis que julgam caminhar bem e possuir a agudeza de vista, homens muito presunçosos e por consequência, tanto mais incuráveis quanto mais soberbos. Aproximar-me-ei qual mendigo, porque me convidais Vós que, de rico, Vos fizestes pobre por mim, para que a vossa pobreza enriquecesse a minha mendicidade. Aproximar-me-ei como fraco, porque o médico não é para os que têm saúde senão para os doentes. Aproximar-me-ei como aleijado e Vos direi: 'Dirigi Vós os meus passos pelas Vossas veredas'. Aproximar-me-ei como cego e Vos direi: 'Iluminai os meus olhos, a fim de que eu jamais durma o sono da morte'". Amém!

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