ATO MERITÓRIO SOBRENATURALMENTE
é aquele que move a Deus Nosso Senhor a conceder-nos um prêmio
sobrenatural.
DIVISÃO: Há o ato
meritório DE CONDIGNO, isto é, quando seu valor é de algum modo (suposta a
promessa de Deus) igual ao prêmio, de maneira que este fosse como que devido
por justiça ao homem. Há o ato meritório DE CONGRUO, isto é, quando não há essa
proporção e igualdade, nem se deve, por conseguinte, o prêmio ao ato senão por
certa liberalidade.
Devemos dizer já inicialmente que os atos morais, pelos
quais possamos chegar ao fim sobrenatural da vida eterna, devem ser sobrenaturais,
e isto em razão da sobrenaturalidade interna do próprio ato, pela qual é elevado
acima da natureza no seu próprio ser e quanto à substância deve ser
sobrenatural: pois o caminho deve ser proporcionado ao término, e a obra ao
prêmio. Ora, o fim da vida eterna é estritamente sobrenatural e é diverso
essencialmente do último fim natural; logo também os atos pelos quais tendemos
para este fim, devem, quanto à sua essência, ser sobrenaturais.
Vejamos, então, quais as CONDIÇÕES requeridas para que os atos humanos verdadeiramente sejam
sobrenaturais. Quanto a isto há certas divergências entre os teólogos. Limitar-me-ei
a expor o que todos admitem: a) É necessário que o ato seja MORALMENTE BOM;
pois, o ato humano de si moralmente indiferente, não pode ser sobrenatural.
Realmente o ato sobrenatural tem Deus por autor principal que move e ajuda pela
graça; Deus, porém, não excita pela sua graça para a realização de atos
indiferentes. Donde uma outra condição: b) É necessário que o ato proceda de um
PRINCÍPIO SOBRENATURAL, ou seja, da potência elevada pela graça atual. Para o
ato ser sobrenatural não basta só as forças naturais, mas é mister que seja
realizado pelas forças sobrenaturais da graça. c) Autores de grande autoridade,
como Santo Afonso, Suarez, Lehmkuhl e Mazzella exigem também que o MOTIVO seja
SOBRENATURAL, ou seja, que proceda da fé. Mas como? Há várias explicações, mas
o teólogo Noldin diz que se pode afirmar que o ato humano do homem fiel é
sobrenatural e não se exige outra condição senão que seja etnicamente bom (honesto) e proceda da graça, ou seja, dum
princípio sobrenatural. Portanto, não é
necessário que o objeto do ato sobrenatural
seja sobrenatural. Assim o objeto pode ser natural, desde que seja movido pelas
forças da graça de Deus. É obvio que não queremos negar que o ato feito por um
motivo sobrenatural de fé, seja de maior dignidade e valor. Daí, devemos
aconselhar os fiéis a que se acostumem a fazer suas ações por motivos
sobrenaturais de fé. Vamos dar o exemplo da esmola, e por ele podemos fazer
aplicação às outras obras em si boas etnicamente. Aprendemos nas aulas de
catecismo que a esmola é uma obra santa e muito agradável a Deus, como Ele
mesmo revelou. Suponhamos que um fiel, sem no momento pensar nisso (que foi
revelado por Deus como uma obra agradável a Ele) deu uma esmola ao pobre, fez
na verdade uma obra sobrenatural meritória, embora só virtualmente este ato
tenha procedido de um ato de fé. No entanto, suponhamos que, ao dar a esmola,
lembrado dos ensinamentos da fé, pensou que o pobre foi remido por Jesus Cristo,
que o pobre é irmão de Cristo; que Cristo assim preceituou a esmola porque por
ela se consegue mais facilmente a vida eterna, então, digo, esta esmola teve
muito mais merecimento diante de Deus. Mas, no primeiro caso, não podemos negar que a
obra foi também sobrenatural. Daí
devemos concluir que A RETA INTENÇÃO ATUAL, embora não seja necessário, no
entanto, ela torna o ato sobrenatural mais digno e mais meritório.
Especificamente, quais as condições para o mérito DE
CONDIGNO e DE CONGRUO? 1º - CONDIÇÕES
PARA MERECER DE CONDIGNO: a) Da parte de quem merece se requer que esteja na Igreja militante (procurando o
caminho do Céu), que obre livremente, que seja justo (esteja em graça
santificante) e que mereça para si. Agora, da parte da obra, que seja boa moralmente
e também sobrenatural, isto é, que o ato seja realizado com o auxílio da graça
atual. Da parte de Deus, que haja promessa de tal prêmio vinculado a tal obra. 2º - CONDIÇÕES PARA MERECER DE CONGRUO, são
as mesmas condições, excetuando o estado de graça em quem merece para si, e a
promessa certa de Deus.
Nós padres devemos exortar os fiéis a que façam toda manhã o
ato de oferecimento do dia como é preceituado para o Apostolado da Oração: "Ofereço-vos,
ó meu Deus, em união com o Santíssimo Coração de Jesus, por meio do Coração
Imaculado de Maria, etc., e que façam com frequência orações jaculatórias de
amor a Deus para atualizar os motivos sobrenaturais.
O teólogo Noldin explica esta palavra do Divino Mestre: "Quem ouve a minha palavra e crê em quem
me enviou, tem a vida eterna" (S. João V, 24) isto é, tem, donde possa
realizar obras de vida eterna, porque tem a condição, posta a qual, são
fornecidas por Deus as graças sobrenaturais. Daí, continua Noldin, segue-se que
a todos os fiéis, sejam justos ou pecadores, sempre está presente a graça atual,
pela qual suas ações moralmente boas, se tornam sobrenaturais; mas com maior
certeza pode-se afirmar que todas as obras moralmente boas dos JUSTOS sempre
são executadas com o auxílio da graça de Deus e portanto, são sobrenaturais.
Pois o Concílio de Trento assim fala sobre isto: "Porquanto Jesus Cristo
mesmo dá a sua força aos justificados como a cabeça aos membros e a vide aos
ramos. Esta força sempre antecede às suas obras que foram feitas em Deus,
poderem plenamente, segundo o estado de vida, satisfazer à lei divina e a seu
tempo (morrendo em estado de graça) conseguir a vida eterna" (Sessão VI,
cap. 16. n. 809).
Terminemos com a advertência que o Sacrossanto Concílio de
Trento faz no final do capítulo 16, nº 810: "Não se deve, todavia, omitir
o seguinte: Embora na Sagrada Escritura se atribua tão grande valor às boas
obras, que Cristo prometeu: Quem oferecer
um copo de água fresca a um destes pequeninos, em verdade não ficará sem a sua
recompensa(Mt. X, 14); e o Apóstolo testifique: O que presentemente é para nós uma tribulação momentânea e ligeira,
produz em nós um peso de glória" (2 Cor. IV, 17); contudo, longe
esteja o cristão de confiar ou se gloriar
em si mesmo e não no Senhor (1 Cor. I, 31; 2 Cor. X, 17), cuja bondade é
tanta para com todos os homens, que Ele quer que estes seus próprios dons se
tornem merecimentos deles. E porque todos
nós pecamos em muitas coisas (S. Tiago III, 2), cada qual deve ter diante
dos olhos tanto a misericórdia e bondade de Deus, como a sua severidade e
juízo, e não se julgar a si mesmo, embora nada
lhe pese na consciência, porque a vida do homem há de ser toda examinada e julgada,
não pelo tribunal humano, mas pelo de Deus, que
há de alumiar as trevas mais recônditas e manifestar os desígnios dos corações,
e então cada um receberá de Deus o louvor (1 Cor. IV, 4), que - como
está escrito - dará a cada um conforme as
suas obras (Rom. II, 6).
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