terça-feira, 11 de julho de 2017

JESUS NA EUCARISTIA FOMENTA A FÉ E REFREIA AS PAIXÕES


"O Senhor instituiu um memorial das suas maravilhas, ele que é misericordioso e compassivo. Deu alimento aos que o temem"  (Salmo 110, 4 e 5).

A fé

10. Graças a esse sacramento excelentíssimo, onde aparece sobretudo como os homens são elevados à natureza divina, podem estes fazer os maiores progressos em todas as virtudes da ordem sobrenatural. E primeiramente a fé. Em todos os tempos a fé tem tido os seus adversários: porquanto, se bem que ela eleve o espírito humano pelo conhecimento das verdades mais sublimes, todavia, como mantém oculta a natureza dessas verdades que ela mostra como excedendo a natureza, por isso mesmo parece rebaixar os espíritos. Outrora atacava-se ora tal dogma de fé, ora tal outro; mais tarde, essa guerra estendeu a muito mais longe as suas devastações, e, na hora presente, chegou-se afirmar que absolutamente não existe nada de sobrenatural. Ora, nada mais apto a reconduzir aos espíritos o vigor e o fervor da fé que o mistério eucarístico, propriamente chamado o mistério de fé: por uma especial abundância e variedade de milagres, ele sozinho contém tudo o que está acima da natureza: O Senhor clemente e misericordioso perpetuou a lembrança de suas maravilhas: deu um alimento aos que o temem (Salmo 110, 4 e 5). Realmente, se Deus fez tudo o que está acima da natureza, referiu-o à Encarnação do Verbo, pela qual devia operar-se a restauração e a salvação do gênero humano, consoante a palavra do Apóstolo: Ele se propôs... restaurar em Cristo tudo o que está no céu e tudo o que está na terra (Efésios I, 9  e 10).

11. No testemunho dos santos Padres, a Eucaristia deve ser considerada como uma continuação e uma extensão da Encarnação; por ela, a substância do Verbo encarnado é ainda a cada um dos homens, e o supremo sacrifício do Calvário é renovado de maneira admirável, segundo esta profecia de Malaquias: Em todo lugar é sacrificada e oferecida ao meu nome, uma oblação pura (Malaquias I, 11). Esse milagre, o maior de todos no seu gênero, é acompanhado de milagres inúmeros. Aqui todas as leis da natureza são suspensas: toda a substância do pão e do vinho é convertida no Corpo e no Sangue de Cristo; as espécies do pão e do vinho, não contendo realidade alguma, são sustentadas pelo poder divino; o corpo de Cristo acha-se presente simultaneamente em tantos lugares quantos lugares houver onde o sacramento se cumpre simultaneamente. E, para obter da razão humana uma maior submissão a respeito de tão grande mistério, milagres realizados outrora e em nossos dias, e de que em mais de um lugar existem testemunhos públicos, lhe vêm, por assim dizer, em auxílio, e contribuem para a glória da Eucaristia. Esse sacramento, pois, como vemos, alimenta a fé, nutre o espírito, destrói os sistemas dos racionalistas, e mostra-nos sobretudo os esplendores da ordem sobrenatural.

Refreia as paixões


12. Não obstante, o enfraquecimento da fé nas verdades divinas não é unicamente obra do orgulho de que falamos mais acima; é devido também à depravação do coração. Porquanto, se é um fato de experiência que, quanto melhores os costumes de um homem, tanto mais viva também a sua inteligência, em compensação os prazeres da carne embotam os espíritos: reconheceu-o a prudência pagã e predisse-o a sabedoria divina (Sab. I, 4). Mas é sobretudo na ordem das coisas divinas que as volúpias carnais obscurecem a luz da fé, e mesmo, por uma justa reprovação de Deus, a extinguem. Em nossos dias, o desejo insaciável desses prazeres da carne [ndr: que diria hoje Leão XIII?!] incendeia  todos os homens, que mesmo desde a mais tenra juventude, sentem os efeitos desse contágio mórbido. O remédio para um mal tão horrendo acha-se na Eucaristia. O seu primeiro efeito é, aumentando a caridade, reprimir a paixão. Santo Agostinho diz, com efeito: O alimento desta (da caridade) é o enfraquecimento da paixão, e a sua perfeição é ausência da paixão(De diversis quaestionibus LXX  XII, quaest. XXXVI). Além disso, como o ensinou S. Cirilo de Alexandria, a carne castíssima de Jesus comprime a insolência da nossa carne: Realmente, o Cristo existente em nós aplaca a lei da carne que impera nos nossos membros (Liv. IV, c. II, sobre S. João, VI, 57). Bem mais, o fruto todo particular e dulcíssimo da Eucaristia é Aquele que esta profecia significava: Que há de bom n'Ele (em Cristo), e que há de belo, se não é o trigo dos eleitos e o vinho que faz germinar as virgens? (Zac. IX, 17); quer dizer, esse desejo forte e constante da santa virgindade, que, mesmo num século imerso nas delícias, floresce na Igreja Católica sobre uma extensão de dia para dia mais vasta e com abundância sempre crescente. Em toda parte, bem se sabe, é ele uma fonte de progresso e de glória para a religião e para a sociedade. 

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