segunda-feira, 23 de março de 2020

CONDIÇÕES PARA UMA CONTRIÇÃO VÁLIDA

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA

Caríssimos, em se tratando de um assunto capital para a salvação, é necessário fazer uma análise completa a não deixar nos fiéis a mínima dúvida ou ignorância. Assim, sendo a CONTRIÇÃO ou a dor dos pecados absolutamente necessária para a validade da confissão, e sendo esta nas maioria dos casos necessária para a salvação, entendemos que se trata de assunto extremamente importante e mesmo urgente.

Então, para que a nossa dor nos alcance o perdão dos pecados, deve reunir CINCO CONDIÇÕES: é preciso que seja verdadeira, sobrenatural, absoluta, universal e confiante. Vamos dar a explicação de todas estas condições:

1ª - VERDADEIRA: Quer dizer, a dor não pode estar só na boca, mas também no coração. É uma dor íntima e não meramente externa. Eis aí porque o Santo Concílio de Trento a chama uma dor da alma. A Sagrada Escritura é clara sobre este ponto: "Convertei-vos a mim de todo o vosso coração, e dilacerai os vossos corações e não os vossos vestidos" (Joel, II, 12 e 13). É o coração, isto é, a vontade que deve arrepender-se, pois que foi o coração que pecou querendo o mal, comprazendo-se nele, desobedecendo a Deus. "Todos os crimes vêm do coração, dizia Nosso Senhor Jesus Cristo (Cf. S. Mateus, XV, 18). É, pois, o coração que deve converter-se detestando o mal e amando o bem. Davi dizia: "Odeio a iniquidade; e acrescentava, e amo a vossa lei" (Salmo 118). É nisto que consiste a conversão verdadeira que o Senhor quer quando diz: "Fazei-vos um coração novo" (Ez. XVIII, 21) e (Salmo 21). Quando se perde a Deus pelo pecado, como encontrá-Lo? Diz Deus em Deut. IV, 29: "Encontrá-Lo-eis, se o procurardes de todo o coração".

2ª - SOBRENATURAL: Esta dor deve ser sobrenatural, quer dizer, deve ser produzida por um motivo sobrenatural, e não natural; por exemplo: se alguém se arrependesse de uma falta, por ser ela prejudicial à sua saúde, aos seus bens, ou à sua reputação, seria isto um motivo natural, que não serviria para nada. Para que o motivo da dor seja sobrenatural, como deve ser, é preciso que nos arrependamos do pecado, seja por causa da sua fealdade, seja porque ele ofendeu a bondade infinita de Deus, seja porque ele nos fez merecer o inferno ou perder o paraíso; teremos assim a dor perfeita, chamada contrição. ou a dor imperfeita, chamada atrição, como explicaremos depois, se Deus quiser.  
3ª - SOBERANA, isto é, SUPREMA, ABSOLUTA, MÁXIMA: A dor dos pecados é suprema ou máxima quando a ofensa feita a Deus nos desagrada mais do que outro qualquer mal. Caríssimos, por a dor ser soberana, isto não significa que ela deve necessariamente ser acompanhada de lágrimas e duma sensibilidade positiva. Ela reside essencialmente na VONTADE,  e circunstancialmente também na sensibilidade. Falo isto pensando nas almas timoratas que, às vezes, se inquietam por não experimentar sensivelmente a dor dos seus pecados. Fiquem tranquilas tais almas, porque é bastante que a dor dos pecados esteja na vontade, ou queiram arrepender-se, preferindo ter perdido tudo no mundo, do que ter ofendido a Deus. Daí o sábio ensinamento de Santa Teresa d'Ávila: "Para conhecer se temos uma verdadeira dor dos nossos pecados, a melhor regra é saber se a pessoa penitente está disposta a perder tudo, antes do que a graça de Deus; então, sem dúvida alguma, temos uma verdadeira dor".  E isto diz respeito somente aos pecados mortais, pois, não é necessário ter arrependimento de todas as faltas veniais para se obter o perdão de alguma delas, atendendo a que aquelas, cujo arrependimento é sincero, podem ser perdoadas sem as outras. Mais uma observação: Sabemos, pelo que já escrevi, que Deus não pode perdoar nenhum pecado, seja mortal, seja venial, sem que o culpado tenha um verdadeiro arrependimento. Resulta disto que uma pessoa, confessando somente pecados veniais, sem o arrependimento necessário, faz uma confissão nula; por esta razão, se quer receber a graça da absolvição, é preciso que tenha ao menos arrependimento de algum dos pecados veniais dos quais se confessa, ou que acrescente uma outra matéria certa, acusando-se de algum pecado da vida passada, do qual tenha uma verdadeira dor.

4ª - UNIVERSAL: Quanto, porém, aos pecados mortais, é absolutamente necessário ter arrependimento de TODOS  os pecados mortais cometidos, e um verdadeiro propósito de não mais os cometer, sem o que nenhum pecado será perdoado. A razão disto é que nenhum pecado mortal é perdoado sem a infusão da graça na alma; ora, não podendo esta graça achar-se com o pecado mortal, logo, segue-se que nenhum pecado mortal pode ser perdoado, sem que todos os outros o sejam ao mesmo tempo. Portanto, de nada serve detestar os pecados mortais, quando não se detestam todos sem exceção. Gostaria de fazer uma observação importante, sobretudo para as consciências escrupulosas: Quem cometeu vários pecados mortais, não é necessário que deteste cada um em particular; basta que aborreça todos os pecados mortais em geral, como ofensas graves a Deus; porque, se qualquer pecado tivesse ficado esquecido, será perdoado com os outros.


5ª - CONFIANTE: Judas Iscariotes se arrependeu, mas foi um arrependimento sem confiança: se desesperou. A dor deve ser CONFIANTE, quer dizer: unida à esperança do perdão; doutro modo, seria semelhante à dor dos condenados, que se arrependem também dos seus pecados, mas sem esperança de perdão. Pois eles se arrependem, não porque os seus pecados tenham ofendido a Deus, mas tão somente porque são a causa das suas penas. Outro exemplo ilustrativo é o de Caim. Reconheceu o pecado que tinha cometido, matando seu irmão Abel; porém, desesperou igualmente do perdão: "Minha iniquidade é muito grande, dizia ele, para que eu possa obter a remissão"  (Gen. IV, 13). São Francisco de Sales diz que a dor dos verdadeiros penitentes é cheia de paz e de consolação, porque, quanto mais o verdadeiro penitente lastima ter ofendido a Deus, tanto mais confiança tem em obter o perdão das suas faltas; o que muito aumenta a sua consolação. Daí também esta exclamação de São Bernardo, dirigindo-se a Deus: "Se é tão agradável chorar por vós, quão delicioso não será alegrar-se em Vós!". Amém!

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