quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Jesus pregando Retiro aos seus sacerdotes - ( IV )

A humildade do sacerdote

   A minha substância humana é diante de Deus como o nada. Assim aniquilei-me perante a majestade do meu Pai! Tomei a forma de escravo. Fui semelhante a um verme de terra, e quis ser considerado como o último dos homens, um homem devotado ao sofrimento.
   A Ele, meu Pai, Princípio de todas as coisas, Ser infinito, Mestre soberano, seja dada honra e glória pelos séculos dos séculos.
  A mim, o Filho do homem, criatura do nada segundo a minha humanidade, seja dado abatimento e confusão.
   Eu sou o Santo dos santos, essencialmente separado dos pecadores; e, todavia, tomei sobre mim o teu pecado e os pecados de todos os homens.
   Assim mereci todos os golpes da ira de Deus. Fui com toda a justiça saciado de opróbrios e como que esmagado debaixo da sua mão onipotente.
   A maldição devida ao pecado, com razão aderiu a mim como um vestido, precipitando-se como a torrente nas minhas entranhas e penetrou como o óleo até à medula dos meus ossos.
  Se eu fui com toda a justiça, tratado desta sorte por haver tomado sobre mim o pecado alheio, que castigo não merece quem cometeu o pecado?
   Se assim foi tratado o lenho verde, com o seco que se fará?
   Ó meu filho, a que espantosa condição te reduziu o pecado! Não é justo que passes a tua vida na abjeção voluntária diante de meu Pai, diante dos homens e perante a tua própria consciência!
  Tu és essencialmente criatura, infinitamente dependente, sob todas as formas, do teu Criador, do teu Redentor, de teu Santificador.
   Não podes existir, nem agir, nem mover-te, sem o socorro atual do seu braço onipotente. 
  Na ordem sobrenatural, nem sequer podes conceber um simples desejo salutar, nem ter um único pensamento bom, nem fazer movimento algum para te acercares de Deus.
   És incapaz de permanecer, embora por um só instante, na sua amizade, incapaz de nela progredir e mais incapaz ainda de perseverar nela, se não és levado pela graça.
   A tua natureza caída é de si capaz de todos os crimes.
   Não és mais que uma gota de água perdida no seio dos mares; e todavia esta gota de água encerra, em germe, toda a malícia e todas as abominações do mundo. Se a minha graça te não prevenisse, eras capaz de cometer realmente todos os crimes. 
   Humilha-te diante do meu Pai. Reconhece a tua infinita miséria, e Deus aproximar-se-á de ti, purificará a tua alma e amar-te-á. 
   Traze sempre à minha presença um coração contrito e humilhado. Não te atribuas quaisquer talento, sucesso, boa obra ou dom de Deus. Sobretudo não te glories de teres sido levantado à dignidade infinita de sacerdote, porque foi gratuitamente que a recebeste.
   Separa bem em ti o que é de Deus e o que é teu. De ti mesmo tens o nada, o pecado, e o direito ao inferno. Tudo o mais é propriedade minha, efeito da minha bondade e da minha misericórdia. 
  Ama e busca a vida escondida. Não é o brilhantismo do talento, nem a atividade natural, nem o movimento a que muitos se entregam, que a mim conduz as almas.
   Elimina da tua vida tudo o que nela há de humano, para seres exclusivamente meu instrumento, um eco de mim mesmo.
   Sê humilde diante de teu próximo. Suporta as suas fraquezas, escusa os seus defeitos. Atrai as almas pela paciência, pela doçura e pela amenidade do teu proceder. 
   Leva com gosto o fardo de teu próximo. Faze-te o servidor de todos. Como sacerdote vieste para servir e não para seres servido. 
   Sê humilde contigo mesmo. Reconhece de boa mente as tuas faltas, aceita a humilhação que te proporcionam a tua impaciência, o insucesso e os desprezos.
   Segue-me pelo caminho do Calvário. Saboreia em silêncio os opróbrios e os insultos com que o mundo me fere na minha pessoa e na pessoa dos meus sacerdotes. 
   E se sentires dificuldades para compreender esta lição de humildade, roga-me, roga à Virgem humilde de Nazaré, minha Mãe e também tua, suplica-me que abra os teus olhos e verás como dos pés à cabeça estás coberto das chagas do teu orgulho, como todas as potências da tua alma estão roídas por este cancro, como todas as fibras do teu ser estão infectadas deste veneno.
   Meu pobre filho, nem sequer vês e julgas-te são, bom, virtuoso e digno de respeito e de admiração!
   Pede-me e eu farei cair dos teus olhos essas cataratas que te impedem de ver a tua alma em toda a sua indigência e em toda a sua nudez.
   Para quem me inclinarei eu, senão para o coração contrito e humilhado?
  O coração humilde vive na verdade, está contente do seu nada, não usurpa os direitos que apenas pertencem a Deus, o Ser soberano.
   Se alguém é pequeno, venha a mim.
   O coração soberbo, pelo contrário, inspira-me horror; leva na sua fronte o estigma de Satanás, pai do orgulho e da mentira.
   Aprende de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrarás o sossego para a tua alma.  
   
    
   
   
     

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