sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Jesus pregando o Retiro aos seus sacerdotes - ( VI )

O sacerdote deve ter o coração desprendido de todos os bens terrenos. Deve fugir de toda avareza e amar a santa pobreza.

    O teu Redentor não se buscou a si mesmo. Eu fiz sobre a terra, por obediência, a obra imposta pelo meu Pai, e esta obra não foi outra que a Redenção dos homens pelo trabalho, pela fadiga, pela pobreza, pela humilhação, pelo sofrimento e pela morte.
    Vim para ser Hóstia da humanidade, para tomar sobre mim os seus pecados, e sofrer por ela o castigo, para lhe alcançar pela minha paixão e pelo meu sacrifício a vida eterna.
    E tu, meu sacerdote, tu também voluntariamente aceitaste continuar sobre a terra a minha vida de Hóstia para salvar os homens.
    Fiz-me alimento das almas. Da mesma forma deves permitir que os teus fiéis assimilem como um alimento o teu tempo, as tuas forças, o teu talento; que usem e abusem da tua paciência, da tua saúde, dos teus bens, sem neste mundo teres nisto proveito algum.
    O cacho de uvas tem o destino de ser sujeito à prensa. Se o não for, jamais dará o seu precioso licor.
   O sacerdote, a meu exemplo, foi criado para, de alguma forma, ser prensado e pisado pelas almas, consagrando-lhes o seu tempo, as suas comodidades e a mesma vida.
    Que decepção para mim se, no entardecer da tua vida, encontrares o teu cacho ainda intacto e o teu cálice vazio!
    Eu não tive onde repousar a cabeça. Nasci e cresci na pobreza. Morri despojado e nu sobre a cruz e não tive para sepultura senão um sepulcro emprestado.
"Todos os que criam estavam unidos e tinham
tudo em comum. Vendiam suas propriedades e
os seus bens, e distribuíam o preço por todos,
segundo a necessidade que cada um tinha".
Atos dos Apóstolos, II, 44-45.
    Como te fica mal, meu filho, preocupares-te tanto com o bens da terra! O nosso reino não é deste mundo. Nós não temos sobre a terra morada permanente. Por que tu hás de apegar então às coisas que passam?
    Portanto não te inquietes dizendo: Que hei de comer, que hei de beber, com que me hei de vestir? Os pagãos é que se preocupam com estas coisas. Mas tu, tu tens no céu um Pai onipotente que é quem cuida de ti. Até as avezinhas do céu alimenta. 
    Procura, em primeiro lugar, estender o meu reinado sobre a terra. Sê sacerdote comigo, e tudo o mais ser-te-á dado a seu tempo pelo nosso Pai que está nos céus.
    Tu és comigo Redentor, Hóstia e Pastor do meu rebanho.
    O bom pastor não espolia as suas ovelhas; pelo contrário, dá por elas a vida.
    Está pronto a agir desta sorte e as minhas ovelhas ouvirão a tua voz e salvar-se-ão por teu meio.
   Não entres nunca em altercações com os teus paroquianos por causa de bens terrenos. Este procedimento do Pastor escandalizaria e afastaria de mim as minhas ovelhas. 
    Se alguém te quiser roubar o manto, dá-lhe também a túnica. Eu fui tratado sobre a terra por aqueles que vinha resgatar, como homem que não tem direitos.
    De igual sorte serás tratado pelos teus próprios fiéis: o discípulo não está acima do Mestre.
    Tu mesmo, filho, amiúde me fizeste cruéis injúrias, ofendendo-me após tantos benefícios.
    Que teria sido de ti, se eu tivesse agido a teu repeito segundo o rigor dos meus direitos? E que será do meu rebanho, se o sacerdote exige sempre dele a estrita justiça? Não é na terra que deves reclamar os teus direitos. Na terra tu és vítima comigo, destinado a seres sacrificado e calcado aos pés. É necessário partilhares comigo a Cruz até ao Calvário. 
    Nada temas. Na eternidade a ordem será restabelecida. Lá, os meus sacerdotes, os que me seguiram na pobreza e na humilhação, julgarão as doze tribos de Israel; sentar-se-ão à minha direita entre os príncipes de meu povo.
    Faze o bem enquanto há tempo para o fazeres. Renuncia às tuas comodidades, ao teu repouso, aos cuidados excessivos da tua saúde. 
    Gratuitamente recebeste, dá gratuitamente, sem peso e sem medida.
    Se quiser ter necessidade de ti para a minha Obra, eu te conservarei as forças. Se te mando a doença, sabe que o faço por um desígnio de minha misericórdia. 
    Eu vim para servir e não para ser servido. Tu deves ser igualmente o servidor de todos e acudir ao menor chamado de uma alma em perigo.
    Que desordem, se por te poupares desamparas uma alma imortal, comprada com o meu sangue!
    Que desgraça para ti, se um dia eu tivesse que te lançar em rosto esta queixa: Os pequeninos pediam pão e não houve que lho partisse!
    Quem quer ser o primeiro, considere-se último. Se estás elevado pela dignidade, abate-te pela humildade. És grande pelas tuas funções, sê pequeno na tua estima. Estás colocado acima dos teus fiéis pela tua eleição ao sacerdócio; deves estimar-te como o mais indigno de exercer as augustas cerimônias.
    Não esperes com orgulho que os pecadores te venham procurar; previne-os, obsequioso pela tua bondade.
    Eu desci dos esplendores do céu para buscar a ovelha tresmalhada. Não podes tu descer do pedestal da tua dignidade para te abeirares com doçura dos pobres pecadores?
    A tua aproximação fácil e acolhedora ganhar-te-á mais almas de que os teus eloquentes discursos.
    A tua doçura e a tua humildade dar-te-te-ão a chave dos corações mais hermeticamente fechados.
    Sê perfeito como nosso Pai celestial é perfeito. Ele tanto faz cair a chuva no campo do pecador como no campo do justo. E continua a dar existência e os bens temporais ao ímpio, e precisamente no momento em que este abusa deles para o blasfemar.
    Aceita o reconhecimento da gratidão, se os homens to mostrarem. Não é a ti que este reconhecimento vai dirigido, mas sim Àquele a quem tu, como sacerdote, representas.
    Mas não estranhes encontrar no caminho a ingratidão. Eu fui dela saturado, e permito que tu igualmente lhe saboreies a amargura.
    Não tens necessidade do amor e da gratidão dos mortais. Lembra-te que pelo sacerdócio tu tens o teu lugar junto de mim e da minha Mãe muito amada.
    Comparado com a nossa ternura e dedicação por ti, todo outro amor te deve parecer vão e frágil.
    

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