sábado, 27 de outubro de 2018

O DECÁLOGO E A VIDA ETERNA



(Excertos do capítulo III do livro "OS DEZ MANDAMENTOS", da autoria da Mons. Tihamer Tóth) 

"O nosso assunto agora é este: Que significa o Decálogo para a vida eterna.
Apresentou-se a Nosso Senhor Jesus Cristo um jovem amável e rico, e cravando olhares ardentes no seu santo rosto, perguntou com as ânsias da alma que deveras procura a Deus: 'Mestre, que boas obras devo fazer para conseguir a vida eterna?' (S. Mateus XIX, 16).
Não é este, igualmente, o grande problema? Não poderíamos também nós, homens modernos, colocar-nos junto do jovem e dizer com ele: 'Senhor, o peso esmagador da vida moderna, tão agitada, acabrunha-me e turba o meu espírito. Sei que tenho uma alma. Que devo, porém, fazer para a salvar? Senhor, o abismo de maldade satânica abre as suas fauces em volta de mim e faz vacilar a minha alma já abalada. Senhor, que devo fazer para salvar a minha alma e conseguir a vida eterna?...'
Decerto é também este o nosso problema.
Confiemos na resposta do Senhor.
Jesus respondeu: 'Se queres entrar na vida eterna guarda os Mandamentos'.
Como? É esse o grande segredo? É essa a grande orientação? Essas breves palavras?
Sim, estas breves palavras: 'Guarda os mandamentos'. Mas se Jesus Cristo fazia depender delas a vida eterna, é bem razoável que nós tratemos de penetrar o seu sentido profundo, porque, são, profundíssimas, embora pareçam tão singelas. (...) 
'Se queres!' Portanto, depende de mim, só de mim, a sorte que me caberá além túmulo. Depende de mim. Deus a ninguém obriga, não leva ninguém para o Céu por violência. O homem é livre: pode decidir livremente sobre o seu destino eterno. (...) Mas tem cuidado, não esqueças: se não tratas da tua alma, o prejuízo não será nem da Igreja, nem de Deus. Acredita: não hão de ser eles que sofram com isso.
O livre arbítrio do homem é um valor magnífico, mas um dom perigoso [por causa da fraqueza humana], ao mesmo tempo. Tens liberdade de ação, mas és responsável pelos teus atos. Se empregas a vida segundo as leis de Deus, asseguras a tua felicidade eterna; se usas dela contra essas leis, mereces uma condenação perdurável.
"Se queres entrar na vida eterna, guarda os Mandamentos". O Senhor deu leis a todas as suas criaturas; e são justamente essas leis que asseguram a ordem, a beleza, a harmonia do mundo. Os astros siderais percorrendo a sua órbita, as plantas dando flores, o animal vivendo, todos obedecem a Deus; são regidos por leis físicas e biológicas; a sua maneira de agir está determinada.
Com o homem teve Deus procedimento excepcional: também lhe deu leis, mas deixando-lhe a liberdade:
  - É esta a minha vontade; está na tua mão cumpri-la; portanto, se a repelires, lavrarás a tua condenação. (...) A lei não faz mais do que aperfeiçoar a liberdade.
O que aprende a pintar tem de observar as leis da perspectiva. Limita-se, por isso, a liberdade do pintor? De modo nenhum. Está na sua mão desprezar as leis da perspectiva; mas... assim lhe ficará o quadro. Tu também podes infringir as leis de Deus; mas... pensa o que será a tua alma.
O que aprende música terá de respeitar as leis da harmonia. Sofre limitação a sua liberdade? Não sofre. Pode escrever uma composição, tocar instrumentos, cantar... contra as leis da arte... enquanto houver quem lhe suporte tanta dissonância. Tu também podes levar uma vida contrária à lei de Deus mas... será cheia de dissonâncias.
O que escala o pico de Lomnic tem um caminho seguro, provido em muitos lugares de varandas e cordas a que pode segurar-se. Estará por isso limitada a sua liberdade? De modo algum. Pode experimentar outros caminhos, pode escolher os que quiser, mas que não se queixe de ninguém senão de si, se por fim cair.
Se queremos pintar a obra-prima da nossa vida e observar nela a justa perspectiva, temos de guardar a Lei de Deus. Se queremos que a nossa vida seja harmoniosa, temos de procurar na Lei de Deus os devidos acordes. Se queremos atravessar com segurança os perigos da vida, sem cair no precipício, e atingir os cumes da vida eterna, temos de seguir a Lei de Deus que nos indica o caminho. (...).
Resume-se o presente capítulo e o anterior neste pensamento: o Decálogo serve de garantia para a vida terrena e para a vida eterna. Não há ninguém que possa iludir a voz da autoridade que vibra nestas leis [Êxodo XX, 1-17]. Elas obrigam igualmente ao menino e ao ancião, ao pobre e ao rico, aos seculares e aos sacerdotes. Sim; TAMBÉM obrigam aos sacerdotes.
Estranhar-se-á porventura o sublinhado. É que existe em meu poder uma carta cheia de censuras tão ásperas, como esta: "Vós nos pregais o Decálogo... Antes de o fazerdes conviria que os próprios sacerdotes o guardassem; mas eles não o cumprem..."
Não sei que tristes cenas presenciaria o autor desta carta para a escrever com tanta amargura; mas tenho de afirmar de um modo solene que o Decálogo, é evidente, não obriga só aos leigos, mas também aos sacerdotes. Ainda mais: obriga com mais rigor a estes, porque eles têm de dar exemplo. E se algum cai, por fragilidade humana, ninguém o deplora mais que a própria Igreja e os sacerdotes zelosos que o são segundo o Coração de Cristo.
Sim, o Decálogo corta ao vivo; corta como o cinzel; é aguçado como o bisturi. Quem o poderia negar? Quem poderia negar que é preciso ter uma firmeza a toda a prova, um entusiasmo que não vacile ante os sacrifício e um domínio próprio que só a imitação de Cristo pode dar, para permanecer fiel aos Mandamentos de Deus, sempre e em todas as situações, no meio deste mundo tão tempestuoso? A alma que segue a Cristo tem de preparar-se para uma luta dupla: o primeiro combate, à custa de suor de sangue, terá de o sustentar contra os próprios instintos; a segunda refrega consistirá no combate com o mundo desdenhoso e ofensivo, que não compreende os altos ideais.
Mas não podemos ceder.
Se a vida humana e as leis divinas não se coadunam, não havemos de pretender que se modifiquem as leis divinas, mas sim que se reforme a vida humana. Não é lícito "reformar a religião de Cristo segundo os postulados da época" como pedem alguns [hoje infelizmente muitíssimos, até bispos]; não é lícito "reformar" o Evangelho de Cristo [nem jogá-lo no lixo], nem é lícito "reformar a moral cristã. O homem efeminado, indolente, frívolo, ébrio de prazeres, veria com gosto uma nova edição, correta e abreviada, do Decálogo; aplaudiria, por exemplo, a supressão do sexto mandamento; mas do mesmo modo que o Sol não segue na sua carreira, os relógios de algibeira, nem os átomos, ao combinar-se, têm em conta as lucubrações dos químicos; nem a órbita dos corpos siderais tem complacências com os melhores astrônomos; nem as leis do universo se modificam segundos os caprichos dos primeiros físicos... assim também as leis de Deus não obedecem aos humores dos homens. Da natureza criada por Deus não podemos trocar uma única verdade, não podemos suprimir nem uma só lei; assim como a não podemos suprimir no mundo sobrenatural.
Mas o homem moderno tem necessidade e necessidade urgente de uma coisa: Necessita não de uma fé nova, nem de uma religião nova, nem de um código novo, mas de um coração novo, de uma alma nova, de uma generosidade nova, de um amor novo à fé antiga.
Não é coisa fácil observar sempre e em tudo os dez Mandamentos; mas nós queremos cumpri-los, porque sabemos que deles depende o bem-estar da Humanidade neste mundo e disso depende a nossa felicidade eterna no Céu."
AMÉM!

Nenhum comentário:

Postar um comentário