segunda-feira, 13 de agosto de 2018

INGRATIDÃO PARA COM DEUS



Pela gratidão deveria todo homem pensar sempre nos benefícios recebidos de Deus, deveria agradecer ao benfeitor e fazer bom uso dos seus dons. Pois bem, o homem ingrato, em lugar de recordar as graças que recebeu de Deus, esquece-as; em lugar de as agradecer a Nosso Senhor, desconhece que as recebeu d'Ele, e, às vezes até as atribui a si; em lugar de as empregar em servi-Lo, abusa delas para O ofender.

Caríssimos, o Espírito Santo lança em rosto ao antigo povo judaico, este indigno esquecimento: "Abandonaste o Deus que te gerou e esqueceste-te do Senhor, teu criador" (Deut. XXXII, 18); " Nossos pais no Egito não consideraram as tuas maravilhas; não se lembraram da multidão das tuas misericórdias"... "Esqueceram-se de Deus, que os tinha salvado, que tinha feito grandes prodígios no Egito, maravilhas na terra de Cam, coisas terríveis no mar Vermelho" (Salmo 105, 7, 21 e 22); "E esqueceram-se de seus benefícios e das maravilhas que fez à vista deles" (Salmo 77, 11).  O ingrato pode ser comparado aos brutos animais que, debaixo de uma árvore frutífera, comem as frutas que caem  e não olham para cima.

O ingrato não só esquece os benefícios recebidos de Deus mas vai mais além: atribui a si o que recebeu do céu: "Farei desaparecer a sua memória dentre os homens. Mas diferi por causa da arrogância dos inimigos; para que os seus inimigos não se ensoberbecessem e dissessem: Foi a nossa mão poderosa, e não o Senhor que fez todas estas coisas"  (Deut. XXXII, 27). Caríssimos, a ingratidão é fruto do orgulho. É levado por este pecado capital, que o homem pretende, ao menos, participar com Deus da glória do bom êxito; quereria, na verdade, dever tudo a si mesmo; mas não podendo, esforça-se por diminuir a sua obrigação de agradecer os benefícios recebidos de Deus.

Mas a ingratidão leva ao auge sua maldade quando, em lugar de agradecer os benefícios, abusa deles para ofender o Sumo Benfeitor.  E Deus se queixa ao seu povo:  "Tu, Jacó, não me invocaste, nem tu, Israel, fizeste caso de mim. Não me ofereceste carneiros em holocausto, nem me glorificaste com as tuas vítimas, não te fiz render serviços com oblações, nem te dei trabalho de queimar incenso... Antes me tornaste como que um escravo com os teus pecados, e me causaste pena com as tuas iniquidades" (Isaías XLIII, 22-24).  

Caríssimos, por estas palavras divinamente inspiradas do Espírito Santo, podemos avaliar quão pecaminosa é a ingratidão para com Deus. Outras passagens ainda das Sagradas Escrituras mostram toda a enormidade deste crime da ingratidão. O homem ingrato priva a Deus do único tributo que pode e quer receber da sua criatura racional: "Ouve, meu povo, e eu falarei; ouve, Israel, e eu te darei testemunho. Deus, o teu Deus sou eu" (Salmo XLIX, 7). Esta passagem quer dizer o seguinte: Ouve, povo meu; tu não podes desconhecer que sou o teu Deus, e que, tendo recebido de mim todos os bens que possuis, é justo que me mostres a tua gratidão com alguma oferenda. Mas, que me oferecerás tu? Qualquer coisa que queiras oferecer-me, pertence a mim. E Deus mostra, então, o que pode oferecer: "Oferece a Deus sacrifício de louvor; e paga ao Altíssimo os teus votos" (Salmo XLIX, 14). É justamente isto o que o homem ingrato não faz!

Todas as criaturas ainda mesmo insensíveis proclamam a glória de Deus, e nos convidam a louvá-Lo. O ingrato não o faz, e assim, priva a Deus do fruto de Seus trabalhos. O ingrato comete ainda um grande atentado: toma o lugar de Deus, que é o Primeiro Princípio, pois, atribui a si as qualidades que possui, ou julga possuir, como se proviessem de si mesmo.

"Não foram dez os que curei? Só um voltou para
agradecer..."
Por tudo que acabamos de ver, baseados nas Sagradas Escrituras, podemos avaliar quão funestos poderão ser os efeitos da ingratidão para com Deus. Diz S. Bernardo: "Ingratitudo inimica est animae exinanitio meritorum, virtutum dispersio, beneficiorum perditio..., ventus urens, siccans fontem pietatis, rorem misericordiae, fluenta gratiae (Sermão LI in Cant.). Traduzido: "A ingratidão é inimiga da alma, a destruição dos seus merecimentos, a ruína das suas virtudes e a perda dos benefícios que ela tinha recebido..., é um vento abrasador que seca a fonte dos dons celestiais, da piedade, o orvalho da misericórdia, as fontes da graça". E no mesmo sermão o santo doutor diz que a ingratidão é a corrupção do coração, que priva das primeiras graças e obsta às segundas, porque, o ingrato merece perder o bem que possui, e não merece obter o que lhe falta. E eis o que diz a Sagrada Escritura: "Isto diz o Senhor Deus: Visto que te esqueceste de mim, e me lançaste para trás das costas, carrega tu também com a tua maldade..." (Ezequiel, XXIII, 35).  Em Oséias I, 6 , Deus mostra qual o castigo reservado ao povo ingrato de Israel: "...Eu não me tornarei mais a compadecer da casa de Israel, antes os esquecerei inteiramente". Terrível castigo!!!

Jesus curou dez leprosos, e só um voltou para agradecer. O manso Cordeiro reclama: "Não foram dez os que curei? Onde estão os outros nove? Só um voltou para agradecer!

"Ó Senhor, exclama Santo Agostinho, médico das almas, sarai-me para que Vos confesse, ó Saúde da minha alma e Vos agradeça com todo o meu coração, os benefícios com que me sustentastes desde a minha juventude e me sustentareis até ao declinar da velhice". Amém!

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