segunda-feira, 6 de agosto de 2018

A CARIDADE PARA COM O PRÓXIMO



"Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o coração, e a teu próximo como a ti mesmo" (S. Luc. X, 27 e 28). Jesus disse que estes dois mandamentos contêm toda a Lei e os profetas (Cf. S. Mat. XXII, 40). Portanto, todos os nossos deveres se resumem no amor de Deus e do próximo. Cumprindo-os, portanto, conseguiremos a vida eterna. Na verdade, a vontade, guiada pelo amor, não quererá senão o bem. O amor de Deus é o princípio do amor ao próximo. Quando uma alma possui a verdadeira caridade, é sinal de que está em paz com Deus: "Sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os nossos irmãos" (1 S.João III, 14). Dizia S. Paulo aos Coríntios: "Não passais, na vida espiritual, de criancinhas, que só podem alimentar com leite; sois ainda muito carnais, já que existem entre vós inveja e discórdias" (1 Cor. III, 1-3).

Há duas espécies de amor do próximo: o natural e o sobrenatural. É natural, por exemplo, ao homem amar sua família, seus amigos, seus semelhantes. Disse um autor pagão: "Sou homem e nada do que é humano me pode ser indiferente". Assim, instintivamente nos compadecemos dos que sofrem e procuramos oferecer-lhes nossos préstimos. Naturalmente temos prazer em fazer alguém feliz. Dizia o pagão Virgílio, grande escritor latino: "Haut ignara mali miseris succurrere disco"; em Português: "Conhecendo a desgraça, sei prestar auxílio aos desgraçados". Este sentimento, embora, puramente natural, é obra de Deus e por conseguinte não podemos desprezá-lo.  A inclinação de fazer bem ao próximo foi colocada na alma humana por Deus. E nos planos divinos, esse amor natural deve servir de começo para o amor sobrenatural, porque a graça sobrenatural não destrói a natureza feita por Deus, mas, pelo contrário, a supõe. A lei de Moisés já rezava: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Levítico XIX, 18).

Mas, caríssimos, nossa natureza foi vulnerada pelo pecado original. Daí necessitamos daquela recomendação feita por Tobias a seu filho: "Não faças a outrem aquilo que não queiras que te façam" (Tobias XVI). Como já dissemos, se o homem traz em si uma inclinação para querer bem ao próximo, por outro lado, é levado, quase que sem perceber, a colocar-se acima do próximo, a achar-se que merece atenções que ele mesmo não emprega em relação aos seus semelhantes. Daí, de um lado, é-lhe agradável fazer o bem, de outro, custa-lhe ser contrariado. E como os interesses dos homens, às vezes, são opostos, isto é, o que constitui a felicidade de um, causa tristeza a outro, as vontades de um e outro se opõem.

De tudo isto devemos concluir, que, para haver caridade é mister renúncia de si mesmo. Não podemos ceder ao amor próprio um tanto excessivo, porque ele leva o homem a ter invejas e aversões. Daí, os corações apaixonados por si mesmos, são mesquinhos e amam poucas pessoas, e mesmo assim, levados pelo mesmo amor de si mesmos. Na verdade, gostam daqueles que têm os mesmos defeitos, daqueles que lhe são simpáticos ou que os lisonjeiam. Por outro lado, criticam  os que não concordam com eles.

Devemos dizer que assim como existe um amor de Deus perfeito e outro imperfeito, assim também existe um amor do próximo que podemos chamar de perfeito, e existe o amor do próximo que é imperfeito.  

O egoísmo é a fonte do amor imperfeito ao próximo. É ele que causa a maior parte das faltas contra a caridade. A Lei mosaica contentou-se com "amar o próximo como a nós mesmos", mas o Coração de Jesus fez e quis que fizéssemos muito mais: "Eu vos dou um novo mandamento, é que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei" Jesus quer que nos amemos, porque somos filhos de Deus. S. Paulo dizia aos Filipenses: "Trago-vos todos em meu coração, eu vos amo com o coração de Cristo" (Filip. I, 8).

O perfeito amor do próximo vem de uma fé viva, perfeita. O Divino Espírito Santo se compraz em dar esta virtude da caridade perfeita também àqueles que são generosos e se esforçam em imitar a Jesus. E também cada sacrifício feito em favor do próximo aumenta-lhes a caridade. Assim, caríssimos, devemos esforçar-nos para obter esta caridade perfeita e já a tendo adquirido, tomarmos todo cuidado em evitar tudo que possa diminuí-la. Devemos, portanto, ter em nós os mesmos sentimentos do Coração de Jesus.

"O meu mandamento, disse Jesus, é que vos ameis uns aos outros como eu vos amei" e acrescenta: "Sereis meus amigos se fizerdes o que eu vos ordeno". Que felicidade ser amigo do próximo e ser assim amigo de Jesus! Amém!

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