terça-feira, 4 de outubro de 2016

O APOSTOLADO DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS - ( II ) -

Por Frei Thomás de Celano


S. Francisco por Margaritone de Aresco
   "Francisco, com o olhar fixo no exemplo de Cristo e dos Apóstolos, apresentou-se aos Sarracenos (=muçulmanos) como pregador do Evangelho da paz, da penitência, da graça e da verdade. Abrasado de amor divino, e desejando ardentemente receber o santo martírio, o bem-aventurado Pai quis passar à Síria, para pregar a fé cristã e a penitência aos Sarracenos e aos outros infiéis. Uma violenta   tempestade atirou-o, bem como aos seus companheiros, para as costas da Eslavônia, e teve ele assim de voltar à Itália por Ancona. Francisco, o servo do Altíssimo, afastando-se então do mar, pôs-se a percorrer a terra, revolveu-a com o arado da sua palavra e confiou-lhe a semente de vida que produziu frutos de bênção... O martírio ficou sendo para ele o fim sublime que sempre tinha o mesmo ardente desejo de atingir. Eis porque partiu para Marrocos a fim de pregar ao Sultão Miramolim e aos seus satélites o Evangelho de Cristo. Ia de tal modo entusiasmado que, às vezes, deixava o companheiro, e corria, de espírito embriagado, à frente de seu sonho. Mas o Senhor, em sua bondade, lembrou-se de mim e de muitos outros, Já Francisco havia chegado à Espanha, quando Deus lhe deteve os passos e, para o impedir de ir mais longe, mandou-lhe uma doença, que interrompeu a sua viagem.
   Nem por isso Francisco desanimou. Assim, no ardor da sua caridade por Cristo, um pouco mais tarde, expôs-se aos perigos  de uma viagem por mar, e foi ter com os infiéis e visitou o Sultão. "Era, diz Boaventura, uma temerária empresa, pois que o príncipe dos Sarracenos pusera a prêmio, e alto prêmio, a cabeça dos cristãos". Mas Francisco apresentou-se a ele com tal mansidão e tal brandura, e, ao mesmo tempo, com uma fé tão intrépida e uma tão santa liberdade. que o tirano não ousou fazer-lhe mal, ouviu-o mesmo com benevolência e permitiu-lhe que pregasse a doutrina cristã".
A estigmatização, por Giotto
   Celano cita a este respeito, palavras do próprio São Francisco: "A obediência suprema, em que a carne e o sangue não tomam parte alguma, é atingida quando, levados por uma inspiração divina, vamos para junto dos infiéis, quer para salvar as almas, quer para colher a palma do martírio". Procurar atingir isso era, a seu ver, fazer uma obra muito agradável a Deus. Sim, continua Celano, pode-se dizer, sem exagero, que ele (Francisco) foi, desde os tempos apostólicos, o primeiro mensageiro da fé que inscreveu na sua bandeira a conversão do mundo inteiro, cumprindo assim à risca a ordem dada pelo divino Salvador, e evangelizar o universo: "Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a todas as criaturas". "Nada, dizia Francisco, deve ser preferido ao trabalho da salvação das almas", e ele muitas vezes dava provas disso, lembrando que o Filho de Deus consentiu, pelas almas, em ser crucificado. Daí, o aplicar-se à oração, o seu grande interesse pela pregação, o seu extremo ardor em dar o bom exemplo. Não se considerava um amigo de Cristo se não amasse as almas que Cristo amou. O principal motivo da veneração que tinha pelos doutores, estava em que eles eram os auxiliares de Cristo e cooperavam com Cristo na sua obra. ... O novo cavaleiro de Cristo quis viver com seus Irmãos, não para si só, mas para aqueles pelos quais morrera Cristo.
Para os que entendem latim, eis as palavras de Frei Celano: "Conferebant pariter veri cultores iutitiae, utrum inter homines conversari deberent, an ad loca solitaria se conferre. Sed sanctus Franciscus, qui  non de industria propria confidebat, sed sancta oratione omnia praeveniebat negotia, elegit non sibi vivere soli, sed ei, qui pro omnibus mortuus est, sciens se ad hoc missum, ut Deo animas lucraretur, quas diabolus conatur auferre". (Celano, I, n. 35).
   "Francisco, diz (S.)  Boaventura, andava com tanto ardor para cumprir a ordem divina e com tal rapidez, que parecia conduzido pela mão de Deus e ter recebido do Alto uma virtude inteiramente nova". Continua Celano: "No decorrer dos dezoito anos, nunca ou quase nunca concedeu repouso ao seu corpo, percorrendo continuamente regiões diversas e longínquas, para permitir ao espírito, de prontidão, devoção e fervor que nele havia, espalhar por toda parte a semente da palavra divina. Enchia toda a terra com o Evangelho de Cristo, visitando num só dia cinco ou seis aldeias, e mesmo cinco ou seis cidades, anunciando em cada uma delas o reino de Deus, edificando os seus ouvintes com o exemplo como com a palavra, fazendo do seu corpo uma pregação viva".


  Reflexões: 1 -  Os modernistas, que negam a verdade objetiva e pregam a evolução dos dogmas, forjaram um Cristo a seu modo. Inventaram a ímpia distinção entre o Cristo histórico e o Cristo da fé. Assim desfazem o Evangelho e pregam o modernismo, que termina negando a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo.  Como diz o Papa Bento XVI no seu livro "Jesus de Nazaré", esta cisão entre o "Cristo histórico  e o "Cristo da fé" "constitui uma ameaça dramática para a fé, porque se torna inseguro o seu ponto de referência mais autêntico: a íntima amizade com Jesus, da qual tudo depende, ameaça cair no vazio". Loisy, cabeça dos modernistas, foi excomungado por S. Pio X, justamente porque pregava de modo contumaz esta diabólica teoria.
   Inspirado por Deus, São Francisco de Assis fez exata e totalmente o contrário: Seguiu o Evangelho em toda sua perfeição, sem a mínima interpretação mitigada. O seu ideal foi seguir Nosso Senhor Jesus Cristo tal qual O mostram os Santos Evangelhos.
                      2 - Os modernistas querem  uma paz que não é a do Evangelho. Nosso Senhor Jesus Cristo disse: "Eu vos dou a minha paz, não vo-la dou, porém, como a dá o mundo". Jesus veio trazer a espada para combater o erro e o pecado. Só assim teremos a verdadeira paz. Só assim seremos verdadeiramente livres: pela graça santificante e pela verdade.  Como vimos, esta é a paz que São Francisco pregava.
   O progressismo, com exemplos e palavras, procura tranquilizar os hereges em seus erros, e os pecadores, em seus pecados. Jesus veio para nos dar a verdadeira paz  pregando a verdade e morrendo na cruz para destruir o pecado. São Francisco pregava a penitência para a remissão dos pecados. Desejou ardentemente morrer mártir pregando a verdade.
    Não falta infelizmente quem queira, fazendo verdadeira ginástica, defender os "Encontros de Assis"  dizendo que lá certamente estarão muitos de boa fé.  Devemos recordar que aqueles que estão de boa fé, estão por isso mesmo com o coração aberto à verdade. E em si não seria obra boa, sem julgar as intenções, o que só a Deus pertence,  em lugar de mostrar-lhes a verdade, confirmá-los nos seus erros.

                      3 - Se não me engano, o Papa Bento XVI no segundo Encontro de Assis não quis ir e mandou uma carta alertando contra o perigo de sincretismo religioso e de relativismo. Agora, diz que se vê obrigado a ir. Mas o Papa fez questão de frisar que pareceu-lhe melhor  coisa para ele, ir até lá pessoalmente, para fazer de tudo a fim de evitar qualquer interpretação de sincretismo religioso e relativismo. Isto tudo significa, para quem quer entender, que, no mínimo, trata-se de algo perigoso. O que é bom dispensa qualquer justificativa. Por exemplo, se se tratasse de um Encontro de Clérigos e leitos católicos chefiados pelo Papa, lá em Paray-le-Monial para pedir a paz ao Sagrado Coração de Jesus não se faria mister defesas e justificativas. Não haveria nenhum perigo, tanto mais que o Sagrado Coração de Jesus  prometeu dar a sua paz, que é a única verdadeira. 

                        4 -  A verdadeira paz nunca vai ser dada pelo mundo, cujo príncipe é o demônio, nem  muito menos pelos ídolos, porque são o próprio.
   Cabe a nós, caríssimos leitores, rezar muito pelo Santo Padre o Papa.

  
  

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