segunda-feira, 18 de abril de 2016

"PADRES DE CAMPOS" - NOSSA PEQUENA HISTÓRIA DENTRO DA HISTÓRIA DA IGREJA

Extraído de "ONTEM HOJE SEMPRE", Campos, novembro/2001 - janeiro de 2002  -  nº 66.

   A Igreja Católica aqui na terra é militante, porque está sempre em combate contra os inimigos de Deus e das almas. internos e externos, pecados e heresias.
   Tendo apenas saído das perseguições romanas dos três primeiros séculos, a Igreja teve que lutar contra as grandes heresias trinitárias e cristológicas que apareceram em seu seio.
   Mesmo no apogeu da cristandade medieval, época de grandes santos, não faltaram grandes heresias, que exigiram intensa vigilância da parte da Igreja.
   Como resultado da decadência dos costumes do Renascimento, decadência moral que atingiu todos os níveis do universo cristão, desde o povo simples até a mais alta hierarquia, surgiu o protestantismo - a pseudo-reforma - que fez e faz ainda grandes estragos no povo cristão, com erros principalmente sobre o sacerdócio, a Eucaristia e o sacrifício da Missa. A verdadeira reforma foi feita pela Igreja com o Concílio de Trento e o zelo dos santos, tais como Santo Inácio e a Companhia de Jesus, São Carlos Borromeu e a fundação dos seminários, São Pio V e a codificação de Liturgia.
   No final do século XVIII, veio a Revolução Francesa coma proclamação dos direitos do homem independente dos direitos de Deus, com o laicismo dos Estados e as liberdades modernas, com forte perseguição à Igreja.
   No início do século XX, o modernismo na Igreja, resumo de todas as heresias, foi condenado por São Pio X. No campo social surgia o comunismo, fruto da filosofia marxista, destruidor da sociedade cristã e grande perseguidor da Igreja.
   Duas guerras mundiais serviram para maior laicização e descristianização da sociedade.
   E muitos erros, já condenados pela Igreja, começaram a se reintroduzir nas fileiras católicas. O Santo Padre Pio XII renovou a condenação desses erros, em várias encíclicas, especialmente a "Humani Generis" e, no campo litúrgico a "Mediator Dei" (1947).
   Em 1948, foi nomeado bispo de Campos Dom Antônio de Castro Mayer, professor, doutor em Teologia, formado pela Universidade Gregoriana de Roma, muito fiel ao Magistério da Igreja. Dom Antônio através dos seus sermões, artigos e sobretudo brilhantes Cartas Pastorais, alertava continuamente seus padres e diocesanos contra os erros atuais, já condenados pela Igreja, que se infiltravam por toda a parte. E nesse espírito de fidelidade à Igreja Dom Antônio formava seus padres.
   Tendo participado do Concílio Vaticano II, de 1962 a 1965, Dom Antônio procurou dar aos padres e fiéis a legítima interpretação do "aggioramento" desejado pelo Papa João XXIII, advertindo contra os que, aproveitando-se do Concílio,(N. do blog: eu diria:  apoiando-se nele)  procuravam fazer reviver na Igreja o modernismo e seu conjunto de heresias, caracterizando o que foi denunciado pelo Papa Paulo VI como a "autodemolição da Igreja".
   Após o Concílio, grande crise, sem precedentes, instalou-se na Igreja, com apostasias em grande escala de padres e religiosas, dessacralização da liturgia, laicização do clero, diminuição de vocações, mundanização dos seminários, ecumenismo irenista, sincretismo religioso, etc. Como disse o Papa João Paulo II: "... foram espalhadas a mãos cheias idéias contrárias à verdade revelada e sempre ensinada; propagaram-se verdadeiras heresias nos campos dogmático e moral... também a Liturgia foi violada" (Discurso no Congresso das Missões, 6/2 1981).
   No meio da crise geral, Dom Antônio procurou preservar a sua Diocese na verdadeira doutrina católica, formando sacerdotes e orientando os fiéis.
   Após o Concílio foram introduzidas algumas alterações na Liturgia de Missa, que Dom Antônio aceitou docilmente e adotou na Diocese. Mas alguns sintomas de que a reforma litúrgica não caminhava bem causavam insatisfação. O Cardeal Antonelli, membro da Comissão Pontifícia para a Reforma Litúrgica, confessa que a reforma estava sendo feita por "pessoas... avançadas nas trilhas das novidades..., sem nenhum amor e nenhuma veneração por aquilo que nos foi transmitido" (Il Card. Ferdinando Antonelli e gli sviluppi della riforma liturgica dal 1948 al 1970 - Studia Anselmiana - Roma).

   Em 1969, veio o Novus Ordo Missae do Papa Paulo VI, que não deixou de causar perplexidades em muitos católicos, inclusive em personalidades  importantes, com alguns cardeais da Cúria Romana.
   Com perplexidades semelhantes, Dom Antônio escreveu ao Papa Paulo VI, expondo sua dificuldade de consciência de aceitar a nova Missa. Eis um trecho de sua carta: "Tendo examinado atentamente o "Novus Ordo Missae"... depois de muito rezar e refletir, julguei de meu dever, como sacerdote e como bispo, apresentar a Vossa Santidade, minha angústia de consciência, suplicando, humilde e respeitosamente, a Vossa Santidade, se digne... autorizar-nos a continuar no uso do "Ordo Missae" de São Pio V, cuja eficácia na dilatação da Santa Igreja e no afervoramento de sacerdotes e fiéis, é lembrada, com tanta unção, por Vossa Santidade" (Carta de 12 de setembro de 1969).
   Desse modo, embora Dom Antônio não obrigasse ninguém - e houve padres  que adotaram a missa nova - (N. do blog:  não havia como não tolerar) se conservou, oficialmente na Diocese de Campos, na grande maioria das paróquias, a Missa tradicional, dita de São Pio V, e toda a orientação tradicional do apostolado.
   Em 1981, Dom Antônio foi substituído na sede episcopal de Campos. Os bispos que o sucederam não eram da mesma orientação. Tendo sido removidos das paróquias, seguidos por milhares de fiéis que desejavam a Missa e a orientação tradicional da Igreja, os "os padres de Campos" se viram na necessidade de atender aos fiéis que os procuravam, e continuaram, em novas igrejas e capelas, a ministrar-lhes os sacramentos. Foi criada, assim, a União Sacerdotal São João Maria Vianney. E, sem nenhuma intenção de fazer qualquer cisma na Igreja, solicitaram aos Bispos da Fraternidade São Pio X que sagrassem um dos seus padres, Dom Licínio Rangel, para atender aos fiéis da linha tradicional. Bispo sem jurisdição, apenas com o poder de Ordem, sem intenção de fazer uma diocese paralela (1991). É claro que essa situação de emergência não poderia durar indefinidamente. Todos ansiavam para que tudo voltasse ao normal.
   No Jubileu do ano 2000, os "padres de Campos" participaram da peregrinação do Ano Santo em Roma, junto com a Fraternidade São Pio X.
   A partir de então, por ordem do Santo Padre o Papa João Paulo II, o Cardeal Dario  Castrillón Hoyos, prefeito da Congregação para o Clero, começou as conversações em vista de uma regularização jurídica da situação dos padres e fiéis da Tradição.
   Tendo os padres da União Sacerdotal São João Maria Vianney escrito uma carta ao Santo Padre pedindo que fossem "aceitos e reconhecidos como católicos", o Papa lhes respondeu acolhendo-os benevolamente, erigindo, no dia 18 de janeiro de 2002, a Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney, com Bispo próprio e sacerdotes, com jurisdição pessoal sobre os fiéis, com o direito de ter a Missa Tradicional como rito próprio, suspendendo todas as censuras e penas nas quais eventualmente pudessem ter incorrido, regularizando dessa maneira a sua situação jurídica dentro da Igreja Católica, reconhecendo a sua pertença a ela e respeitando as sua realidade eclesial e suas características peculiares."

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