sábado, 23 de junho de 2018

RESSURREIÇÃO DA CARNE



Com a graça de Deus, veremos que havemos de ressuscitar, não com um corpo etéreo ou outro qualquer, mas com a mesma carne que agora temos e da qual sairá a alma na hora da morte.

A fé na ressurreição da carne neste sentido supra explicado, existia, segundo o testemunho da Sagrada Escritura, já no Antigo Testamento: "Eu sei, diz Jó, que o Redentor vive e que no último dia ressurgirei da terra, serei novamente revestido da minha pele, e na minha própria carne verei meu Deus" (Jó XIX, 25 e 26). Também o Espírito Santo louva a Judas Macabeu, quando, fazendo menção da coleta que tinha feito e oferecido  ao Templo para o sacrifício pelos que tinham caído no campo da batalha: "Obra bela e santa, inspirada pela crença na ressurreição, porque se ele não esperasse que os mortos haviam de ressuscitar, seria uma coisa supérflua e vã orar pelos defuntos" (2 Macabeus XII, 43 e 44). "A multidão dos que dormem no pó da terra, acordarão uns para a vida eterna e outros para o opróbrio, que terão sempre diante dos olhos" (Daniel XII, 2).

Esta doutrina da ressurreição foi ensinada muitas vezes sobretudo no Novo Testamento. Primeiramente pelo próprio Jesus e de uma maneira a mais clara possível: "Virá tempo em que todos os que se encontram nos sepulcros ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que tiverem feito obras boas, sairão para a ressurreição da vida; mas os que tiverem feito obras más, sairão ressuscitados para a condenação" (S. João V, 28 e 29). Refutando os saduceus, Jesus deduzia da ressurreição dos corpos de que as almas eram imortais. Pois tendo-lhe os saduceus proposto uma questão capciosa com respeito à ressurreição dos mortos, para O poderem acusar de alguma contradição ou absurdo na doutrina, disse-lhes: "Quanto à ressurreição dos mortos, não tendes lido o que Deus falou, dizendo-vos: eu sou o Deus de Abraão, de Isaac e Jacó? Não é Deus dos mortos, mas dos vivos" (S. Mat. XXII, 31 e 32). É como se dissesse: Vós, saduceus, negais a ressurreição dos mortos, porque não credes na imortalidade das almas. Pois, a alma é imortal. E se morrera com o corpo então o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó, que morreram segundo o corpo, seria Deus dos mortos e não, como ele é, Deus dos vivos. Portanto, se a alma vive depois da morte corporal, segue-se que ela se reunirá um dia com o corpo que ela animou, e que os mortos ressuscitarão.

Jesus ressuscitou a Lázaro depois de quatro dias já sepultado, e, portanto em estado de putrefação. Para Deus nada é impossível. Como será impossível à Onipotência divina ressuscitar os nossos corpos convertidos em pó e cinza, sendo Ele quem os formou do nada? É porventura o mistério da ressurreição o único deste gênero que se apresenta à nossa vista? Olhai para o grão que cai na terra e se corrompe. O que sucede? Uma planta viva nasce da semente corrompida, e depois dá flores e frutos.

A mesma doutrina ensinam os Apóstolos. São Paulo se serviu inclusive desta figura logo acima citada: "Mas dirá alguém: Como ressuscitarão os mortos? E com que corpo virão? Néscio, o que tu semeias não toma vida, se primeiro não morre. Quando tu semeias, não semeias o corpo que há de nascer, mas um simples grão, como, por exemplo, de trigo ou de qualquer outra coisa" (1 Cor. XV, 35-37). Com isto o Apóstolo significa precisamente que aquela corrupção e dissolução do corpo é uma condição prévia e indispensável para a ressurreição, assim como  a corrupção da semente para dela brotar a planta.

 São Paulo falou da ressurreição nos seus discursos públicos diante do Grande-Conselho (Atos XIII), diante do governador Félix (Atos XXIV); nas suas epístolas: "Se os mortos não ressuscitam, então Jesus Cristo não ressuscitou" (1 Cor. XV, 16). "Porém, Jesus Cristo ressuscitou de entre os mortos com o seu próprio corpo; logo também vós ressuscitareis como Ele. Pois, aquele que ressuscitou de entre os mortos também ressuscitará os vossos corpos mortais, por meio do seu Espírito, que habita em vós" (Rom. VIII, 11).

Terminemos com mais um símbolo belíssimo da ressurreição: O bicho da seda, sendo verme disforme e quase asqueroso, fabrica o seu sepulcro, descansa nele largos meses, e depois rompe o seu invólucro, e levanta-se brilhante mariposa que se eleva nos ares. Porventura Deus, autor sapientíssimo da natureza, nos põe em vão diante dos olhos esta imagem viva da ressurreição? Com certeza que não. Ressuscitaremos. A fé no-lo ensina, e até a natureza visível no-lo recorda. Caríssimos, ressuscitaremos! Amém!


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