domingo, 25 de setembro de 2011

Os apóstolos do Protestantismo - pelo Padre Rivaux

   "Não se pode negar, que, no começo do século XVI, era necessária uma reforma. Para disso nos convencermos, basta lançar uma vista d'olhos para a história, e ouvir os gemidos de alguns grandes homens, que a Igreja considera com justa razão como filhos queridos. - No primeiro decreto do Concílio de Trento lê-se, que um dos objetos dessa assembleia era "a reforma do clero e do povo cristão". O Sumo Pontífice Pio IV, confirmando o mesmo concílio, diz que um dos principais motivos porque se reunira, era "a correção dos costumes e o restabelecimento da disciplina". - Os abusos são comuns a todos os séculos. Os tempos que estudamos não podiam se excetuados da regra geral. Pelo contrário, os escândalos de alguns Papas e de vários membros do clero, durante a Idade Média; as desordens e as usurpações de muitos príncipes; as lutas do Papado contra o império; o cisma da Alemanha, e sobretudo o grande cisma do Ocidente, não tinham podido senão desenvolver este triste apanágio da humanidade. - Ninguém o deplorava mais do que a Igreja; ninguém desejava tanto como ela uma verdadeira e sábia reforma: era o objeto dos votos de todos os santos, dos seus doutores e concílios. Mas nós já vimos quantas dificuldades, quantos obstáculos as paixões humanas suscitaram contra esta santa obra."
   "Em meio dos estorvos, que retardavam a reforma, a necessidade que dela se sentia, ia aumentando sem cessar, a abria um vasto campo à censura. Como é sabido, este tema acha sempre simpatias no coração do homem, indulgente para com os seus próprios defeitos, mas severo e inexorável para com os de outrem. - "Neste estado de coisas, e entre os gritos de reforma, cem vezes repetidos, diz Bossuet,os homens pervertidos, os espíritos soberbos, levantaram a cabeça, os fracos perderam-na, e em lugar de se lembrarem que o Filho de Deus ensinara a respeitar a Cadeira de Moisés, apesar das más obras dos doutores que nela estavam sentados, um grande número de pessoas sucumbiram à tentação que leva a odiar a cadeira em ódio dos que a ocupam. Tudo estava pronto para um grande cisma; os materiais achavam-se acumulados, e só faltava um hábil arquiteto". "O ovo estava posto, diz Erasmo; Lutero tinha só que chocá-lo e fazer sair o filho". - Além disto, ninguém ignora, que o princípio de submissão à autoridade em matéria de fé tem encontrado em todos os tempos uma forte resistência no orgulho do espírito humano, e a história da Igreja anda sempre acompanhada de heresias. - A tutela temporal exercida pela Igreja irritava também certos espíritos. Vimos já que alguns príncipes suportavam a custo a constituição cristã da sociedade. Ouvimos, sob diferentes formas, este queixume do vício ou do despotismo reprimido: Quão feliz era Saladino! não tinha Papa. - É inegável que havia reação contra o poder temporal da Igreja. "A ordem temporal, diz Blanc, tendia a secularizar-se, e o espírito de fé retirava-se de toda a parte para dar lugar ao espírito do século". - Daqui se segue que a grande heresia do século XVI não deve surpreender-nos nem por sua aparição nem por seus sucessos. "Basta uma faísca, diz Balmes, para produzir um vasto incêndio". - Destruindo toda subordinação à autoridade eclesiástica, proclamando a independência absoluta do espírito, abolindo todas as idéias de abstinência, de mortificação, de penitência, etc., e isto sob o nome especioso de Reforma, Lutero reuniu como em sua mão todo o poder, que o inferno tinha na terra. Empreedeu contra a Igreja a guerra mais universal e longa que ela tem tido que sustentar desde que combate neste mundo. - Esta guerra dura ainda hoje, mais terrível que nunca. A independência absoluta em matéria espiritual devia necessariamente trazer a anarquia de idéias e de doutrinas, que corrompe as inteligências modernas. - Por outro lado, depois de se ter revoltado contra a autoridade espiritual e infalível da Igreja, o espírito humano podia, com mais razão, sacudir o jugo da autoridade temporal e falível dos governos; daí a anarquia política. Ora, ninguém ignora que a anarquia religiosa e a anarquia política são o duplo flagelo que na atualidade ameaça a sociedade de uma ruína total. O protestantismo "semeou ventanias, e nós colhemos as tempestades". "Os nossos pais comeram as uvas verdes, e os seus filhos ficaram com os dentes embotados." - Interroguemos os fatos.
   "Para acabar a construção da Basílica de São Pedro em Roma, que Júlio II começara, e para formar um exército capaz de se opor à marcha do sultão Selim I, filho de Bajaset, que, depois de conquistar o Egito e vencer os mamelucos, ameaçava a Europa, Leão X pediu socorros ao orbe católico, e abriu os tesouros espirituais da Igreja a favor dos fiéis, que correspondiam ao seu convite por suas esmolas pecuniárias. A dupla missão de pregar essas indulgências e de fazer estas coletas foi confiada aos dominicanos e não aos agostinianos os quais pretendiam ter exclusivamente este privilégio. Foi esta a causa ocasional do protestantismo.
   O autor da nova heresia foi um religioso agostiniano, por nome Martinho Lutero. Nascido em Eisleben, na Alta Saxônia em 1483, de pais pobres mas católicos, começou os seus estudos com o auxílio da algumas pequenas esmolas que lhe davam as pessoas ricas, quando, defronte de suas casas, ele ia cantar duas vezes na semana, ou que ele juntava na igreja, salmodiando no coro. Um dia que ele cantava na rua , segundo o seu costume, uma viúva rica e religiosa, chamada Cotta, tendo dó dele, mandou-o subir, admitiu-o à sua mesa, e comprou-lhe uma flauta e uma guitarra para se distrair nas horas vagas. Daí em diante ao abrigo da miséria, Lutero entregou-se com ardor ao estudo das ciências e tornou-se dentro de pouco tempo, por sua aplicação e seu talento, o primeiro discípulo das Universidades de Eisenach e de Erfurt. Mas, no ano de 1505 (tinha 22 anos) , tendo morrido a seu lado, fulminado de um raio, um dos seus amigos, por nome Aleixo, assustou-se tanto, que deixou o mundo, e entrou em um convento dos Agostinianos, onde professou e foi ordenado sacerdote em 1507. - Tudo nele era apaixonado; a sua ardente imaginação era naturalmente levada para os excessos. (Como se ordena um sujeito com apenas dois anos de formação eclésiástica, se é que a teve!!! Naquela época não havia ainda seminários). - Designado por seus superiores para ensinar sucessivamente a filosofia e a teologia na Univerdidade de Wittemberg, não tardou a mostrar uma extrema tendência para as inovações. Gozava de uma grande fama de ciências; de toda parte afluia a mocidade alemã para ouvir as suas lições; e ele estava no apogeu da glória, quando, no fim do ano de 1517, chegou aos arredores de Wittemberg o dominicano Tetzel, pregando as indulgências concedidas pelo Papa Leão X, e atraíndo grande concurso de fiéis aos seus sermões. Cheio de inveja e de ira, Lutero começou a vociferar contra o pregador e as indulgências; das indulgências passou à doutrina e aos sacramentos, e afixou na porta da catedral de Wittemberg  95 teses cheias de opiniões novas e heterodoxas. Finalmente de erro em erro, ele acabou, três anos mais tarde, em 1520, por autorizá-los todos, proclamando a independência absoluta do espírito humano em matéria de fé. A sua heresia foi uma grande revolta contra a Igreja Católica, e mereceu desde então o nome de protestantismo, que ela recebeu em Spira, no ano de 1529. É o acontecimento mais doloroso de todos os que a Igreja tem registrado em seus anais. A linguagem desabrida, grosseira e indecente do novo heresiarca bastaria só por si para dar à sua obra um caráter satânico. - Os cooperadores da Reforma foram semelhantes ao seu chefe. - Os principais na Alemanha são: Zwínglio, Carlostad, Ecolampádio, Calvino e Melanchton.

Nenhum comentário:

Postar um comentário