"O Filho do Homem
veio salvar o que se tinha perdido" (Mt 18, 11).
"Sou Eu, não
temais" (Lc 24, 36)
Pelo Padre Mateo Crawley-Boevey SS. CC.
É uma conferência extraída do seu
Livro "JESUS, REI DE AMOR"
Caríssimos, não acrescentarei uma só
palavra minha, não venha ela empanar o brilho daquela eloquência mais do céu
que da terra; nem arrefecer o calor daquele fogo divino que abrasava o peito
deste grande apóstolo da devoção ao Sacratíssimo Coração de Jesus. Assim, demos
a palavra ao Bem-aventurado Missionário:
"Palavra
inefável, eloquente como poucas, talvez como nenhuma. Tende confiança,
"sou Eu".
- Eu, vosso
Pai, vosso Amigo, vosso Salvador. Nolite
timere! "Não temais!".
- Mas,
como?... E minhas ruindades?
- Ego sum! "Porque sou Eu" ...
Se fosse um
Anjo, um profeta, um Santo, poderíeis temer, pois as criaturas, as melhores,
não podem amar-vos como Eu ... Não temais, porque sou Jesus.
E por isso
Ele disse: "Eu vos dou a minha paz" (Jo 14, 27). A Sua, não a nossa,
tão desprezível. A Sua e não a do mundo, falsificada, perigosa, envenenada.
Sobre os
fundamentos da Sua misericórdia, tenhamos a paz. Não porque nos creiamos justos
e confirmados em graça, mas porque cremos com fé imensa em seu amor, remédio e
reparação para nossas misérias.
Que faríamos
sem esta energia sobrenatural, divina, da confiança em Nosso Senhor? ao cimo da
santidade, chega-se pela vereda da confiança; não há outro caminho.
Porque sendo
o que somos todos nós, um abismo de baixezas e pecados, pedir-nos que assim
mesmo subamos sem nos dar antes de tudo as asas da confiança, seria arrojar-nos
num outro abismo: o do desânimo definitivo e sem remédio.
Mas, por
essa escada santa, mas, com tais asas divinas, quero, sim, e posso, ser santo.
Quero e posso subir muito alto, de profundis, das profundezas da
minha maldade, do abismo da minha miséria.
Não me
venham dizer que isso é pretensão, que é ilusão ... Se pensasse em chegar ao
cume com meus pés de argila, então, mil vezes seria loucura e soberba. Mas, nos
braços de Jesus, sobre seu Coração, estou certo de que chegarei com êxito,
porque sou menos que uma formiga.
Ele
transforma sempre as formigas confiantes em águias reais.
Se Ele, o
Deus de perdão e de graças, se Ele, Jesus, o Deus de misericórdia e ternura; se
Ele, Jesus, o Deus Crucificado e Sacramentado por amor e Encarnado para salvar,
não me inspira confiança cega, imensa, ilimitada, quem poderá inspirar-me?
Veio, acaso,
à terra para trazer-nos... o quê? Os
arremessos de tremenda justiça? As chamas de uma cólera divina? A sentença de
morte eterna, mil vezes merecida? Não! Absolutamente não! Abri o Evangelho em
qualquer página, ao acaso, e ainda em suas iras e anátemas encontrareis
inebriante, irresistível, o Coração do Salvador.
Veio perdoar,
salvar, semear paz, dar o céu, ainda àqueles, e sobretudo a eles, que Lhe
prepararam a cruz: "Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem"
(Lc 23, 34).
Com este fim
redentor "aniquilou-se, tomando a natureza de servo" (Fp 2, 7).
Revestiu-Se da nossa roupagem leprosa, e por isso o fulminou o Pai.
Tomou
consigo nossas misérias, segundo está escrito: "Tomou sobre si nossas
fraquezas, e ele mesmo carregou com as nossas dores" (Is 53, 4).
"Homem de dores e experimentado nos sofrimentos" (Is 3, 3).
Não, por
certo, em sentido literal, mas figurado, poderíamos pois aplicar-Lhe aquela
expressão dos Livros Santos: "Um abismo chama outro abismo" (Sl 41,
8). Isto é, o abismo da nossa miséria e corrupção, dir-se-ia, atraiu o abismo
de Sua misericórdia e bondade.
Belém é
apenas, com toda a sua pobreza, um reflexo, um quadro poético, se comparado com
outro berço consciente de sua pobreza e indignidade: o coração de quem comunga.
Jesus, que
sabe disso, manda que o recebamos, que comunguemos.
Sobre a base
do arrependimento e da humildade, parece Jesus correr um véu de paraíso sobre
este presépio menos que palha, e comprazer-Se nele. E tem ânsias supremas de
descansar nesse altar desmantelado. Negar-Lhe o direito à sua condescendência
seria feri-Lhe o Coração!
Sabeis
qual é, para mim, a transfiguração que
me enlouquece? não a do Tabor, onde, por um instante, parece recobrar o que
havia deixado por meu bem, o manto da sua majestade esplendorosa. A
transfiguração que me comove e arrebata é outra: a de Belém, quando vejo o
Criador revestido das roupinhas da nossa natureza. A de Nazaré, quando
contemplo meu Juiz, coberto com o véu do anônimo, de qualquer um. E aquela do
Calvário, quando adoro, debaixo da púrpura sangrenta e da mortalha da morte,
Aquele que é a Vida. Oh! Jesus, à força de quereres assemelhar-Te a nós, já não
Te pareces contigo mesmo!
Esta
transfiguração tríplice que o faz tão meu, tão Irmão, tão condescendente, tão
parecido comigo, ensina-me, melhor que o Tabor, quanto devo amá-Lo e com quanta
confiança, se possível infinita, devo aproximar-me de Seu Coração.
O contraste
prodigioso entre o que o Tabor mostra num instante e o que é e permanece em
Belém, Nazaré e no Calvário, prega-me, patentemente, e com eloquência
esmagadora, a loucura do Seu amor e a realidade daquela palavra da Escritura: "Não quero a morte do ímpio, mas que se
converta a viva (Ez 33, 11). E ainda:
"Veio buscar e salvar o que tinha perecido" (Lc 19, 10).
(Continua no próximo artigo).
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