POR ELEIÇÕES LIVRES
Livres de paixões, pressões, fanatismos e condicionamentos ideológicos alienantes. Seriam as eleições expressão da verdadeira vontade popular, manifestada pela maioria? “Vox populi, vox Dei”, “a voz do povo é a voz de Deus”? É a grande discussão sociológica sobre a verdadeira representatividade? Já disseram: “sufrágio universal, mentira universal!”. Sim, porque muitas vezes o povo vota influenciado pela propaganda, pelos formadores de opinião, pelas pesquisas, sem muita reflexão e conhecimento pleno do que significa o seu voto.
Jesus foi condenado à morte, a pedido da população presente ao seu julgamento injusto. Na eleição proposta pelo governador romano, Pôncio Pilatos, entre Barrrabás e Jesus, este último foi fragorosamente derrotado, porque o povo sufragou Barrabás, revolucionário e homicida, condenando o inocente à morte. Mas, por que Jesus perdeu essa eleição? A morte de Jesus foi realmente o desejo da maioria do povo? Jesus, tão querido por todos, cercado pelas multidões, aclamado pela população ao entrar em Jerusalém, foi condenado por esse mesmo povo, cinco dias depois?! Ou será que esse povo foi manobrado por uma minoria ruim, mas muito hábil? O Evangelho diz que os chefes, os manipuladores de opinião, influenciaram o povo a que pedisse Barrabás e condenasse Jesus. Ele, ao morrer na cruz, pediu por eles perdão ao Pai, dizendo que eles não sabiam o que faziam. Já não eram povo; tinham se tornado massa.
Quando deixamos de raciocinar, nos tornamos como animais, fáceis de conduzir irracionalmente. A civilização se torna barbárie. O povo se torna massa. O povo pensa, a massa não. O povo decide, a massa é conduzida e manobrada. O fanatismo cega. As ideologias também. Nem sempre podemos dizer que a eleição seja expressão da vontade do povo. Talvez seja só da massa. Não é sem razão que os meios de comunicação, rádio, jornal, televisão, são apelidados de meios de comunicação de massa, “mass media”. E os revolucionários são chamados de agitadores das massas.
A diferença entre povo e massa foi definida pelo Papa Pio XII na alocução de Natal de 1944, antiga, mas sempre atual: “Povo e multidão amorfa, ou como se costuma dizer, massa, são dois conceitos diversos. O povo vive e se move por vida própria; a massa é por si mesma inerte e não pode ser movida senão do exterior. O povo vive da plenitude da vida dos homens que o compõem, cada um dos quais - em sua própria posição e segundo seu modo próprio - é uma pessoa cônscia das respectivas responsabilidades e convicções. A massa, pelo contrário, espera o impulso do exterior, fácil joguete nas mãos de quem quer que lhe explore os instintos e as impressões, pronta a seguir, alternadamente, hoje esta bandeira e amanhã aquela...”.
Uma ocasião para se perceber a diferença entre povo e massa são as eleições. Quem vota em quem grita mais, dá mais dinheiro, agrada mais, é povo ou massa? Quem vota sem refletir ou raciocinar, quem é levado só pela propaganda e não pela verdade e pela razão, é povo ou massa? É homem ou irracional? Votemos como povo e não como massa!
*Bispo da Administração Apostólica Pessoal