quarta-feira, 28 de agosto de 2019

MÃE E FILHO SANTOS

MÃE E FILHO SANTOS

                                                                                                                                                                                         Dom Fernando Arêas Rifan*
         

            Dois santos admiráveis celebramos nessa semana: Santa Mônica, ontem (dia 27) e Santo Agostinho, hoje (dia 28), do século IV, cujas vidas faz bem relembrar.
           Aurélio Agostinho nasceu em Tagaste, na Região de Cartago, na África, filho de Patrício, pagão, e Mônica, cristã fervorosa. Segundo narra ele próprio, Agostinho bebeu o amor de Jesus com o leite de sua mãe. Infelizmente, porém, como acontece muitas vezes, a influência do pai fez com que se retardasse o seu batismo, que ele acabou não recebendo na infância nem na juventude. Estudou literatura, filosofia, gramática e retórica, das quais foi professor. Afastou-se dos ensinamentos da mãe e, por causa de más companhias, entregou-se aos vícios. Cometeu maldades, viveu no pecado durante sua juventude, teve uma amante e um filho, e, pior, caiu na heresia gnóstica dos maniqueus, para os quais trabalhou na tradução de livros. 

            Sua mãe, Santa Mônica, rezava e chorava por ele todos os dias. “Fica tranquila”, disse-lhe certa vez um bispo, “é impossível que pereça um filho de tantas lágrimas!” E foi sua oração e suas lágrimas que conseguiram a volta para Deus desse filho querido transviado.
           Agostinho dizia-se um apaixonado pela verdade, que, de tanto buscar, acabou reencontrando na Igreja Católica: “ó beleza, sempre antiga e sempre nova, quão tarde eu te amei!”; “fizestes-nos para Vós, Senhor, e o nosso coração está inquieto, enquanto não descansa em Vós!”: são frases comoventes escritas por ele nas suas célebres “Confissões”, onde relata a sua vida de pecador arrependido. Transferiu-se com sua mãe para Milão, na Itália. Dotado de inteligência admirável, a retórica, da qual era professor, o fez se aproximar de Santo Ambrósio, Bispo de Milão, também mestre nessa disciplina. Levado pela mãe a ouvir os célebres sermões do santo bispo e nutrido com a leitura da Sagrada Escritura e da vida dos santos, Agostinho converteu-se realmente, recebeu o Batismo aos 33 anos e dedicou-se a uma vida de estudos e oração. Ordenado sacerdote e bispo, além de pastor dedicado e zeloso, foi intelectual brilhantíssimo, dos maiores gênios já produzidos em dois mil anos da História da Igreja. Escreveu numerosas obras de filosofia, teologia e espiritualidade, que ainda exercem enorme influência. Foi, por isso, proclamado Doutor da Igreja. De Santo Agostinho, disse o Papa Leão XIII: “É um gênio vigoroso que, dominando todas as ciências humanas e divinas, combateu todos os erros de seu tempo”. Sua vida demonstra o poder da graça de Deus que vence o pecado e sempre, como Pai, espera a volta do filho pródigo. 
          Sua mãe, Santa Mônica, é o exemplo da mulher forte, de oração poderosa, que rezou a vida toda pela conversão do seu filho, o que conseguiu de maneira admirável. Exemplo para todas as mães que, mesmo tendo ensinado o bom caminho aos seus filhos, os vêm desviados nas sendas do mal. A oração e as lágrimas de uma mãe são eficazes diante de Deus. E a vida de Santo Agostinho é uma lição para nunca desesperarmos da conversão de ninguém, por mais pecador que seja, e para sempre estarmos sinceramente à procura da verdade e do bem.  
 

     *Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
http://domfernandorifan.blogspot.com.br/

CONVERSÃO DE SANTO AGOSTINHO

   "Irmãos: Sabeis que já é hora de despertar-vos do sono, pois, a salvação está agora mais perto de nós, do que quando abraçamos a fé. A noite passou e aproxima-se o dia. Renunciemos, portanto, às obras das trevas, e revistamo-nos das armas da luz. Caminhemos honestamente como quem anda em plena luz, não em excesso de comida ou de bebida, não em dissoluções e impurezas, nem em contendas e emulações. Pelo contrário, revesti-vos do Senhor Jesus Cristo."

   Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

   Primeiramente queria lembrar a todos que o pecador Agostinho, filho de Santa Mônica, passou definitivamente da trevas do erro e da morte do pecado para a luz da verdade e a vida da graça, através desta Epístola: Achando-se ele com seu amigo Alípio em um jardim, ouviu uma voz que lhe dizia: "Toma e lê". Impressionado com estas palavras misteriosas, segura o livro que vê ao seu lado e abre-o exatamente na página em que se encontra esta Epístola. Foi o golpe certeiro da graça a quebrar a última corrente férrea que ainda o detinha preso ao mundo de trevas e impurezas. Converteu-se! E oxalá, muitos e muitos lendo e meditando estas palavras inspiradas das Sagradas Escrituras, se convertam como aconteceu com Agostinho. 

   "Já é hora de despertarmos do sono".  Caríssimos, o sono é necessário para restaurar as forças, e por isto, reduz-nos à inércia. É indispensável para a vida física, mas referindo-se à vida espiritual, na linguagem ascética, o sono é sinônimo de negligência, de torpor nas coisas de Deus, é símbolo da tibieza. A alma vive esquecida de Deus, apegada que está muito mais à coisas exteriores da terra. Daí a oração ou é frequentemente omitida ou, então, feita com certo enfado. O mesmo acontece com a recepção dos sacramentos. A alma na tibieza fica alheia a todo amor divino e busca antes vãs consolações nos corações humanos. Quase não se mortifica. Preocupada com o tempo presente, não lhe interessam os destinos da vida futura. Nesta indolência espiritual a alma fica fraca e cai facilmente em pecado veniais deliberados e geralmente em quedas fatais. Do sono da alma passa facilmente à morte da alma. Por isso São Paulo define o pecado como sendo "obra das trevas". Na verdade é o príncipe das trevas que o inspira. E o pecado conduz ao reino das trevas. Por isso grita o Apóstolo: "Despojai-vos, pois, das obras das trevas" e "revistamo-nos das armas da luz". Devemos procurar a força na oração, meditação dos novíssimos, da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, procurar o força nos Sacramentos da Penitência e da Comunhão. Devemos estar acordados, bem vigilantes, para afastarmos as tentações do príncipe das trevas, com a mesma prontidão e energia com que afastamos uma brasa que cai em nossas vestes. 

   Assim com as palavras da Epístola (Missa deste 1º Domingo do Advento), São Paulo anima os tíbios a acordarem do sono do espírito; aos pecadores o Apóstolo ordena que rejeitem as obras das trevas. Aconselha os fracos que empunhem as armas da luz. A todos São Paulo exorta a que se revistam de Jesus Cristo. 

   Para terminar, caríssimos, vejamos o que significa afinal "revestir-se de Jesus Cristo". Significa tomar os mesmos sentimentos de Jesus Cristo, seguir a sua doutrina, imitar seus exemplos, reproduzir suas virtudes. Significa, outrossim, unir-se interiormente a Deus com o maior grau de santidade possível e exteriormente revelar, através da nossa conduta, a bondade, caridade, e doçura de Jesus Cristo.
 
 Santa Mônica, pela sua mansidão, orações e penitências converteu seu esposo, seu filho e até sua sogra.

   Por isso, é com imensa tristeza que constatamos que muitos cristãos, em lugar de ser o perfume de Jesus Cristo entre os demais, violando, portanto, a missão que lhes cabe de revelarem Jesus aos homens, profanam com sua vida, a vida d'Aquele que deviam com suas virtudes honrar e glorificar. 

  Ó Jesus, fazei que, pela prática das virtudes, especialmente da humildade e mansidão, eu possa ser o bom odor vosso junto aos meus irmãos. Amém!

PROFISSÃO DE FÉ DO CONCÍLIO DE TRENTO

   Eu  N.  creio firmemente e confesso tudo o que contém o Símbolo da fé usado pela Santa Igreja Romana, a saber: (Segue-se o Símbolo de Niceia-Constantinopla, o mesmo que se reza na Missa).
   Aceito e abraço firmemente as tradições apostólicas e eclesiásticas, bem como as demais observâncias e constituições da mesma Igreja. Admito também a Sagrada Escritura naquele sentido em que é interpretada pela Santa Madre Igreja, a quem pertence julgar sobre o verdadeiro sentido e interpretação das Sagradas Escrituras. E jamais aceitá-la-ei e interpretá-la-ei senão conforme o consenso unânime dos Santos Padres.
   Confesso também que são sete os verdadeiros e próprios sacramentos da Nova Lei, instituídos por Nosso Senhor Jesus Cristo, embora nem todos para cada um necessários, porém para a salvação do gênero humano. São eles: Batismo, Confirmação, Eucaristia, Penitência, Extrema-Unção, Ordem e Matrimônio, os quais conferem a graça; mas não sem sacrilégio se fará a reiteração do Batismo, da Confirmação e da Ordem. Da mesma forma aceito e admito os ritos da Igreja Católica recebidos e aprovados para a administração solene de todos os supraditos sacramentos. Abraço e recebo tudo o que foi definido e declarado no Concílio Tridentino sobre o pecado original e a justificação.
   Confesso outrossim que na Missa se oferece a Deus um sacrifício verdadeiro, próprio e propiciatório pelos vivos e defuntos, e que na Santo Sacramento da Eucaristia estão verdadeira, real e substancialmente o Corpo e o Sangue com a alma e a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, operando-se a conversão de toda a substância do pão no corpo, e de toda a substância do vinho no sangue; conversão esta chamada pela Igreja de transubstanciação. Confesso também que sob uma só espécie se recebe o Cristo todo inteiro e como verdadeiro sacramento. 
   Sustento sempre que há um purgatório, e que as almas aí retidas podem ser socorridas pelos sufrágios dos fiéis; que os Santos, que reinam com Cristo, também devem ser invocados; que eles oferecem suas orações por nós, e que suas relíquias devem ser veneradas. Firmemente declaro que se devem ter  e conservar as imagens de Cristo, da sempre Virgem Mãe de Deus, como também as dos outros santos, e a eles se deve honra e veneração. Sustento que o poder de conceder indulgências foi deixado por Cristo à Igreja, e que o seu uso é muito salutar para os cristãos.
   Reconheço a Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana, como Mestra e Mãe de todas as Igrejas. Prometo e juro prestar verdadeira obediência ao Romano Pontífice, Sucessor de São Pedro, Príncipe dos Apóstolos e Vigário de Jesus Cristo. 
   Da mesma forma aceito e confesso indubitavelmente tudo o mais que foi determinado, definido e declarado pelos sagrados cânones, pelos Concílios Ecumênicos, especialmente pelo Concílio Tridentino ( e pelo Concílio Ecumênico do Vaticano, principalmente no que se refere ao Primado do Romano Pontífice e ao Magistério infalível). [ O que está entre parênteses foi acrescentado depois]. Condeno ao mesmo tempo, rejeito e anatematizo as doutrinas contrárias e todas as heresias condenadas, rejeitadas e anatematizadas pela Igreja. Eu mesmo, N., prometo e juro com o auxílio de Deus conservar e professar íntegra e imaculada até ao fim de minha vida esta verdadeira fé católica, fora da qual não pode haver salvação, e que agora livremente professo. E quanto em mim estiver, cuidarei que seja mantida, ensinada e pregada a meus súditos ou àqueles, cujo cuidado por ofício me foi confiado. Que para isto me ajudem Deus e estes Santos Evangelhos!

Observação oportuna: O que o Sacrossanto Concílio de Trento ensinou infalivelmente, Lutero havia negado blasfemamente. 

terça-feira, 27 de agosto de 2019

O PECADO VENIAL


LEITURA ESPIRITUAL, dia 27

""Abstende-vos de toda aparência do mal" (Tessal. V, 22)


Há um erro popular, e não é só de hoje, que consiste em persuadir-se falsamente de que o pecado venial é coisa de somenos importância, como se a palavra venial significasse bagatela, coisa de nada. Talvez este erro venha da palavra "leve" também empregada para designar pecado venial. Na verdade, "leve" aqui é um termo relativo, assim, por exemplo, comparando, quando a gente diz que a Terra é pequena em relação ao Sol. É claro que em si mesma a Terra não é pequena. Assim, fazendo a aplicação, dizemos que o pecado venial é leve em comparação com o mortal, mas em si mesmo é o maior mal que existe sobre a terra depois do pecado mortal. Não é difícil entendermos, pois, se é pecado, ofende a Deus que é de uma dignidade, perfeição e majestade infinitas. Daí dizer São Jerônimo: "Não é falta leve desprezar a Deus nas coisas pequenas". É chamado venial (de venia em latim que significa perdão)porque significa coisa perdoável, ou, melhor dizendo "coisa mais facilmente perdoável", porque o pecado mortal também é perdoável. Mas não esqueçamos que para os pecados (mortais e veniais) poderem ser perdoados, Jesus Cristo sofreu o morreu numa Cruz.

Mas o que é pecado venial? Bom! se é pecado é porque tem os três elementos que constitui um pecado: transgressão da lei de Deus, advertência sobre esta transgressão e apesar disto há o consentimento da vontade. Quando se dá o pecado venial? Nestes casos: Quando a matéria da transgressão é de si mesma leve; ou é grave mas a advertência sobre esta malícia não é total e o consentimento da vontade não é pleno. É, portanto, qualquer pensamento, palavra, ação ou omissão contra a lei de Deus, mas que não  é tão grave, que nos faça perder a amizade do Senhor e dê a morte à alma. Acha-se neste gênero de faltas, tudo o que constitui o pecado: Deus que manda, o homem que recusa obedecer. A única diferença que há entre o pecado mortal e o venial, é o consentimento mais ou menos completo, matéria mais ou menos grave. Quanto ao mais, em um e outro há uma indigna preferência dada à vontade do homem sobre a de Deus; é uma ofensa de Deus; e feita por quem, e porque? Por uma vil criatura, por um desprezível motivo. Há portanto no pecado venial um verdadeiro desprezo de Deus, uma verdadeira injúria feita a todas as perfeições de Deus; injúria leve comparativamente com a que resulta do pecado mortal, mas de uma gravidade como que infinita, já que ofende a dignidade infinita de Deus.

Vamos dar alguns exemplos de pecados veniais: pequenas iras passageiras, ligeiras intemperança no  comer ou beber, falar mal dos outros em coisas que não causam graves danos a reputação do próximo, mentiras oficiosas, manifestações de amor próprio, distrações e curiosidades que me alheiam de mim mesmo e me perturbam o coração, negligências nos exercícios espirituais e religiosos, donde resultam tantas faltas contra o respeito devido ao Senhor. Se não vigiarmos, quantas faltas cometemos pelo mau humor, pela liberdade da língua etc.

Os teólogos e também autores espirituais fazem algumas suposições e comparações para se fazer compreender melhor o mal que é o pecado venial. Eis alguns exemplos: Seria um grande mal aquele que não pudesse ser reparado com todas as lágrimas do gênero humano, com os tormentos dos mártires, as austeridades dos anacoretas, os sofrimentos, a caridade de todos os Santos, e com todas as boas obras que se têm feito desde o princípio, e se farão até ao fim do mundo. E todavia, todas estas satisfações, se não se lhes ajuntassem as satisfações infinitas do Verbo encarnado, não bastariam para reparar a ofensa que faz a Deus um só pecado venial. Outro exemplo: a mentira quando não prejudica gravemente o próximo é sempre de si mesma um pecado venial. Pois bem! Se fosse para tirar todos os condenados do inferno ou evitar que fossem expulsos do Céu todos os Santos, não se poderia cometer tal mentira, que é um pecado venial. Será que haverá alguém ainda afirmando com tanta desenvoltura que o pecado venial é coisa de nada, e que se pode fazê-lo com a mesma facilidade com que se bebe um copo d'água? Se houver, por ventura algum pecador que ouse afirmá-lo, ouça também o que diz os santos dos quais citarei apenas alguns: Santa Catarina de Gênova: "Lançar-me-ia em um oceano de chamas, sendo preciso, para evitar a ocasião do menor pecado, e ali ficaria sempre, antes do que sair de lá por um pecado venial";  Santa Catarina de Sena: "Se a alma que é imortal, pudesse morrer, a vista de um só pecado venial, que manchasse a sua beleza, seria capaz de lhe dar a morte"; Santo Inácio de Loiola dizia: "Todo o homem que é zeloso da pureza da sua consciência, deve humilhar-se diante de Deus pelos pecados mais leves, considerando que aquele Senhor contra quem são cometidos, é infinito em todo o gênero de perfeições, o que lhes agrava infinitamente a malícia" ; Dizia Santo Tomás de Aquino: "Antes morrer que pecar venialmente". Eis mais um exemplo: "O Santo Cura d'Ars tinha recebido  uma cédula de mil francos, para as suas obras. Quando foi acender a vela, não tendo fósforo, tirou do bolso  um pedaço de papel e o chegou ao fogo. O padre coadjutor deu um grito: "Senhor Vigário, é uma nota de mil francos que queimais". "Antes isso, disse o Santo, que um pecado venial".


E, caríssimos, quem pode contar a multidão dos pecados veniais. Santo Agostinho dizia; "Se não temes os pecados veniais, quando pensas na sua gravidade, temei-os quando os contas". Milhares de pecados veniais somados não constitui um mortal, a não ser quanto àqueles mandamentos em que a matéria se soma, como é o caso do 7º mandamento (pode chegar a uma soma que já passe a constituir pecado mortal). Fora disto não. Mas se não se combate os pecados veniais e estes se tornam um hábito, a alma se torna tíbia e aí vai aos poucos escorregando para o abismo do pecado mortal. E uma circunstância que nos deve atemorizar: é mais difícil sair do pecado mortal, quando se chegou a ele aos poucos através de pecados veniais não combatidos. Os pecados veniais diminuem as luzes e as forças da alma. Num naufrágio pouco importa se ele acontece por uma furiosa tempestade ou pelo fato de a água entrar por um fenda gota a gota. Se muitos pecados veniais não constituem um mortal, é, no entanto, certo que dispõem para o mortal. Depois, se Deus quiser, falaremos sobre a tibieza, e, então explicaremos isto melhor. 

Ó meu Deus, eu pensaria como os Santos a respeito de tudo o que vos ofende, se vos conhecesse e vos amasse com eles! Meu Deus e Pai do Céu fazei de eu Vos ame sobre todas as coisas e aí odiarei o pecado seja mortal, seja venial. Amém!

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

NEM PROSSISMO NEM SEDEVACANTISMO ( III )

VIGÁRIO DE CRISTO

Autor: D. Antônio de Castro Mayer

   Vigário de Cristo. É como identificamos o Papa. Assim o definem os Concílios, como o de Florença e primeiro do Vaticano.
  
   Como Vigário de Jesus Cristo, o Papa é o chefe da Igreja. Jesus Cristo edificou sua Igreja sobre a rocha de Pedro, e o Papa é o sucessor de São Pedro no cargo de Chefe. Daí a frase "ubi Petrus ibi Ecclesia", para dizer que onde está o Papa aí está a Igreja. Eis que o primeiro Concílio do Vaticano destaca que ao Papa se deve obediência não somente nas questões de Fé e Costumes mas também nas relativas à disciplina e ao governo da Igreja, e declara que na comunhão com o Papa conservamos a união com a Igreja.

   Com efeito, o Papa é essencialmente o Vigário de Jesus Cristo. Em outras palavras, ele assume a Pessoa de Jesus Cristo. Ele faz suas vezes. Deve-se-lhe o acatamento e a obediência que se presta a Jesus Cristo, a quem ele representa. Seu poder, porém, sua jurisdição é vicária. De si, ele é de Jesus Cristo, pois, como escrevia o Papa Inocêncio III ao Patriarca de Constantinopla, em 12 de novembro de 1199, "o primeiro e precípuo fundamento da Igreja é Jesus Cristo". O Divino Salvador, no entanto, confiou seu poder a Pedro: "Como meu Pai me enviou, Eu vos envio", disse Ele aos seus Apóstolos, especialmente ao Chefe deles, São Pedro. Esta outorga foi de modo permanente, e para sempre, para que o Papa o exerça em seu lugar, fazendo-lhe as vezes, "vicens eius gerens".

   Este aspecto é essencial ao Papado. Não pode ser olvidado. Seu esquecimento pode ter nefastas conseqüências. Pode levar a pessoa a pensar que o Papa é dono da Igreja, que pode fazer o que quiser, mandar e desmandar o que melhor lhe pareça, estando os fiéis obrigados sempre a simplesmente obedecer. Refletindo um pouco, vê-se que esta concepção atribui ao Papa a onisciência e a onipotência que são atributos exclusivos de Deus. Outra coisa não faz a idolatria que transfere à criatura o que é peculiar à divindade.

   Por este motivo, o primeiro Concílio do Vaticano ao definir os poderes do Papa, tomou o cuidado de definir também sua finalidade e seus limites. Deve o Papa conservar intacta a Igreja de Cristo, através da qual o Divino Salvador torna perene sua obra de salvação. Manterá, pois, a estrutura da Santa Igreja como o Senhor a constituiu, e velará para conservar e transmitir intacta a Fé e a Moral recebida da Tradição Apostólica. Para este fim e dentro destes limites, goza o Papa da assistência divina que lhe assegura a impossibilidade de errar e desorientar os fiéis sempre que definir um ponto de Fé e Moral.

   Não é despropósito pensar que, precisamente para fixar bem o poder vicário do Papa, tenha a Providência permitido que , no trono de São Pedro, se tenham assentado indivíduos, em cuja doutrina e/ou procedimento, encontram-se pontos gravemente prejudiciais à Fé e/ou à Moral. Não ensinavam com sua autoridade suprema e definindo matéria de Fé, ou davam mau exemplo com seu modo de proceder. Explica-se assim o julgamento emitido sobre Honório I quer pelo Concílio de Constantinopla quer por São Leão II, ou seja, que ele (Honório I) "com profunda traição permitiu que se maculasse a imaculada Fé desta Igreja Apostólica". E de modo semelhante, verificaram-se fatos dolorosos na História de Igreja.

   Resistir a tais ensinamentos e maus exemplos não é recusar obediência ao Papa, ou à sua pessoa. Quem assim procede concede sua adesão ao Vigário de Jesus Cristo. E é somente como Vigário de Jesus Cristo que o Papa é dotado dos poderes de jurisdição em toda a Igreja. De onde, os Padres de Campos, ao recusar a nova Missa não estão recusando nem João Paulo II, nem a comunhão com toda a Igreja, uma vez que a nova Missa é prejudicial à Fé, pois, entre outros pontos, na sua ambigüidade, não se destaca suficientemente da heresia protestante". (Jornal Monitor Campista, 17/10/1982).

Salmo 118 - (continuação)

Para sempre, Senhor, permanece no céu a tua palavra.
A tua verdade transmite-se de geração em geração; tu fundaste a terra, e ela permanece.
Por tua ordem continuam a subsistir, pois todas as coisas te servem.
Se a tua lei não tivesse sido a minha meditação, então decerto eu teria perecido na minha angústia.
Nunca olvidarei os teus preceitos, porque neles me deste a vida.
Eu sou teu, salva-me, porque busquei ansioso os teus preceitos.
Os pecadores esperaram-me para me perder; eu porém estive atento aos teus ensinamentos.
Vi o fim de tudo o que é perfeito, somente a tua lei não tem limites.
Quanto eu amo a tua lei, Senhor! Ela é minha meditação todo o dia.
Tornaste-me mais prudente do que os meus inimigos com os teus mandamentos, porque tenho-os perpetuamente diante dos meus olhos.
Compreendi mais que todos os meus mestres, porque os teus mandamentos são a minha meditação.
Entendi mais do que os anciãos, porque busquei os teus preceitos.
Retirei os meus pés de todo o mau caminho, para guardar as tuas palavras.
Não me desviei dos teus juízos, porque tu me prescreveste uma lei.
Quão doces são as tuas palavras ao meu paladar! São-no mais que o mel à minha boca.
Com os teus mandamentos aprendi, por isso odeio todo o caminho da iniquidade.
Lâmpada para os meus passos é a tua palavra, e luz para os meus caminhos.
Jurei e determinei guardar os teus justíssimos decretos.
Tenho sido humilhado, Senhor, de todos os modos; faze-me viver segundo a tua palavra.
Aceita, Senhor, a homenagem de meus lábios e ensina-me os teus juízos.
Minha alma está sempre nas minhas mãos porém não olvido a tua lei.
Os pecadores armaram-me laços; não me afastei, porém, dos teus mandamentos.
Minha herança perpétua são os teus mandamentos, porque são a alegria do meu coração.
Inclinei o meu coração a praticar sempre as tuas leis, por causa da recompensa.
Aborreci os iníquos, e amei a tua lei.
Tu és o meu defensor e meu amparo, e pus toda a minha esperança na tua palavra.
Retirai-vos de mim, malignos, e estudarei os mandamentos do meu Deus.
Ampara-me (Senhor) segundo a tua promessa, e viverei, e não permitas que eu seja confundido no que espero.
Ajuda-me, e serei salvo, e meditarei sempre nas tuas leis.
Desprezaste todos os que se desviam dos teus preceitos, porque é injusto o seu pensamento.
Reputei como prevaricadores todos os pecadores da terra, por isso amei os teus testemunhos.
Traspassa com o teu temor as minhas carnes, porque temi os teus juízos.
Pratiquei a retidão e a justiça; não me entregues aos que me caluniam.
Ampara o teu servo para o bem; não me caluniam os soberbos.
Os meus olhos desfaleceram à espera da tua salvação e das promessas da tua justiça.
Trata o teu servo segundo a tua misericórdia, e ensina-me os teus justos decretos.
Sou teu servo; dá-me inteligência, para que eu conheça os preceitos.
É tempo de esforçar-se para o Senhor; violaram a tua lei.
Por isso amei os teus mandamentos, mais do que o ouro e o topázio.
Por isso enveredei pela senda de todos os teus mandamentos, e odiei todo o caminho mau.
Os teus testemunhos são admiráveis, por isso os investigou a minha alma.
A explicação de tuas palavras alumia e dá inteligência aos pequeninos.
Abri a minha boca e respirei, porque desejava os teus preceitos.
Olha para mim, e compadece-te de mim, segundo é justo com os que amam o teu nome.
Encaminha os meus passos segundo a tua palavra, e não me domine iniquidade alguma.
Livra-me das injúrias dos homens, para que guarde os teus preceitos.
Faze que a luz do teu rosto reluza sobre o teu servo, e ensina-me os teus justos decretos.
Rios de lágrimas derramaram os meus olhos, por não terem guardado a tua lei. 
Tu és justo, Senhor, e o teu juízo é reto.
Mandaste estreitamente a observância dos teus preceitos, como a tua suma verdade.
O meu zelo fez-me definhar; porque os meus inimigos se esqueceram das tuas palavras.
A tua palavra é chama ardente, e o teu servo a tem amado.
Eu sou pequeno e desprezível, mas não esqueci os teus justos decretos. 
Tua justiça é justiça eterna, e a tua lei é a mesma verdade.
A tribulação e a angústia surpreenderam-me; os teus mandamentos são a minha meditação. 
Os teus preceitos são cheios duma eterna equidade; dá-me a inteligência deles, e viverei.
Clamei de todo o meu coração, ouve-me, Senhor; buscarei os teus justos preceitos.
Clamei a ti, salva-me, para que guarde teus mandamentos.
Eu me antecipei à aurora e clamei, porque esperei firmemente nas tuas palavras.
Os meus olhos voltaram-se para ti antes da aurora, para meditar as tuas palavras.
Ouve a minha voz segundo a tua misericórdia, Senhor, e dá-me vida segundo o teu juízo.
Os meu perseguidores arrastaram-me para o crime e desviaram-me da tua lei.
Perto estás de mim, Senhor, e todos os teus caminhos são verdade.
Acerca dos teus testemunhos, desde o princípio reconheci que tu os estabeleceste para sempre.
Vê o meu abatimento e livra-me, porque não transcurei tua lei.
Julga a minha causa, e liberta-me; dá-me a vida segundo a tua palavra.
A salvação está longe dos pecadores, porque não buscam os teus justos preceitos.
Muitas são, Senhor, as tuas misericórdias; dá-me a vida segundo o teu juízo.
Muitos são os que me perseguem e me atribulam; eu porém não me desviei dos teus mandamentos.
Vi os prevaricadores e consumia-me, porque não guardaram tuas palavras.
Vê, Senhor, quanto tenho amado os teus mandamentos, dá-me a vida pela tua misericórdia.
O princípio das tuas palavras é a verdade; todos os juízos da tua justiça são eternos.
Os príncipes me perseguiram sem causa, porém o meu coração temeu as tuas palavras.
Eu alegro-me nas tuas promessas, como quem encontra muitos despojos.
Odiei e detestei a iniquidade; mas amei a tua lei.
Sete vezes ao dia te dirigi louvores pelos juízos da tua justiça.
Gozam muita paz os que amam a tua lei, e não há para eles nenhuma ocasião de queda. 
Eu esperava a tua salvação, ó Senhor, e amei os teus mandamentos.
Minha alma guardou os teus preceitos, e ardentemente os amou.
Guardei os teus mandamentos e os teus preceitos, porque todos os meus caminhos estão presentes aos teus olhos.
Chegue, Senhor, a minha súplica à tua presença; dá-me a inteligência segundo a tua palavra.
Chegue a ti a minha súplica; livra-me segundo a tua palavra.
Os meus lábios romperão num hino, quando me ensinares os teus preceitos.
A minha língua anunciará a tua palavra, porque todos os teus mandamentos são equidade.
Estende a tua mão para me salvar, porque escolhi os teus mandamentos.
Desejei, Senhor, a tua salvação, e a tua lei é a minha meditação.
A minha alma viverá e te louvará, e os teus juízos serão o meu apoio.
Andei errante, como a ovelha, que se desgarrou; busca o teu servo, porque me não esqueci dos teus mandamentos.


domingo, 25 de agosto de 2019

NEM PROGRESSISMO NEM SEDEVACANTISMO ( II )

   Os fatos comprovam que nesta crise criada pelo modernismo dentro da Igreja há, tanto para nós membros do clero como para os fiéis, um duplo escolho que ameaça a barquinha de nossas almas: o Progressismo e o Sedevacantismo.
   Que é Progressismo? É o novo nome do Modernismo, objeto de severa condenação por parte de São Pio X, na Encíclica "Pascendi Dominici Gregis". Um e outro tendem a "solapar pelos alicerces o Reino de Jesus Cristo". Por isso São Pio X os chamava de "os mais perigosos inimigos da Igreja". Não atacam de frente. Disfarçam. Habitualmente usam a baldeação ideológica inadvertida, ou seja, fazem uma lavagem cerebral mudando as idéias aos poucos sem a pessoa perceber.
   O Progressismo não nega frontalmente o dogma revelado. Age mais através dos ambientes que vai criando com imprecisões de linguagem e termos ambíguos. Seus caminhos são tortuosos. Há, no entanto, um critério para surpreendê-los, que não falha. Todas as suas imprecisões, ambigüidades, novos formulários, etc, obedecem à mesma direção. Operam no sentido de afastar os fiéis da Tradição, das fórmulas tradicionais, dos limites precisos entre a verdade e o erro, dos costumes elaborados lenta e seguramente pelos séculos de Cristianismo, de tudo enfim que indique, sem o menor perigo de engano, o Cristianismo autêntico, ortodoxo, a fidelidade a Revelação e ao Espirito de Nosso Senhor Jesus Cristo.
   Antes de ser criada a Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney, durante um ano, foram feitas várias reuniões, semana de estudo e retiro. Tudo para nos convencer a aceitar a Administração Apostólica. No início foi distribuída uma apostila explicando o que Roma nos oferecia e o que nós prometíamos. Eis alguns trechos: "Aceitamos do Concílio Varticano II tudo aquilo que estiver em consonância com o Magistério perene da Igreja  e sua Sagrada Tradição: "eodem sensu eademque sententia". Reservamo-nos o direito de fazer críticas construtivas ao que a eles se opõem, empenhando-nos pela sua correção. Conservamos com exclusividade a Missa Tradicional. Aceitamos que a Missa segundo o Novus Ordo seja válida, se celebrada corretamente e com intenção de oferecer o verdadeiro sacrifício da Missa. Reservamo-nos o direito de fazer observações e críticas respeitosas e construtivas à Reforma Litúrgica nas suas ambigüidades, empenhando-nos pela sua correção, na linha do Breve Exame Crítico dos Cardeais Otavianni e Bacci e das recentes críticas feitas pelo Cardeal Joseph Ratzinger e pelo Cardeal Ferdinando Antonelli. (Nota: O Cardeal Castrillon Hoyos disse que tudo isso nos seria concedido nas expressões do cânon 212). Continuando os trechos da apostila: "Atendendo ao desejo do Santo Padre, desejamos ajudá-lo a combater o modernismo, o liberalismo, e a maçonaria dentro da Igreja. Reconhecendo que no calor da batalha pela verdade católica, certas críticas foram demasiado ácidas e pessoais, comprometemo-nos doravante a abaixar o tom das críticas, já que serão feitas em família, evitando ataques pessoais e permanecendo no campo doutrinário, segundo a sentença de Santo Agostinho: "In principiis unitas, in dubiis libertas, in omnibus charitas". FINALIZANDO: ( Última garantia): Não há o que temer. Se de tudo não der certo o que foi proposto ou se fizerem exigências fora do que foi contratado, nós teremos a liberdade de convocar a imprensa, declarando que fomos traídos, e nos retirar e voltar à situação em que estamos atualmente".
   Pelo que sei, e a bem da verdade e da justiça, devo declarar que a Santa Sé jamais fez a mínima exigência fora do que foi contratado com os padres da União Sacerdotal São João Batista Maria Vianney. Vira progrssista quem quer; e vira sedevacantista quem quer, pelo menos até ao presente e dentro da Administração Apostólica São João Batista Maria Vianney. 

   Que é Sedevacantismo? Os sedevacantistas são de várias gamas: desde os mais extremistas até aos mais moderados. Sedevacantistas são aqueles que levados talvez até pelo zelo da verdade, e não podendo conceber que papas favoreçam a heresia, classificam esses desvios doutrinários como heresias formais e concluem que estes papas (inclusive o atual) perderam os seus cargos. Os mais extremistas acham que se deva eleger outro Papa e organizar outra hierarquia. E já o fizeram. Dizem que já foram eleitos vários papas. "Horribile dictu!!! Outros acham que a Igreja visível acabou. ( E isto já é heresia!). Alguns acham que a Igreja está sem Papa desde Pio XII. Dividem porém, sobre a causa exata e a data em que tal coisa aconteceu.
   Sobre este assunto D. Marcel Lefebvre dizia: "Prefiro partir do princípio de que tem que se defender nossa fé. Este é o nosso dever. Aqui não há lugar para dúvida alguma. Conhecemos a nossa fé. Se alguém ataca nossa fé, dizemos: não! Mas daqui a dizer em seguida que, porque alguém ataca nossa fé, é herético, logo não é mais autoridade, logo seus atos não têm valor... Atenção, atenção, atenção!... Não nos metamos em um círculo infernal do qual não saberemos como sair. Nesta atitude existe um verdadeiro perigo de cisma".
    Na próxima postagem trancreveremos o artigo de D. Antônio de Castro Mayer em que nos ensinou como não devemos ser nem progressistas nem sedevacantistas: "VIGÁRIO DE CRISITO".

SALMO 118 - Elogios da Lei de Deus

"EU SOU O SENHOR, TEU DEUS"
Bem-aventurados os que se conservam sem mácula no caminho, os que andam na lei do Senhor.
Bem-aventurados os que estudam os seus mandamentos, os que de todo o coração o buscam.
Porque os que praticam a iniquidade não andam nos seus caminhos.
Tu promulgaste os teus mandamentos, para que fossem guardados à risca.
Oxalá se firmem os meu passos no cumprimento das tuas leis justas.
Eu não serei confundido, tendo os olhos fixos em todos os teus mandamentos.
Louvar-te-ei com retidão de coração, porque aprendi os juízos da tua justiça.
Guardarei os teus justos decretos; não me desampares jamais.
Como corrigirá o jovem seu proceder? Guardando as tuas palavras.
Te todo meu coração te busquei; não me deixes transviar dos teus mandamentos.
Escondi no meu coração as tuas palavras; para não pecar contra ti. 
Bendito és, Senhor; ensina-me as tuas justas leis.
Com os meus lábios pronunciei todos os preceitos da tua boca.
Deleitei-me no caminho das tuas ordens, tanto como em todas as riquezas.
Nos teus mandamentos me exercitarei, e considerarei os teus caminhos.
Nas tuas ordens meditarei; não me esquecerei das tuas palavras.
Concede esta graça ao teu servo, dá-me vida, e eu guardarei as tuas palavras.
Tira o véu dos meus olhos, e considerarei as maravilhas da tua lei.
Eu sou peregrino na terra; não me ocultes os teus mandamentos.
Minha alma desejou ansiosa em todo tempo as tuas justas leis.
Ameaçaste os soberbos; malditos os que se afastam dos teus mandamentos.
Livra-me do opróbrio e do desprezo porque busquei cuidadoso os teus mandamentos.
Até os príncipes se sentaram e falavam contra mim, o teu servo todavia meditava nas tuas determinações.
Porque teus decretos são assunto da minha meditação, e as tuas justas leis são os meus conselheiros.
Minha alma prostrou-se por terra; dá-me a vida, segundo a tua palavra.
Eu te expus os meus caminhos, e tu me atendeste; ensina-me os teus preceitos.
Instrui-me no caminho das tuas ordens; e meditarei nas tuas maravilhas.
Minha alma adormeceu de tédio; fortifica-me com as tuas palavras.
Afasta de mim o caminho enganoso, e concede-me a graça da tua lei.
Escolhi o caminho da verdade; não me esqueci dos teus juízos.
Senhor, aderi aos teus testemunhos; não me queiras confundir.
Corri pelo caminho dos teus mandamentos, quando dilataste o meu coração.
Impõe-me por lei, Senhor, o caminho dos teus mandamentos, e buscá-lo-ei sempre.
Dá-me inteligência e estudarei a tua lei, e a guardarei de todo o meu coração.
Guia-me pela senda dos teus mandamentos, porque essa mesma desejei.
Inclina o meu coração para os teus preceitos, e não para a avareza.
Desvia os meus olhos, para que não vejam a vaidade; faze que eu viva seguindo o teu caminho.
Faze que o teu servo se firme em tua palavra, mediante o teu temor.
Afasta de mim o opróbrio, que receio, porque os teus juízos são suaves.
Vê como eu suspirei pelos teus mandamentos, faze que viva segundo a tua justiça.
Venha sobre mim a tua misericórdia, Senhor, e a tua salvação, segundo a tua palavra.
E poderei responder aos me insultam, que pus a minha esperança nas tuas palavras.
E não tires jamais da minha boca a palavra da verdade, porque confiei muito nas tuas promessas.
Guardarei sempre tua lei, constantemente até o fim.
Caminharei por uma senda larga, porque busquei os teus mandamentos.
Falarei dos teus preceitos diante dos reis, e não me envergonharei.
Meditarei nos teus mandamentos, que eu amo.
Levantarei as minhas mãos para os teus mandamentos, que eu amo, e exercitar-me-ei nas tuas ordens.
Lembra-te da promessa que fizeste ao teu servo, com a qual me deste esperança. 
Isto me consolou no meu abatimento, porque a tua palavra me deu vida.
Os soberbos me insultam em extremo, mas eu não me afastei da tua lei.
Lembrei-me, Senhor, dos juízos que exerceste em todos os séculos, e consolei-me.
Desfaleci, vendo os pecadores que abandonavam a tua lei. 
As tuas leis justas eram dignas de ser cantadas por mim, no lugar da minha peregrinação.
Lembrei-me do teu nome, Senhor, durante a noite, e guardei a tua lei.
Isto me aconteceu, porque busquei cuidadoso os teus preceitos.
Eu disse: Senhor, a minha porção é guardar a tua lei.
Supliquei o teu favor de todo o meu coração; compadece-te de mim, segundo a tua palavra.
Considerei os meus caminhos, e voltei os meus passos para os teus preceitos.
Estou resolvido, sem que nada me possa perturbar, a guardar os teus mandamentos.
Os laços dos pecadores me cingiram por todas as partes, mas eu não me esqueci da tua lei.
À meia noite levantava-me para te louvar por teus justos decretos.
Associo-me a todos os que te temem e guardam os teus mandamentos.
A terra está cheia, Senhor, da tua misericórdia; ensina-me os teus preceitos.
Senhor, bondoso foste para com o teu servo, segundo a tua palavra.
Ensina-me a bondade, a doutrina e a ciência, porque dei credito aos teus mandamentos.
Antes de ser humilhado, pequei, mas agora obedeço à tua palavra.
Tu és bom, e, por tua bondade, ensina-me as tuas justíssimas prescrições.
A iniquidade dos soberbos multiplicou-se contra mim, mas eu de todo o meu coração guardarei os teus mandamentos.
O coração deles coalhou-se como leite, porém eu deleitei-me na tua lei.
Para mim foi bom que passei pela dor, para eu aprender os teus preceitos.
Para mim vale mais a lei que saiu da tua boca, do que milhões de ouro e de prata.
Tuas mãos fizeram-me e formaram-me; dá-me inteligência, e eu aprenderei os teus mandamentos.
Os que te temem verão com alegria, porque pus toda a minha esperança nas tuas palavras.
Conheci, Senhor, que os teus juízos são de equidade, e merecidamente me humilhaste.
Venha tua misericórdia consolar-me, segundo a promessa ao teu servo.
Venham a mim as tuas misericórdias, e viverei, porque a tua lei é a minha meditação.
Sejam confundidos os soberbos, pois injustamente maquinaram males contra mim; eu porém me excitarei nos teus mandamentos.
Voltem para mim os que te temem, e os que conhecem teus testemunhos.
Seja imaculado o meu coração na prática dos teus mandamentos, para que eu não seja confundido.
A minha alma desfaleceu à espera da tua salvação; em tua promessa espero.
Os meus olhos cansaram-se de tanto esperar a tua promessa, dizendo: Quando me consolarás?
Porque eu tornei-me como um odre exposto à fumaça, mas não olvidei os teus justos preceitos.
Quantos são os dias de teu servo? Quando farás justiça aos que me perseguem?
Contaram-me ímpios coisas frívolas, mas quão diferente é tudo isso da tua lei!
Todos os teus mandamentos são verdade; injustamente me têm perseguido, socorre-me.
Por pouco não deram comigo em terra, eu porém não abandonei os teus mandamentos.
Concedei-me a vida segundo a tua misericórdia, e eu guardarei os mandamentos saídos da tua boca.

Esta é só a metade: continua no próximo post.

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

A SUBVERSÃO DA IGREJA OPERADA POR UM CONCÍLIO

 Transcrevo aqui, na íntegra, o capítulo XXIII do Livro de Mons. Marcel Lefebvre - DO LIBERALISMO À APOSTASIA, A Tragédia Conciliar.

  "Um grande iluminado, o cônego Roca, viu há mais de um século os detalhes da tentativa de subversão da Igreja e do Papado projetada pela seita maçônica. Mons. Rudolf Graber em seu Livro "Atanásio", cita as obras de Roca (1830-1893), sacerdote em 1858, cônego honorário em 1869. Excomungado mais tarde, pregou a revolução e anunciou o advento da sinarquia. Fala a miúdo, em seus escritos, de uma "Igreja novamente iluminada", que estaria influenciada pelo socialismo de Jesus e seus Apóstolos. A nova Igreja, diz ele, que certamente não poderá guardar nada do ensino e da forma primitiva da antiga Igreja, receberá entretanto a bênção e a jurisdição canônica de Roma". Roca anuncia também a reforma litúrgica: "O culto divino tal como rege a liturgia, o cerimonial, o ritual, as prescrições da Igreja romana, sofrerão uma transformação após um concílio ecumênico(...) que lhe devolverá a simplicidade respeitável da idade de ouro apostólica, segundo o novo estado da consciência da civilização moderna". 
  Roca especifica os frutos deste concílio: "sairá dele algo que encherá o mundo de estupor e o porá de joelhos ante seu Redentor: a demonstração do perfeito acordo entre o idealismo da civilização moderna e o idealismo de Cristo e de seu Evangelho. Será a consagração da Nova Ordem Social e solene batismo da civilização moderna".
  Ou seja: todos os valores dessa cultura liberal, serão reconhecidos e canonizados logo após o concílio em questão.
   Vejam também o que Roca escreve sobre o Papa: "Prepara-se um sacrifício que apresentará uma penitência solene (...) O Papa cairá, morrerá sob o punhal sagrado forjado pelos Padres do último concílio. O César pontifical é a hóstia preparada para o sacrifício". Devemos acreditar que tudo isto está para chegar, a não ser que Nosso Senhor o impeça! Por fim Roca fala dos novos sacerdotes que aparecerão, chamando-os de "progressistas"; fala da supressão da batina, do casamento de sacerdotes... muitas outras profecias! Notem como Roca viu bem o papel determinante para a subversão da Igreja, e um último concílio ecumênico. 

  Mas não foram somente os inimigos da Igreja que assinalaram os transtornos que traria consigo um concílio ecumênico reunido em uma época em que as idéias liberais já haviam penetrado profundamente na Igreja.

  Conta o P. Dulac (1) que no consistório secreto de 23 de Maio de 1923, o então Papa Pio XI interrogou os cardeais da Cúria sobre a oportunidade de convocar um concílio ecumênico. Eram cerca de trinta: Merry del Val, de Lai, Gasparri, Boggiani, Billot... Billot dizia: "Não podemos dissimular a existência de divergências profundas dentro mesmo do episcopado... que podem dar lugar a discussões que se prolongariam indefinidamente". Boggiani recordava as teorias modernistas, das quais dizia: parte do clero e dos bispos não estão isentos. "Esta mentalidade pode inclinar certos Padres a apresentar moções e introduzir métodos incompatíveis com as tradições católicas". Billot é ainda mais preciso: manifesta seu temor de ver o concílio "manobrado" (sic) pelos "piores inimigos da Igreja, os modernistas, que já se preparam, como demonstram certos indícios, para introduzir a revolução na Igreja, um novo 1789."

  Quando João XXIII retomou a ideia, já ventilada por Pio XII (2), de convocar um concílio ecumênico, "passou a ler os documentos durante uns passeios pelos jardins do Vaticano", conta o P. Caprille (3). Isto foi tudo, pois sua decisão já estava tomada. Em várias ocasiões afirmou que a decisão fora tomada sob uma inspiração repentina de Espírito Santo (4). "Obedecendo a uma voz interior que consideramos vinda de um impulso superior, Nós julgamos que era o momento oportuno para oferecer à Igreja Católica e a toda a família humana um novo concílio ecumênico". (5) Esta "inspiração do Altíssimo", esta "solicitação divina" como ele a chama, foi recebida no dia 25 de Janeiro de 1959, enquanto se preparava para celebrar uma cerimônia em São Paulo Extramuros em Roma, e logo após a cerimônia a confiou aos dezoito cardeais presentes. Mas foi esta inspiração verdadeiramente divina? Parece duvidoso; acho que sua origem foi totalmente outra... 

   Em todo caso, uma reflexão de um velho amigo do Cardeal Roncalli, futuro João XXIII, é muito esclarecedora: com a notícia da morte de Pio XII, o velho Dom Lambert Beauduin, amigo de Roncalli, confiava ao R. P. Bouyer: "se elegem Roncalli, tudo está salvo: ele é capaz de convocar um concílio e de consagrar o ecumenismo" (6). Como mostra o Pe. Bonneterre, Dom Lambert Beauduin conhecia bem o cardeal Roncalli, sabia desde 1958 que Roncalli feito papa, realizaria o ecumenismo e provavelmente por meio de um concílio. Quem diz ecumenismo, diz liberdade religiosa e liberalismo. A revolução pela tiara e pelo pluvial não foi uma improvisação. No próximo capítulo procurarei mostrar isto recordando o desenrolar do Concílio Vaticano II. 

NOTAS: (1) - Raymond Dulac "La Collégialité Épiscopale au Concile du Vatican", Paris, Cedres, 1979, pgs 99-10.
                 (2) - Op. cit. pg. 10; Frére Michel de la Sainte Trinité "Toute la Verité sur Fatima, - le 3e. Secret" pg. 182-199.
                 (3) - Em "Histoire de Vatican II". Cf. Dulac, op. cit. pg. 11.
               (4) - Cf. "Jean XXIII et Vatican II sous le feux de la Pentecôte Luciferienne, in Le Regne Social de Marie, Fatima, Janeiro- Fevereiro de 1985, pg. 2-3.
                 (5) - Bula "Humanae Salutis".
                 (6) - L Bouyer "Dom Lambert Beaudin, un Homme d"Église", Casterman 1964 pg. 180-181, cit. pelo Pe. Didier Bonneterre em "Le Mouvement Litourgique", Ed. Fideliter, 1980, pg. 119. 

  Uma observação minha: Ou este cônego Roca foi um Balaão do N. T. com a grande diferença que Balaão, embora mau, obrigado e inspirado por Deus, abençoou e predisse coisas boas; ou os modernistas procuraram fazer tudo o que Roca sabia através dos Protocolos dos Sábios de  Sion e dos projetos da Alta Venda e Cia. maçônica. No próximo post transcreverei algumas afirmações maçônicas. 
  Quanto à "inspiração" de João XXIII, acho que talvez a História de Jó sirva de protótipo para a História da Igreja depois de Pio XII. Jó disse: "Deus deu, Deus tirou, seja sempre bendito o seu nome". Na verdade foi satã que tirou, mas por permissão de Deus, para provar que seu servo era santo, fiel sempre. Passada a prova, vai receber de Deus tudo em duplo, e novas filhas, as mais belas da terra na época.  Pensamos no triunfo do Imaculado Coração de Maria! 

  

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

NECESSIDADE DA CONFISSÃO

LEITURA ESPIRITUAL. dia 21

Todo pecado ofende a Deus. Como ensinou o próprio Jesus Cristo, Nosso Senhor: toda a Lei se resume em dois mandamentos, ou seja, amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Assim, mesmo quando a ofensa é feita ao próximo, ofende a Deus, porque Ele quer que amemos o próximo, pois, todo homem foi feito à imagem e semelhança de Deus e todos somos destinados por Nosso Pai do Céu para a felicidade no Paraíso.

Assim sendo, devemos dizer que Deus é o ofendido pelos pecados dos homens, quer sejam diretamente cometidos contra Deus, como acontece quando são desobedecidos os três primeiros mandamentos, quer sejam indiretamente, como acontece quando são desobedecidos os outros sete mandamentos que se referem diretamente ao próximo. É sempre Deus ofendido pelo pecado.

Ora, só àquele que recebeu a ofensa cabe o poder de perdoar e também de determinar a penitência. Só Deus pode colocar as condições para que Ele possa perdoar. Pois bem! Para nos perdoar, Deus exige que confessemos nossas faltas aos seus ministros, aos padres. A confissão é, pois, necessária e obrigatória para todos os fiéis que perderam a inocência do batismo por qualquer pecado mortal. Muito gente pensa que se perde o inocência só com o pecado mortal contra a castidade. Na verdade, a Teologia ensina que inocência depois do batismo  consiste em conservar a graça santificante nele recebida. E esta graça se perde com qualquer tipo de pecado mortal, mesmo por pensamento e desejo. Só para dar um exemplo: quem aceitasse consciente e voluntariamente um desejo de roubar uma coisa de maior valor, já teria cometido um pecado mortal, e, portanto, com este pecado teria perdido a inocência batismal. Popularmente só se emprega inocência para significar  o desconhecimento de toda malícia no que se refere à pureza. Daí o povo dizer que uma criança perdeu a inocência quando conhece e faz algum pecado contra a castidade. Na verdade, perde-se a inocência batismal quando se cometem estes pecados e/ou qualquer outro tipo de pecado mortal. Inocência, portanto, teologicamente falando, é a conservação da graça santificante recebida no batismo. E neste sentido, esta inocência é privilégio de poucos.

O Sacrossanto Concílio de Trento ensina: "Se alguém disser que a confissão sacramental não é necessária por direito divino, para a salvação: seja anátema. E diz ainda: O Sacramento da Penitência é tão necessário para a salvação daqueles que perderam a inocência batismal, como o batismo o é para aqueles que o não receberam. Como já tivemos ocasião de explicar, é neste sentido que o Sacramento da Penitência é chamado "a segunda tábua de salvação depois do naufrágio". Diz São Bernardo que "depois do batismo, não há nenhum outro remédio para o pecador senão a confissão".

Este remédio divino, como já o provamos, Nosso Senhor Jesus Cristo no-lo deu quando disse aos Apóstolos: "Os pecados serão perdoados àqueles a quem vós os perdoardes", e ainda disse: "tudo que desligardes na terra será desligado nos céus".


Caríssimos, queremos, pois, obter o perdão de nossos pecados? Confessemo-los a um sacerdote que tenha a devida jurisdição. Queremos livrar nossa alma das correntes do pecado e do demônio? Não há outro meio senão a confissão. Ela é necessária ou menos em desejo, como já explicamos no caso de arrependimento perfeito, e é impossível fazê-la em realidade. 

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

DOGMA DA ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA: PAPA PIO XII - (1950)

   Apresentamos alguns excertos da CONSTITUIÇÃO APOSTÓLICA "MUNIFICENTISSIMUS DEUS".
   "Nestes nossos tempos refulgiu com luz mais clara o privilégio da Assunção corpória da Mãe de Deus.
   Este privilégio brilhou com novo fulgor quando o nosso Predecessor de imortal memória, Pio IX, definiu solenemente o dogma da Imaculada Conceição. De fato, estes dois dogmas estão estreitamente conexos entre si. Cristo com o própria morte venceu a morte e o pecado, e todo aquele que pelo batismo de novo é gerado, sobrenaturalmente, pela graça, vence também o pecado e a morte. Porém Deus, por lei ordinária, só concederá aos justos o pleno efeito desta vitória sobre a morte, quando chegar o fim dos tempos. Por este motivo, os corpos dos justos corrompem-se depois da morte, e só no último dia se juntarão com a própria alma gloriosa.
   Mas Deus quis excetuar desta lei geral a Bem-aventurada Virgem Maria. Por um privilégio inteiramente singular ela venceu o pecado com a sua Conceição Imaculada; e por esse motivo não foi sujeita à lei de permanecer na corrupção do sepulcro, nem teve de esperar a redenção do corpo até ao fim dos tempos.
   "A razão primária e fundamental diziam (os teólogos) ser o amor filial de Cristo para o levar a querer a Assunção de Sua Mãe ao céu. E advertiam mais , que a força dos argumentos se baseava na imcomparável dignidade da sua maternidade divina em todas as graças que dela derivam: a santidade altíssima que excede a santidade de todos os homens e anjos, e íntima união de Maria com o Seu Filho, e sobretudo o amor que o Filho consagrava à Sua Mãe digníssima...
   Os doutores escolásticos vislumbram igualmente a Assunção da Mãe de Deus não só em várias figuras do Antigo Testamento, mas também aquela mulher, revestida de sol, que o Apóstolo São João contemplou na Ilha de Batmos (Apoc. XII,1 e segs.). Porém, entre os textos do Novo Testamento, consideraram e examinaram com particular cuidado aquelas palavras: "Ave, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres" (S. Luc. I, 28), pois viram no mistério da Assunção o complemento daquela plenitude de graça, concedida à Santíssima Virgem, e uma bênção singular contraposta à maldição de Eva.
   ..."Na festa da Assunção, Santo Antônio de Pádua, ao comentar aquelas palavras de Isaías "glorificarei o lugar dos meus pés (Is. LX, 13), afirmou com segurança que o Divino Redentor glorificou de modo mais perfeito a sua Mãe amantíssima, da qual tomara carne humana. "Daqui vê-se claramente, diz, que o corpo da Santíssima Virgem foi assunto ao céu, pois era o lugar dos pés do Senhor". Pelo que escreve o Salmista: " Erguei-vos, Senhor, para o vosso repouso, vós e a Arca da vossa santificação". E assim como, acrescenta ainda, Jesus Cristo ressuscitou triunfante da morte e subiu para a direita do Pai, assim também "ressuscitou a Arca da sua santificação, quando neste dia a Virgem Mãe foi assunta ao tálamo celestial".
   ..."Saõ Bernardino de Sena diz que a semelhança entre a divina Mãe e o divino Filho, no que respeita à perfeição e dignidade de alma e corpo, - semelhança que nem sequer nos permite pensar que a Rainha celestial possa estar separada do Rei dos Céus, - exige absolutamente que Maria "só deva estar onde está Crsito". Outro argumento dado por São Bernardino: "O fato de nunca a Igreja ter procurado as relíquias da Santíssima Virgem, nem as ter exposto à veneração dos fiéis, constitui um argumento que é "como que uma experiência sensível da Assunção".
  
"São Francisco de Sales afirma que não se pode duvidar que Jesus Cristo cumpriu do modo mais perfeito o divino mandamento que obriga os filhos a honrar os pais. E a seguir faz esta pergunta: "Que filho haveria, que, se pudesse, não ressuscitava a sua mãe e não o levava para o céu?" E Santo Afonso escreve por sua vez: "Jesus não quis que o corpo de Maria se corrompesse depois da morte, pois redundaria em Seu desdouro que se transformasse em podridão aquela carne virginal de que Ele mesmo tomara a própria carne".
DEFINIÇÃO DO DOGMA
   "Pelo que, depois de termos dirigido a Deus repetidas súplicas, e de termos invocado a luz do Espírito de Verdade, para glória de Deus Onipotente que à Virgem Maria concebeu a sua especial benevolência, para honra do seu Filho, Rei imortal dos séculos e triunfador do pecado e da morte, para aumento da glória da Sua augusta Mãe, e para gozo e júbilo de toda a Igreja, com a autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos Bem-aventurados Apóstolos São Pedro e São Paulo e com a Nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que: A IMACULADA MÃE DE DEUS, A SEMPRE VIRGEM MARIA, TERMINANDO O CURSO DA VIDA TERRESTRE, FOI ASSUNTA EM CORPO E ALMA À GLÓRIA CELESTIAL".
  
   Pelo que, se alguém, o que Deus não permita, ousar, voluntariamente, negar ou pôr em dúvida esta Nossa definição, saiba que naufraga na fé divina e católica.

A CONSCIÊNCIA CRISTÃ

LEITURA ESPIRITUAL, dia 15º


"Tudo o que não é segundo a fé é pecado" (Rom. XIV, 23).

Todo ato cristão  parte do íntimo da alma unida a Deus em conformidade com a Verdade que é Nosso Senhor Jesus Cristo. Assim os dois conceitos FÉ e CONSCIÊNCIA CRISTÃ, coincidem perfeitamente. É, pois, a adesão interior a Jesus Cristo que faz nossa fé e nossa consciência. Portanto, quando o cristão unido interiormente a Jesus Cristo, age em desacordo com essa luz divina, peca. É neste sentido que S. Paulo diz: "Tudo o que não é segundo a fé, é pecado". São João Crisóstomo, com todos os intérpretes gregos, ensina que no texto em apreço, "FÉ" quer dizer "CONSCIÊNCIA".

Caríssimos, Nosso Senhor Jesus fez sua Igreja com sua hierarquia para ser a luz do mundo e o sal da terra. O Cristianismo é, por essência, uma doutrina sobrenatural da salvação. Seu fim é ensinar ao homem a sua elevação a um destino superior e subministrar-lhe os meios proporcionados à sua consecução. Mas a graça supõe a natureza. É a natureza do homem que é elevada à ordem sobrenatural. É sobre a natureza reta ou retificada que ele poderá realizar a sua missão sobrenaturalizadora. A moral humana e o direito natural só podem desenvolver-se e formular-se em corpo de doutrina pela Santa Madre Igreja. Por isso, onde e na medida em que o racionalismo laicista ou o materialismo ateu tentam banir a doutrina católica, renascem os ídolos pagãos com as suas servidões humilhantes e a pessoa perde sua dignidade. Enquanto os instintos cegos e as paixões indisciplinadas, onde a impureza, a ambição e o orgulho multiplicam os erros e as desordens, o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo será o único meio para difundir claridades para o verdadeiro progresso aqui e máxime para as vias que conduzem à Eternidade Feliz. A Igreja de Nosso Senhor Jesus esclarece as inteligências e possui o segredo de energias sobrenaturais capazes de fortalecer a vontade. É ela, e somente ela, que plasma e ilumina as consciências tornando-as certas, retas e delicadas. Sua ação é interior, profunda e eficaz. Na prática do bem a consciência apura-se numa delicadeza e sinceridade que deve ter por testemunha o olhar de Deus. O amor de Jesus Cristo, modelo de perfeição humano-divina, deve introduzir no dinamismo da vida moral dos verdadeiros católicos uma força misteriosa de dedicação e generosidade, chegando mesmo ao heroísmo do martírio. É o fruto da consciência bem formada, é o exercício da virtude exaltada até à santidade.

Mensageira autorizada da verdade e do bem, a Igreja não poderá jamais deixar de testemunhar a verdade de Jesus, assim como jamais poderá eximir-se de ligar as consciências a esta Verdade, sem que pretenda com isso, é óbvio, violentá-las. O que ela quer é a sua adesão não puramente exterior, mas interior. Quando esta adesão interior lhe é resolutamente recusada, a Igreja não força, mas não pode senão implorar a misericórdia divina que converta os recalcitrantes. Nunca será misericórdia, abraçar o pecador com o pecado e tudo, no caso de o pecador se recusar a voltar atrás e se converter. A Igreja, a exemplo do Divino Mestre, é missionária, e deve ir à procura do pecador para o converter e não para falsear sua consciência no afã de tranquilizá-la no erro e no pecado. Isto é, sim, monstruosa impiedade: enganar as almas com uma paz que não é a de Jesus Cristo, mas a do mundo.
Procurar tirar os pecados das consciências não é fanatismo nem dureza de coração; é simplesmente preocupação de sinceridade e de retidão interior. A Igreja não pode tolerar, nem tem mesmo o direito de fazê-lo, que no número dos seus membros se encontrem católicos que só o sejam de nome. A Igreja Católica, deve ser por excelência, a preservadora e impulsora da moralidade humana. Deve ser o sal da terra para, dando gosto pelas coisas de Deus, preservar a almas e a sociedade da corrupção, seja ela lá de que espécie for. Só o Cristianismo pode ser escola de santos. A graça supõe a natureza, mas uma natureza reta ou retificada. Não será bom católico quem não começar por ser homem honesto.

A Igreja considerou sempre como parte de sua missão divina, elevar e sanear o ambiente moral da família. Se é verdade que, sendo a consciência a regra imediata que se deve seguir, nunca será lícito alguém ir contra ela, não é menos verdade que a intenção de conformar os nossos atos com a regra absoluta, que é a condição essencial do seu valor moral, supõe necessariamente o desejo e a intenção eficaz de a conhecer o mais exatamente possível. Eis porque o erro e a ignorância em semelhante matéria são imputáveis quando provêm da negligência em se instruir ou da prática continuada do mal, que acabou por obscurecer ou falsear a consciência. Assim, toda consciência errônea deve ser endireitada. Portanto, não poderia ser maior a impiedade, por parte de alguém da hierarquia eclesiástica ser o primeiro a exortar a alguém que esteja  procurando esclarecimento, a seguir em frente com sua consciência, ainda que clara e gravemente errônea. Seria a mãe dar uma serpente ao filho que lhe pedisse um peixe; dar uma pedra em lugar dum pão; e pior ainda, dar ao filho doente, em vez de remédio, veneno. Outrossim, é uma impiedade sem nome, a autoridade suprema da Igreja se recusar a esclarecer as consciências que esta mesma autoridade perturbou com alguma ambiguidade em questões de fé e moral. Devemos pedir a Deus pelos quatro (dos quais dois faleceram), cardeais que apresentaram ao papa as "DUBIA" e por todos os que os estão aprovando, para que continuem firmes na defesa da santa doutrina  de Nosso Senhor Jesus Cristo! Devemos também orar para que o Papa Francisco veja que não se trata de coisas de somenos importância, mas sim da Lei suprema da Igreja que é procurar a salvação das almas. Não se trata, pois, de procurar evitar a extinção de espécies animais mas trata-se de evitar a extinção da fé nas almas.

Caríssimos, na religião do homem que hoje se procura instaurar, até quanto ao SER MORAL o homem é deus para si mesmo. Nestes tempos calamitosos e faltos de fé, geralmente não se leva mais em conta a LEI de DEUS; já em muitos países são aprovadas leis contra o Decálogo e até contra a natureza, leis nela já insculpidas por Deus desde à criação.  E  já foram aprovados por lei,  o divórcio e até o aborto, a sodomia, pecados estes que bradam aos céus exigindo vingança. Não poderia ser maior o falseamento das consciências! As novas gerações acharão natural o que na verdade são monstruosos desrespeitos a Deus. Na míngua de sacerdotes que orientem as almas na verdade e no verdadeiro amor e adoração ao Criador, o mundo caminha no sentido de adorar as criaturas. Realizam-se, sem dúvida, as profecias de Nossa Senhora de La Salette. Não foi sem razão que Nossa Senhora apareceu chorando. E neste ano completam-se 47 anos que a imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima derramou lágrimas várias vezes em Nova Orleans nos Estados Unidos. 

Feita esta breve exposição, torna-se mais fácil compreender o porquê desta crise atual, crise esta que se estende a todos os campos, desde o religioso até ao econômico. É que o sal perdeu a sua força e não presta para outra coisa senão para ser jogado fora e pisado pelos homens. Apagou-se, ou quase, a luz da fé, a doutrina do Divino Mestre é substituída por novidades fabricadas ao sabor do mundo.
A verdadeira Moral, é substituída por uma NOVA: é a Moral de Situação.


quarta-feira, 14 de agosto de 2019

FRUTOS QUE SE DERIVAM DA DEVOÇÃO À SS. EUCARISTIA


"Vinde a mim, vós todos, que estais oprimidos, e eu vos aliviarei" (S Mateus XI, 28).

20. Estes poucos ensinamentos a propósito de um assunto tão vasto serão, não duvidamos, fecundos em frutos de salvação para o povo cristão se, por vossos cuidados, Veneráveis Irmãos, forem em tempo oportuno expostos e recomendados. Mas esse sacramento é tão grande e tão abundante em toda sorte de virtudes, que ninguém poderá jamais nem lhe celebrar assaz eloquentemente os louvores, nem por suas adorações honrá-lo como ele o merece. Quer o meditemos com piedade, quer o adoremos nas cerimônias oficiais da Igreja, quer sobretudo o recebamos, com a pureza e a santidade requeridas, deve ele ser considerado como o centro de uma vida cristão tão completa como pode sê-lo; todas as outras modalidades de piedade, quaisquer que sejam, conduzem e vão ter, em última análise, à Eucaristia. Mas é principalmente neste mistério que se realiza e se cumpre cada dia o benévolo convite e a promessa, mais benévola ainda, de Cristo: Vinde a mim, vós todos, que estais onerados, e eu vos aliviarei (S. Mat. XI< 28).

Procissão de Corpus Christi - 1ª bênção do Santíssimo



Carmelo de Nossa Senhora do Carmo  -  Varre-Sai, RJ.

21. Esse mistério, finalmente, é como que a alma da Igreja; é para ele que se eleva a própria plenitude da graça sacerdotal pelos diversos graus das Ordens. É nele, ainda, que a Igreja haure e possui toda a sua virtude e toda a sua glória, todos os tesouros das graças divinas e todos os bens: por isso ela consagra os maiores desvelos a dispor e a trazer os espíritos dos fiéis a uma íntima união com Cristo por meio do sacramento de seu Corpo e de seu Sangue; é pelo mesmo motivo que ela procura fazê-lo venerar ainda mais pelo esplendor das suas cerimônias mais santas. A perpétua solicitude desenvolvida a este respeito pela Igreja, nossa Mãe, é magnificamente salientada por uma exortação publicada no santo Concílio de Trento, a qual respira uma caridade e uma piedade admiráveis e merece verdadeiramente que a transmitamos integralmente ao povo cristão: "O Santo Concílio adverte com afeto paternal, exorta, pede e conjura, pelas entranhas da misericórdia de nosso Deus, todos  e cada um dos que trazem o nome de cristãos, a se unirem enfim e viverem em boa harmonia nesse sinal da unidade, nesse vínculo da caridade, nesse símbolo de concórdia; a se lembrarem da tão grande majestade e do tão admirável amor de Jesus Cristo Nosso Senhor, que deu sua alma bem-amada como preço da nossa salvação, e que nos deixou seu corpo como alimento; a crerem e a venerarem esses mistérios sagrados do corpo e do sangue de Cristo com uma fé tão constante e tão firme, com uma devoção, uma piedade e um respeito tais, que possam frequentemente receber esse pão supersubstancial, que este seja deveras a vida das suas almas e a saúde perpétua dos seus corações, e que, fortificados por esse alimento, possam, ao sair desta miserável vida, chegar à pátria celeste, onde se nutrirão sem velame desse Pão dos anjos que agora só lhes é distribuído sob os véus sagrados" (Sess. XIII, De Echar., X, c. VIII).

22. Também a história nos atesta que a vida cristã foi especialmente florescente no povo nas épocas em que a Eucaristia era recebida mais frequentemente. Em compensação, e fato é este não menos certo, as pessoas se habituaram a ver o vigor da fé cristã enfraquecer-se sensivelmente à medida que os homens negligenciavam o pão celestial e, por assim dizer, lhe perdiam o gosto. Para que essa fé não desaparecesse completamente, no Concílio de Latrão Inocêncio III tomou uma medida oportuníssima, fazendo para todo cristão uma obrigação gravíssima de não se abster da comunhão do Corpo do Senhor ao menos por ocasião das solenidades pascais. Evidente é, porém, que esse preceito foi dado com pesar e como remédio extremo: porque a Igreja sempre desejou que em cada sacrifício os fiéis pudessem participar desse banquete divino. "O Santo Concílio desejaria que em cada missa os fiéis presentes não fizessem apenas a comunhão espiritual, mas, também que viessem receber sacramentalmente a Eucaristia; assim os frutos desse Santíssimo Sacrifício manariam mais abundantes sobre eles" (Conc. Trid. sess. XXII, c. VI).


(Excerto da Encíclica "MIRAE CARITATIS"  de Leão XIII sobre a Santíssima Eucaristia, escrita em 1902). 

TEMOR DE DEUS


LEITURA ESPIRITUAL, dia 14º




"Não temais os que matam o corpo, e não podem matar a alma; mas temei antes aquele que pode lançar na Geena a alma e o corpo" (S. Mateus X, 28 e cf. também S. Lucas XII, 4 e 5: "A vós, meus amigos,  vos digo:Não tenhais medo daqueles que matam o corpo, e depois nada mais podem fazer; temei aquele que, depois de matar, tem poder de lançar no inferno..."

Não pode haver ninguém mais amigo do que Jesus Cristo, que quis morrer para nos salvar. E quem avisa, amigo é. Como a amigos Jesus nos dá este aviso em Mateus X, 28 e Lucas XII, 4 e 5. Portam-se, porém, como inimigos aqueles que aconselham a atitude da avestruz perante o dogma do inferno: Deus é Pai, não temais, não existe o inferno. Isto é tapar os ouvidos a advertência paternal de Deus. Jesus Cristo manda que se tema o inferno, justamente para nele não vir a cair com a alma, e depois do Juízo Final, também com o corpo.  "O princípio da sabedoria é o temor do Senhor" (Eclesiástico I, 16). Os ninivitas agiram com sabedoria porque temeram os castigos de Deus, quando Jonas lhes foi anunciar a destruição da cidade. Se os primeiros homens temessem a Deus, que é Pai mas também Juiz, não teriam praticado excessos, que moveram o mesmo Deus a afogá-los no dilúvio! Se o temor de Deus tivesse entrado em Sodoma e Gomorra com as advertências de Lot, não teriam sido os seus habitantes reduzidos a um montão de cinzas! Devemos amar a Deus, que dá o céu a quem o merece; e temê-Lo, porque castiga com o inferno os pecadores que, depois de abusar da Misericórdia, desprezam a Justiça divina e não se convertem até ao último instante de vida.

 Existem duas espécies de temor: o temor de servo que teme a culpa  por medo do castigo que Deus pode infligir. Sobretudo teme o extremo e eterno castigo que é o inferno, onde, depois da ressurreição dos corpos no juízo final, os réprobos serão lançados não só com as almas mas também com os corpos. E só Jesus Cristo, Juiz Supremo tem este poder. Os homens só podem lançar o corpo na sepultura. Este temor reverencial embora, não seja perfeito, contudo é bom porque afugenta o pecado: "O temor do Senhor expulsa o pecado" (Eclesiástico I, 27). Mas há outra espécie de temor e este é o melhor porque não é um temor servil mas de filho. Não apenas é bom, mas é um temor santo como diz o Salmo XVIII, 9 e 10: "As justiças do Senhor são retas, alegram os corações, o preceito do Senhor é claro, esclarece os olhos. O temor do Senhor é santo, permanece pelos séculos dos séculos; os juízos do Senhor são verdadeiros, cheios de justiça em si mesmos". O temor filial consiste em temer o castigo também por medo da culpa. E à medida que cresce esse temor, aumenta outrossim o amor que nos une a Deus. Diz Santo Tomás de Aquino que os atos exteriores devem brotar da disposição interior. A humildade é a disposição interior para todas as virtudes. O temor de Deus, a reverência diante da Majestade infinita de Deus procedem da humildade interior mas que mui naturalmente se mostram também no exterior. Pela humildade a alma tem sempre Deus diante dos olhos, sem jamais o esquecer. Teme ofender um Pai que é todo Amor, um Supremo Senhor que é todo Justiça, pois,  premia um copo d'água dado a alguém por Seu amor, como castiga uma palavra ociosa. 

O próprio Nosso Senhor recomenda esse temor reverencial àqueles que se dignou chamar seus amigos: "Digo, porém, a vós, meus amigos..." (S. Lucas XII, 4).  Este temor do inferno, inclui também o amor a Deus, pois, o condenado, além de outros tormentos, sofre ainda mais pela "pena do dano", isto é, ter perdido para sempre o Supremo Bem, o Pai de Bondade. Embora entre assim o amor de Deus, o motivo principal, porém, é o medo do castigo. A alma começa com este temor, mas, é óbvio que, à medida que vai adiantando na vida espiritual, este temor bom mas menos digno, cede pouco a pouco o lugar ao amor, como móbil principal e depois habitual de ação. O Concílio de Trento, no entanto,  fala com muita insistência da incerteza em que estamos a respeito da perseverança final; a nossa vida é uma provação contínua na fé, e nunca devemos largar esta arma do temor de Deus. E mesmo não podemos abandonar nunca o temor do castigo porque o próprio Espírito Santo nos dá este aviso: "Em todas as vossas obras, meditai nos vossos novíssimos e não pecareis jamais" (Ecli. VII, 40). A morte, cuja hora é incerta, abre a porta para a eternidade; logo vem o juízo, e aí a alma já saberá qual será a sua sorte eterna; ou feliz eternamente no Céu, ou infeliz eternamente no inferno.  Afinal, é o próprio Jesus que inculca este temor reverencial de servo.

Caríssimos, e como não temer, se o próprio Divino Mestre nos exorta a isto?! Se um rei do alto de uma torre, sustentasse um criminoso pelos cabelos, de maneira que, abrindo apenas as mãos,  fizesse o inimigo se precipitar numa fossa repleta de serpentes venenosas, ou numa geena cheia de imundícies fumegantes, será que este criminoso teria a ousadia e temeridade de,  com um punhal,  ameaçar o ofendido? E o pecador está em verdade, suspenso por um fio que é a vida, e suspenso sobre um "poço de fogo" (Apoc. IX, 2). Deus tem poder de cortar este fio e lançar na geena, não só o corpo mas também a alma e isto para sempre: "Ide malditos para o fogo eterno preparado para os demônios e seus seguidores" (S. Mat. XXV, 41 ).

 Jó fala sobre si fazendo uma outra comparação: "Eu sempre temi a Deus como a ondas suspensas sobre mim, e nunca pude suportar o peso de sua majestade" (Jó, XXXI, 23) E acrescentamos: se o Espirito Santo diz que os santos devem temer o inferno, que dizer dos pecadores? E este deixariam de sê-lo se temessem o inferno.  O mesmo Deus elogiou a santidade de Jó. E o que ele diz de si, foi sob inspiração do mesmo Espírito Santo! Logo o temor não é contrário à santidade. O temor de Deus, mesmo o servil, é alimento para a santidade. Uma característica da santidade é justamente o desapego universal de todas as coisas humanas. Então entendemos bem a comparação de Jó. Como os navegantes no perigo não pensam em banquetes, em glórias, em passatempos, em prazeres, em riquezas, mas só naquilo que importa, isto é, em salvar a vida, assim no nosso caso, os santos não pensam em outra coisa senão em salvar a sua alma, e assim salvar também o corpo, que Jesus vai ressuscitar brilhante como o sol.

Jó usa esta comparação, para dizer também que sempre se tinha voltado para Deus com aquela confiança intensa com a qual se recomenda quem vê as ondas e uma terrível tempestade, que o ameaçam. E como os navegantes, mesmo no meio de gritos de invocações, não deixam de fazer todo o indispensável para salvar-se a ponto de lançar tudo no mar caso seja necessário, assim fazem em nosso caso também os santos, e Jó com esta metáfora queria indicar que ele tinha também agido sempre assim: "O meu coração não me acusa nada em toda a minha vida" (Jó XXVII, 6).


Caríssimos, procuremos amar a Deus de verdade e veremos como o nosso Deus é digno de um temor tal que não possa haver maior. O TEMOR DO SENHOR É UMA GLÓRIA E UMA HONRA, É UMA ALEGRIA E COROA DA ALEGRIA" (Ecli. I, 11). Amém!

sábado, 10 de agosto de 2019

PROFECIA QUE CONDENA O MODERNISMO

LEITURA ESPIRITUAL  - Dia 10


"Conjuro-te diante de Deus e de Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, pela sua vinda e pelo seu reino: prega a palavra, insiste, quer agrade quer desagrade, repreende, suplica, admoesta com toda a paciência e doutrina, porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina, mas multiplicarão para si mestres ao capricho de suas paixões, (levados) pelo prurido de ouvir novidades. Afastarão os ouvidos da verdade e os aplicarão às fábulas" (II Timóteo IV, 1-4).

Há homens de coração reto que têm sede de uma luz infinita. E esta sede do infinito, só Deus pode saciá-la. E Deus se fez Homem para lhes dar a segurança dizendo: Eu sou a Verdade. E o grande foco da luz divina é a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo. O Divino Mestre cingiu a fronte de sua Esposa mística com o diadema visível de Rainha da Verdade. A unidade, a indefectibilidade, a santidade e a infalibilidade refulgem na coroa da Igreja, quais gemas preciosas, prendas que são deste Divino Esposo e que distinguirão a Igreja das rugas das adulterações humanas e das manchas das sociedades heréticas ou cismáticas. Dado o orgulho humano, estas últimas infelizmente sempre existirão. Daí as exortações do Apóstolo  ao seu discípulo e bispo Timóteo, exortações estas sobre as quais vamos ora refletir.

São Paulo, num tom pleno de solene gravidade, conjura o seu discípulo caríssimo, o Bispo Timóteo, a ser fiel à sua missão de pregar a doutrina imutável de Nosso Senhor Jesus Cristo. E, portanto, deverá insistir, quer agrade quer desagrade, e repreender aqueles que dela se afastarem. O Apóstolo dos Gentios, exorta o seu discípulo a ter sempre firmeza em defender a verdade, a doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo que não muda, e, ao mesmo tempo, mostra que é mister fazê-lo sempre com bondade e paciência, isto é, sem discussões e altercações.

Não há a mínima dúvida de que São Paulo faz aqui uma profecia: "virá tempo" afirma ele. Já na primeira carta ao mesmo Bispo Timóteo, o Apóstolo São Paulo já alertava: "O Espírito (Santo) diz claramente que nos últimos tempos alguns apostatarão da fé, dando ouvido a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios..." (I Tim., IV, 1). E ao terminar esta mesma carta, faz esta exortação: "Ó Timóteo, guarda o depósito (da fé), evitando as novidades profanas de palavras e as contradições de uma ciência de falso nome, professando a qual, alguns se desviaram da fé" (I Tim. VI, 20 e 21).

A lídima Palavra de Deus da qual os bons têm sede, causa náuseas aos orgulhos. Não suportam ouvir a sã doutrina. Almejam uma multidão de pregadores que adulem suas paixões. Por isso São Paulo já na primeira epístola, havia dito a Timóteo: "Se alguém ensina, de modo diferente e não abraça as sãs palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo e aquela doutrina que é conforme à piedade, é um soberbo..." (I Tim., VI, 3 e 4). Não suportam ouvir sempre a mesma coisa; desejam ardentemente ouvir novidades. Em lugar do Evangelho, da verdade confirmada com tantos milagres, e assim tornada a mais evidente e incontestável, abraçarão fabulosas, estranhas e inacreditáveis doutrinas. Assim agiram os gnósticos, maniqueus e outros hereges.

Em verdade, esta profecia de São Paulo vem se realizando desde os primeiros séculos; mas, com certeza se realizará plenamente nos últimos tempos, na época do Anti-Cristo. Mas não resta a mínima dúvida de que ela se cumpre ao pé da letra em relação aos modernistas. São Pio X dizia que o Modernismo é a reunião de todas as heresias, e a sua origem está no orgulho humano que procura novidades que agradam. Agravando-se o espírito de contestação contra a Tradição e os dogmas, compreende-se que os modernistas não suportem mais ouvir a verdade. Daí vem a apostasia da fé, e passam a pregar abertamente doutrinas diabólicas. Os modernistas são pessoas ávidas de popularidade, que lançam a divisão na Igreja e nas famílias. Organizam conciliábulos e preparam os cismas dentro da Igreja. Procuram ensinar outras coisas diferentes e rejeitam a linguagem escolástica tradicional. Cabe aqui perfeitamente seguirmos a mesma exortação que S. Paulo fez a Tito: "Foge do homem herege, depois da primeira e da segunda correção, sabendo que tal homem está pervertido e peca, como quem é condenado pelo seu próprio juízo" (Tito, III, 10 e 11).

Caríssimos, um só é o código que liga nossas almas aos destinos eternos: o Evangelho genuíno sem alterações e acomodações humanas. A própria Santa Madre Igreja é infalível enquanto guarda santamente e expõe fielmente o que Jesus ensinou, ensinamento este em parte escrito por inspiração do Espírito Santo (S. Escritura), e em parte (maior) transmitido como de mão em mão através das gerações também sob a assistência do Espírito Santo (Tradição).  Guardemo-lo com toda fidelidade e amor.  A graça de Deus seja com todos vós. Amém.