sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

A SALVAÇÃO PELA FÉ - ( I )

Observação: Transcreveremos, se Deus quiser, em vários posts, a PRIMEIRA PARTE do Livro "LEGÍTIMA INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA" escrito por LÚCIO NAVARRO. 
CAMPANHA DE INSTRUÇÃO RELIGIOSA
BRASIL-PORTUGAL
RECIFE
1958

CAPÍTULO PRIMEIRO
DESMANTELO E DESEQUILÍBRIO DA TEORIA PROTESTANTE

A TESE DO PASTOR.
   1. Bem se pode imaginar com que ânsia, emoção e contentamento o nosso amigo, pastor protestante, se aproximou do microfone, para fazer a sua dissertação pelo rádio, naquele dia. Tratava-se de uma mensagem sensacional, que ele pensara em transmitir. O seu objetivo era nada mais, nada menos que dar uma bonita rasteira em todas as religiões do mundo, sem respeitar nem sequer a Santa Igreja Católica Apostólica romana, ficando de pé exclusivamente a doutrina dos protestantes. Para isto, idealizou o jovem e fervoroso pastor a argumentação seguinte:
   Todas as religiões ensinam que o homem se salva pelas suas próprias obras; o Protestantismo, ao contrário, ensina que o homem se salva pela fé. Ora, sabemos que a Bíblia é a palavra de Deus revelada aos homens; palavra infalível, porque Deus não pode errar. E a Bíblia em inúmeros textos afirma que o homem se salva pela fé. Logo, se vê pela Bíblia que o Protestantismo é a única religião verdadeira, e assim está refutada a doutrina perigosa (perigosa, sim, foi o que disse o pastor, e é o que dizem, em geral, os protestantes) a doutrina perigosa de que o homem alcança a salvação pelas suas obras.

TEXTOS EVANGÉLICOS.

  2. Não vamos aqui logo repetir todos os textos citados pelo pastor em abono de sua tese, porque temos que analisá-los cuidadosamente mais adiante (capítulos 4º a 8º), não só os apresentados por ele, senão também outros alegados pelos seus colegas sobre o mesmo assunto. Queremos apenas dar uma amostra de como os textos eram mesmo de impressionar o desprevenido ouvinte que não tivesse um conhecimento completo da verdadeira doutrina do Evangelho. Veja-se, por exemplo, o seguinte trecho do Evangelho de S. João: Assim amou Deus ao mundo, que lhe deu a seu Filho Unigênito, para que TODO O QUE CRÊ N'ELE NÃO PEREÇA, MAS TENHA A VIDA ETERNA, porque Deus não enviou seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. QUEM N'ELE CRÊ NÃO É CONDENADO, MAS O QUE NÃO CRÊ JÁ ESTÁ CONDENADO, porque não crê no nome do filho Unigênito de Deus. (João III - 16 a 18). Textos como estes que asseveram tão abertamente - quem crê em Jesus se salva, que não crê se condena - seriam suficientes para convencer qualquer pessoa: 1º se nã  fosse tão ímpio, tão absurdo, e, portanto, tão indigno dos lábios de Jesus o que se quer provar com eles, ou seja, a doutrina de que, para o homem salvar-se, basta que tenha fé em Cristo e nada mais; 2º se não houvesse outros textos, igualmente claros, dos Evangelhos, para nos provar a necessidade das boas obras para a conquista do Céu, como este por exemplo: Bom Mestre, que obras boas devo eu fazer para alcançar a vida eterna? ... SE TU QUERES ENTRAR NA VIDA, GUARDA OS MANDAMENTOS (Mateus XIX -16 e 17). 

CONCILIAÇÃO DOS TEXTOS.

   3. É claro que fazer uma boa interpretação da Bíblia não consiste em aferrar-se alguém a uns textos, desprezando, esquecendo, refutando, podo de lado outros, igualmente valiosos: tudo quanto está na Bíblia é palavra de Deus. A interpretação imparcial, conscienciosa, legítima, procura harmonizar inteligentemente os textos das Escrituras. E é bastante tomar na devida consideração as duas afirmativas - quem crê em Jesus se salva, quem não crê se condena - para entrar na vida eterna, é preciso guardar os mandamentos - para se chegar à conclusão de que para a salvação eterna, tanto é necessária a fé nas palavras de Cristo, como a obediência aos mandamentos divinos. É o que nos ensina a Igreja Católica, a qual não afirma que o homem se salva só pelas obras, como queria fazer crer o nosso amigo, pastor protestante, baseando a sua argumentação em que todas as religiões assim o ensinam; segundo a teologia católica, a fé no ensino de Cristo que nos é apresentado é também indispensável. Vê-se logo por aí quanto a doutrina da Igreja é desconhecida, até mesmo por aqueles que ardorosamente a combatem. Temos, portanto que expor (e o faremos no capítulo seguinte) a doutrina católica sobre o assunto, máxime porque ele fala de um terceiro elemento, importantíssimo e igualmente indispensável à salvação, como seja, o auxílio da graça de Deus, explicado este ponto, se esclarecem muitos textos da Escrituras que tanta confusão provocam na cabeça dos protestantes. 

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

O MODERNISTA TEÓLOGO

  Diz São Pio X na Encíclica "Pascendi", nº 3: "Pasmem embora homens de tal casta que nós os ponhamos no número dos inimigos da Igreja: não poderá, porém, pasmar com razão quem quer que, postas de lado as intenções de que só Deus é juiz, se aplique a examinar as doutrinas e o modo de falar e de agir de que lançam eles mão. Não se afastará, portanto, da verdade quem os tiver como os mais perigosos inimigos da Igreja". 
  Tenho feito uma série de postagens sobre o Modernismo, resumindo o que São Pio X diz na Encíclica "Pascendi". E creio necessário repetir a ressalva feita por São Pio X: "... postas de lado as intenções de que só Deus é juiz". 
   Isto feito, continuemos com a graça de Deus, hoje falando sobre o Modernista Teólogo.
  Os modernistas dizem que a ciência tem primazia sobre a fé. Mas como conciliar ambas? O teólogo modernista se utiliza dos mesmos princípios da imanência e do simbolismo. Diz o filósofo que o princípio da fé é imanente( está dentro do homem); acrescenta o crente: esse princípio é Deus; conclui o teólogo: logo, Deus é imanente no homem. Daí vem a imanência teológica. Outra adaptação: o filósofo tem por certo de que as representações da fé são puramente simbólicas; o crente afirma que o objeto da fé é Deus em si mesmo; conclui o teólogo: logo, as representações da realidade divina são simbólicas. Daí: o simbolismo teológico
 Quanto ao simbolismo: não deve apegar-se demais à fórmula. Usar delas só tanto quanto forem úteis. 
 Quanto à imanência: Três explicações entre os modernistas: Uns: Deus operando no homem, está mais intimamente no homem do que o próprio homem em si mesmo; e esta afirmação, se bem entendida, não merece censura. Outros dizem: a ação divina é uma e a mesma com a ação da natureza. Crítica: isto destruiria a ordem sobrenatural. Outros mais lógicos com os seus princípios, caem no panteísmo. 

  Os modernistas estabelecem ainda outro postulado: a permanência divina. Um exemplo: Dizem os modernistas que não se pode dizer que a Igreja e os Sacramentos foram instituídos pelo próprio Cristo. Explicam: isto não é permitido pelo agnosticismo, que em Cristo, não vê mais do que um homem, cuja consciência religiosa, como a de qualquer outro homem, pouco a pouco se formou; não o permite a lei da imanência, que não admite externas aplicações: proíbe-o também a lei da evolução, que para o desenvolvimento dos germes requer tempo e uma certa série de circunstâncias; proíbe-o enfim a história, que mostra que tal foi realmente o curso dos acontecimentos. Admitem que a Igreja e os Sacramentos foram instituídos mediatamente por Cristo. Como? Todas as consciências cristãs, dizem, estavam, virtualmente incluídas na consciência de Cristo, como a planta na semente. Ora, como os rebentos vivem a vida da semente, assim também deve afirmar-se que todos os cristãos vivem a vida de Cristo. Mas a vida de Cristo segundo a fé é divina; logo, também a vida dos cristãos. Se pois esta vida, no correr dos séculos, deu origem à Igreja e aos Sacramentos, com toda a razão se poderá dizer que tal origem procede de Cristo e é divina. 
   Até aqui sobre a origem e a natureza da fé. E agora, como explicar a origem do DOGMA. Dizem: o dogma nasce da necessidade que o crente experimenta de elaborar o seu pensamento religioso, a fim de tornar sempre mais clara a sua consciência e a de outrem. Deve-se esquadrinhar e polir a fórmula primitiva não pela razão mas segundo às circunstâncias, vitalmente. Assim vão se formando fórmulas secundárias, que mais tarde, sintetizadas e reunidas em um único todo doutrinal, quando forem ratificadas pelo público magistério como correspondentes à consciência comum, são chamados DOGMAS. 

 E quanto ao CULTO E OS SACRAMENTOS.? O culto resulta de um duplo impulso: primeiro, dar à religião alguma coisa sensível para poder se propagar; e segundo, dar à religião atos santificantes que sãos os Sacramentos. Mas, para os modernistas, os sacramentos são meros símbolos ou sinais. A eficácia dos sacramentos está em poder impressionar os ânimos, despertando o sentimento religioso. Os sacramentos, portanto, foram instituídos apenas para nutrirem a fé. (Erro condenado pelo C. de Trento). 

 E os LIVROS SAGRADOS? Deus está dentro de nós e agitados por Ele nós nos inflamamos. Deste modo é que se deve explicar a origem da inspiração dos Livros Sagrados. Os Livros Sagrados para os modernistas seriam uma coleção de experiências extraordinárias

Observação: O que a teologia modernista diz sobre a IGREJA, veremos, se Deus quiser, no próximo post. 




segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O MODERNISTA CRENTE

  No sentimento religioso deve reconhecer-se uma espécie de intuição do coração, que põe o homem em contato imediato com a própria realidade de Deus e lhe infunde tal persuasão da existência dele e da sua ação, tanto dentro como fora do homem, que excede a força de qualquer persuasão. Todo aquele que a conseguir, se torna propriamente e realmente o crente. Posta esta doutrina da experiência unida à outra do simbolismo, toda religião, não excetuando sequer a dos idólatras, deve ser tida por verdadeira. O sentimento religioso é sempre o mesmo; e a fórmula intelectual (símbolo) para ser verdadeira basta que corresponda ao sentimento religioso e ao crente. Por exemplo, os muçulmanos dizem ter o sentimento de que sua religião é a verdadeira. Logo, ninguém pode negar a verdade do Islamismo. E assim por diante. 
  Mas os modernistas caminham sobretudo para destruir a Tradição. E para tanto inventaram a doutrina da EXPERIÊNCIA. Os modernistas concebem a tradição como uma comunicação da experiência original, feita a outrem pela pregação, mediante a fórmula intelectual. Esta fórmula tem certa eficácia de sugestão, tanto naquele que crê, para despertar o sentimento religioso e restaurar a experiência, como naqueles que ainda não creem, para despertar neles pela primeira vez o sentimento religioso e produzir a experiência. Por esta maneira a experiência religiosa abundantemente se propaga entre os povos; não só entre os existentes, pela pregação, mas também entre os indivíduos, quer pelo livro quer pela transmissão oral de uns aos outros. Esta comunicação da experiência às vezes lança raízes e vinga; outras vezes se esteriliza logo e morre. O viver para os modernistas é prova de verdade; e a razão disto é que verdade e vida para eles são uma e mesma coisa. E daqui mais uma vez se infere que todas as religiões existentes são verdadeiras, do contrário já não existiriam. 
   A ciência é independente da fé, mas esta deve se submeter à ciência. Os modernistas, fundados no princípio de que a ciência em nada depende da fé, quando tratam de filosofia, de história, de crítica ostentam certo desprezo das doutrinas católicas, dos Santos Padres, dos concílios ecumênicos do magistério eclesiástico. Um exemplo: quando um modernista escreve história, não faz nenhuma menção da divindade de Cristo; mas se pregar numa igreja, com firmeza a professa.  
   Os modernistas criticam a Igreja porque ela se recusa a acomodar seus dogmas às opiniões da filosofia, e eles, por sua vez, procuram divulgar uma teologia nova, amoldada aos novos tempos. 

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A Fé à luz do Novo Testamento

Excertos do Livro "A Psicologia da Fé" de autoria do Padre Leonel Franca, S. J.

  "No Evangelho, a mensagem de Cristo se nos apresenta como uma doutrina que se deve ensinar e transmitir pela pregação. A este magistério corresponde a adesão livre dos homens; prestá-la é crer  - "Ide por todo o mundo; pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; que não crer sera condenado" . S. Marc., XVI, 15-16; S. Mat. XXVIII, 18-20. Frequentemente, durante o ministério de Jesus, a palavra crer, indica, nos ouvintes, a atitude de resposta a uma verdade proposta, a um ensinamento comunicado pelo Mestre. "Se vos digo a verdade, diz CRISTO aos judeus, por que não me credes?" S. Jo. VIII, 46; Cf. V, 46-47, X, 37, 38. "Eu sou a ressurreição e a vida, diz JESUS a Marta, crês isto?... Sim, Senhor, creio que és o Cristo" S. Jo., XI, 26 sgs. "Porque não creste nas minhas palavras, diz o arcanjo Gabriel a Zacarias, ficarás mudo", etc. S. Luc., I, 20. E as citações poderiam multiplicar-se sem dificuldade.Em todas elas, crer apresenta-se-nos como um ato da inteligência que admite uma doutrina, um fato, uma verdade, sob o testemunho de outrem que afirma."
   "São Paulo não é menos peremptório.(...) Na Epístola aos Colossenses, II, 6, 7, exorta o Apóstolo a que se conservem "enraizados e sobre-edificados n'Ele [no Senhor Jesus] e confirmados na fé, assim como fostes ensinados... que ninguém vos engane com filosofias e vãs subtilezas". Trata-se, portanto, na fé, de doutrina verdadeira, ensinada pelos apóstolos, de convicção sólida que deve resistir aos assaltos dos sofismas e dos erros da heresia. A Timóteo adverte SÃO PAULO que "Hymeneu e Alexandre fizeram naufrágio na fé" I Tim., I, 19, que "Hymeneu e Fileto se apartaram da verdade... e destroem a fé de muitos outros" II Tim., 17, 18. "Nos tempos futuros muitos deixarão a fé para se apegarem a espíritos sedutores e a doutrinas diabólicas". Sempre a fé, como um patrimônio intelectual de verdades, opostas a teorias errôneas e falazes". 
    
   Segundo prova o Padre Leonel Franca, citando as Sagradas Escrituras, a Fé não é fruto de uma procura e esforço em busca da verdade. Portanto não é algo subjetivo, e consequentemente mutável através dos tempos. A fé não é fruto de uma agitação vital do próprio eu. É algo objetivo, e, que vindo de Deus que é a própria verdade e o Bem por essência, deixa o crente tranquilo, sem dúvidas, sem agitação. A autoridade suprema de Deus dá ao crente uma segurança que o engenho humano nunca dará. 
   Os modernistas e os protestantes, como vimos, colocam a fé no sentimento. E este também não tem consistência. É terreno arenoso e movediço. Apoiada que está em Deus, a Fé, pelo contrário, é rocha inabalável, ontem, hoje e sempre. Enquanto os homens mudam como o vento, a Palavra de Deus permanece para sempre. As vicissitudes históricas não são capazes de abalá-la. 
    No próximo post veremos, se Deus quiser, como São Paulo define a Fé, e, então, entenderemos melhor toda esta firmeza da fé. 
   

  No próximo post, se Deus quiser, vamos comentar o texto clássico de São Paulo sobre a Fé: "Sperandarum substantia rerum, argumentum non apparentium" (Heb. XI, 1). "A Fé é a realidade das coisas que esperamos, prova das que não vemos". 

domingo, 9 de dezembro de 2012

Inimigos da Fé

  Os protestantes e os modernistas foram os principais inimigos da Fé, porque principalmente eles procuraram esvaziar o termo do seu conteúdo intelectual para acentuar-lhe a tonalidade afetiva. Em outras palavras, estas duas heresias tentaram deslocar a Fé da inteligência e da vontade para colocá-la sobretudo no coração ou, se quiserem, no sentimento. Sob a máscara de humildade, tiraram a firmeza da fé que vem da autoridade de Deus que não muda, para colocá-la no homem. Lessing, modernista iluminista dos quatro costados, como gostava de dizer D. Antônio de Castro Mayer, dizia o seguinte: "Se o infinito e onipotente Deus me desse a possibilidade de escolher entre o dom escondido em sua mão direita, que é a posse da verdade, e o dom escondido em sua mão esquerda, que é a busca da verdade, eu rogaria humildemente: Oh Senhor! concedei-me a busca da verdade, porque possuí-la é próprio somente de Vós". Portanto, segundo Lessing, a dignidade do homem não está em ele possuir a verdade que a mão bondosa de Deus lhe dá, mas está no honroso esforço que o homem emprega para alcançar a verdade. Donde vemos, que longe de ser humildade, é sofisticado orgulho. Na psicologia verdadeira da fé, entra a inteligência que é atraída pela verdade, entra a vontade que é solicitada por todas as atrações do bem e ambas casam-se harmoniosamente pela humildade. É por esta virtude que há a submissão da inteligência e da vontade diante dos mistérios que Deus bondosamente se dignou revelar-nos. A Fé é de si inabalável; os dogmas são imutáveis. E ficamos tranquilos na posse da verdade. Pois, não nos apoiamos em uma cana quebradiça qual é nossa inteligência, nem numa cana agitada pelos ventos qual é nossa vontade.No ato de fé a inteligência e a vontade humanas se descansam tranquilamente em Deus, e não em suas próprias luzes e em seu próprio  desejo respectivamente.  Preferir, porém, como fez Lessing, seu próprio movimento subjetivo, sua procura da verdade mesma, isto sim, é orgulho. E por ele cai-se no indiferentismo. Se o homem orgulhosamente pretender ir buscar a verdade por si mesmo, não o conseguirá. Daí é que vem o indiferentismo. 
   Para Lutero a fé que justifica é um sentimento de confiança inabalável nos merecimentos de Cristo que cobrem aos olhos de Deus a corrupção indestrutível da alma pecadora. Depois vamos refutar esta falsidade.
  O pai do modernismo protestante na França, Augusto Sabatier (+ 1901) também colocava a fé no sentimento.  Escreveu vários livros, todos eles eivados de modernismo. Este modernismo percebe-se até pelo título mesmo de um de seus livros: "A Vitalidade dos Dogmas Cristãos, e Seu Poder de Evolução'. Vede como ele definia a fé: "É um ato de confiança, ato de um coração de filho que torna a encontrar com alegria o Pai que ignorava e que, sem orgulho de espécie alguma, se sente feliz de receber tudo das suas mãos".(Cf. "Esquisse d'une philosophie de la religion" Paris, 1897, p. 245).
   Sanday, acentua também o mesmo caráter sentimental da fé: "Fé em Cristo significa um apego a Cristo, uma emoção forte de amor e de gratidão".   
   A concepção da fé, segundo a doutrina católica é bem outra. É verdade que a doutrina católica não desconhece toda a escala de sentimentos (oriundos também de Deus) que podem acompanhar a fé, como harmônicos em cada alma, e que lhe dão o timbre próprio. Mas na sua essência, a fé é um ato de inteligência, a adesão prestada a uma verdade revelada, apoiadas, porém, não em si mesmas, mas na autoridade de Deus que revela.  O Concílio Vaticano I, num ensino autêntico, dá-nos a definição genuína da fé: "É uma virtude sobrenatural, pela qual, prevenidos e auxiliados pela graça de Deus, cremos, como verdadeiro, o conteúdo da revelação, não em virtude de sua verdade intrínseca, vista pela luz natural da razão, mas por causa da autoridade de Deus que não pode enganar-se ou enganar-nos". 
    Mostraremos, se Deus quiser, no próximo post, que este ensinamento sobre a fé é baseado no Novo Testamento, primeiras fontes da Revelação cristã. 
  

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

A Missa é oferecida só em prol dos eleitos?

  INTRODUÇÃO: Antes de respondermos a esta pergunta, será necessário lembrar algumas noções sobre a graça. 
  Primeiramente devemos estar lembrados do seguinte: É de fé que sem a graça interior o homem não pode fazer ato algum sobrenatural, isto é, em ordem à salvação. 
  É também de fé que Deus quer a salvação de todos os homens (1 Tim. II, 4); e como não podem ser salvos sem a graça, deve-se concluir que Deus estende sua Providência sobrenatural a todos, dando a graça suficiente a todos sem exceção. Falamos aqui das graças atuais. É de fé que sem a graça atual o homem não pode sair do estado de pecado; não pode ter o começo da fé; não pode perseverar até o fim na graça. Ora,  a condenação seria injusta se Deus não desse a graça suficiente. Logo, é certo e com certeza de fé que Deus dá as graças atuais suficientes para a salvação de todos. Todos teólogos católicos admitem que a graça suficiente dá verdadeira e realmente ao homem o poder ao menos remoto, de fazer obras sobrenaturais. E isto é o suficiente para justificar a Providência divina.  
   Noções de graças atuais: Graça suficiente e graça eficaz. Considerada em si mesma, toda graça é eficaz. Mas considerada nos seus efeitos, graça suficiente é aquela, pela qual o homem pode verdadeiramente fazer o bem sobrenatural, mas não o faz na realidade. E graça eficaz é quando o homem realmente faz o ato sobrenatural. 
  Toda graça considerada em si mesma é eficaz mas em relação ao homem, ela se torna simplesmente suficiente porque o homem lhe resiste. Diz Santo Estêvão aos judeus obstinados: "Vós resistis sempre ao Espírito Santo" (Atos, VII, 51).
  Talvez alguém possa perguntar por que a graça não é eficaz em todos os homens? É que Deus quer com isto fazer ver que o homem é livre e que tem necessidade ao mesmo tempo de se humilhar sob a poderosa mão de seu Criador, e de trabalhar na sua salvação com temor e tremor, como diz São Paulo. É, na verdade um mistério. Mas não podemos duvidar da Sabedoria infinita de Deus, mas sim adorar seus desígnios mesmo quando nós não os compreendemos. 
  Há também uma discussão interminável entre Molinistas e Tomistas de como conciliar a eficácia da graça com a liberdade humana. Não serei eu, anão diante de gigantes,  que terei a loucura de pretender resolver esta questão! 
   É de fé que Deus dá sua graça gratuitamente. Também a graça é dada de maneira desigual. (Depois, se Deus quiser falaremos  sobre isto). Outra verdade que devemos ter em mente é a seguinte: a graça não é dada a todo momento, ou seja, tem um tempo oportuno que passa. Por isso diz a Bíblia: "Se hoje ouvirdes a voz de Deus, não queirais endurecer o vosso coração". Santo Agostinho dizia: "Timeo Jesum transeuntem et non redeuntem". "Temo a Jesus que passa e não volta mais". 

   Depois desta introdução, passemos à questão expressa no título desta postagem. 
   Vejamos o que dizem os teólogos: Santo Tomás de Aquino Summa Theologica, q. LXXIX, a. 7 apresenta a seguinte questão: Parece que este sacramento (Eucaristia) não aproveita senão a quem o recebe. 
   Faz as objeções e depois mostra que o certo é o contrário e responde dando a solução. E assim responde cada uma das objeções formuladas. Então diz: "Mas, em contrário (sed contra), na celebração deste sacramento faz-se deprecação por muitos outros. O que seria em vão, se ele lhes não aproveitasse. Logo, este sacramento não aproveita só a quem o recebe. 
  SOLUÇÃO:  Como dissemos (a, 5), este sacramento não é somente sacramento, mas também sacrifício. Pois, enquanto nele se representa a Paixão de Cristo, pela qual Cristo se ofereceu como vítima a Deus, como se diz em Efes., V, 2,  tem natureza de sacrifício. Mas enquanto nos confere a graça invisível sob forma visível, tem natureza de sacramento. E assim este sacramento aproveita a quem o recebe, tanto a modo de sacramento, como de sacrifício; pois é oferecido por todos os que o recebem, conforme o reza o cânon de missa: Todos os que, participando deste altar, recebermos o sacrossanto  corpo e sangue de Vosso Filho, fiquemos cheios de toda bênção celeste e graça. Mas, dos que não o recebem aproveita a modo de sacrifício, enquanto oferecido pela salvação deles. Por isso também se diz no cânon da Missa: Lembrai-Vos, Senhor, de vossos servos e servas e de todos os que aqui estão presentes, cuja fé e devoção conheceis, e pelos quais Vos oferecemos, ou eles Vos oferecem, este sacrifício de louvor por si e por todos os seus, pela redenção de suas almas , pela esperança de sua salvação e de sua conservação. E uma e outra coisa o Senhor exprime ao dizer, em S. Mat. XXVI, 28: Que por vós, isto é, pelos que o recebem, e por muitos outros será derramado para remissão dos pecados. 
  Pela própria oração do Ofertório na oblação do cálice, podemos afirmar que o Santo Sacrifício da Missa é oferecido por todos e não somente pelos eleitos, embora se sabe que só os eleitos aproveitam: "Nós vos oferecemos, Senhor, o cálice da salvação, suplicando à vossa bondade que o faça subir como um perfume de suavidade à presença da vossa Majestade, pela nossa salvação e pela salvação de todo o mundo." 
   Portanto, todos são chamados a tirar proveito do santo sacrifício da Missa. Como já vimos, na Igreja primitiva se faziam orações variáveis segundo as diferentes categorias sociais, ás quais se associavam os assistentes com o amen final. Assim, podemos dizer que pelo Santo Sacrifício da Missa são oferecidas graças atuais a todos, graças estas que se tornam eficazes para aqueles que correspondem, e se tornam simplesmente suficientes para àqueles que lhes resistem. 
   Diz o teólogo Hervé: "Há um fruto geral em qualquer sacrifício da Missa, que por instituição de Cristo, é oferecido à toda a Igreja militante e padecente; e isto sem precisar de o sacerdote fazer explicitamente a intenção: porque Cristo na Missa se oferece como Cabeça da Igreja em prol de todos os homens, e a Igreja oferece diretamente "em prol de todos os fiéis vivos e defuntos" e indiretamente por todos os demais homens para que se tornem membros da Igreja: "pela nossa salvação e a de todo o mundo". Se, pois, em virtude da Comunhão dos Santos cada uma das boas obras dos membros da Igreja ajuda á toda Igreja, com muito maior razão, o Sacrifício de Cristo e da Igreja ajudará a todos dos quais Cristo é a Cabeça. 
   Diz, por sua vez o também célebre teólogo Tanquerey: "São beneficiários do Santo Sacrifício até as pessoas que nem em pensamento assistem ao santo sacrifício, mas que nem por isso ficam privadas de todos os seus frutos. A Igreja ora por eles e as suas orações são penhor de graças , que recebem na medida em que as suas almas se abrem aos dons de Deus".
   O padre Francisco Spirago no seu CATECISMO CATÓLICO POPULAR afirma: "Como Cristo morreu na cruz por todos os homens, assim há de ser também na renovação do Sacrifício da Missa: também aqui se oferece Cristo por todos. Se não existisse a Missa, por misericórdia de Deus, já todo o mundo teria perecido em virtude da multidão dos pecados cometidos" (São Leão,P. M.). 
    Se na celebração do Santo Sacrifício da Missa a Santa Igreja reza por todos, é sinal de que o sacrifício é oferecido em prol de todos, "pela salvação de todo o mundo" (Oração do Ofertório do cálice).  
    CONCLUSÃO: Devemos dizer que o Santo Sacrifício da Missa, considerado em relação à sua suficiência, é oferecido a todos. E quanto à sua eficiência, aproveita apenas a muitos. No original grego as expressões que indicam o oblação: Isto é meu corpo, que é dado em prol de vós; Este é o cálice de meu sangue,,, que é derramado em prol de vós e em prol de muitos em remissão dos pecados, estas expressões repito, estão no presente. Isto indica que se referem diretamente ao Santo Sacrifício da Missa e , por conseguinte, se referem aos méritos da Paixão de Cristo realmente distribuídos pela Santa Missa. Ora estes frutos realmente só são recebidos pelos que correspondem e não por todos.
   Em outras palavras: O Santo Sacrifício da Missa  a todos  oferece os merecimentos infinitos da Paixão e Morte de Cristo na Cruz, que seriam suficientes para salvar a todos. Mas, na realidade, muitos resistem a estas graças e não tiram proveito da Santa Missa. E assim, a Missa não beneficia a todos, mas apenas a muitos, e isto, é óbvio por culpa das pessoas, porque o Santo Sacrifício da Missa é de valor infinito e suficiente em si mesmo para salvar a todos. E ainda mais: como diz São Paulo, "onde abundou o pecado, superabundou a graça".
   Talvez alguém pergunte por que tanta dissertação para uma questão tão simples?! Respondo que seria simples na hipótese de não haver heresias e extremos igual e terrivelmente errôneos. Por exemplo os Jansenistas acusam a Igreja Católica de semipelagianismo por ensinar que Cristo morreu por todos os homens quando, na verdade, (dizem eles) não mereceu para todos as graças verdadeiramente suficientes para a salvação.  Um padre ou bispo (Jansênio era bispo) jansenista celebrando a Missa, se celebrar em latim, vai dizer sempre na fórmula da consagração do vinho "pro multis", e, se celebrar em vernáculo vai traduzir sempre "por muitos" entendendo com estas palavras que Jesus Cristo só morreu pelos eleitos e a Missa portanto é oferecida só em benefício dos eleitos.  
    Se, ao contrário um padre ou bispo ultra progressista ou rahneriano, segundo os quais Jesus com sua Paixão e morte já salvou automaticamente a todos os homens, quer saibam quer não saibam,(o chamado cristão anônimo) quer queiram quer não queiram, (e portanto, se o inferno existir, está vazio) vai celebrar a Missa Nova traduzindo o "pro multis" sempre "por todos" entendendo que todos sem exceção são salvos pela Missa.  É claro que estou alertando para uma possibilidade apenas; não posso julgar ninguém. Só Deus vê as intenções. Mas, por outro lado, também é verdade que não podemos dormir, do contrário, o homem inimigo semeia a cizânia entre o trigo. Por isso o Santo Padre, o Papa tem alertado para a tradução do "pro multis" não por todos mas por muitos. Pelo que eu sei, não obrigou e talvez para a maioria dos progressistas as advertências do Santo Padre, caíram no vazio, infelizmente. Digo isto porque o perigo do Jansenismo hoje é mínimo, em comparação do perigo tão atual e atuante dos ultra progressistas.
   Caríssimo leitor! se, por acaso restou ainda alguma dúvida, não deixe de perguntar. Obrigado!