domingo, 31 de maio de 2020

PENTECOSTES

 Continuação do Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João, 14, 23-31: 




 "Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará e viremos a ele e nele faremos morada. Quem não me ama, não guarda as minhas palavras. A palavra que ouvis não é doutrina minha, mas de meu Pai, que me enviou. Estas coisas vos tenho dito, permanecendo convosco. Mas o Consolador, o Espírito Santo, que o Pai há de enviar em meu nome, vos ensinará tudo, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito. A paz vos deixo; a minha paz vos dou. Não vo-la dou, como o mundo vo-la dá. Não se turbe o vosso coração, nem se assuste. Ouvistes o que eu vos disse: Vou e volto a vós. Se me amásseis, certamente vos alegraríeis de eu ir para o Pai, porque o Pai é maior do que eu. Eu vo-lo disse agora, antes que isso suceda, para que, quando acontecer, tenhais fé. Já não falarei muito convosco, porque vem o príncipe deste mundo. Em mim não terá parte alguma. Mas é para que o mundo conheça que amo o Pai, e que faço assim como meu Pai me ordenou".

   Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

   Antes de morrer, Jesus tinha feito esta promessa aos Apóstolos: "O Pai, em meu nome, vos enviará o Espírito Santo, o Consolador. Ele vos ensinará tudo, vos sugerirá tudo". 

   Eram passados apenas dez dias desde que Jesus subira ao Paraíso, e eis que um ímpeto veemente de vento desce do céu e abala toda a casa onde os discípulos estavam reunidos em oração com a Mãe, a Santíssima Sempre Virgem Maria. E foram vistas umas línguas de fogo pousar sobre a cabeça de cada um. Todos se sentiram habitados pelo Espírito Santo, e começaram a falar em várias línguas, de modo que os estrangeiros que estavam em Jerusalém naqueles dias os ouviram pregar na sua própria língua, e ficaram maravilhados com isso.

   Caríssimos e amados irmãos, também nós cristãos havemos recebido o Espírito Santo no Batismo, e mais copiosamente na Crisma, quando o Bispo impôs as mãos sobre a nossa cabeça. 

   Na vida de Santa Ângela de Foligno lê-se que a santa foi, um dia, em peregrinação ao túmulo de São Francisco de Assis. E eis que uma voz lhe ressoa ao ouvido: "Tu recorreste ao meu servo Francisco, mas agora far-te-ei conhecer um outro apoio. Eu sou o Espírito Santo, que vim a ti e quero dar-te uma alegria que ainda não experimentaste. Acompanhar-te-ei, estarei presente em ti... falar-te-ei sempre... e, se me amares, nunca te abandonarei".
   Comparando os seus pecados com este favor infinito, Santa Ângela hesitava em crer. E, aquela voz continuou: "Eu sou o Espírito Santo, que vive interiormente em ti". Então a santa foi invadida por uma alegria celestial. 

   Isso que o Espírito Santo, por uma graça especial revelava a essa alma, a Igreja ensina-o a todos os cristãos. "Então - diz-nos São Paulo - não sabeis que o Espírito Santo habita em vós? Que os vossos membros são o seu templo e que a nossa alma é selada com o seu selo?

   O Espírito Santo, a terceira Pessoa da Santíssima Trindade, igual ao Pai e ao Filho, Deus com o Pai e com o Filho, habita em nós. É o Doce Hóspede de nossa alma. Imaginai que grande graça e que profundo mistério! 

   Nós temos deveres preciosos para com Espírito Santo, doce Hóspede de nossa alma. 
  1. Não expulsar o Divino Espírito Santo (1 Tessalonicenses, V, 19).
  2. Não contristar o Espírito Santo (Efésios, IV, 30).
  3. Não queirais resistir ao Espírito Santo (Atos, VII, 51). 
   1. Não extingais o Espírito Santo.
   
   Toda vez que se comete um pecado mortal, o pecador expulsa da sua alma o Divino Espírito Santo. Onde há o espírito do mundo e do demônio, não pode estar o Espírito de consolação e de verdade. Sobretudo onde há o pecado imundo da sensualidade, aí não pode habitar o Espírito de Deus. 

   2. Não contristeis o Espírito Santo.

   Mas, sem chegarmos ao excesso de extinguir em nós o Espírito Santo pelo pecado mortal, podemos amargurar-Lhe de muitos modos a sua permanência no nosso coração. Em geral, os atos que contristam o Espírito Santo são todos aqueles a que, com demasiada desenvoltura, nós chamamos pecados veniais. Certas palavras de murmuração, levianas, certas imprecações de impaciência, certas mentiras, desobediências em coisas não graves etc.. Por exemplo este jovem que desperdiça tantas horas na ociosidade, que dá inteira liberdade aos seus olhos, que na igreja mantém uma atitude aborrecida e distraída, não sabe que contrista o Espírito Santo? Não o sabe aquela mãe que só cuida de adornar os cabelos ou o vestido sem seriedade, que não vela sobre a alma de seus filhos para que cresçam inocentes, bastando-lhe somente que sejam sadios no corpo? Não o sabem todos estes cristãos que vivem uma vida tíbia, sem entusiasmo pelo bem, sem fervor pela oração, sem amor à Eucaristia? Não sabem que o Espírito Santo que está neles se contrista? 

   3. Não resistais ao Espírito Santo.

   O Espírito Santo está sempre agindo em nós. E faz-se sentir de dois modos: impelindo-nos ao bem ou repelindo-nos do mal. Quantas vezes o Doce Hóspede de nossas almas nos convida docemente a fazermos o bem, e os seus esforços ficam vãos porque nós Lhe resistimos! Quantas vezes Ele nos tem dito, como a Filipe na estrada de Gaza: "Aproxima-te daquela família, ajuda-a no que puderes, dize-lhe uma boa palavra de religião e de esperança"; e nós, ao invés, sacudimos os ombros. 
   Há uma pessoa que te ofendeu e a quem tens ódio. Aproxima-te dela, concede-lhe o perdão, esquece o passado. 
   Há talvez uma pessoa afastada do Senhor ou que vive escandalosamente: vós a conheceis, podeis, com a vossa amizade, dizer-lhe uma advertência carinhosa, arrancá-la da trilha infernal. Não resistais ao Espírito Santo. Não resistais, tão pouco, quando Ele vos sugere rezardes mais, mortificar-vos mais, vos tornardes santos, fazendo uma santa confissão. 

   Vou contar-vos um fato, do qual, embora indigno, fui ministro do Espírito Santo. Há 39 anos atrás, eu era Capelão dos Hospitais de Campos, RJ..  Atendia todos os dias três hospitais: Santa Casa da Misericórdia, Beneficência Portuguesa e Plantadores de Cana. Como a Santa Casa era maior, eu atendia das 8 h até 12 h.  E à tarde a partir das 14 h atendia os outros dois. 
   Um dia terminei de percorrer toda a Santa Casa e estava saindo e olhando o relógio vi que faltavam 15 minutos para às 12 h. O Divino Espírito Santo assim me inspirou: aproveita estes 15 minutos e dá uma passada no hospital da Beneficência Portuguesa. Pela graça de Deus, obedeci a esta inspiração interior. Fui. Logo na entrada há duas alas. Sem titubear tomei a da direita. Logo no início vi um quarto com a porta semi-aberta e percebi que havia ali uma doente muito mal. Entrei. A doente, com voz fraca e comovida, assim me falou chorando: senhor padre, eu estava nestes momentos dizendo a Jesus: Meu Jesus, fiz as nove primeiras sextas-feiras, e tenho certeza que ireis cumprir a vossa grande promessa: terei um padre na hora da morte, que vejo está se aproximando. E eis que o senhor, padre, chega. Como Jesus é bom!!! - Dei-lhe todos os sacramentos, e a moribunda com sorriso nos lábios entregou sua alma a Deus. Ó Divino Espírito Santo, não mereço tamanha alegria!!!

   O Espírito Santo também nos repele do mal. 
   Na parede da sela de uma prisão, um condenado deixou escrito: "Eu sou aquele que não está contente". Caríssimos e amados irmãos, muitos cristãos, se quisessem ser sinceros, no término do seu dia poderiam repetir essas desconsoladas palavras: "Eu sou aquele(a) que não está contente". Mas quem é que lhes difunde no coração este terrível tédio e implacável remorso? É o Espírito Santo. E por que? para repelir o pecador do mal em que vive e levá-lo a fazer uma boa confissão. 



   Oh! se alguém, hoje que é Pentecostes, considerando a sua alma percebesse já não ser mais templo de Deus, não ser mais filho de Deus, por haver o pecado mortal entrado em si, reacenda no seu coração o fogo do amor de Deus, aproxime-se da Sagrada Confissão, purifique-se. Depois diga com a Santa Igreja: Vinde, ó Espírito Santo, e tornai a consagrar-me templo de Deus. Vinde, ó Espírito Santo, e tornai a fazer-me filho de Deus. Amém!

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Por São Boaventura

"A ternura e bondade de Nosso Senhor tinham-Lhe conciliado tanto a afeição dos discípulos e principalmente dos Apóstolos, que não podiam resignar-se a separar-se dele. Em vão lhes dissera que ia preparar-lhes morada na casa de seu Pai, e que lhes convinha que Ele fosse; só a ideia da sua ausência, ainda mesmo temporária, enchia-os de tristeza.

Tendo pois chegado o quadragésimo dia depois da sua ressurreição, tomou consigo os santos patriarcas e os outros justos, que tirara do limbo, e veio ter com os Apóstolos que estavam no Cenáculo com sua Mãe e os outros, e aparecendo, quis, antes de subir ao Céu, comer com eles, como prova do seu amor.

Enquanto todos participavam com grande júbilo deste último banquete com seu Mestre, o Senhor Jesus diz-lhes: "É chegado o tempo de eu voltar para Aquele que me enviou; mas vós permanecei nesta cidade, até que sejais revestidos da virtude do alto. Depois ireis por todo o mundo pregar o meu Evangelho, batizar os crentes, e me sereis testemunhas até aos confins da terra".

Todos eles comem, conversam e gozam da presença do seu Senhor; mas não obstante isto, perturba-os a sua partida. E que dizer de sua Mãe, que comia ao lado dele? Não é crível que, ouvindo anunciar esta partida, ela recline cheia de ternura maternal, sua cabeça no peito de Jesus? Não tinha ela mais direito a isso que S. João? E diz-lhe banhada em lágrimas: "Meu Filho, se quereis partir, levai-me convosco". E o Senhor consolando-a, lhe responde: "Peço-vos, minha querida Mãe, que vos não  aflijais, porque vou para meu Pai; e vós convém que fiqueis ainda algum tempo na terra, para confortar os que crêem em mim; depois, virei ter convosco e vos levarei para a minha glória".

Então esta Mãe disse resignada: "Ó meu querido Filho, seja feita a vossa vontade! Eu estou disposta a ficar e a morrer, em favor daquelas almas que remistes com o preço do vosso sangue; mas lembrai-vos de mim". O Senhor consola-a, assim como à Madalena e aos discípulos, acrescentando: "Não se perturbe vosso coração, não vos hei de deixar órfãos. Vou, e hei de voltar a vós, e estarei sempre convosco". Finalmente diz-lhes a todos, que saiam e se dirijam para o monte das Oliveiras, porque dali se elevaria ao Céu; e desapareceu. Sua Mãe e os outros partiram logo para aquele monte, onde o Salvador lhes apareceu de novo.

Considerai atentamente o Mestre, os discípulos, e tudo o que se passa. Estando cumpridos todos os mistérios, o Senhor Jesus abraça sua Mãe, e diz-lhe adeus, e sua Mãe estreita-O ternamente nos braços. Os Apóstolos, Madalena e todos os outros prostraram-se, e desfeitos em pranto beijam com ternura seu divinos pés. Ele levanta com bondade os Apóstolos e abraça-os. Então começa a elevar-se, todos se prostram de novo. Nossa Senhor dizia: "Meu abençoado Filho, lembrai-vos de mim!". Ainda que chorosa, experimentava uma íntima alegria: seu filho subia ao Céu com tanta glória!... Por sua parte os Apóstolos e discípulos diziam: "Senhor, nós renunciamos a tudo para vos seguir; lembrai-vos de nós".

E Jesus, com as mãos levantadas, o rosto radiante, coroado e vestido como um rei, eleva-se triunfalmente ao Céu! Então, abençoando-os, diz-lhes: "Sede constantes, tende coragem, porque estarei sempre convosco". E subia, levando após si aquele exército de escolhidos, a quem abria o caminho do Céu, segundo a profecia de Miquéias: "Ascendet pandens iter ante eos" (Miquéias, II, 13). É assim que o Senhor cheio de glória, vestido de branco, com o rosto alegre e radiante, os precedia. E eles cantando, transportados de júbilo, seguiam-no repetindo: Cantemus Domino qui ascendit super occasum : Dominus nomen illi. [...].

Todos os coros dos Anjos, postos em ordem segundo a sua jerarquia, descem e vêm ao encontro de Jesus, todos se inclinam profundamente diante dele, seu supremo Senhor, e o acompanham, repetindo hinos e cânticos inefáveis. E os patriarcas, que seguiam a Jesus, cantavam e diziam: Alleluia, alleluia, alleluia! [...].

Vede como duma e doutra parte, todos honram o Senhor, se alegram da sua presença, e cantam sua glória, com o maior júbilo. Assim se realiza o oráculo do profeta: Ascendet Deus in jubilatione et Dominus in voce tubae.

Jesus vai-se elevando pouco a pouco, para consolação de sua Mãe e de seus discípulos, para que possam gozar deste espetáculo; depois, por fim, uma nuvem interpõe-se, e oculta-O aos olhos de todos. Mais um instante, e estará com todos os Anjos e patriarcas na pátria celestial.
Mas, como a Mãe do Filho de Deus e os Apóstolos com os discípulos, ainda que já o não viam, se conservassem sempre de joelhos, com os olhos fitos no Céu, foi necessário que dois Anjos viessem tirá-los deste êxtase, dizendo-lhes: "Homens da Galileia, porque estais olhando para o Céu? Este Jesus que acabou de subir ao Céu com tanta glória e majestade, há de tornar do mesmo modo à terra. Voltai para Jerusalém, como Ele vos mandou, esperai ali o cumprimento das suas promessas.

Notai esta atenção de Jesus para com os seus: mal se ocultou aos olhos deles, logo lhes mandou os seus Anjos, para que se não cansem em olhar daquela maneira, e para que sejam confortados com este testemunho dos habitantes do Céu, que vem juntar-se ao deles, acerca da ascensão do seu bom Mestre.

Tendo ouvido estas palavras, Nossa Senhora rogou humildemente aos Anjos que a recomendassem a seu Filho; e os Anjos, inclinando-se diante de Maria até ao chão, receberam de bom grado a sua mensagem. Os Apóstolos, a Madalena e todos os mais fizeram aos Anjos a mesma petição; e estes desaparecendo, voltaram todos para a cidade, para o monte de Sião, ali ficaram esperando, como o Senhor Jesus lhes ordenara".

Também eu, ó Jesus, meu divino rei, com a minha alma cheia de júbilo e esperança, feliz pela vossa glória, vos obedeço, e me retiro para onde vossa vontade me chama. Elevo-me  desde já acima das coisas terrenas; quero que todos os meus pensamentos e afetos estejam no Céu. Amém!


domingo, 17 de maio de 2020

EXPLICAÇÃO DO 5º DOMINGO DEPOIS DA PÁSCOA


                   Continuação do Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João 16, 23-30:


 "Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: Em verdade, em verdade, vos digo: Se pedirdes a meu Pai alguma coisa em meu Nome, Ele vo-la dará. Até agora nada pedistes em meu Nome.  Pedi e recebereis para que a vossa alegria seja completa. Estas coisas vos disse em parábolas. Vem a hora em que já não vos falarei em parábolas, mas abertamente vos falarei do Pai. Naquele dia pedireis em meu Nome; e não vos digo que hei de rogar por vós ao Pai, pois, o próprio Pai vos ama, porque vós me amastes e crestes que eu saí de Deus. Saí do Pai e vim ao mundo, deixo outra vez o mundo e vou ao Pai. Disseram-Lhe os discípulos: eis que agora nos falais claramente e não usais nenhuma parábola. Agora conhecemos que sabeis tudo, e que não tendes necessidade de que alguém Vos interrogue. Por isso cremos que saístes de Deus."

   Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

   Nossos Senhor Jesus Cristo, na véspera de sua Morte, anuncia a sua Ascensão ao Céu: "Saí do Pai e vim ao mundo, outra vez deixo o mundo e vou para o Pai". 
   Anuncia também a vinda do Divino Espírito Santo, o Pentecostes: "Mas vem o tempo em que não vos falarei já em parábolas, mas abertamente vos falarei do Pai." Nosso Senhor Jesus Cristo, por meio do Espírito Santo, iluminará os seus apóstolos fazendo-lhes entender mais profundamente os mistérios divinos. Na verdade, caríssimos irmãos, tudo o que nós podemos estudar e conhecer das coisas de Deus é letra morta enquanto o Espírito Santo não nos abrir a inteligência. Devemos ter uma devoção especial ao Divino Espírito Santo. É Deus e o doce Hóspede de nossa alma, é o nosso Santificador. 

   Jesus Cristo, Nosso Senhor, no evangelho deste domingo ensina-nos também o segredo da oração eficaz: "Se pedirdes a meu Pai alguma coisa em meu nome, Ele vo-la dará". Aí está o meio seguro para encontrarmos acesso junto do Pai: apresentar-se em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, que se imolou para glória do Pai e para nossa salvação. Jesus está assentado à direita do Pai para interceder sempre por nós e Ele merece ser sempre atendido "pro sua reverentia", isto é, em razão da sua piedade (Hebreus V, 7). Diz São Paulo na epístola ao Hebreus VII, 25: "Por isso pode salvar perpetuamente os que por Ele mesmo se aproximam de Deus, vivendo sempre para interceder por nós". 

   Pedir "em nome de Jesus" significa, estarmos convencidos de que as nossas ações e boas obras não valem nada se não se apoiam nos méritos infinitos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Por mais que façamos e rezemos, somos sempre servos inúteis, que não temos em nós nenhuma capacidade para o bem, mas toda a nossa suficiência vem de Jesus Crucificado. Portanto, a primeira condição para que a nossa oração seja feita em nome de Jesus e assim seja eficaz, é a virtude da humildade.  Isto significa uma convicção profunda e realista do nosso nada.
   A segunda condição para que a nossa oração seja feita em nome de Jesus e portanto eficaz, é a confiança. Uma confiança ilimitada nos méritos infinitos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Na verdade Seus merecimentos ultrapassam todas as nossas indigências, misérias, necessidades. E assim nunca seremos demasiado ousados em pedir a plenitude da graça divina sobre as nossas almas, em aspirar à santidade; santidade esta escondida, mas autêntica. Nossa miséria, por maior que seja, será sempre finita, mas os merecimentos e a misericórdia de Jesus serão sempre infinitos. Não existem infidelidades e culpas, tendências más e misérias SINCERAMENTE DETESTADAS que o Sangue de Jesus não possa sarar, fortificar e transformar. 
   Mas, caríssimos e amados fiéis, há ainda uma outra condição para que a nossa oração seja eficaz: que a nossa vida corresponda à nossa oração, isto é, que a nossa fé se traduza em boas obras. É vã a oração, é vã a nossa confiança em Deus, se não as acompanhamos com os nossos esforços generosos para cumprirmos todos os nossos deveres, para vivermos à altura da nossa vocação. 

  Terminemos com palavras de Santo Agostinho: "Ó Criador da luz, perdoai as minhas culpas pelos imensos trabalhos do Vosso Amado Filho! Fazei, Senhor, que a Sua piedade vença a minha impiedade, que a Sua modéstia satisfaça pela minha perversidade, que a Sua mansidão dome a minha irascibilidade. A Sua humildade repare a minha soberba; a Sua paciência, a minha impaciência; a sua benignidade, a minha dureza; a Sua obediência, a minha desobediência; a Sua tranquilidade transforme a minha inquietação; a Sua doçura, a minha amargura; a Sua caridade apague a minha crueldade". 

   Ó Jesus! ensinai-me a rezar, aumentai a minha fé! Amém!

RELIGIÃO PURA


"A religião pura e sem mácula aos olhos de Deus e nosso Pai é esta: visitar os órfãos e as viúvas, nas suas tribulações, e conservar-se puro da corrupção do mundo" (Tiago, I, 27).

Antes de fazermos as reflexões sobre este versículo 27, achamos por bem dar uma explicação geral desta leitura da Epístola no 5º domingo depois da Páscoa: Caríssimos irmãos, diz São Tiago, sede cumpridores da palavra de Deus e não apenas ouvintes. Do contrário, estariam se enganando a si mesmos. Pois, para se salvar, não basta ouvir a palavra do Santo Evangelho; é mister colocá-la em prática. Agora, quem medita atenciosa e profundamente o Evangelho, a nova lei que nos livrou do pecado e nele persevera não esquecendo e, sim, praticando o que ouviu, este será bem-aventurado neste e no outro mundo. Se alguém se tiver em conta de homem religioso, mas não refrear a língua, e entregando à maledicências, detrações e calúnias, este engana  a si mesmo, e a sua religião de nada vale.

E assim, depois de desmascarar o erro dos que pecam contra a caridade, o Apóstolo passa a enumerar os sinais da verdadeira religião: Consta de duas coisas: a caridade desinteressada e a pureza. Há, na verdade, uma falsa religiosidade estéril e inativa e que não leva em conta a caridade para com o próximo. Nosso Senhor quer, outrossim, que seja servido com um coração reto e puro, livre da corrupção deste mundo onde reina a tríplice concupiscência: orgulho, avareza e luxúria. Caridade e pureza devem estar sempre juntas na prática da verdadeira religião. Pois, reduzida apenas a atos de caridade, a Religião não passaria de sociedade filantrópica, o que os espíritas e maçons também fazem. Limitada, porém, à pureza, sem a prática da caridade, seria quando muito, simples seita filosófica ou moralista. Quão errados andam, pois, aqueles que se julgam religiosos tão somente por boas obras de caridade mas se conformando inteiramente ao espírito deste mundo colocado no maligno, e inundado de corrupção e impurezas. Devemos estar bem avisados contra estes modernistas que só falam em obras de misericórdia, mas procuram tranquilizar as consciências em pecados até mortais e grandes como o adultério, o sacrilégio e os escândalos. Devem estar lembrados de que existem 14 obras de misericórdia, sendo 7 delas, espirituais. E, entre estas está: CORRIGIR OS QUE ERRAM. Assim fez S. João Batista a Herodes: "Não te é lícito viver como estais vivendo" i, é, no adultério. 

Cada coração cristão seja um altar onde o fogo da caridade é perfumado pelo incenso da pureza. E, portanto, resumimos: Na palavra de Deus ouvida com atenção e interesse sobrenatural, na vigilância sobre a língua, na caridade operosa e na pureza conservada em meio da corrupção generalizada deste mundo, nesses preceitos, antes que mais nada, se forma o homem religioso que será bem-aventurado nesta e na outra vida. Amém!


domingo, 10 de maio de 2020

QUARTO DOMINGO DEPOIS DA PÁSCOA

 Leituras: Epístola de São Tiago Apóstolo 1, 17-21.
                   Continuação do Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João 16, 5-14:



 "Naquele tempo , disse Jesus a seus discípulos: Eu vou Àquele que me enviou e nenhum de vós me pergunta: Para onde ides? Mas porque vos disse estas coisas, o vosso coração se encheu de tristeza. Digo-vos, porém, a verdade: é bom para vós que eu vá; porque se eu não for, não virá a vós o Consolador; mas, se for, eu vo-lo enviarei. E, quando Ele vier, convencerá o mundo que existe o pecado, a justiça e o juízo. Quanto ao pecado, porque não creram em mim. Quanto à justiça, porque eu vou ao Pai, e já não me vereis. E também quanto ao juízo, porque o príncipe deste mundo já foi julgado. Ainda tenho muitas coisas a dizer-vos, mas agora não as podeis compreender. Quando vier, porém, aquele Espírito de verdade ensinar-vos-á toda a verdade. De si mesmo não há de falar, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará as coisas que hão de vir. Ele me glorificará, porque receberá do que é meu, e vo-lo anunciará". 

   Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

   A Santa Madre Igreja já nos vai preparando para a grande festa de Pentecostes, ou a Vinda do Divino Espírito Santo. "Vou para Àquele que me enviou," disse Jesus, " e nenhum de vós me pergunta: para onde vais?" "A vós convém que eu vá, porque se eu não for, não virá a vós o Consolador; mas se eu for, eu vo-Lo enviarei". Jesus disse estas palavras na véspera de Sua morte. Na verdade, só a morte de Jesus nos pôde merecer esta vinda do Enviado do Pai e do Filho, o Divino Espirito Santo. Podemos dizer que a descida do Espírito Santo à Igreja e às nossas almas é o maior fruto da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Jesus trabalhou no meio dos seus Discípulos de um modo visível; depois de sua Morte, Ressurreição e Ascensão ao Céus, enviará o Divino Espírito Santo que continuará a Sua obra, mas agora de maneira invisível, porém, não menos real e eficaz. O próprio Jesus diz que a ação do Divino Paráclito completará a Sua: "Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas vós não as podeis compreender agora. Quando vier, porém, aquele Espírito de Verdade, Ele vos ensinará toda a verdade. O coração dos Apóstolos, ainda endurecido pelo pecado, não pode entender as verdades mais profundas; será necessário que Jesus, morrendo na cruz, destrua o pecado que é, na verdade, o grande obstáculo à ação do Espírito Santo. 

   Caríssimos e amados fiéis, devemos dispor-nos com todo ardor para o Pentecostes a fim de que se renove em nós, em toda a sua plenitude, a descida do Espírito Santo. Esta preparação consiste, sobretudo, numa particular pureza de consciência. Combatamos os pecados até nas suas raízes mais profundas. Procuremos praticar sobretudo as virtudes da pureza, da caridade, doçura e mansidão, humildade e simplicidade. 

   Invoquemos, outrossim, a ação do Espírito Santo sobre a Igreja e sobre todo o mundo. Sobre a Igreja, para que a governe e dirija no cumprimento da sua missão; sobre o mundo, para que o convença da verdade por ele rejeitada. "E Ele, quando vier - disse Jesus - convencerá o mundo quanto ao pecado, à justiça e ao juízo", ou seja, mostrar-lhe-á que é escravo do pecado por não ter acreditado em Cristo, far-lhe-á compreender como só n'Ele, o Redentor, está a justiça e a santidade e mostrar-lhe-á que o demônio, "o príncipe deste mundo", foi finalmente vencido e condenado. 

   Vinde, ó Espírito Santo, santificai-me! Vinde, Espírito de verdade, enchei-me!" A vossa Sabedoria divina me estabelecerá na verdade. Tenho sede dela e quereria que a verdade reinasse na minha mente, nas minhas palavras, nos meus afetos, nas minhas ações, evitando tudo o que lhe é contrário, não só o orgulho, não só a mentira, mas também a dissimulação, a duplicidade, a falta de sinceridade comigo mesmo. Vinde, ó Espírito Santo, abrasai-nos no Vosso amor, e nele inflamados, que sobretudo os sacerdotes transbordem este amor sobre as almas! Amém!

DIA DAS MÃES

DIA DAS MÃE


Teresa menina e sua Mãe
Segundo um desenho de "Celina".
 "Há um nome na pobre linguagem humana que traduz todos os arroubos da alma e toda a sensibilidade do nosso coração. 
  Esse nome põe bálsamo nas feridas mais pungentes da nossa pobre vida. Ele se transforma em constelação de luzes para as noites mais apocalípticas e mais sombrias. Ele acaricia as frontes mais cansadas e decepcionadas do mundo. 
  Esse nome significa o tabernáculo da amizade mais profunda e sincera. O sacrário do amor que não se cansa, da capacidade de sacrifício que não se limita, da renúncia que não se mede, do perdão que não se pode calcular.
   Esse nome que está na alegria de todos os poemas, na sensibilidade de todas as músicas, no sonho de todas as artes, na ternura de todos os corações, é o nome de MÃE. (D. Antônio de Almeida Morais Júnior).

   Na verdade, uma boa mãe não é mais uma mera mulher, é sempre uma santa. "Um coração de mãe", dizia Santa Terezinha, "vale mais que a ciência dos mais peritos doutores". 

   "Como o sol", diz Alves Mendes, "ela é luz, calor, fecundidade. Como o sol alumia, aquece, alegra, move, alenta, expande, acaricia, fascina, atrai: O que é o sol perante os astros é-o a mãe perante os povos - o ponto cêntrico da vida, a fonte da família, a chave da sociedade. Cooperadora da Providência e complemento do homem, a mãe gera, nutre, educa, dá forma, brilho e esmalte à existência. É autora maravilhosa e destra escultora dos seres. Não houve ainda, e não haverá jamais, criatura mais adorável do ela é". 

   Dom Ramón Jara, Bispo de la Serena no Chile, deixou-nos uma página belíssima: RETRATO DE MÃE.

   "Uma simples mulher existe que pela IMENSIDÃO DE SEU AMOR, tem um pouco de DEUS; e pela constância de sua DEDICAÇÃO, tem muito de ANJO; que, sendo NOVA, pensa como uma anciã e, sendo VELHA, age com as forças todas da juventude; quando analfabeta, melhor que qualquer sábio desvenda os SEGREDOS DA VIDA; e, quando SÁBIA, assume a simplicidade das crianças; POBRE, sabe enriquecer-se com a felicidade dos que ama, e, RICA, empobrecer-se para que seu coração não sangre ferido pelos ingratos; FORTE, entretanto estremece ao choro de uma criancinha, e, FRACA, entretanto se alteia com a bravura dos leões; VIVA, não lhe sabemos dar valor porque à sua sombra todas as dores se apagam, e, MORTA, tudo o que somos e tudo o que temos daríamos para VÊ-LA DE NOVO, e dela receber um aperto de seus braços, uma palavra de seus lábios. Não exijam de mim que diga o NOME DESSA MULHER, se não quiserem que ensope de lágrimas este álbum: porque eu a vi passar no meu caminho. Quando crescerem seus filhos, leiam para eles ESTA PÁGINA: eles lhe cobrirão de BEIJOS A FRONTE, e, dirão que um pobre viandante, em troca da suntuosa hospedagem recebida, aqui deixou para todos o RETRATO DE SUA PRÓPRIA 'MÃE'".

   "Se o homem pudesse na idade da razão lembrar o ardor de um só beijo materno, não poderia ter coragem de cometer a menor injustiça para quem o tem beijado tão ternamente... Ensinar aos próprios filhos a praticar o bem é deixar-lhes a mais preciosa herança. Desta maneira podemos asseverar ser-lhes úteis até depois da morte" ( Mantegazza).

   Para terminar não posso deixar de contar um fato do qual fui humilde ministro de Nosso Senhor Jesus Cristo. Há 35 anos, era padre novo e Capelão dos Hospitais de Campos, RJ. Encontrei, um dia, hospitalizado um senhor de certa idade, que estava bem mal, mas que ainda falava. Conversei com ele procurando incutir-lhe coragem e que tivesse confiança em Nosso Senhor Jesus Cristo que morreu na cruz por nós. Depois perguntei se não queria uma bênção e eu estava disposto a ajudá-lo a confessar-se para depois dar-lhe a unção dos enfermos e o viático. Respondeu-me que não queria confessar-se porque achava que para ele não havia perdão já que passara toda a vida só praticando o mal. Procurei incutir-lhe confiança na misericórdia divina. A nossa maldade, nossos pecados nunca chegam a ser infinitos; mas a misericórdia de Nosso Senhor Jesus Cristo é infinita. Por mais graves e numerosos que sejam nossos pecados o sangue de Jesus Cristo tem o poder de lavá-los inteiramente. Deus é Nosso Bom Pai que espera o pecador com paciência, vai a sua procura com toda solicitude e o recebe com toda a alegria quando ele se arrepende. Mas o enfermo continuou naquela tentação de desespero da salvação. Para não cansá-lo nem aborrecê-lo, mudei um pouco o rumo da conversa. Perguntei-lhe se seus pais eram católicos. Ele respondeu: sim, sobretudo minha mãe. Rezou muito por mim, deu-me muitos bons conselhos. Nunca os segui, mas também não os esqueci, embora ela já tenha morrido há muitos anos. Por isso, padre, continuou ele, é que eu digo: para mim não há salvação. Apesar dos conselhos de minha mãe, só pratiquei o mal em toda minha vida. E eu lhe disse: Meu filho, tendo sido sua mãe como o sr. explicou, tendo ela cumprido o seu dever de estado como uma mãe verdadeiramente cristã, o sr. pode ter certeza que ela está no céu. E ainda lhe digo mais: o sr. pode ter certeza que se o sr. está tendo a graça de ter ao seu lado um padre na hora da morte, é porque sua santa mãe está lá no céu pedindo a Nosso Senhor Jesus Cristo esta graça tão grande. E o sr. pode ter certeza que ela o aguarda no paraíso. E o doente, então, começou a chorar! Deixei. Depois, dei-lhe o Crucifixo para beijar. Beijou-o e disse-me: Senhor padre, sinto neste momento que agora quero receber o perdão dos meus pecados, mas nunca me confessei. Eu disse-lhe: Meu filho, esta é minha missão. Todo o meu tempo é dedicado para salvar almas. Posso ficar aqui horas e horas se for necessário, para prepará-lo. De fato fiquei por mais de duas horas talvez. Ele não sabia nada de religião. Depois que  percebi que já sabia o mínimo indispensável para receber os sacramentos, atendi sua confissão que foi a primeira e a última. Dei-lhe a extrema-unção, o Santo Viático e a Indulgência plenária com a Bênção papal. Depois de tudo, chorando ele disse-me: sr. padre, antes de morrer quero fazer-lhe um pedido: em todos os lugares em que o sr. trabalhar conte este fato: um grande pecador se converteu na hora da morte, por causa das orações e conselhos de sua mãe santa. 

   Obedecendo o seu pedido, determinei que todo ano na festa das Mães, contaria este fato, como acabei de fazê-lo. Tenho certeza que esta alma ou já está junto de sua mãezinha no céu, ou está segura de um dia ter esta felicidade eternamente. 

   "DEEM-ME MÃES VERDADEIRAMENTE CRISTÃS, E EU SALVAREI ESTE MUNDO DECADENTE" (São Pio X). 

quarta-feira, 6 de maio de 2020

COVID-19 E PREOCUPAÇÃO SADIA

  NÃO VOS PREOCUPEIS...


                                                          Dom Fernando Arêas Rifan*

Essa pandemia do Corona vírus é ocasião para refletirmos um pouco sobre a tranquilidade que devemos cultivar e o excesso de preocupação que devemos evitar. Fugir da depressão, do estresse e da ansiedade. A depressão, como dizem, é excesso de passado, estresse é excesso de presente e ansiedade é excesso de futuro. Enfim, excesso de preocupações. Vivamos bem o presente, com a confiança de filhos que somos de Deus, pai que se preocupa conosco.
Assim nos disse Jesus no seu Sermão da Montanha, ensinando-nos a pôr a nossa confiança em Deus. É a receita da tranquilidade: “Não vos preocupeis quanto à vossa vida... Olhai os pássaros do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros. No entanto, vosso Pai celeste os alimenta. Será que vós não valeis mais do que eles?... Aprendei dos lírios do campo, como crescem. Não trabalham nem fiam, e, no entanto, eu vos digo, nem Salomão, em toda a sua glória, jamais se vestiu como um só dentre eles... Vosso Pai celeste sabe que precisais de tudo isso. Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo. Portanto, não fiqueis preocupados com o amanhã, pois o amanhã terá sua própria preocupação! A cada dia basta o seu mal” (Mt 6, 25-34).
Claro que é normal a sadia preocupação. Jesus nos adverte contra a preocupação excessiva, com ansiedade: Não fiqueis excessivamente preocupados com o amanhã, ele quis dizer. A cada dia basta o seu mal. Nem com o passado, que não existe mais e está nas mãos de Deus, nem com o futuro, que a ele pertence. “Que a saudade do ontem e o medo do amanhã não roubem a alegria do nosso hoje” (Pe. Roque Schneider). Foi a oração de São Pio de Pietrelcina: “Senhor, eu peço para o meu passado a vossa misericórdia, para o meu presente o vosso amor, para o meu futuro a vossa providência”. E fiquemos tranquilos assim. Precisamos controlar as lembranças do passado e as expectativas do futuro, para não perdermos a paz de espírito no presente.
Mas não termos a preocupação ansiosa não significa que não devamos ter cuidados, precauções, prudência e prevenções. Deus mandou que a Sagrada Família de Belém fugisse para o Egito, porque Herodes queria matar o menino (Mt 2, 13). Também quando Deus mandou que retornassem para Israel, São José não quis voltar para a Judéia, com medo do filho de Herodes.  O próprio Jesus, quando foi tentado pelo diabo para que se lançasse do alto do templo, confiando que o Pai o protegeria, resistiu a essa tentação, dizendo que isso seria tentar a Deus. Quando ouviu a notícia de que Herodes tinha prendido e assassinado João Batista, retirou-se dali (Mt 14, 15); quando os judeus quiseram apedrejá-lo, escondeu-se deles (cf. Jo 8, 59). Quando aumentou o perigo, Jesus não quis andar pela Judeia, porque os judeus procuravam mata-lo (Jo 7, 1). Alguém acusaria Jesus e São José de não terem tido fortaleza, fé e confiança em Deus, para arrostar imprudentemente os perigos? Não! Agiram com sadia preocupação e prudência.  
Assim, não nos preocupemos ansiosamente, mas, com confiança em Deus, procedamos com cautela e os cuidados necessários que nos são recomendados pelas pessoas prudentes.

        *Bispo da Administração Apostólica Pessoal
                                                                         São João Maria Vianney


segunda-feira, 4 de maio de 2020

REVESTIR-SE DE JESUS

"Irmãos: Sabeis que já é hora de despertar-vos do sono, pois, a salvação está agora mais perto de nós, do que quando abraçamos a fé. A noite passou e aproxima-se o dia. Renunciemos, portanto, às obras das trevas, e revistamo-nos das armas da luz. Caminhemos honestamente como quem anda em plena luz, não em excesso de comida ou de bebida, não em dissoluções e impurezas, nem em contendas e emulações. Pelo contrário, revesti-vos do Senhor Jesus Cristo." (Rom. XIII, 11-14)

   Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

   Primeiramente queria lembrar a todos que o pecador Agostinho, filho de Santa Mônica, passou definitivamente da trevas do erro e da morte do pecado para a luz da verdade e a vida da graça, através desta Epístola: Achando-se ele com seu amigo Alípio em um jardim, ouviu uma voz que lhe dizia: "Toma e lê". Impressionado com estas palavras misteriosas, segura o livro que vê ao seu lado e abre-o exatamente na página em que se encontra esta Epístola. Foi o golpe certeiro da graça a quebrar a última corrente férrea que ainda o detinha preso ao mundo de trevas e impurezas. Converteu-se! E oxalá, muitos e muitos lendo e meditando estas palavras inspiradas das Sagradas Escrituras, se convertam como aconteceu com Agostinho. 

   "Já é hora de despertarmos do sono".  Caríssimos, o sono é necessário para restaurar as forças, e por isto, reduz-nos à inércia. É indispensável para a vida física, mas referindo-se à vida espiritual, na linguagem ascética, o sono é sinônimo de negligência, de torpor nas coisas de Deus, é símbolo da tibieza. A alma vive esquecida de Deus, apegada que está muito mais à coisas exteriores da terra. Daí a oração ou é frequentemente omitida ou, então, feita com certo enfado. O mesmo acontece com a recepção dos sacramentos. A alma na tibieza fica alheia a todo amor divino e busca antes vãs consolações nos corações humanos. Quase não se mortifica. Preocupada com o tempo presente, não lhe interessam os destinos da vida futura. Nesta indolência espiritual a alma fica fraca e cai facilmente em pecado veniais deliberados e geralmente em quedas fatais. Do sono da alma passa facilmente à morte da alma. Por isso São Paulo define o pecado como sendo "obra das trevas". Na verdade é o príncipe das trevas que o inspira. E o pecado conduz ao reino das trevas. Por isso grita o Apóstolo: "Despojai-vos, pois, das obras das trevas" e "revistamo-nos das armas da luz". Devemos procurar a força na oração, meditação dos novíssimos, da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, procurar o força nos Sacramentos da Penitência e da Comunhão. Devemos estar acordados, bem vigilantes, para afastarmos as tentações do príncipe das trevas, com a mesma prontidão e energia com que afastamos uma brasa que cai em nossas vestes. 

   Assim com as palavras da Epístola da Missa do 1º Domingo do Advento, São Paulo anima os tíbios a acordarem do sono do espírito; aos pecadores o Apóstolo ordena que rejeitem as obras das trevas. Aconselha os fracos que empunhem as armas da luz. A todos São Paulo exorta a que se revistam de Jesus Cristo. 

   Para terminar, caríssimos, vejamos o que significa afinal "revestir-se de Jesus Cristo". Significa tomar os mesmos sentimentos de Jesus Cristo, seguir a sua doutrina, imitar seus exemplos, reproduzir suas virtudes. Significa, outrossim, unir-se interiormente a Deus com o maior grau de santidade possível e exteriormente revelar, através da nossa conduta, a bondade, caridade, e doçura de Jesus Cristo. 

   Por isso, é com imensa tristeza que constatamos que muitos cristãos, em lugar de ser o perfume de Jesus Cristo entre os demais, violando, portanto, a missão que lhes cabe de revelarem Jesus aos homens, profanam com sua vida, a vida d'Aquele que deviam com suas virtudes honrar e glorificar. 

  Ó Jesus, fazei que, pela prática das virtudes, especialmente da humildade e mansidão, eu possa ser o bom odor vosso junto aos meus irmãos. Amém!

FESTA DE SANTA MÔNICA NO CALENDÁRIO TRADICIONAL

MÃE E FILHO SANTOS 

                                                                                                                                             Dom Fernando Arêas Rifan*


          Dois santos admiráveis foram celebrados nessa semana: Santa Mônica (dia 27) e Santo Agostinho (dia 28), do século IV, cuja vida faz bem relembrar.
Aurélio Agostinho nasceu em Tagaste, na Região de Cartago, na África, filho de Patrício, pagão, e Mônica, cristã fervorosa. Segundo narra ele próprio, Agostinho bebeu o amor de Jesus com o leite de sua mãe. Infelizmente, porém, como acontece muitas vezes, a influência do pai fez com que se retardasse o seu batismo, que ele acabou não recebendo na infância nem na juventude. Estudou literatura, filosofia, gramática e retórica, das quais foi professor. Afastou-se dos ensinamentos da mãe e, por causa de más companhias, entregou-se aos vícios. Cometeu maldades, viveu no pecado durante sua juventude, teve uma amante e um filho, e, pior, caiu na heresia gnóstica dos maniqueus, para os quais trabalhou na tradução de livros.
Sua mãe, Santa Mônica, rezava e chorava por ele todos os dias. “Fica tranquila”, disse-lhe certa vez um bispo, “é impossível que pereça um filho de tantas lágrimas!” E foi sua oração e suas lágrimas que conseguiram a volta para Deus desse filho querido transviado.
Agostinho dizia-se um apaixonado pela verdade, que, de tanto buscar, acabou reencontrando na Igreja Católica: “ó beleza, sempre antiga e sempre nova, quão tarde eu te amei!”; “fizestes-nos para Vós, Senhor, e o nosso coração está inquieto, enquanto não descansa em Vós!”: são frases comoventes escritas por ele nas suas célebres “Confissões”, onde relata a sua vida de pecador arrependido. Transferiu-se com sua mãe para Milão, na Itália. Dotado de inteligência admirável, a retórica, da qual era professor, o fez se aproximar de Santo Ambrósio, Bispo de Milão, também mestre nessa disciplina. Levado pela mãe a ouvir os célebres sermões do santo bispo e nutrido com a leitura da Sagrada Escritura e da vida dos santos, Agostinho converteu-se realmente, recebeu o Batismo aos 33 anos e dedicou-se a uma vida de estudos e oração. Ordenado sacerdote e bispo, além de pastor dedicado e zeloso, foi intelectual brilhantíssimo, dos maiores gênios já produzidos em dois mil anos da História da Igreja. Escreveu numerosas obras de filosofia, teologia e espiritualidade, que ainda exercem enorme influência. Foi, por isso, proclamado Doutor da Igreja. De Santo Agostinho, disse o Papa Leão XIII: “É um gênio vigoroso que, dominando todas as ciências humanas e divinas, combateu todos os erros de seu tempo”. Sua vida demonstra o poder da graça de Deus que vence o pecado e sempre, como Pai, espera a volta do filho pródigo.
Sua mãe, Santa Mônica, é o exemplo da mulher forte, de oração poderosa, que rezou a vida toda pela conversão do seu filho, o que conseguiu de maneira admirável. Exemplo para todas as mães que, mesmo tendo ensinado o bom caminho aos seus filhos, os vêm desviados nas sendas do mal. A oração e as lágrimas de uma mãe são eficazes diante de Deus. E a vida de Santo Agostinho é uma lição para nunca desesperarmos da conversão de ninguém, por mais pecador que seja, e para sempre estarmos sinceramente à procura da verdade e do bem. 

*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

sábado, 2 de maio de 2020

SANTO ATANÁSIO

   Homem providencial, que Deus deu à sua Igreja, para defender a divindade do Seu Verbo. Nasceu no Egito pelo ano de 295. Pelos 25 anos da sua idade, era diácono da igreja de Alexandria e muito dedicado ao seu bispo Alexandre, a quem auxiliou, desde o começo na campanha contra o arianismo, acompanhando-o a Nicéia e tomando parte muito ativa no Concílio.
   Tendo falecido Alexandre, foi elevado à categoria de bispo Patriarca de Alexandria, tendo apenas 33 anos.
   Atanásio, diz Mourret, era de pequena estatura, franzino, mas de porte firme e rosto nobre.
   Desde a sua elevação ao episcopado, diz Tixeront, a sua história confunde-se com a da ortodoxia nicena, Ninguém esteve mais vigilante e ninguém defendeu mais corajosamente a divindade do Verbo do que ele. Foi o maior dos inimigos dos arianos. Não houve violência que o atemorizasse, nem prepotência que o fizesse transigir. Como bispo de Alexandria, durante 45 anos combateu arduamente o erro, pela pregação e por meio de escritos, e sofreu por isso cruéis peseguições e calúnias, sendo cinco vezes exilado.
   Santo Atanásio brilha na história pela valentia do seu ânimo e pela firmeza do seu caráter, que nunca quebrou, nem torceu, no meio das mais violentas tempestades. Parecia que todos os poderes do mundo se tinham conjurado contra ele; o ímpério e os seus agentes, os sábios, os filósofos e, ao menos em grande parte, o próprio episcopado. E, segundo alguns historiadores, até o papa Libério o teria abandonado. Mas não vacilou um momento, porque tinha a mais profunda convicção de que defendia a verdade e a confiança mais absoluta de que Deus lhe concederia a vitória. Todavia, tão forte como prudente, nunca desprezou os meios humanos, que Deus colocara ao seu alcance, defendendo-se qual outro São Paulo, protestando, fugindo, escondendo-se (certa vez ficou vários meses escondido no túmulo de seu pai), trabalhando.
   Aplicou-se diligentemente, a defender a consubstancialidade do Verbo, evitando, propositadamente, quaisquer especulações, ou teorias, que pudessem comprometer a exposição ou a defesa desta verdade. Ninguém como ele, sabia descobrir o ponto fraco de uma questão, a falta de lógica de um argumento, ou encontrar a distinção precisa para tirar à heresia toda a possibilidade de defesa. Daí a sua grande influência nos concílios e o conseqüente ódio dos arianos contra ele.
   Como literato Santo Atanásio não procurou a elegância do estilo. O seu espírito, claro e preciso, sabia muito bem o que queria dizer e di-lo numa linguagem firme, apropriada, sem ornatos escusados, sem arrebiques de retórica e sem a mínima ambiquidade que pudesse ser explorada pelos espertos arianos. Pôs nos seus escritos, isto sim! toda a sua alma.
   Como exemplo do que acabamos de expor, eis apenas um pequeno trecho de uma carta circular que ele escreveu a todos os bispos no ano de 340: "... Com efeito,  não é de agora que a Igreja recebeu ordem e constituição definida. Ela vos foi transmitida pelos pais como algo bom e seguro. Também não é de agora o início da fé. Ela veio a nós do próprio Senhor através dos Apóstolos. Queira Deus que não se renuncie hoje àquilo que foi conservado na Igreja desde o início até ao nosso tempo; queira Deus que não sejamos nós a defraudar o que nos foi confiado. Irmãos, como administradores dos mistérios de Deus, deixai-vos comover, uma vez que vedes como tudo isso é roubado pelos outros. Ouvireis mais da boca dos portadores desta carta; a mim impõe-se-me apresentar isto de forma resumida, para que realmente reconheçais que tal coisa jamais aconteceu contra a Igreja desde o dia em que o Senhor, subindo ao céu, confiou sua missão aos Apóstolos com as palavras: "Ide pelo mundo; ensinai a todos os povos e batizai-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo"...

   "...Mas por isso não deveis  temer a malvadez dos adversários; deveis, isso sim,... indignar-vos contra as novas manobras de que somos vítimas. Pois, se um membro sofre, todos sofrem junto e, segundo a palavra do Apóstolo, devemos chorar com os que choram. Uma vez que é a grande Igreja que sofre, cada um deve providenciar pacientemente para que o crime receba o castigo. Por todos eles, é o Salvador que é injuriado. São as leis de todos que são dissolvidas por eles. Por todos estes motivos peço-lhes... que condenem os ateus, para que agora os sacerdotes daqui e o povo vejam a vossa verdadeira fé unânime em Cristo, e para que aqueles que  erraram tanto na Igreja se sintam atraídos para voltarem a ela e cheguem a uma mudança de orientação. Saúdo a comunidade dos irmãos que estão junto a vocês! Todos os irmãos reunidos comigo os saúdam. Que o Senhor os guarde incólumes e em fiel comunhão de pensamento conosco..."
   SANTO ATANÁSIO!  ROGAI POR NÓS!
   N.B.: Sua festa é celebrada no dia 2 de maio.

  O que certamente se gostaria de saber ainda sobre Santo Atanásio é o que ele mesmo teria dito do Papa Libério. Santa Atanásio escreveu inúmeras obras. Os vários anos que ficou no exílio ou escondido dos arianos, aproveitou-os também para desenvolver o seu zelo, sobretudo, escrevendo. Além de ter escrito a vida de Santo Antão que exerceu admirável influência nas vocações monásticas, escreveu ainda as seguintes obras: 1-Exegese: Comentários sobre o Eclesiastes e outro Sobre o Cântico dos Cânticos, As Cadeias (Catenae) sobre o Livro de Jó; Exposição sobre os Salmos. 2- Obras de Apologia: Discurso sobre os gregos e sobre a Encarnação do Verbo;  3- Obras Dogmáticas: Discursos contra os arianos; Um tratado da Encarnação contra os Arianos; Uma exposição da Fé; há várias outras obras, mas apócrifas. Por isso mesmo não as citarei a não ser a mais afamada: O Símbolo "Quicumque". 4. - Obras histórico-apologética: A Apologia contra os arianos, Um escrito contra Valente e Ursácio, Apologia ao Imperador Constâncio, Apologia de sua fuga (era acusado por ter fugido: É certo que se ocultou, no uso de um legítimo direito, não para obedecer ao medo, mas para poupar a vida e poder continuar a fazer ouvir bem alto a voz da verdade.); Carta do doutrina de Diniz; Decretos do Concílio de Niceia; O Tratado dos Símbolos de Rímini na Itália e de Selêucia na Isaura; A História dos Arianos aos Monges. 5 - Obras de Moral e Disciplina: Vida de Santo Antão; Tratado sobre a Virgindade; Uma doutrina ad Antiochum; Uns Cânones Eclesiásticos; Uma série de Homilias; 6 - As Cartas: são muito valiosas e cheias de interesse, tanto para a História como para a Doutrina. E algumas delas podemos considerá-las verdadeiros Tratados.
  Santo Atanásio tem uma frase contra o Papa Libério: "Historia Arianorum ad Monachos", c. 41: "Liberius, extorris factus, post biennium denique fractus est, minisque mortis perterritus subscripsit". Em Português: "Libério tendo sido desterrado, depois de dois anos finalmente abateu-se, e aterrorizado pelas ameaças de morte, subscreveu".