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domingo, 7 de agosto de 2016

UMA TRELA DE LUTERO

2º - NA EPÍSTOLA AOS ROMANOS



   Passamos agora ao versículo da Epístola aos Romanos: 
   
   Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei (Romanos III-28). 

   Antes de fazermos o comentário sobre este versículo, queremos relembrar um pequeno episódio da vida de Lutero. Lutero fez a tradução da Bíblia para o alemão, aliás numa linguagem clássica e elegante, que exerceu profunda influência sobra a língua e literatura alemãs, pois ele era de fato um grande escritor. Mas, na sua tradução, esteve longe de mostrar-se consciencioso. Fez maliciosas alterações na Bíblia, levado pelo seu sectarismo. Os nomes com que o povo designava os sacerdotes católicos e as suas vestes, Lutero na Bíblia os aplicou aos sacerdotes idólatras. Usou no Antigo Testamento a palavra - Igreja - para designar os lugares em que se adoravam os ídolos, e no Novo Testamento substituiu a palavra Igreja, quando designava a Igreja de Cristo, pela palavra - comunidade.

   Onde a Bíblia traz a palavra JUSTO, ele tomou como norma substituí-la pela palavra PIO, explicando que PIO quer dizer que tem fé, isto para favorecer à sua teoria de que ninguém pode ser justo, apenas podemos ter uma justiça exteriormente imputada, atribuída a nós por Deus que nos considera justos, embora realmente não o sejamos. 

   Onde se lê: A lei obra ira (Romanos IV-15), ele acrescentou a palavra SOMENTE: A lei obra somente ira.

   Neste versículo de que ora tratamos, Lutero, para ajustá-lo à sua doutrina, acrescentou também a palavra SOMENTE e assim traduziu: Concluímos, pois, que o homem é justificado sem as obras da lei, SOMENTE pela fé. 

   Um católico reclamou contra o acréscimo desta palavra SOMENTE que não estava no texto. E Lutero assim respondeu numa carta dirigida a Link: "Se o nosso novo papista quiser importunar-nos por causa da palavra SOMENTE, responde-lhe logo: assim o quer o Doutor Martinho Lutero que diz: papista e burro são a mesma coisa. Assim quero, assim mando, ponha-se a vontade em vez da razão" (Weimar XXX 2 Abt 635).

   E a frase de Lutero: Sic volo, sic jubeo, sit pro ratione voluntas - assim quero, assim mando, ponha-se a vontade em vez da razão - que aliás, já era tomada de um escritor pagão, ficou célebre para indicar que uma pessoa se obstina numa opinião ou numa atitude, mesmo sabendo que está errada, como se diz também em português: É de pau, porque eu quero; é de pau, e bem bonito; é de pau, e tenho dito. (Extraído do livro "LEGÍTIMA INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA", autor: Lúcio Navarro).

terça-feira, 26 de julho de 2016

ORIENTAÇÃO INDIVIDUALISTA DE LUTERO

   

   Apesar de todos os conselhos do seu diretor espiritual, a alma de Lutero cada dia mais se lança no desespero. Está convencido de que o homem não é livre, pois não se liberta nunca do pecado. Um dia, porém, nos seus estudos sobre a Bíblia, julga ter encontrado na Epístola aos Romanos a solução para o seu problema(4). Interpreta o Apóstolo São Paulo a seu modo, de acordo com suas próprias ideias, de maneira que, como diz o próprio Strohl, autor protestante: "foi a orientação puramente individualista e a força de sua experiência pessoal que impediram Lutero de assimilar todo o pensamento do Apóstolo".

   Se São Paulo nos lembra que O justo vive da fé (Romanos I-17), este mesmo São Paulo que nos diz: Todas as vossas obras sejam feitas em caridade (1ª Coríntios XVI-14) e nos afirma que o homem, mesmo tendo a fé a ponto de transportar montanhas, não é nada sem a caridade (1ª Coríntios XIII-12), Lutero não toma aquela frase no sentido de que todas as nossas ações devem ser revestidas de verdadeiro espírito de fé - mas no sentido de que na fé somente se resume toda a vida do cristão. Se São Paulo nos ensina que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei (Romanos III-28) no sentido de que não somos mais obrigados a cumprir todas aquelas determinações e cerimônias da lei mosaica, Lutero toma isto no sentido de que não somos obrigados a obedecer a lei nenhuma, nem mesmo a observar os mandamentos. Se São Paulo fala na liberdade da glória dos filhos de Deus (Romanos VIII-21) e diz que soltos estamos da lei da morte, na qual estávamos presos, de sorte que sirvamos em novidade do espírito e não na velhice da letra (Romanos VII-6), Lutero toma isto não no sentido de que os cristãos já estão libertos do jugo das prescrições da lei mosaica, mas no sentido de que os cristãos estão livres de todas as leis, tendo apenas a obrigação de crer.

   Foi assim que nasceu a teoria da salvação só pela fé. Vejamos agora, [nos próximos posts], em linhas gerais, a doutrina de Lutero, usando sempre as suas próprias palavras, pois vai aparecer tanta coisa espantosa que é melhor mesmo que Lutero fale, para que não se diga que estamos exagerando a sua doutrina. (Extraído do livro "LEGÍTIMA INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA", autor: Lúcio Navarro).

(4) NOTA: Lutero rompeu oficialmente com a Igreja no dia 1º de novembro de 1516, afixando às portas do templo, em Vitemberga, as suas 95 teses sobre as indulgências. Mas já antes disto lavrava no seu espírito o conceito herético sobra a justificação pela fé sem as obras, de modo que a pretensa descoberta da Lutero foi no ano de 1514 ou, ao mais tardar, em 1515, conforme se conclui do exame de suas notas privadas, como professor. 

terça-feira, 28 de junho de 2016

Lutero e o Demônio

Excertos do livro "A Igreja, a Reforma e a Civilização" de autoria do Padre Leonel Franca.

   "Satanás não o deixa um instante tranquilo; acompanha-o de dia e de noite, na igreja e na adega. Mais de uma vez declarou Lutero que a sua vida fora "uma série de duelos com Satã". Com o diabo dormia ele mais vezes de que com a sua Catarina. Em toda parte o via: na nuvem que passa, no raio que fuzila, no trovão que ribomba, nas florestas, nas águas, nos desertos, empestando os ares e os campos; diabos se escondem nas serpentes e lagartos, nos macacos e nos papagaios; diabo na mosca que vem pousar nas páginas do seu livro, diabos, até, nas nozes que lhe envia uma admiradora. O espírito do mal é o deus ex-máquina que desata todos os nós difíceis. À sua ação maligna atribui o reformador todas as desordens morais, todas as calamidades sociais desencadeadas por suas doutrinas subversivas.
   Esta obsessão diabólica que torturava a alma do infeliz renegado espelha-se em todos os seus escritos. De diabos está cheio o seu estilo; algumas das suas páginas dir-se-iam escritas no inferno. No opúsculo contra o duque Henrique de Brunswick, o demônio tem a honra de ser nomeado 146 vezes; no livro dos concílios em 4 linhas se fala 15 vezes de diabos.
   Em 1541 quando os turcos ameaçavam invadir a Alemanha, publicou Lutero a seguinte oração: "Sabeis, Senhor, que o diabo, o papa e o turco não têm razão nem direito de nos vexar, porque nunca os ofendemos. Mas porque confessamos que vós, Pai, vosso Filho, Jesus Cristo, e o Espírito Santo sois um só Deus eterno, nos odeiam e perseguem. Se renunciáramos a esta fé, nada teríamos que recear deles".(Erlangen, XXXII, 89). Quanta ceguira! quanta calúnia! O diabo, o papa e o turco postos no mesmo plano! O papa que persegue a Lutero pela sua fé na Santíssima Trindade! Lutero que se gloria de nunca haver descontentado o demônio!!!
   Os adversários da Reforma, têm "o coração satanizado, persatanizado e supersatanizado". A Lutero cabe a inglória iniciativa de haver posto em voga este novo gênero de literatura diabólica, em cujo diapasão afinaram o tom os outros reformadores.
   Sinceramente, esta linguagem, estas incertezas e contradições doutrinais, esta frivolidade em construir e destruir dogmas, esta soberba luciferina dizem bem num enviado do céu para restaurar o cristianismo?
   Até aqui não acenamos senão aos vícios que mancham a parte superior do homem. Mas por uma lei infatigável da Divina Providência, a soberba do espírito é castigada com as rebeldias da carne. Desce abaixo do bruto quem se arvora em divindade.
   Lutero ofereceu à história mais um triste exemplo desta punição providencial. Em 1521, uns restos de educação católica ditavam-lhe estas palavras de uma carta a Spalatino: "Santo Deus! os nossos Wittembergenses quererão casar também os frades? A mim é que não hão de impingir mulher... Toma tento e não cases para não incorreres nas tribulações da carne". (De Wette, II, 40 e 41). Com os anos, as novas doutrinas abriram brecha no seu propósito. Em 1525, estalou às súbitas no mundo reformado a inesperada notícia que Lutero, aos 41 anos, havia casado com Catarina de Bora, religiosa egressa cisterciense. Que acontecera? Lutero resolvera-se repentinamente ao casamento para fechar a boca às más línguas. As más línguas, porém, não taramelavam sem motivo. Numa carta de 1525 endereçada a Rühel, conselheiro de Mansfeld, dizia o heresiarca: "se posso, a despeito do demônio (sic!) ainda hei de casar com a minha Catarina, antes de morrer". (De Wette, II, 655). Como quer que seja, a impressão causada nos contemporâneos e correligionários foi das mais desfavoráveis. Lutero percebeu-o. "Com este meu casamento tornei-me tão desprezível que os anjos se hão de rir e os demônios chorar. Só em mim escarnece o mundo a obra de Deus como ímpia e diabólica". (De Wette, III, 2,3). A vida escandalosa de Lutero já tinha começado havia mais tempo, como se pode ver numa carta datada de 1522 ao amigo Spalatino.
   Tanto esta carta como outros escritos sobre a vida desregrada de Lutero são escritos em latim, tal a vergonha que os escritores sentiam em relatar tantas baixezas nojentas. Também, muito menos tenho coragem de traduzí-los para o português. Assim sendo, paremos por aqui.. Só uma frase do próprio Lutero ao seu amigo Bernardo Koppe: "Saiba que estou ligado à cauda de minha Kette". ( De Wette, III, 9). Este o santo que o ecumenismo elogia!!!

Lutero: Reformador?

Textos e comentários extraídos do livro "A Igreja, a Reforma e a Civilização", livro escrito pelo célebre, seguro e erudito Padre Leonel Franca, S. J.

   "Não é meu intuito humilhar aqui os protestantes. Quisera tão somente iluminá-los. Verdades que amargam são muitas vezes verdades que salvam.
   Lutero inaugura a sua missão com o gravíssimo pecado do sacrilégio e da apostasia. Jovem, era livre. Um dia, enamorado do ideal evangélico de perfeição, desejoso de seguir de perto a Cristo, estende espontaneamente a mão sobre o altar e pronuncia os votos religiosos de pobreza, obediência e castidade. Passam os anos (dois). Raia o dia do seu sacerdócio. Ainda uma vez, quando o crisma sagrado lhe ungia as mãos, o neo-levita renova a consagração do religioso. Mais tarde que faz Lutero de todas estas promessas firmadas com a santidade inviolável do juramento? Quebra a fé empenhada, rasga os seus compromissos, atira o burel do religioso às urtigas e enxovalha a candura da estola sacerdotal no lodo de um casamento duplamente sacrílego!
   O orgulho fizera o fedífrago, o orgulho cegou o doutor. Na sua autossuficiência dir-se-ia que esqueceu não só a humildade evangélica mas as reservas da modéstia mais elementar. Até ao aparecimento do seu Evangelho ninguém soubera quem era Cristo, que eram sacramentos, que era a fé, quem era Deus e a sua Igreja. Os Santos Padres, os Apóstolos, os Concílios, a Igreja toda errou! Sua doutrina é a única verdadeira. "Muito embora, escreve Lutero, a Igreja, Agostinho e os outros doutores, Pedro e Apolo e até um anjo do céu ensinem o contrário, minha doutrina é tal que só ela engrandece a graça e a glória de Deus e condena a justiça de todos os homens na sua sabedoria". (Cf. Weimar, XL, 1 Abt., 132).  Que demência de soberba!
   Mais ao vivo ainda se revela o frenesi desta inteligência decaída, nestas palavras que não têm semelhantes nos fastos do despotismo e do orgulho humano: "Quem não crê como eu, escreve Lutero, é destinado ao inferno. Minha doutrina e a doutrina de Deus são a mesma coisa. Meu juízo é o juízo de Deus". (Cf. Weimar, X, 2 Abt., 107). "Tenho certeza que meus dogmas vêem do céu... eles hão de prevalecer e o Papa há de cair a despeito de todas a portas do inferno, a despeito de todos os poderes dos ares, da terra e do mar" (Cf. Weimar, X, 2 Abt., 184). "Não devemos ceder aos ímpios papistas... Nossa soberba contra o Papa é necessária... Não havemos de ceder nem a todos os anjos do céu, nem a Pedro, nem a Paulo, nem a cem imperadores, nem a mil papas, nem a todo o mundo... a ninguém, "cedo nulli". (Cf. Weimar, XV, 1Abt., 180-1). "Este Lutero nos vos parece um homem extravagante? Quanto a mim penso que ele é Deus. Senão, como teriam os seus escritos e o seu nome a potência de transformar mendigos em senhores, asnos em doutores, falsários em santos, lodo em pérolas". (Cf. Ed. Wittemb. 1551, t. IV, pág. 378). Orgia de orgulho satânico ou caso de patologia mental?
   Não é pois de maravilhar que este homem assim enfatuado de sua ciência, depois de haver negado a infalibilidade do Papa e proclamado a liberdade de exame para legitimar os próprios excessos, se tenha arvorado em cátedra inerrante de fé, constrangendo os seus sequazes a curvarem submissos a fronte ante os arestos inapeláveis de suas decisões infalíveis. Não houve tirania mais insuportável nem arrogância mais impetuosa que a deste pregador do livre exame. Todos os seus correligionários gemem sob o peso de seu jugo de ferro. Münzer dizia: "há dois papas: o de Roma e Lutero, e esse mais duro". Ao seu confidente Bulinger escrevia Calvino: "já não é possível suportar os arrebatamentos de Lutero; cega-o a tal extremo o amor próprio que não vê os próprios defeitos nem tolera que o contradigam"; e a Melanchton dizia Calvino: "com que impetuosidade fulmina o vosso Pericles! Singular exemplo deixamos à posteridade quando preferimos abrir mão de nossa liberdade a irritar com a menor ofensa um homem só! Dizem que é de gênio arrebatado, de movimentos impetuosos, como se esta violência não se exaltasse com lhe comprazerem os outros em tudo. Ousemos ao menos soltar um gemido livre". (Calvini Opera, XII, 99). "Vivo na escravidão, como no antro de Cyclope", murmura por sua vez Melanchton. (Bossuet, Hist, des variations, 1. 5, n. 15 e16). Contra Carlostadt, seu antigo mestre, que em tirar as conclusões da nova doutrina foi além do que pretendia o reformador, obteve o decreto de expulsão da Saxônia e não o readmitiu senão com a promessa de "não defender em público, por palavra ou por escrito, suas opiniões contrárias às de Lutero". (Weimar, XVIII, 86 sgs). A Münzer, por motivo análogo, cassou a liberdade de palavra apesar do "verbum Dei non est alligatum", que ele tantas vezes invocara contra a Igreja Católica. Assim entendia Lutero o livre exame!
   Ao ver esta prepotência com que o chefe da Reforma impunha despoticamente as suas opiniões, crê toda a gente sensata que nada mais firme, nada mais assentado e maduramente refletido que a nova doutrina. Erro. O inculcado emissário divino que modestamente se prefere a todos os doutores do céu e da terra, que blasona de inspirado do Espírito Santo, que recebeu "os seus dogmas do céu", hesita, retrata-se, contradiz-se, assenta e destrói dogmas pelos motivos mais fúteis, muda de opinião como um ator de roupa.
   NB.: Entre os inúmeros exemplos apresentados pelo Padre Leonel Franca, cingir-me-ei apenas à alguns, para não cansar meus caríssimos leitores.
   "Quanto à origem e legitimidade de sua missão, em pouco mais de 15 anos, Lutero mudou pelo menos 14 vezes de parecer. (Cf. Döllinger, Die Reformation, III, 205 ss.)
   Em 1519 Lutero escreve: "Confesso plenamente o supremo poder da Igreja Romana; fora de Jesus Cristo, Senhor Nosso, nada no céu e na terra se lhe deve preferir". (Cf. De Wette, I, 234). "Esta Igreja é a predileta de Deus; não pode haver razão alguma, por mais grave, que autorize a quem quer que seja a apartar-se dela e, com o cisma, separar-se da sua unidade". (Cf. Weimar, II, 72.). Em 1520 na sua Epístola Luterana tece os mais rasgados encômios a Leão X, louva-lhe a vida intemerata superior a qualquer ataque. (De Wette, I, 498). Nesse mesmo ano já Leão X é o Anticristo, e a igreja romana "uma licenciosa espelunca de ladrôes, o mais impudente dos lupanares, o reino do pecado, da morte e do inferno" ( De Wette, I, 498).
   ... Em 1523 escrevia: "Se acontecesse que um, dois, mil ou mais concílios decidissem que os eclesiásticos pudessem contrair matrimônio, preferiria, confiado na graça de Deus, perdoar a quem, por toda a vida, tivesse uma, duas ou três meretrizes, do que, consoante à decisão conciliar, tomasse mulher legítima e sem tal decisão não a pudesse tomar". (Cf. Weimar, XII, 237).

NB.: A obra do autor mais citado pelo Padre Leonel Franca é: "D. Martin Luthers, Werke. Kritische Gesmtausgabe, 1883 ss. Desta Edição crítica que até 1914 contava 50 volumes, é que o Pe. Leonel Franca mais freqüentemente se serviu.
            Depois, se Deus quiser, entenderemos melhor ainda  este homem desequilibrado quando fizermos a seguinte postagem: "Lutero e o Demônio".

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

COMO SURGIU A TEORIA DA SALVAÇÃO SÓ PELA FÉ - ( 5 )

   43. O PECADO ORIGINAL.

   Para Lutero, o anjo também não é livre, porque "o livre arbítrio é o apanágio exclusivo de Deus" (Weimar XVIII-664). Mas com o homem aconteceu uma grande desgraça. Foi o pecado original que tornou a nossa vontade inteiramente corrompida, completamente dominada pelo mal, segundo a doutrina luterana. E isto por toda a nossa vida. Diz Lutero: "Nossa pessoa, nossa natureza, todo o nosso ser está corrompido pela queda de Adão... Nosso pecado não é em nós uma obra ou uma ação; é a nossa natureza e todo o nosso ser" (Apud Doëllinger III- 31). 
  
   No Comentário à Epístola aos Romanos capítulo V, Lutero afirma que o pecado original é "não somente a privação de qualidade na vontade, não somente a privação de luz na inteligência e de poder na memória, mas a completa privação de toda retidão do homem interior e exterior. É a própria tendência para o mal, náusea para o bem, aversão à luz e à sabedoria, amor ao erro e às trevas, fuga e abominação das boas obras, corrida para o mal" (Ficher II, 144). 

   A consequência disto é que o homem só pode fazer o mal: "O homem, não sendo senão um tronco apodrecido, não pode produzir senão corrupção, não pode querer e fazer senão o mal" (Opera Latina I, 243 e 350).

   "Tudo o que empreenderes, por belo e brilhante que seja, é pecado e continua sendo pecado. Faze o que quiseres, não podes senão pecar". (Apud Denifle-Paquier III- 179). 

   E tudo o que o homem faz é, por sua natureza, pecado mortal: "Todo o pecado, no que diz respeito à substância do fato, é mortal" (Comentário da Epístola aos Gálatas. (Erlangen III-24). 

   44. LUZ NAS TREVAS E CONSOLO NO DESESPERO...

   Diante deste quadro tenebroso, parece que estamos irremediavelmente perdidos; não temos liberdade e trazemos, do berço até o túmulo, a natureza tão corrompida pela queda do primeiro homem, que tudo que fazemos é pecado e pecado mortal; como poderemos então salvar-nos?

   Muito simples, segundo Lutero; basta crer em Jesus Cristo. Crê e serás salvo. 

   Que entende Lutero por esta palavra  - CRER?

   Todos sabem que crer em Jesus Cristo significa aceitar toda a sua doutrina. Lutero também admite a fé neste sentido, mas isto para ele não tem grande significação; não é propriamente neste sentido que a fé salva.

   Ouçamos as suas palavras: "Cristo tem duas naturezas. Em que isto me interessa? Se ele traz este nome de Cristo, magnífico e consolador, é por causa da ministério e da tarefa que Ele tomou sobre si... Crer em Cristo não quer dizer que Cristo é uma pessoa que é homem e Deus, o que não serve de nada a ninguém; significa que esta pessoa é Cristo, isto é, aquele que para nós saiu de Deus e veio ao mundo... É deste ofício que Ele tira o seu nome" (Erlangen XXXV-207). Em resumo, Lutero quer dizer que crer em Cristo significa simplesmente crer que Ele é o Salvador e nada mais.

   A fé que salva é a confiança. O homem cheio de temor, de angústia, de horror diante de sua própria miséria, sabendo que não pode fazer outra coisa senão pecar, se lança nos braços de Cristo, seu Salvador e se enche da convicção de que pelo sangue de Cristo está salvo. Crendo que somos salvos por Cristo, estamos salvos.
   [Será que Lutero conseguiu assim eliminar seus escrúpulos?! Veremos no dia do Juízo Final].