LEITURA ESPIRITUAL
"Deus resiste aos soberbos e dá a graça aos humildes! (S.
Tiago IV, 6; 1 S. Pedro V, 5).
Por estas palavras do divino Espírito Santo, podemos
concluir que, sem humildade não se chega ao céu, pois para se salvar é
necessária a graça de Deus. E prestemos bem atenção nestas palavras: "Deus
resiste aos soberbos", porque se, de um lado Deus dá a graça aos humildes,
por outro, RESISTE aos soberbos. Ora, ser resistido por Deus é coisa muito
séria. Donde se, fazendo um exame de consciência, alguém chegar à conclusão que
é orgulhoso deve empregar todo empenho, todos os meios para combater a soberba
e, conseguintemente, adquirir a virtude da humildade. São Gregório escreveu uma
palavra que deveria fazer tremer a todos aqueles que não são humildes: "O
sinal mais evidente da reprovação é o orgulho". Na verdade, quando este
pecado não condena diretamente por si mesmo os homens que o cometem, condena-os
por uma multidão de obras más que nascem dele como de uma fonte envenenada.
Aliás, a característica deste vício capital é a estreita conexão que tem com os
outros vícios. E podemos dizer que assim como a virtude da humildade está
presente em todas as outras virtudes, assim também o orgulho está de uma
maneira ou outra, ligado intrinsecamente a todos os pecados. E lamentamos como
poucas pessoas julgam o orgulho tão nocivo, como efetivamente é. E assim muitos
não o combatem e o acolhem sem desconfiança e pior, há pessoas que, dentro de
certas entidades, confundem-no à fortaleza de alma no escopo de pretensamente
combater o respeito humano. E o demônio empurra tais pessoas para o fanatismo.
E não há quem os possa convencer mesmo citando as Sagradas Escrituras e os
Santos Padres! E esta disposição, que por certo não é rara, é nimiamente
perigosa. Por exemplo: separe-se um homem da Igreja pela heresia, e todos
dizem: "o infeliz perdeu a fé". É verdade, mas antes de perder a fé,
tinha perdido a humildade; e foi por não querer submeter humildemente seu juízo
ao da Igreja, que arvorou o estandarte da rebelião. Que horror, caríssimos, se, esquecendo do nada
que é, o homem se deixar dominar pelo orgulho, odioso vício que o Divino
Salvador tem em especial abominação: "O
que é excelente segundo os homens, é abominação diante de Deus" (S.
Lucas XVI, 15).
Todo o edifício de nossa santificação deve estar construído
sobre um alicerce sólido, sobre a rocha. Esta rocha é o conhecimento de si
mesmo, que leva o homem a fazer-se justiça, a colocar-se no seu lugar, a ser
humilde. A humildade é verdade e é justiça. Vamos explicá-lo: A humildade é o
justo juízo que de nós mesmos fazemos, e segundo o qual pautamos a estima de
nossa própria excelência. Esta virtude faz que, reconhecendo-nos tais como
somos, não nos arroguemos a nós mesmos, nem queiramos que os outros nos
arroguem senão o que nos é legitimamente devido. Se, pois, descobrimos que em
nós não há, como procedente de nós, bem algum, perfeição nenhuma, seja natural
ou sobrenatural, requer a humildade que, restringindo-nos ao nada que é nosso
apanágio, nos remontemos até Deus, a quem é devida toda a honra e glória.
Devemos observar, porém, que ninguém é humilde por haver
compreendido que é nada, que de si próprio nada se tem. Os filósofos da
antiguidade haviam reconhecido esta
verdade, e eram soberbos; a vista da sua baixeza e do seu nada irritava-os e
revoltava-os. O primeiro elemento da humildade é este: reconhecer o nosso nada.
Esta é a verdade. Mas a humildade não é só isto que está na inteligência. Ela
tem sua base na vontade: ela é justiça e assim faz-nos aceitar o que nós
merecemos; leva-nos a comprazer-nos nisso, como no que por justiça nos toca.
Infere-se daqui que a humildade é uma virtude baseada na verdade conhecida,
amada, abraçada com todas as suas consequências, por amor à ordem e à justiça.
Em cima: Fé e humildade do Centurião |
A humildade é o fundamento de todas as virtudes, como o
orgulho a fonte de todos os vícios. Assim, o maior perigo do orgulho não
consiste tanto na falta, que faz cometer contra a humildade, como nas graças,
de que priva, e nos numerosos vícios a que conduz infalivelmente suas vítimas.
Infelizmente a terra está cheia desses mundanos soberbos, que são
verdadeiramente idólatras, e idólatras de si mesmos. Quando estão sós,
concentrados em seu espírito, como em santuário profano, colocam-se em face de
sua própria excelência e, de turíbulo na mão, admiram-se, extasiam-se e gabam-se de seu pretendido mérito,
preferem-se àqueles com quem se comparam, estão ali diante de seu ídolo, como o
selvagem do deserto diante do sol, a quem adora. Pensam só em si mesmos! Deus é
como se não existisse!
Devemos concluir que quanto mais uma pessoa é humilde, tanto
mais é justa, tanto mais é santa, tanto mais é perfeita. Há, portanto, na humildade
tantos graus, como na mesma santidade. No próximo artigo, se Deus quiser,
falaremos dos graus da humildade.
Caríssimos, sejamos humildes, sejamo-lo profundamente.
Expulsemos do nosso espírito todo o pensamento, todo o sentimento que tiver por
origem o orgulho. Esqueçamo-nos de nós mesmos para não pensar senão em Deus.
Oponhamos incessantemente às vãs concepções de nosso orgulho o pensamento de
nossa miséria e de nossa indignidade.
Nosso Senhor Jesus Cristo é o modelo perfeito de todas as
virtudes, mas quis dar toda ênfase sobre a humildade e a mansidão (aliás gêmeas): " Aprendei de mim que sou
manso e humilde de coração!" (S. Mat. XI, 29).
JESUS MANSO E HUMILDE DE CORAÇÃO! FAZEI O MEU CORAÇÃO
SEMELHANTE AO VOSSO! Amém!