domingo, 23 de abril de 2017

AS VESTES À LUZ DA BÍBLIA SAGRADA ( II )



"Por ventura é aos homens que pretendo agradar? Se agradasse aos homens não seria servo de Jesus Cristo" (Gálatas, I, 10).

  Respondendo à algumas objeções

   1ª OBJEÇÃO: Vestes é uma questão secundária. O que importa é o coração.
   RESPOSTA: Vimos já na postagem anterior "As vestes à luz da Bíblia Sagrada ( I )" que Deus não pensou assim. Ele mesmo fez questão de cobrir Adão e Eva com túnicas depois que nossos primeiros pais pecaram (Gênesis, III, 21). Depois, na verdade, nós não dizemos que toda aquela que se veste de acordo com a virtude da modéstia tem forçosamente o coração bom e perfeito, e estará isenta de outras faltas. Em outras palavras, nós não queremos dizer que a modéstia no vestir seja tudo o que a pessoa deve ser, mas é uma das coisas necessárias para se agradar a Deus e até é uma das coisas pelas quais se pode conhecer a pessoa segundo declara a própria Bíblia no livro do Eclesiástico, XIX, 27: "A veste do corpo, o riso dos dentes, e o andar do homem, dão a conhecer o que ele é". Uma coisa é certa: Sob uma veste imodesta e impudica nunca encontraremos uma alma pura. Vimos na postagem anterior sobre as vestes, que a modéstia é exigida por Deus na Sagrada Escritura e é com a convicção de coração no sentido de agradar mais a Deus e com empenho de fazer sempre o que está mais de acordo com a Sua vontade, que a pessoa deve se vestir com modéstia. O que importa é o coração reto que procura fazer o que Deus manda.

   2ª OBJEÇÃO: Este negócio de vestes é relativo. Hoje, vestes que antes eram proibidas, são permitidas e não impressionam mais.
   RESPOSTA: Diz a Bíblia Sagrada: "Os olhos não se fartam de ver" (Eclesiastes I, 8). É a concupiscência dos olhos de que faz menção o livro do profeta Ezequiel, XXIII, 14-16. Esta concupiscência dos olhos leva a pessoa a procurar ver sempre o pior, ou seja, o que é mais sensual. Assim a veste desde que começa a ser menos decente, vai provocando desejos mais perversos. E a sensualidade, embora encontrando o que deseja, nunca se satisfaz. Daí, de um lado, se compreende porque o mundo tende sempre a uma maior imodéstia nas modas. E, por outro lado, entende-se porque a Igreja sempre lutou por uma maior modéstia nos trajes. E antigamente exigia-se até mais do que o mínimo para impedir que as vestes fossem piorando sempre mais. E, a medida que o progressismo foi dando liberdade, a coisa foi só piorando e vai piorar mais se todos os padres da Igreja não voltarem a combater a imodéstia como a Igreja sempre fez. Dizem que tudo é natural. Mas pelos frutos se conhece a árvore. O que nós estamos vendo é uma sociedade cada vez mais entregue aos pecados da carne. É o desprezo completo pelos mandamentos de Deus, que, no entanto, continuam e continuarão de pé. É o que diz o Salmo CX, 8: "Todos os Seus mandamentos (Senhor) são imutáveis, confirmados em todos os séculos, fundados na verdade e na equidade".

   3ª OBJEÇÃO: Mas é muito difícil seguir estas normas da modéstia. Impondo-as, vai ficar um número muito pequeno na igreja.
   RESPOSTA: Quanto a ser difícil nós não negamos. Jesus mesmo já dissera: "O Reino do Céus padece violência, e só os violentos é que o arrebatam" (São Mateus, XI,12). Quanto a ser um número pequeno o daqueles que seguem as normas da modéstia, nós devemos primeiramente observar que: se todos os padres, baseados na Sagrada Escritura e na Tradição da Igreja, ensinassem a modéstia, os fiéis se convenceriam melhor e o número seria maior, embora continuasse a ser minoria em relação aos maus. Nosso Senhor Jesus Cristo já disse: "Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição e muitos são os que entram por ela. Quão estreita é a porta e apertado o caminho que conduz à vida e quão poucos são os que dão com ele!" (São Mateus, VII, 13 e 14). Jesus é o caminho a verdade e a vida (São João, XIV, 6). Compreende-se que o caminho do céu e estreito quando se pensa naquela palavra de São Paulo na Epístola aos Gálatas, V, 24: "Aqueles que são de Jesus Cristo crucificaram a sua carne com os seus vícios e concupiscências"
   A História Sagrada confirma o que acabamos de dizer sobre o pequeno número: Quando Deus destruiu a humanidade pelo dilúvio, só oito pessoas se encontraram fiéis a Deus e se salvaram. O resto se entregara aos pecados da carne. Confira Gênesis capítulos VI e VII. Quando Deus destruiu as cidades de Sodoma e Gomorra só quatro pessoas se salvaram, porque só elas não tinham se contaminado pela homossexualidade. Leia na Sagrada Escritura o capítulo XIX do livro do Gênesis.
  
   4ª OBJEÇÃO: Mas Deus é pai e não vai exigir tanto sacrifício e nem vai castigar alguém por seguir a moda.
   RESPOSTA: Bom! Primeiramente, é necessário deixar bem claro que Deus não proíbe seguir a moda. Já vimos que Santo Tomás de Aquino, cintando inclusive Santo Agostinho, diz que se deve seguir o costume de cada país. Mas já vimos outrossim que a  Bíblia Sagrada  condena unicamente a moda que não seja conforme a decência. Condena também a moda,(mesmo decente), mas que é usada com travestimento.
   Vimos nas Sagradas Escrituras que Deus castigou várias vezes os homens por causa dos pecados da carne. E São Pedro diz que estes castigos foram para servir de exemplo àqueles que venham viver também impiamente segundo a imunda concupiscência. (2 São Pedro, II, 4-10). Vimos, também, que aqueles que desejarem ser de Jesus Cristo têm que renunciarem a si mesmos, aos seus vícios e concupiscência. (Gálatas, V, 24).
   Porque Deus é Pai bondoso e paciente eu não vou ofendê-Lo, mas, pelo contrário, devo procurar a Sua vontade e segui-la. "Quem me ama, disse Jesus, guarda os meus mandamentos". "Quem é meu amigo procura fazer o que eu mando" (São João, XIV, 15 e XV, 14).
   Os que querem seguir esta mentalidade progressista de que Deus é pai e não castiga ninguém e por isso posso fazer o que quero, ouçam o que diz a Bíblia Sagrada em Eclesiástico, V, 2 a 9: "Não te abandones na tua fortaleza,  aos  maus desejos de teu coração; e não digas: Como sou poderoso! Quem poderá obrigar-me a dar-lhe conta das minhas ações? Porque Deus certamente se vingará delas. Não digas: Eu pequei e que mal me veio daí? Porque o Altíssimo, ainda que paciente, é justiceiro, Não estejas sem temor da ofensa que te foi perdoada, e não amontoes pecados sobre pecados.E não digas: A misericórdia do Senhor é grande, Ele se compadecerá da multidão dos meus pecados. Porque a Sua misericórdia e a Sua ira estão perto uma da outra, e Ele olha para os pecadores na sua ira. Não tardes em te converter ao Senhor, e não o difiras de dia para dia porque virá de improviso a Sua ira." Confira também Epístola aos Romanos, II, 4: "Ou desprezaste as riquezas da Sua bondade e paciência e longanimidade? Ignoras que a bondade de Deus te convida à penitência?"
  
   5ª OBJEÇÃO: Mas se a gente não seguir a moda, as pessoas do mundo zombam e chama a gente de atrasada, cafona etc.
   RESPOSTA: Primeiramente, sempre resta uma moda decente; pois os criadores das modas querem o dinheiro de todo mundo, assim como os políticos querem de todo mundo, os votos. Mas, mesmo na hipótese de não haver nenhuma moda  decente no país, devemos estar dispostos a sofrer zombarias por amor a Jesus. O fato é que não podemos ser do mundo, porque a Sagrada Escritura diz a todas as classes de pessoas; "Não ameis o mundo, nem as coisas que há no mundo" (1 de São João, II, 15). O fato de o mundo zombar daqueles que seguem a Jesus, isto sempre existiu. Jesus mesmo disse: "Porque não sois do mundo, o mundo vos aborrece" (São João XV, 19). São Paulo também diz: "Aqueles que querem viver piamente em Jesus Cristo, sofrerão perseguição" (2 Timóteo, III, 12). Já os Apóstolos pela pregação da fé, e os cristãos por permanecerem firmes nesta fé, foram objeto de zombarias e de toda espécie de sofrimentos. Confira Atos dos Apóstolos, XVII, 32 a 34; e Hebreus, XI, 36 a 40; e 1 São Pedro, IV, 4. Medite, entretanto, no que disse o Divino Mestre, Nosso Senhor Jesus Cristo: "No meio desta geração adúltera e pecadora, quem se envergonhar de mim e de minhas palavras, também o Filho do Homem se envergonhará dele quando vier na glória de Seu Pai com os santos anjos" (São Marcos, VII, 38).

   6ª OBJEÇÃO: Mas a Igreja tem que seguir o progresso; se adaptar aos novos tempos; não pode ficar parada no tempo e nos espaço.
   RESPOSTA: Esta objeção faz parte da doutrina modernista, hoje praticada pelos progressistas, mas já condenada anteriormente por São Pio X.
   O progresso nas coisas boas, a Igreja nos ensina a procurar sempre. Em outras palavras: a Igreja deve levar os homens ao progresso no bem. Isto sim! Porque Jesus fez a Igreja para ser o sal da terra e a luz do mundo. Para a Religião ser verdadeira e ter firmeza, a quem se deve seguir? A Jesus ou aos homens? É claro que se deve seguir a Jesus. Eis o que diz São Paulo: "Porventura é aos homens que eu pretendo agradar? Se agradasse aos homens, não seria servo de Cristo" (Gálatas, I, 10). Diz ainda a Sagrada Escritura: "Jesus Cristo é sempre o mesmo, ontem, hoje e o será por todos os séculos. Não vos deixeis levar por doutrinas várias e estranhas" (Hebreus, XIII, 8 e 9).

Nossa Senhora revelou à Jacinta, vidente de Fátima: "VÃO APARECER MODAS QUE OFENDERÃO MUITO O MEU DIVINO FILHO".

sábado, 22 de abril de 2017

A IGREJA E O MUNDO (III)

A IGREJA E O MUNDO (III)
"Não ameis o mundo nem as coisas do mundo. Se alguém ama o mundo não há nele o amor do Pai, porque tudo o que há no mundo é concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e soberba da vida".

D. Antônio de Castro Mayer, de saudosa memória, em sua CARTA PASTORAL "AGGIORNARMENTO" E TRADIÇÃO escreveu em 1971 que o esforço na adaptação ("aggiornamento") foi além da simples expressão mais ajustada à mentalidade contemporânea. Declara que, em largos meios eclesiásticos, este "aggiornamento" atingiu a própria SUBSTÂNCIA  da Revelação. Diz D. Mayer: "Não se cuida de uma exposição da verdade revelada, em termos em que os homens facilmente a entendam; procura-se, por meio de uma linguagem ambígua e rebuscada, mais propriamente, propor uma nova Igreja, ao sabor do homem formado segundo as máximas do mundo de hoje. Com isso, difunde-se, mais ou menos por toda parte, a ideia de que a Igreja deve passar por uma mudança radical, na sua Moral, na sua Liturgia, e mesmo na sua Doutrina".

Fico a imaginar que quando o Papa João XXIII, anunciou um Concilio, e este pastoral e para fazer "aggiornamento" (o verdadeiro sentido dado pelo Papa, certamente entrou num ouvido e saiu pelo outro) os modernistas esfregaram as mãos e disseram: "Ou agora ou nunca mais; o prato não podia estar melhor pronto para nós mudarmos esta Igreja 'fechada e ultrapassada'!!!" E pior: são unidos e incansáveis nesta tarefa diabólica! Talvez não ousaram imaginar o que infelizmente está acontecendo: um Papa a seu favor, diametralmente oposto a S. Pio X. Atualmente é o reinado das trevas, mas como eclipse. Por fim Nosso Senhor Jesus Cristo dará um basta ao Modernismo, ao Comunismo e ao Liberalismo  e triunfará o Imaculado Coração de Maria e teremos o Reinado do Sacratíssimo Coração de Jesus. Tenhamos fé, pois, a Igreja é divina!

Feita esta introdução, vamos ver como a verdadeira Igreja, (não a  modernista) mas a tradicional, age em relação ao MUNDO, no sentido dado pelo texto em apreço.

A Igreja Tradicional, sempre baseada na Sagrada Escritura e na Tradição, combate o mundo ( no sentido exposto acima) e adverte os homens contra os seus perigos e as suas seduções. Ela admite e elogia os legítimos progressos da ciência e da sociedade. Aliás a Igreja deu grandes cientistas e homens célebres à sociedade. A doutrina e moral de Nosso Senhor Jesus Cristo, no entanto, são perfeitas, e como tais, não podem sofrer adições, subtrações, alterações ou transformações. Podem sim esclarecer-se. É como um ser vivo que se desenvolve e aperfeiçoa, porém na mesma natureza, que faz com que o indivíduo seja sempre o mesmo.

Apenas um parêntese: Antigamente dizia-se simplesmente SANTA MADRE IGREJA, todos sabiam que se tratava da única e verdadeira Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo. Hoje, dominando na Igreja os Modernistas, faz-se mister adicionar a qualificação TRADICIONAL, em oposição à ala progressista, que, como diz D. Mayer na citação acima, "procura-se propor uma nova Igreja, ao sabor do homem formado segundo as máximas do mundo de hoje".

A Igreja Tradicional procura ver o que disse Jesus Cristo, que disseram os Apóstolos e os seus sucessores sobretudo os santos, no decorrer dos séculos.

1. QUE DISSE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO?

a) Jesus afirma que Ele não é do mundo e que seus seguidores também não são do mundo: Na oração ao Pai: "Dei-lhes a tua palavra e o mundo os odiou, porque não são do mundo, como também Eu não sou do mundo. Não peço que os tires do mundo, mas que os guarde do mal. Eles não são do mundo, como também eu não sou do mundo" (S. João, XVII, 14-16). Após a Última Ceia, dirigindo-Se aos seus discípulos:  "Se o mundo vos aborrece, sabei que primeiro do que a vós me aborreceu a mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque vós não sois do mundo[...] por isso o mundo vos aborrece" (S. João, XV, 18 e 19).

b) Jesus afirma que venceu o mundo: "Haveis de ter aflições no mundo, mas tende confiança, eu venci o mundo" (S. João, XVI, 33).

c) Jesus afirma que a sua paz não é a mesma do mundo: "Deixo-vos a paz: dou-vos a minha paz; não vo-la dou como a dá o mundo" (S. João, XIV, 27).

d) Jesus explicando a parábola do semeador, disse que são os cuidados do mundo com seus deleites desordenados e a ilusão das riquezas que impedem o homem de se converter quando ouve a palavra de Deus: "Os que recebem a semente entre os espinhos são aqueles que ouvem a palavra; mas as solicitudes do mundo e a ilusão das riquezas e os afetos desordenados, entrando, afogam a palavra e ela fica infrutuosa" (S. Marcos, IV, 18).

e) Jesus fala contra os escândalos e na necessidade da mortificação: "Ai do mundo por causa dos escândalos! Porque é inevitável que sucedam escândalos, mas ai daquele homem por quem vem o escândalo! Por isso, se a tua mão ou o teu pé te escandaliza, corta-o e lança-o fora de ti; melhor te e entrar na vida com um pé ou mão a menos, do que, tendo duas mãos e dois pés, ser lançado no fogo eterno" (S. Mateus, XVIII, 7-9).

f) Jesus exige abnegação, penitência e renúncia do mundo: "E chamando a si o povo com seus discípulos, disse-lhes: Se alguém me quer seguir, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Porque o que quiser salvar a sua vida[neste mundo]a perderá [a eterna]; mas o que perder a sua vida por amor de mim e do Evangelho, a salvará. Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro se perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca pela sua alma? No meio desta geração adúltera e pecadora, quem se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos" (S. Marcos, VIII, 34-38).

g) Jesus no sermão da montanha mostra as suas máximas que são diametralmente opostas à máximas do mundo: Caríssimos, aconselho que leiam e meditem este sermão do Divino Mestre, sermão este que o Evangelista São Mateus relata nos capítulos 5º, 6º e 7º.

2. QUE DISSERAM OS APÓSTOLOS SOBRE O MUNDO?

SÃO JOÃO EVANGELISTA: "Eu vos escrevo, jovens, porque sois fortes, e porque a palavra de Deus permanece em vós e porque vencestes o maligno. Não ameis o mundo nem as coisas do mundo. Se alguém ama o mundo não há nele o amor do Pai, porque tudo o que há no mundo é concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e soberba da vida, e isto não vem do Pai, mas do mundo. Ora o mundo passa, e a sua concupiscência com ele, mas o que faz a vontade de Deus permanece eternamente" (1 S. João, II, 14-17). Hoje se dirigem aos jovens (JMJ) com linguagem bem diferente!!!

SÃO PAULO: "E não vos conformeis com este século (=mundo), mas reformai-vos com o renovamento do vosso espírito, para que reconheçais qual é a vontade de Deus, boa, agradável e perfeita" (Rom. XII, 2). "Digo-vos pois: andai segundo o espírito de Deus e não satisfareis os desejos da carne. Porque a carne tem desejos contrários ao espírito, e o espírito desejos contrários à carne; porque estas coisas são contrárias entre si, para que não façais tudo aquilo que quereis. As obras da carne são manifestas: são o adultério, a fornicação, a impureza e a luxúria, a idolatria, os malefícios, as inimizades, as contendas, as rivalidades, as iras, as rixas, as discórdias, as seitas, as invejas, os homicídios, a embriaguez, as glutonarias e outras coisas semelhantes, sobre as quais vos previno, como já vos disse, que os fazem tais coisas não possuirão o reino de Deus"  (Gálatas, V, 16, 17 e 19-21). "Nem sequer se nomeie entre vós a fornicação ou qualquer impureza ou avareza como convém a santos; nem palavras torpes, nem loucas nem chocarrices que são coisas inconvenientes" (Efésios, V, 3-6). "Não vos deixeis seduzir; as más conversações corrompem os bons costumes". "Não reine, pois, o pecado no vosso corpo mortal de maneira que obedeçais às suas concupiscências" (Romanos, VI, 12). "E vós estáveis mortos pelos vossos delitos e pecados nos quais andastes outrora, segundo o costume deste mundo, segundo o príncipe que exerce o poder sobre este ar, espírito que agora domina sobre os filhos da incredulidade entre os quais também todos nós vivemos outrora, segundo os desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e da concupiscência e éramos por natureza filhos da ira como todos os outros"  (Efésios, II, 1-3). "Aqueles que são de Jesus Cristo crucificaram a sua carne com os seus vícios e concupiscências" (Gálatas, V, 24).

SÃO PEDRO: "Por Ele mesmo [Jesus] nos deu as maiores e mais preciosas promessas a fim de que por elas vos torneis participantes da natureza divina, fugindo da corrupção da concupiscência que há no mundo" (2 S. Pedro, I, 4). "Caríssimos, rogo-vos que, como estrangeiros e peregrinos, vós abstenhais dos desejos carnais que combatem contra a alma" (1 S. Pedro II, 11).

SÃO TIAGO: "Adúlteros, não sabeis que a amizade deste mundo é inimiga de Deus? Portanto, todo aquele que quiser ser amigo deste século constitui-se inimigo de Deus (S. Tiago, IV, 4). "A religião pura e sem mácula aos olhos de Deus e nosso Pai é essa: visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições, e conservar-se puro da corrupção deste mundo" (S. Tiago, I, 27).

A Teologia Moral tradicional sempre ensinou que temos obrigação de fugir das ocasiões perigosas; ambientes onde reinam a imoralidade e a imodéstia por causa da concupiscência dos olhos e da carne: "Quem ama o perigo morre nele" (Eclesiástico, III, 27). Daí também o conselho de Nosso Senhor Jesus Cristo: "Vigiai e orai para não cairdes em tentação" (S. Marcos, XIV, 38). "Não frequentes o trato com a bailarina, nem a ouças, para que não suceda pereceres à força de seus atrativos (...). "Não deixes errar os olhos pelas ruas da cidade, nem andes  vagueando pelas suas praças. Afasta os teus olhos da mulher enfeitada, e não olhes com curiosidade para a formosura alheia. Por causa da formosura da mulher pereceram muitos, e por ela se acende a concupiscência como fogo" (Eclesiástico, IX, 4, 7-9).

Aquelas que vivem em excessos de vaidades e na imodéstia devem meditar no seguinte: Se a Sagrada Escritura tem tão detalhadas e exigentes advertências contra os perigos da simples vaidade e atrativos femininos quanto mais não será exigente em relação a maldade da imodéstia feminina. Jesus disse: "Ai da pessoa que der escândalos!"

Por outro lado, aquelas pessoas que possam ficar perturbadas diante destes textos, já que são obrigadas a viver num mundo tão corrupto, queremos esclarecer que este texto da Bíblia adverte o homem contra a maldade de procurar o mal e se expor voluntariamente ao perigo. Mas se nós guardamos no coração a vontade decidida de não ofender a Deus, embora tendo que trabalhar em ambientes perigosos, tendo que andar nas ruas e praças das cidades e até que tratarmos com pessoas perigosas , nós não pecamos mesmo sendo inevitável a vista de muitas imoralidades e imodéstias, porque de um lado não procuramos estas coisas e por outro, quando se apresentam, não aceitamos. Procurar, então, mortificar a vista o quanto for possível e Deus nos dará a graça suficiente para não nos contaminarmos. E assim não perdemos também a alegria do espírito.

Coisa bem diferente é quando a pessoa procura o mal como por exemplo: se alguém sai às ruas e praças sem necessidade e já com o intuito de procurar ver o que não deve, ou vai ao baile (que foi sempre perigoso e hoje deixou de ser sem maldade), se vai ao carnaval etc., nestes casos já pecou, porque aceitou a maldade no coração. Os modernistas dizem que o que manda é o coração; os tradicionalistas dizem: sim, o que manda é o coração reto que procura fazer o que Deus manda, e evitar o que Ele proíbe.


sexta-feira, 21 de abril de 2017

A IGREJA E O MUNDO (II)


"Não ameis o mundo nem as coisas do mundo. Se alguém ama o mundo não há nele o amor do Pai, porque tudo o que há no mundo é concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e soberba da vida, e isto não vem do Pai, mas do mundo" ( 1 S. João, II, 15 e 16).

Desde o Concílio Vaticano II que vem se instalando e se avolumando uma desastrosa revolução dentro da Santa Madre Igreja. Na época em que escrevi este artigo já se falava em uma Nova Igreja, com uma Moral Nova e uma Liturgia Nova. Tudo mudou no sentido em que os Modernistas sempre tanto almejavam. Tivemos a grande graça de sermos orientados por um Bispo, sábio, humilde, homem de oração e de penitência, D. Antônio de Castro Mayer. Em abril de 1971 escrevia ele, citando Paulo VI: "muitos fiéis se sentem perturbados na sua fé por um acumular-se de ambiguidades, de incertezas  e de dúvidas, que atingem essa mesma fé no que ela tem de essencial. Estão neste caso os dogmas trinitário e cristológico, o mistério da Eucaristia e da Presença Real, a Igreja como instituição de salvação, o ministério sacerdotal no seio do Povo de Deus, o valor da oração e dos Sacramentos, as exigências morais que dimanam, por exemplo da indissolubilidade do matrimônio ou do respeito pela vida. Mais: até a própria autoridade divina da Escritura chega a ser posta em dúvida, em nome de uma 'desmitização radical" (Exortação Apostólica de Paulo VI, A.A.S., 63, p. 99). Comentando estas palavras do Papa Paulo VI, diz D. Mayer: "Como vedes, amados filhos, a crise na Igreja não poderia ser mais profunda. Lendo as palavras do Papa, nós nos perguntamos: que ficou de intacto no Cristianismo? pois, se não há certeza sobre o dogma trinitário, mistério fundamental da Revelação cristã, se pairam ambiguidades sobre a Pessoa adorável do Homem-Deus, Jesus Cristo, titubeia-se diante da Santíssima Eucaristia, se não se entende a Igreja como instituição de salvação, se não se sabe a que o Sacerdote entre os fiéis, nem há segurança das obrigações morais, se a oração não tem valor, nem a Sagrada Escritura, que há de Cristianismo, de Revelação cristã? (...) Depois D. Mayer mostra que havia um empenho por construir uma nova Igreja psicológica e sociológica: "Tanto mais, escreve o ínclito Bispo, quanto a Exortação do Santo Padre deixa entrever que há uma verdadeira conspiração para demolir a Igreja. É o que se deduz do trecho seguinte ao acima citado, no qual o Pontífice observa que às dúvidas, ambiguidades e incertezas na exposição positiva do dogma, somam-se o silêncio "sobre certos mistérios fundamentais do Cristianismo" e a "tendência para construir um novo cristianismo a partir de dados psicológicos e sociológicos" no qual "a vida cristã esteja destituída de elementos religiosos"(p. 99). Há, pois, continua D. Mayer, entre os fiéis, um movimento de ação dupla convergente para a formação de uma nova Igreja, que só pode ser uma nova falsa religião; de um lado, criam-se incertezas sobre os mistérios revelados; de outro, estrutura-se uma vida cristã ao sabor do espírito do século". (Carta Pastoral, "Aggiornamento e Tradição", L. "Por um Cristianismo Autêntico, p. 358 e 359).

Feita esta introdução, vamos agora ver o modo de agir dos modernistas em relação ao mundo.

No texto último citado, no fim diz D. Antônio de Castro Mayer: "Estrutura-se uma vida cristã ao sabor do espírito do século". SÉCULO é sinônimo de MUNDO no sentido explicado no texto em apreço.

É de todos evidente como a postura dos modernistas e dos tradicionalistas na Igreja, em relação ao mundo, é muito diferente. Os modernistas não se preocupam em combater o mundo; em advertir os féis contra suas máximas, seus perigos, suas seduções. O que é preciso, dizem eles, é satisfazer à mentalidade moderna. Dizem que a Igreja para não soçobrar precisa acomodar sua doutrina ao mundo de hoje. Não pode ficar parada no tempo e no espaço. Esta igreja nova estabelece a religião do homem e elimina tudo quanto possa significar uma imposição à liberdade ou uma repressão à espontaneidade humana. Desconhece assim a queda original e extenua a noção de pecado. Faz esquecer a austeridade cristã, não fala em penitência. Tem toda indulgência para o prazer mesmo venéreo, para os pecados da carne. Na vida conjugal e familiar, a religião do homem sobrepõe o prazer ao dever. Os filhos são considerados como um fardo pesado. Justificam os métodos anticoncepcionais. A moral nova é indulgente e até favorável a homossexualidade, e a co-educação. A imodéstia nos trajes, a frequentação de ambientes perigosos e pecaminosos, como: carnaval, praias, piscinas, bailes; os namoros mais indecentes e avançados, tudo isso é olhado com muita indulgência pela moral-nova da ala progressista. E como os homens ou procedem como pensam ou terminam pensando de acordo com seu procedimento, numa sociedade toda ela mergulhada na sensualidade, começam a perder a noção do bem e do mal (hoje já perderam) e a criar para si uma moral subjetiva que lhes não censure a conduta irregular. Daí a ojeriza a tudo que lhes avive a consciência do estado moralmente deplorável.  Parece que os modernistas querem tranquilizar as consciências no pecado. Como as consciências, na maioria talvez, já estejam cauterizadas, vão se familiarizando como o pecado, com os ambientes e costumes pecaminosas e bebem o pecado como por brincadeira, "per risum": "É um divertimento para o louco fazer o mal" (Prov. X, 23).

Por isto, a sociedade de hoje não tolera que se lhe fale no inferno, que se lhe lembre que o demônio existe e é o príncipe deste mundo. Não gosta que se fale em castigos. Como gostaria que tudo isso não passasse de ilusões, quer viver como se nada disso tivesse consistência. Faz como a avestruz que esconde a cabeça na areia para não ver o perigo. E além do mais, os fautores e seguidores desta moral nova dos modernistas se colocam do lado do mundo, e nisto não são incomodados pela imprensa, televisão, rádio e hoje, Internet (Mídia), mas, pelo contrário, recebem todo apoio destes meios de comunicação que, na maioria das vezes,(ainda bem que a Internet tem sua aplicação para o bem, só depende de cada um) são, na verdade, agentes do mundo. Os próprios sacerdotes da ala modernista deixam a batina e até o clergiman e se sentem assim mais à vontade no mundo participando de ambientes dissipantes e até pecaminosos. Jesus Cristo ia à casa de pecadores para convertê-los, mas estes vão a ambientes onde se cometem pecados, e os pecadores ficam ainda mais confirmados em sua enganosa tranquilidade de consciência . Mas sua verdadeira conversão torna-se menos viável.

No próximo artigo, se Deus quiser, falaremos do modo de agir da verdadeira Igreja, ou seja dos que seguem a Sagrada Escritura, segundo a interpretação dos Santos Padres, ensinamento este transmitido pelo Magistério vivo, perene e infalível da Igreja. Amém!

quinta-feira, 20 de abril de 2017

A IGREJA E O MUNDO (I)


"Não ameis o mundo nem as coisas do mundo" (1 João, II, 15).

Escrevi este artigo quando ainda seminarista, ou mais precisamente, há 45 anos. Mostrei-o à S. Ex.cia Rev.ma D. Antônio de Castro Mayer, de santa memória, que, então,  bondosamente o leu e deu a sua aprovação.

 Hoje, vemos como os modernistas, mais do que nunca, dominando na Igreja, fazem uma mistura das coisas sagradas com as mundanas, como foi o fato sacrílego acontecido no carnaval deste ano em São Paulo, quando o Cardeal Odilo Pedro Scherer permitiu que o bloco carnavalesco União de Vila Maria, sob pretexto de homenagear os 300 anos do encontro da Imagem de Nossa Senhora Aparecida, misturasse samba com cânticos religiosos, e colocasse a imagem de Nossa Senhora Aparecida, inclusive com o manto e coroa bentos por um padre do Santuário de Aparecida, colocasse, digo, num ambiente o mais mundano e pecaminoso possível, que é o carnaval, máxime o do Brasil. Assim sendo, achei por bem publicar este artigo. Oxalá as almas possam ver onde está a verdadeira doutrina de Nosso Senhor, e, outrossim, vejam como os modernistas são realmente os maiores inimigos da Igreja.

Feita que foi esta introdução, vamos iniciar as nossas reflexões sobre este texto das Sagradas Escrituras, acima enunciado.

Demos, em primeiro lugar, a noção correta de MUNDO, sentido este expresso no texto em apreço e nos muitos outros que aqui citaremos.

Tomamos aqui o termo MUNDO  não enquanto significa as obras da criação ou o conjunto das pessoas que vivem na terra (bons e maus), mas enquanto significa o complexo daqueles que são escravos da tríplice concupiscência e cujas máximas são contrárias às de Jesus Cristo. Mundo neste último sentido é explicado pelo Apóstolo São João na sua Primeira Epístola: "Não ameis o mundo nem as coisas do mundo. Se alguém ama o mundo não há nele o amor do Pai, porque tudo o que há no mundo é concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e soberba da vida, e isto não vem do Pai, mas do mundo. Ora o mundo passa, e a sua concupiscência com ele, mas o que faz a vontade de Deus permanece eternamente" (1 João, II, 15-17). 

Baseados sempre nas Sagradas Escrituras e na Tradição, vamos explicar esta definição do mundo dada por S. João Evangelista.

1. CONCUPISCÊNCIA DA CARNE: Sobre ela eis o que diz São Paulo: Caminhemos como de dia, honestamente; não caindo em glutonarias e na embriaguez, não em desonestidades e dissoluções; não em contendas e emulações, mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não vos ocupeis da carne em suas concupiscências" (Rom. XIII, 13 e 14). "Caminhemos como de dia, honestamente". As obras dos filhos das trevas são feitas comumente à noite. São todas as desonestidades provenientes da concupiscência da carne. É o amor desordenado dos prazeres dos sentidos. Em primeiro lugar o amor sensual ou luxúria, espalhado por todo o corpo: ver, ouvir, falar, fazer tudo aquilo que acende e alimenta as chamas do amor impuro. Também os excessos no comer e beber e a moleza da vida.

Em outras passagens, o Apóstolo mostra como devem agir os "filhos da luz": Aqueles que são de Jesus Cristo, crucificaram sua carne com seus vícios e concupiscências" (Gálatas, V, 24). Caríssimos, vede que S. Paulo não diz: "crucificaram seus vícios e concupiscências", mas "sua carne com seus vícios e concupiscências". O bom médico vai à raiz do mal. A carne, depois do pecado original, é a raiz dos males.

Ouçamos ainda S. Pedro, o primeiro Papa: "O Senhor sabe livrar os justos da tentação e reservar os maus para o dia do juízo a fim de serem atormentados, principalmente aqueles que vão atrás da carne na imunda concupiscência" (1 Pedro, II, 9 e 10).

2. CONCUPISCÊNCIA DOS OLHOS: Compreende duas coisas: a) a curiosidade doentia ou seja o desejo imoderado de ver, ouvir e conhecer o que se passa no mundo, alimentando e excitando assim a sensualidade. Neste sentido eis o que diz o Espírito Santo nas Sagradas Escrituras: "Ooliba [figura da corrupção de Jerusalém] foi aumentando sempre a fornicação porque tendo visto alguns homens pintados na parede, umas imagens dos caldeus delineadas com cores... pela concupiscência dos seus olhos concebeu por eles uma paixão louca"  (Ezequiel, XXIII, 14 e 16). "Os olhos não se fartam de ver..." (Eclesiastes I, 8). "Eu(Jesus), porém, digo-vos que todo o que olhar para uma mulher, cobiçando-a já cometeu adultério com ela no seu coração" ( S. Mateus V, 28). 

Como a concupiscência vem do mundo, este promove tudo aquilo que provoca e fomenta a concupiscência dos olhos, e através desta, a concupiscência da carne, como por exemplo: revistas pornográficas, filmes, novelas e espetáculos imorais, bailes, imodéstia no vestir, sobretudo em certos ambientes como praias, piscinas, e festas mundanas, sobressaindo entre elas o Carnaval (máxime aqui no Brasil), namoros indecentes mesmo em público, (assim eu escrevia há 45 anos, e hoje? nem preciso dizer o que são!). Entra ainda o papel da televisão, do cinema, da maioria dos jornais e hoje máxime da Internet usada para o mal, como veículos de propagação destas imoralidades.

b) A concupiscência dos olhos pode ser interpretada também como o amor desordenado do dinheiro, ou avareza. Com efeito, o dinheiro, ou apegando o homem a terra e afastando seu pensamento de Deus ou provocando o luxo e o comodismo, oferece maior facilidade para tudo aquilo que fomenta a concupiscência dos olhos e promove a concupiscência da carne. Aliás é por aí que o demônio começa como ensina S. Paulo: "Os que querem enriquecer caem na tentação e no laço do demônio e em muitos desejos inúteis e perniciosos que submergem os homens na morte e na perdição. Com efeito a raiz de todos os males é o amor do dinheiro" (1 Timóteo, VI, 9 e 10). Jesus disse: "Não procureis (com cuidados excessivos) o que haveis de comer e beber e não andeis com espírito preocupado. Porque são os homens do mundo que buscam todas estas coisas" (S. Lucas, XII, 29). E explicando a parábola do semeador diz ainda: "A semente que caiu entre espinhos, representa aqueles que ouviram a palavra, porém, vão e ficam sufocados pelos cuidados do mundo, pelas riquezas e prazeres desta vida e não dão fruto" (S. Lucas, VIII, 14).

Eis como a Sagrada Escritura fala da concupiscência dos olhos tomada no sentido de AVAREZA: "O olho do avaro não se sacia com uma porção injusta; não se fartará, enquanto não tiver consumido e secado a sua vida. O olho mau tende para o mal, e não se saciará de pão, mas estará faminto e melancólico à mesa" (Eclesiástico, XIV, 9 e 10).

3. A SOBERBA DA VIDA: É o orgulho. É primeiramente a vaidade mais vulgar que gosta da ostentação e do luxo. O dinheiro ajuda a soberba. Esquecido de Deus e entregue a si mesmo, o homem considera-se o seu próprio deus. Daí vêm: avareza, espírito de independência, egoísmo, vã complacência, vanglória, jactância, ostentação, hipocrisia etc.. O homem orgulhoso confia em si mesmo; por isso se expõe aos perigos, aos ambientes mundanos, não aceita uma norma de vida, um moral fora e acima dele. Ele mesmo é o árbitro de suas ações, ele é que determina a sua moral, o seu modo de agir. Em uma palavra: ele faz a sua religião. Compreende-se assim facilmente com o orgulhoso, que, na verdade, é rejeitado por Deus, tem o caminho aberto para toda concupiscência, entregando-se aos pecados e baixezas da carne, o que aliás constitui um castigo de seu próprio orgulho.

Vejamos apenas alguns textos da Sagrada Escritura sobre a soberba da vida: "Mas vós, pelo contrário, elevai-vos na vossa soberba" (S. Tiago, IV, 16). "O princípio da soberba do homem é afastar-se de Deus" (Eclesiástico, X, 14). "Não há coisa mais detestável do que o avarento. Por que se ensoberbece a terra e a cinza? "Tua arrogância enganou-te, assim como a soberba do teu coração" (Jeremias, CLIX, 16).

O mundo, que tem como príncipe o demônio (Cf. S. João, XII,31; XIV, 30; XVI, 11).  ) e por estandarte a tríplice concupiscência, como age? Caríssimos, depois da queda original a natureza humana é inclinada para a concupiscência que atrai e alicia, e esta é alimentada pelo mundo que por sua vez é governado pelo demônio. Estes são os três inimigos das nossas almas: o mundo, a carne, e o demônio. Eis a explicação dada pelo próprio Espírito Santo através de S. Tiago: " Cada um é tentado pela sua própria concupiscência que atrai e alicia. Depois a concupiscência quando concebeu dá à luz o pecado" (S. Tiago, I, 14). S. João diz por sua vez: "Aquele que comete o pecado é filho do demônio, porque o demônio peca desde o princípio" (1 S. João, III, 8). E no capítulo V, 19 diz: "Sabemos que somos de Deus, mas o mundo está sob o maligno". Nosso Senhor Jesus Cristo na parábola do joio explicou que é o demônio o homem inimigo que suscita os maus sobre a terra (Cf. S. Mateus, XIII, 39).

O mundo então através da tríplice concupiscência e excitado pelo demônio persegue os bons de duas maneiras:

 1 - Seduzindo-os através de suas vaidades e prazeres; promove, como vimos acima, tudo aquilo que favorece os olhares lascivos e enlaces sensuais, mas apresenta tudo isso como coisas necessárias para fomentar o amor; como úteis para a saúde, recreações, higiene, etc.. E assim, procura enganar as consciências. Depois o mundo elogia os que sabem gozar a vida. Prega o amor desordenado do prazer: "Coroemo-nos de rosas antes que elas murchem" (Sab. II, 8). É um dever sagrado, dizem os mundanos, aproveitar a mocidade, gozar a vida. O mundo seduz ainda pelos seus maus exemplos. Com mostra a trilhar o caminho largo, apresenta como argumento supremo a maioria. Todos os mandamentos se resumem neste: todo mundo faz assim; é a moda, etc..

2 - Quando não pode seduzir os bons, o mundo trata de os aterrar movendo-lhes perseguições: Assim, desviam-se da prática da religião os tímidos, metendo a riso os devotos, os que fazem penitência, os "ingênuos" que acreditam em dogmas imutáveis, motejam das mães que têm muitos filhos, e que vestem modestamente suas filhas, zombam daqueles que fogem dos ambientes perigosos: como bailes, praias, piscinas, carnaval, etc..

Já disse a Sagrada Escritura: "Aqueles que querem viver piedosamente sofrerão perseguição" (2 Timóteo, III, 11).

Diante da opressão que o mundo lhes faz, consolem-se com o diz a Sagrada Escritura: Em realidade se Deus não perdoou ao mundo antigo; mas somente salvou com outros sete a Noé, pregador da justiça, quando fez vir o dilúvio sobre o mundo dos ímpios, e se condenou a uma total ruína as cidades de Sodoma e Gomorra, reduzindo-as as cinzas para servir de exemplo aqueles que venham a viver impiamente, se, enfim, livrou o justo Lot oprimido pelas injúrias e pelo viver luxurioso destes infames (esse justo que habitava entre eles sentia diariamente a sua alma atormentada, vendo e ouvindo as suas obras iníquas), é porque o Senhor sabe livrar os justos da tentação e reservar os maus para o dia do juízo, a fim de serem atormentados, principalmente aqueles que vão atrás da carne na imunda concupiscência e desprezam a soberania (de Cristo)" (2 S. Pedro, II, 4-10).
Caríssimos, desculpem-me por eu ter me estendido demais. Mas, na verdade, o artigo ainda continua.  Veremos ainda, se Deus quiser, o modo de agir dos modernistas e o da Tradição em relação ao mundo. Faremos depois mais dois artigos sobre A MODÉSTIA NO VESTIR. Sempre me baseando nas Sagradas Escrituras.


terça-feira, 18 de abril de 2017

AS VESTES À LUZ DA BÍBLIA SAGRADA ( I )

   Escrevi este artigo há 4 décadas. O que é palavra de Deus, permanece para sempre e vale para todos.
   Como muitos padres não usam mais falar contra a imodéstia das modas, muitas pessoas, sobretudo as mais novas, ficam pensando que as exigências do modéstia são invenções de alguns padres. Por isso, quero tratar deste assunto baseado na Sagrada Escritura, que é a palavra de Deus escrita para nosso ensinamento.
   1 - Deus criou Adão e Eva no estado de inocência, sem a concupiscência, isto é, sem o desregramento das paixões. Daí, antes do pecado, Adão e Eva estavam nus e não se envergonhavam. (Confira Gênesis, II, 25). E eles conversavam familiarmente com Deus. Mas, a partir do momento que pecaram, perderam a inocência, começaram a ter maldade e então, tiveram vergonha em se verem nus, e coseram folhas de figueira e fizeram para si cinturas. (Confira Gênesis, III, 7). Foi o que eles puderam conseguir naquele momento após o pecado. Mas embora assim cobertos na cintura, se julgaram ainda nus, tiveram vergonha e se esconderam de Deus: "E o Senhor Deus chamou por Adão, e disse-lhe: Onde estás? E ele respondeu: Ouvi a tua voz no paraíso, e tive medo, porque estava nu, e escondi-me" ( Gênesis, III, 9 e 10). E notai que o próprio Deus não achou suficiente esta veste sumária. Eis o que diz a Bíblia em Gênesis, III, 21: "Fez também o Senhor Deus a Adão e à sua mulher umas túnicas de peles e os vestiu".
   2 - Consideremos bem isto, porque é uma ação do próprio Deus. Quem ousará contestá-la?! Se veste fosse assim algo secundário, Deus teria deixado à critério de Adão e Eva. Considere-se, primeiramente, que Deus os vestiu assim com modéstia, embora fossem esposos e os únicos que existiam até então sobre a terra. Como tudo que Deus faz é bom, disto tiramos duas conclusões: 1ª- aqui aplica-se também a palavra de São Paulo que recomenda a modéstia "porque Deus está perto" (Filipenses, IV, 5). - Deus assim agiu para servir de ensinamento à toda posteridade. A pessoa deve se vestir com modéstia não só na igreja, mas em toda parte. É claro que na igreja exigir-se-ão modéstia e decoro ainda maiores. São Paulo diz: "Do mesmo modo orem também as mulheres em trajes honestos, vestindo-se com modéstia e sobriedade" (1 Timóteo, II, 9). Considere-se também que Deus vestiu nossos primeiros pais com TÚNICAS. A túnica, por sua própria natureza, é uma veste que satisfaz as exigências da modéstia, porque oculta inteiramente o corpo, não só enquanto o cobre, mas também enquanto não deixa transparecer a sua forma.
   3 - Sobre veste, há ainda no Antigo Testamento uma outra passagem: "A mulher não se vestirá de homem nem o homem se vestirá de mulher, porque aquele que tal faz é abominável diante de Deus" (Deuteronômio, XXII, 5). Estas palavras da Bíblia indicam duas coisas: 1ª - Que havia diferenciação entre o modo de se vestir dos homens e das mulheres. A própria ordem natural feita por Deus exige que as diferenças entre os sexos sejam manifestadas. Já que depois do pecado original, os corpos têm de ser cobertos, as vestes têm que ser adequadas a cada sexo. Fica assim condenada toda moda unissex. 2ª - Em segundo lugar, a Bíblia condena o travestimento, ou seja, a mulher vestir as  roupas próprias de homem, e o homem vestir as roupas próprias de mulher. A Bíblia Sagrada não fala  que tipo de veste se deveria usar. Por isso Santo Tomás, citando Santo Agostinho, diz que se deve usar as vestes segundo o costume de cada região ou país, desde que sejam modestas e apropriadas para cada sexo. No Antigo Testamento, quando homens e mulheres usavam túnicas, havia diferença, sobretudo por causa dos véus que as mulheres usavam. E nos primeiros séculos do Cristianismo o véu para as mulheres era obrigatório, como diz Santo Agostinho. Santo Tomás de Aquino atesta que este costume caiu, embora a queda deste costume não fosse uma coisa louvável. Mas o uso do véu para o sexo feminino continua obrigatório na igreja: pelo menos, assim fazem os fiéis tradicionalistas, obedecendo o que diz São Paulo: "Julgai vós mesmos: é decente que uma mulher faça oração a Deus, não tendo véu? (1 Cor. XI, 13). E, como disse Jesus, a igreja é casa de oração.
   Entre o povo fiel a Deus, procurando obedecer ao Seu preceito, desde os primeiros tempos, procurou-se um feitio de túnica para cada sexo, além das vestes complementares que davam naturalmente uma diferenciação maior, sobretudo o uso do véu para as mulheres, como já foi dito. Há, no entanto, testemunhos de que os pagãos não obedeciam estas normas. Não reconheciam o verdadeiro Deus e a Sua Lei.
   Os sacerdotes da Antiga Lei também usavam túnicas cujo modelo era bem diferente e foi indicado pelo próprio Deus. Confira Êxodo, XXVIII, 31. Nosso Senhor Jesus Cristo também se cobria com túnica. Confira S. João, XIX, 23. Há muitas outras passagens do Antigo e do Novo Testamento que mostram ser a túnica usada entre o povo. Por exemplo: Gênesis XXXVII, 32; São Mateus, V, 40; (fala também da capa); Atos, IX, 39 etc. Até hoje, os padres ( pelo menos alguns) usam a batina que é uma veste talar que lembra a túnica de Jesus. Ninguém vai dizer que é veste feminina. O feitio da batina é muitíssimo diferente de um vestido como hoje é usado pelas mulheres. Além disso há o colarinho que é obrigatório; e a faixa que é facultativa.
   Além da primeira razão da decência para as vestes (o repeito à presença de Deus; a concupiscência própria e a vergonha natural depois do pecado original), há também uma outra razão que diz respeito ao próximo. Como depois do pecado original passou a existir no homem a concupiscência da carne e a concupiscência dos olhos pelos quais entram no coração os maus desejos, a lascívia, os adultérios etc., as vestes cobrindo direito o corpo se tornam necessárias também em relação ao próximo, ou seja, para se evitar o escândalo, isto é, tropeço que leva as pessoas a cair no pecado. E neste particular, indecente e condenável é não só a veste que não cubra bem o corpo, mas também quando deixa transparecer a forma do corpo ou em razão do seu próprio feitio ou por ser ajustada. Aliás, roupa muito ajustada, só pode ter uma razão de ser: a maldade. Além de ser incômoda, é, segundo a medicina, prejudicial à saúde.  
   Nosso Senhor Jesus Cristo deixou os princípios, os avisos, as regras da Moral pelos quais todos os homens devem guiar o seu modo de proceder. Segundo diz a Sagrada Escritura na Epístola aos Hebreus, XXII, 8 e 9: "Jesus Cristo é sempre o mesmo, ontem e hoje, e por todos os séculos". E, por outro lado, os homens, quanto à concupiscência, são também sempre os mesmos. Daí, não pode ninguém dizer que os tempos mudaram e por isso, as advertências de Jesus não têm mais valor hoje. Consideremos, então, algumas destas advertências de Jesus. Ele falou contra os escândalos, isto é, as seduções que levam os outros ao pecado. Disse Jesus: "Ai do mundo por causa dos escândalos; porque é inevitável que sucedam escândalos; mas ai daquele por quem vem o escândalo!" (São Mateus, XVIII, 7-9). Jesus advertiu igualmente: "Quem olhar para uma mulher desejando-a, já cometeu adultério com ela no seu coração" (São Mateus, V, 28). Agora, quem é que não reconhece que uma pessoa vestida menos decentemente é causa destes maus desejos e adultérios contra os quais fala Jesus acima ?
   E há também o escândalo das crianças que se sentem tentadas a imitar as adultas e assim vão perdendo o recato, o pudor e a pureza já desde pequenas. Jesus advertiu: "É melhor uma pessoa amarrar uma pedra de moinho ao pescoço e se lançar no fundo do mar do que escandalizar uma criança" (São Mateus, XVIII, 6). Já imaginaram as contas que vão dar a Deus as mães que dão este mau exemplo às suas filhas!!! Os pais procurem, pois, seguir o conselho que a Bíblia Sagrada lhes dá em relação aos filhos: "Tens filhos? Ensina-os bem, e acostuma -os à sujeição desde a sua infância. Tens filhas? Conserva a pureza de seus corpos" (Eclesiástico, VII, 25 e 26). Quantas mães, no entanto, desculpam seus filhos dizendo que são jovens e devem aproveitar a mocidade. Estas ouçam o que diz a Sagrada Escritura: "Regozija-te, pois, ó jovem na tua mocidade e viva em alegria o teu coração na flor de teus anos, segue as inclinações de teu coração e o que agrada a teus olhos, mas sabe que Deus te chamará a dar contas de todas estas coisas" (Eclesiastes, XI, 9 e 10). Meditem, outrossim, nos elogios que a Bíblia faz a castidade e pureza: "Oh! quão formosa é a geração pura com o seu brilho!" (Sabedoria IV, 1). "Graça sobre graça é a mulher santa e cheia de pudor! Todo preço é nada em comparação de uma alma que pratica a castidade" (Eclesiástico, XXVI, 19 e 20).
   CONCLUSÃO: A Sagrada Escritura e a Tradição são as duas bases sólidas sobre as quais se funda a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo. Se alguém não as aceita, então vai se basear em quê? No seu modo de pensar? Nas máximas do mundo? Mas quem age assim, não é de Jesus Cristo.
NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO DE FÁTIMA!   CONVERTEI OS PECADORES! 
  


quinta-feira, 6 de abril de 2017

O CALVÁRIO E A MISSA. Autor: Fulton Sheen

   Há certas coisas na vida que são demasiado belas para serem esquecidas como, por exemplo, o amor de mãe. O retrato daquela que nos deu o ser é para cada um de nós uma espécie de tesouro.
   O amor dos soldados que sacrificaram as suas vidas pelo seu país é também demasiadamente belo para que o deixemos cair no olvido e, por isso, prestamos homenagem à sua memória. A maior bênção, porém, de quantos vieram ao mundo, foi, certamente, a visita do Filho de Deus, sob o forma humana. A sua vida, superior a todas as vidas, é demasiadamente bela para ser esquecida, e é por isso que exaltamos a divindade dos Suas palavras na Sagrada Escritura, e a caridade dos Seus feitos nas nossas ações de cada dia.

   Infelizmente, algumas almas limitam-se apenas a estas lembranças quando, na verdade, por muito importantes que sejam essas palavras e ações, não são a maior característica do Divino Salvador.
   O ato mais sublime da história de Cristo foi a Sua Morte.

   A morte é sempre importante porque sela um destino. Qualquer homem moribundo representa um cenário, e este é sempre um lugar sagrado. A literatura do passado deu especial relevo às emoções que rodeiam a morte, e é essa a razão pela qual ela nunca passou de moda. De todas as mortes registadas no mundo dos homens, nenhuma, no entanto, foi tão importante como a morte de Cristo.

   Todo aquele que nasceu veio ao mundo para viver. Nosso Senhor veio ao mundo para morrer.

   A morte foi um triste ponto final para a vida de Sócrates, mas foi uma coroa para a vida de Cristo. Ele próprio nos disse que veio "para dar a Sua vida pela redenção de muitos". Ninguém poderia tirar-lha, mas Ele podia dá-la voluntariamente.

   Se, portanto, a morte foi o principal momento para o qual Cristo viveu, ela foi também a única coisa pela qual Ele quis ser lembrado. Jesus não pediu aos homens que registrassem as Suas palavras numa Escritura, nem tão pouco que a Sua bondade para os pobres ficasse gravada na história; mas pediu que os homens recordassem a Sua morte. Para que essa memória não fosse entregue ao acaso das narrativas humanas, Ele próprio instituiu a maneira como devia ser lembrada.

   Essa memória foi instituída na noite anterior à Sua Morte e, desde então, se chamou "A Última Ceia". Tomado o pão nas Suas mãos, Jesus disse: "Isto  é o Meu Corpo que se dá por vós; fazei isto em memória de de Mim. Tomou também depois, da mesma maneira, o cálice, dizendo: "Este é o cálice do Novo Testamento em Meu Sangue que será derramado por vós" (S. Lucas, XXII, 19 e 20).

   E, assim, num símbolo incruento da separação do Sangue e do Corpo, pela consagração do Pão e do Vinho, Cristo ofereceu-se à morte, à vista de Deus e dos homens, e representou a Sua morte que devia ocorrer às três horas da tarde do dia seguinte. Ele oferecia-Se para ser imolado como vítima, e para que os homens nunca esquecessem que jamais homem algum dera maior prova de amor do que Aquele que renunciava à vida, em favor dos Seus amigos, e deu à Igreja esta ordem divina: "Fazei isto em memória de Mim".

  No dia seguinte, Jesus realizou cruentamente o que já havia antecipado de maneira incruenta na véspera. Foi crucificado e o Seu Sangue foi derramado pela redenção do mundo.
   A Igreja que Cristo fundou, não só preservou a palavra que Ele proferiu como ainda o ato que praticou, no qual nós recordamos a Sua morte na Cruz, e que é o Sacrifício da Missa - memória da última Ceia e renovação incruenta do Sacrifício do Calvário.
  
Por esta razão, a Missa é, para nós, a ato culminante da amizade cristã. O púlpito, onde as palavras de Jesus são repetidas, não nos une a Ele; o coro, no qual os suaves sentimentos são cantados, não nos aproxima tanto da Sua Cruz. Um templo sem altar de sacrifício não existiu entre os próprios povos primitivos, e nada significa entre os cristãos. Na Igreja Católica é, pois, o altar, e não o púlpito, ou o coro, ou o órgão, que representa o centro da amizade, pois  é ali que se renova a memória da Paixão. O valor da ato não depende daquele que o celebra, mas sim e apenas do Sumo Sacerdote e Vítima, Nosso Senhor Jesus Cristo.

   Ali estamos unidos com Ele, a despeito da nossa insignificância; unimos o nosso espírito, a nossa vontade, o nosso corpo, a nossa alma e o nosso coração tão intimamente com Jesus que o Pai Celeste não é a nossa imperfeição que vê, pois contempla-nos através de Aquele que é o Seu Filho Bem-Amado, no qual Ele pôs toda a Sua complacência.

quarta-feira, 5 de abril de 2017

A PAIXÃO E MORTE DE JESUS CRISTO: AMOR INFINITO


O Eterno Pai nos amou tanto, que nos deu o seu único Filho, e o Filho amou tanto os homens que se ofereceu voluntariamente aos opróbrios, sofrimentos e à morte na cruz para, com seu sangue, ser o nosso resgate. Assim, este amantíssimo Salvador ofereceu o seu amor imenso para satisfazer a vontade do Pai e a salvação da humanidade. Jesus suou sangue no Jardim das Oliveiras, foi açoitado, coroado de espinhos, condenado, escarnecido, destinado a suportar os opróbrios e ignomínias, sofrendo a punição devida a todos os pecados e servindo de sacrifício geral pelo pecado, tendo-se tornado como se fosse um pecado vivo, como um anátema. Jesus quis morrer em amor, por amor, e para mostrar o seu amor. "Foi sacrificado, diz Isaías, porque o desejou". Sendo o seu corpo por direito, imortal e impassível, por causa da glória de sua alma, tornou-o mortal e passível por milagre e por amor. Quis até depois da morte ter o lado aberto para que víssemos e adorássemos aquele Coração que tanto amou os homens. Assim a imagem de Jesus Cristo, pisado, ferido, chagado, crucificado e trespassado, foi sempre um belo espelho de amor, onde os anjos e santos nunca se cansam de se verem até ficarem abismados  pelo amor. Ver Jesus assim sacrificando-se a si mesmo numa cruz! Este sacrifício é a origem de todas as graças que recebemos, fonte de todas as resoluções santas, de sorte que é por Ele que as conservamos, nutrimos  e fortificamos.

Pois, já que Jesus nos amou tanto, que todos remiu, regando-nos com o seu sangue divino; já que se fez todo nosso para nos fazer todos seus , dando-nos a sua vida e morte para nos isentar da morte eterna, e fazer-nos conseguir o gozo da vida eterna, para que sejamos seus, não só nesta vida mortal, mas também na eterna, devemos tomar a resolução de não vivermos mais para nós, mas por Aquele que morreu por nós. Devemos consagrar-Lhe todos os momentos da nossa vida, encaminhando para a glória sua todas as obras, pensamentos e afetos.


Ó Pai Eterno! que vos pode oferecer o mundo pelo presente que lhes fizestes do  vosso Filho? Ah! para remir uma coisa tão vil como eu, deu-se e entregou-se a si mesmo, e, embora miserável, ainda irei hesitar-me em dar-me a Jesus Cristo, em abandonar-Lhe este meu nada, a Ele que tudo me deu? Ó doce Jesus, compreendo a expressão de São Paulo: "Quem não amar a Jesus, seja anátema". Jesus, dai-me mais este graça: que eu Vos ame de verdade, com generosidade, sem reservas, de todo meu coração, com toda minha alma, com todas as minhas forças! Amém!

domingo, 2 de abril de 2017

O PROPÓSITO DEVE SER EFICAZ

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA

Que isto significa? O propósito EFICAZ  deve nos fazer empregar todos os meios para evitar o pecado no futuro. Ora, um dos meios mais necessários é fugir e afastar as ocasiões de recair no pecado. É um ponto que merece toda nossa atenção: pois, se os homens tivessem cuidado de fugir das más ocasiões, evitariam muitos pecados, e muitas almas escapariam ao inferno. Sem a ocasião, o demônio pouco aproveita, pouco consegue; mas quando nos expomos voluntariamente à ocasião, principalmente em matéria de pecados desonestos, é moralmente impossível não sucumbirmos nela. "Quem ama (procura)  perigo, morre nele" diz a Bíblia. Assim, todos os teólogos concordam em que o mesmo preceito que nos proíbe pecar nos proíbe também de nos expor à ocasião próxima voluntária de pecar.

E argumento mais importante são estas palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Divino Mestre: Se o vosso olho, é para vós uma ocasião de pecado, arrancai-o e lançai-o longe de vós. Do mesmo modo, se a vossa mão ou o vosso pé é para vós uma ocasião de pecado, cortai-os e lançai-os para longe de vós" (    ). Talvez alguém ache esta ordem muito severa. Primeiramente devemos entender que não se trata de mutilar-se fisicamente, é claro. Nosso Senhor faz uma comparação e ele mesmo proíbe a mutilação. O significado da comparação é o seguinte: Jesus quer dizer que, mesmo quando uma pessoa , uma leitura, uma profissão, um divertimento, etc., nos fossem tão caros como o nosso olho ou tão necessários como a nossa mão e o nosso pé, se, entretanto, são para nós uma ocasião de pecar e de nos condenar, devemos, custe o que custar, fazer o sacrifício deles. É o que Jesus explica quando acrescenta: "Vale mais para vós ir para o céu não tendo senão um olho, ou uma só mão, ou um só pé, do que ser precipitado no inferno com dois olhos, duas mãos e dois pés" (S. Mateus, IX, 13). Jesus Cristo disse o mesmo com outras palavras: "Que adiante a pessoa possuir o mundo todo, se vier a perder a sua alma?"  Portanto, o Divino Mestre deixou bem claro que é de absoluta necessidade a gente fugir da ocasião próxima de pecar, mesmo que esta ocasião seja uma coisa que nos é muito querida e/ou muito necessária. Assim devemos entender esta outra sentença de Jesus Cristo: "O reino do Céu sofre violência e só os violentos o arrebatam". Temos realmente de fazer-nos uma grande violência para renunciarmos certos apegos à alguma coisa ou pessoa que se constitui uma ocasião próxima de pecado, máxime, as de pecados contra a pureza.

São Francisco de Sales dizia que há certas coisas que são NÓS (plural de nó) que devem desaparecer, e não podemos ficar tentando desfazê-los, devemos cortá-los imediatamente. Por isso Jesus não disse que simplesmente a pessoa deva fechar os olhos, ligar a mão e o pé. Deve arrancar o olho, e cortar a mão e o pé e ainda Jesus acrescenta: e lançá-los longe. Portanto, por tudo que Jesus Cristo disse, fica claro que quem não quiser fazer uma verdadeira violência para deixar inteiramente as ocasiões próximas de pecado mortal, cairá inevitavelmente em pecado mortal e aí já está no perigo de morrer assim e ir para o inferno. Então, vale à pena a gente fazer esta violência e assim ir para o céu!

Tudo que dissemos acima se refere à ocasião próxima. Mas temos que ressaltar a distinção entre ocasião próxima e ocasião remota. A ocasião remota é aquela que se apresenta por toda a parte, ou aquela na qual raramente se peca. Já a ocasião próxima é aquela que por si mesma ordinariamente induz ao pecado; tais como são certos lugares, certas tabernas, certas amizades, certas leituras, certos divertimentos, certos serões, etc. que levam ao pecado por sua natureza. Estas ocasiões próximas chamam-se absolutas porque são perigosas para todos, não importa a que espécie de pecados mortais elas conduzam. De todas estas ocasiões, as mais funestas são sem contradição, aquelas que nos expõem ao perigo de perder o dom tão precioso da fé, como são as más escolas, os maus livros, jornais e revistas e, hoje em dia, os maus filmes, cinemas, e televisão e quando se usa a Internet para o mal.

Chamam-se também ocasião próxima, para certa pessoa, aquela que muitas vezes a tem feito cair no pecado; pois, há ocasiões que não são próximas para a maioria, e que o são para algumas pessoas em particular, visto suas quedas reiteradas, sua má inclinação, ou o mau hábito contraído. Estas ocasiões são por esta razão chamadas relativas. Eis aqui alguns casos de ocasião próxima: quando se conserva em casa uma pessoa com a qual se cai em pecado; quando se vai a uma taberna ou a uma casa particular, onde se tem muitas vezes pecado por excessos de bebida, por brigas ou por ações, palavras, pensamentos impuros; quando se têm cometido fraudes, provocado rixas ou proferido blasfêmias, etc., etc.


Na próxima postagem, se Deus quiser, mostraremos que aqueles que estão na ocasião próxima voluntaria não podem ser absolvidos. 

sábado, 1 de abril de 2017

CARTA PASTORAL SOBRE A PRESERVAÇÃO DA FÉ E DOS BONS COSTUMES


(CONTINUAÇÃO)

V

CARÍSSMOS COOPERADORES E AMADOS FILHOS.

As considerações que acabamos de fazer mostram a grande oportunidade das comemorações (cinquentenárias) centenárias das aparições da Virgem Santíssima na Cova da Iria. Nessas ternas visitas que nos fez a Mãe do Céu, Ela nos recomendou a oração e a penitência porque o mundo estava imerso no pecado e Deus era sumamente ofendido. Não é diversa a situação da sociedade nos dias de hoje. E podemos bem debitar aos desvios doutrinários sobre os quais chamamos a vossa atenção, podemos debitar esse dessoramento da doutrina e d moral católica ao desejo imoderado do prazer, à falta de espírito de penitência e oração. De onde a necessidade de excitarmos em vós o amor de penitência e oração. De onde a necessidade de excitarmos em nós o amor da oração e da penitência, para oferecer reparação aos Sagrados Corações de Jesus e Maria, para afastar os castigos merecidos pelos pecados do mundo, para conservar a integridade da Fé e para contribuir a que muitos pecadores se convertam.

O terço em família

E em primeiro lugar, fiéis à mensagem de Fátima, recomendamos-vos, caríssimos filhos, a reza do rosário de Maria. Como seria uma bela comemoração deste feliz (cinquentenário) centenário, um presente agradável à Mãe de Deus e um penhor de salvação, se as famílias católicas de se reunirem à noitinha para, com todos os membros juntos, pais e filhos, rezarem o terço do santo rosário! O rosário conta na sua história pelo menos quarenta e quatro Sumos Pontífices que o louvaram e recomendaram em mais de duzentos Documentos. Ainda o atual Papa. gloriosamente reinante [na época Paulo VI], na Encíclica "Mense Maio" nos recomendava, a nós Pastores de rebanho de Cristo, "não deixeis de inculcar com todo o cuidado a prática do rosário, a oração tão querida da Virgem e tão recomendada pelos Sumos Pontífices, por meio da qual os fiéis podem cumprir da maneira mais suave e eficaz o mandamento do Divino Mestre: "Pedi e recebereis, procurai e achareis, chamai e abrir-vos-ão" (Mat. 7, 7).

Ouvi, caríssimos filhos, a palavra autorizada do Vigário de Cristo: é o rosário a maneira mais suave, portanto a mais fácil, e ao mesmo tempo a mais eficaz de cumprir o mandamento de pedir; e, pois, igualmente a mais eficaz para obter todas as graças de que havemos mister, e acima de todas a graça de viver e morrer na amizade de Deus.

Já muitas vezes ouvistes falar, caríssimos filhos, sobre a beleza e valor intrínseco do santo rosário. Nele falamos a Deus com as palavras do próprio Jesus Cristo, palavras que nos ensinou o Salvador precisamente para rogar ao Pai Celeste: "Quando orardes dizei assim" (Luc. 11, 2). E nele nos dirigimos à Virgem Santíssima, à  Onipotência suplicante, com a saudação que mais lhe fala ao Coração, porquanto é a saudação que Ela ouviu quando, tornando-se Mãe de Deus, se fez igualmente Mãe nossa. E para completar, o rosário nos habitua à meditação salutar dos mistérios de nossa salvação. É, pois, propriamente  a oração do fiel, e uma resolução de recitá-lo sempre será ótimo meio de comemorar o (cinquentenário) centenário de Fátima.

A devoção dos primeiros sábados

Outra devoção a que estão ligadas as visões de Fátima é a prática da comunhão reparadora dos primeiros sábados. Na Cova da Iria, a Virgem Santíssima anunciou que mais tarde viria pedir a comunhão reparadora nos primeiros sábados e com um fim determinado. Aparecendo a Lúcia a 10 de dezembro de 1925, ao pedido dessa comunhão reparadora Ela anexou a promessa de sua assistência a hora de morte. Eis suas palavras: "Olha, minha filha, meu Coração cercado de espinhos, com que me ferem os homens ingratos com suas blasfêmias e iniquidades. Tu ao menos procura consolar-me e divulga que Eu prometo assistir na hora da morte, com as graças necessárias para a salvação, a todos os que no primeiro sábado de cada mês se confessarem, comungarem, recitarem uma parte do terço e me fizerem companhia durante um quarto de hora, meditando sobre os mistérios com a intenção de me oferecer reparação".

A consagração ao Imaculado Coração de Maria

Mas, a parte principal da mensagem de Fátima refere-se à consagração e devoção ao Imaculado Coração de Maria e à penitência.

Na Cova da Iria aprendemos que Jesus deseja implantar na terra o reinado do Coração Imaculado de Maria de sua Mãe. Por isso, condicionou a salvação do mundo à consagração e devoção a esse mesmo Coração. Não há, no entanto, verdadeira consagração à Virgem Santíssima, sem o espírito e a prática da penitência, porquanto a consagração exige que continuamente reprimamos em nós as inclinações de nossa vontade e de nossos sentidos contrárias aos desejos de Virgem Mãe.

A penitência

De onde, a penitência, no sentido próprio da palavra  -  isto é, enquanto significa o arrependimento pelos pecados cometidos e a emenda de vida  - é o meio para se chegar ao reinado do Imaculado Coração de Maria, Nossa Senhora insistia muito sobre a emenda de vida. Nos interrogatórios a que foram os pastorinhos submetidos, volta sempre esta recomendação d Senhora: que nos emendemos.
A emenda pede uma mudança de atitude com relação ao mundo e os prazeres dos sentidos. O cristão é o que não tem aqui na terra morada permanente, é o que vive com o pensamento no Céu. Por isso, tem o coração desapegado dos bens que sabe que são caducos e passageiros. Aspira aos bens eternos. Assim, igualmente, ele se despoja de si mesmo. Ele sabe que não nasceu para satisfazer às inclinações más das paixões. Ele sabe que precisa mortificar os sentidos para não ceder à violência de seus impulsos. Ele sabe que precisa disciplinar a vontade, pela humildade e obediência, não venha a acontecer que, no momento oportuno, ela não saiba dobrar-se quando seria imperioso submeter-se.
Assim, amados filhos, desejamos ardentemente que, por um exercício de todos os dias, vos habitueis à renúncia de vós mesmos. Não satisfazendo aos vossos desejos e gostos a não ser dentre do que é necessário ou conveniente, e sempre procurando ficar aquém do que pediria vossa vontade ou inclinação. Cremos que com esse exercício perseverante vos ireis habituando à renúncia de vós mesmos, e ao exercício da reta intenção em todas as coisas, de maneira que termineis tendo sempre em vista fazer a santíssima vontade de Deus. Sem confiar nas vossas forças, pedi sempre à Virgem Mãe esta graça, e Ela, ao ver vossa boa vontade, não vo-la negará.

A conversão dos pecadores

Fátima nos ensina outrossim a nos sacrificarmos pelos pecadores, pela conversão dos pecadores. É admirável o que fizeram nesta intenção as crianças que viram a Virgem. Como dissemos, pedem elas meças aos Santos do Deserto. Apesar de nossa miséria, não pensemos que não nos será possível atender também neste ponto à exortação da Virgem Santíssima. Temos muito que sofrer, independentemente de nossa vontade. São os sofrimentos que Nosso Senhor nos manda com o frio, o calor, os dissabores inerentes ao nosso estado de vida, e tantas outras coisas que nos mortificam e Nosso Senhor dispõe para nosso bem. São outros tantos meios que estão em nossas mãos e dos quais podemos dispor em benefício dos pobres pecadores. Se não nos aventuramos aos grandes sacrifícios que a si se impuseram os pastorinhos de Fátima, estes pequenos sacrifícios, aos quais podemos juntar alguns outros voluntários, não deixarão de ser aceitos em benefício dos pecadores.

DILETOS COOPERADORES E AMADOS FILHOS.

Não deixemos passar estas duas datas memoráveis, o (250º) 300º aniversário do encontro da milagrosa Imagem de Nossa Senhora da Conceição aparecida, e o (50º) 100º das aparições da Virgem Mãe na Cova da Iria, sem um sério exame de consciência que purifique nosso modo de pensar e agir, que nos faça mais fiéis a Jesus Cristo, que nos afaste de proceder como o mundo hodierno, tão dado à sensualidade, tão distante do espírito do Divino Salvador. Que Nossa Senhora da Conceição que é a mesma Nossa Senhora do Rosário de Fátima vos alcance de seu Divino Filho esta graça.

E que a bênção de Deus Onipotente, Pa+dre, Fi+lho e Espírito + Santo, desça sobre vós e permaneça sempre. Amém.


Dada e passada em Nossa episcopal Cidade de Campos, sob o Nosso sinal e o selo de Nossas armas, aos dois do mês de fevereiro do ano de mil novecentos e sessenta e sete, festa da Purificação da Bem-aventurada Virgem Maria.