(CONTINUAÇÃO)
V
CARÍSSMOS COOPERADORES E AMADOS FILHOS.
As considerações que acabamos de fazer mostram a grande
oportunidade das comemorações (cinquentenárias) centenárias das aparições da Virgem
Santíssima na Cova da Iria. Nessas ternas visitas que nos fez a Mãe do Céu, Ela
nos recomendou a oração e a penitência porque o mundo estava imerso no pecado e
Deus era sumamente ofendido. Não é diversa a situação da sociedade nos dias de
hoje. E podemos bem debitar aos desvios doutrinários sobre os quais chamamos a
vossa atenção, podemos debitar esse dessoramento da doutrina e d moral católica
ao desejo imoderado do prazer, à falta de espírito de penitência e oração. De
onde a necessidade de excitarmos em vós o amor de penitência e oração. De onde
a necessidade de excitarmos em nós o amor da oração e da penitência, para
oferecer reparação aos Sagrados Corações de Jesus e Maria, para afastar os
castigos merecidos pelos pecados do mundo, para conservar a integridade da Fé e
para contribuir a que muitos pecadores se convertam.
O terço em família
E em primeiro lugar, fiéis à mensagem de Fátima,
recomendamos-vos, caríssimos filhos, a reza do rosário de Maria. Como seria uma
bela comemoração deste feliz (cinquentenário) centenário, um presente agradável
à Mãe de Deus e um penhor de salvação, se as famílias católicas de se reunirem
à noitinha para, com todos os membros juntos, pais e filhos, rezarem o terço do
santo rosário! O rosário conta na sua história pelo menos quarenta e quatro
Sumos Pontífices que o louvaram e recomendaram em mais de duzentos Documentos.
Ainda o atual Papa. gloriosamente reinante [na época Paulo VI], na Encíclica
"Mense Maio" nos
recomendava, a nós Pastores de rebanho de Cristo, "não deixeis de inculcar com todo o cuidado a prática do rosário,
a oração tão querida da Virgem e tão recomendada pelos Sumos Pontífices, por
meio da qual os fiéis podem cumprir da maneira mais suave e eficaz o mandamento
do Divino Mestre: "Pedi e recebereis, procurai e achareis, chamai e
abrir-vos-ão" (Mat. 7, 7).
Ouvi, caríssimos filhos, a palavra autorizada do Vigário de
Cristo: é o rosário a maneira mais suave, portanto a mais fácil, e ao mesmo
tempo a mais eficaz de cumprir o mandamento de pedir; e, pois, igualmente a
mais eficaz para obter todas as graças de que havemos mister, e acima de todas
a graça de viver e morrer na amizade de Deus.
Já muitas vezes ouvistes falar, caríssimos filhos, sobre a
beleza e valor intrínseco do santo rosário. Nele falamos a Deus com as palavras
do próprio Jesus Cristo, palavras que nos ensinou o Salvador precisamente para
rogar ao Pai Celeste: "Quando
orardes dizei assim" (Luc. 11, 2). E nele nos dirigimos à Virgem
Santíssima, à Onipotência suplicante,
com a saudação que mais lhe fala ao Coração, porquanto é a saudação que Ela
ouviu quando, tornando-se Mãe de Deus, se fez igualmente Mãe nossa. E para
completar, o rosário nos habitua à meditação salutar dos mistérios de nossa
salvação. É, pois, propriamente a oração
do fiel, e uma resolução de recitá-lo sempre será ótimo meio de comemorar o
(cinquentenário) centenário de Fátima.
A devoção dos
primeiros sábados
Outra devoção a que estão ligadas as visões de Fátima é a
prática da comunhão reparadora dos primeiros sábados. Na Cova da Iria, a Virgem
Santíssima anunciou que mais tarde viria pedir a comunhão reparadora nos
primeiros sábados e com um fim determinado. Aparecendo a Lúcia a 10 de dezembro
de 1925, ao pedido dessa comunhão reparadora Ela anexou a promessa de sua
assistência a hora de morte. Eis suas palavras: "Olha, minha filha, meu Coração cercado de espinhos, com que me ferem os
homens ingratos com suas blasfêmias e iniquidades. Tu ao menos procura
consolar-me e divulga que Eu prometo assistir na hora da morte, com as graças
necessárias para a salvação, a todos os que no primeiro sábado de cada mês se
confessarem, comungarem, recitarem uma parte do terço e me fizerem companhia
durante um quarto de hora, meditando sobre os mistérios com a intenção de me
oferecer reparação".
A consagração ao
Imaculado Coração de Maria
Mas, a parte principal da mensagem de Fátima refere-se à
consagração e devoção ao Imaculado Coração de Maria e à penitência.
Na Cova da Iria aprendemos que Jesus deseja implantar na
terra o reinado do Coração Imaculado de Maria de sua Mãe. Por isso, condicionou
a salvação do mundo à consagração e devoção a esse mesmo Coração. Não há, no
entanto, verdadeira consagração à Virgem Santíssima, sem o espírito e a prática
da penitência, porquanto a consagração exige que continuamente reprimamos em
nós as inclinações de nossa vontade e de nossos sentidos contrárias aos desejos
de Virgem Mãe.
A penitência
De onde, a penitência, no sentido próprio da palavra - isto
é, enquanto significa o arrependimento pelos pecados cometidos e a emenda de
vida - é o meio para se chegar ao
reinado do Imaculado Coração de Maria, Nossa Senhora insistia muito sobre a
emenda de vida. Nos interrogatórios a que foram os pastorinhos submetidos,
volta sempre esta recomendação d Senhora: que nos emendemos.
A emenda pede uma mudança de atitude com relação ao mundo e
os prazeres dos sentidos. O cristão é o que não tem aqui na terra morada
permanente, é o que vive com o pensamento no Céu. Por isso, tem o coração
desapegado dos bens que sabe que são caducos e passageiros. Aspira aos bens
eternos. Assim, igualmente, ele se despoja de si mesmo. Ele sabe que não nasceu
para satisfazer às inclinações más das paixões. Ele sabe que precisa mortificar
os sentidos para não ceder à violência de seus impulsos. Ele sabe que precisa
disciplinar a vontade, pela humildade e obediência, não venha a acontecer que,
no momento oportuno, ela não saiba dobrar-se quando seria imperioso
submeter-se.
Assim, amados filhos, desejamos ardentemente que, por um
exercício de todos os dias, vos habitueis à renúncia de vós mesmos. Não
satisfazendo aos vossos desejos e gostos a não ser dentre do que é necessário
ou conveniente, e sempre procurando ficar aquém do que pediria vossa vontade ou
inclinação. Cremos que com esse exercício perseverante vos ireis habituando à
renúncia de vós mesmos, e ao exercício da reta intenção em todas as coisas, de
maneira que termineis tendo sempre em vista fazer a santíssima vontade de Deus.
Sem confiar nas vossas forças, pedi sempre à Virgem Mãe esta graça, e Ela, ao
ver vossa boa vontade, não vo-la negará.
A conversão dos
pecadores
Fátima nos ensina outrossim a nos sacrificarmos pelos
pecadores, pela conversão dos pecadores. É admirável o que fizeram nesta
intenção as crianças que viram a Virgem. Como dissemos, pedem elas meças aos
Santos do Deserto. Apesar de nossa miséria, não pensemos que não nos será
possível atender também neste ponto à exortação da Virgem Santíssima. Temos
muito que sofrer, independentemente de nossa vontade. São os sofrimentos que
Nosso Senhor nos manda com o frio, o calor, os dissabores inerentes ao nosso
estado de vida, e tantas outras coisas que nos mortificam e Nosso Senhor dispõe
para nosso bem. São outros tantos meios que estão em nossas mãos e dos quais
podemos dispor em benefício dos pobres pecadores. Se não nos aventuramos aos
grandes sacrifícios que a si se impuseram os pastorinhos de Fátima, estes
pequenos sacrifícios, aos quais podemos juntar alguns outros voluntários, não
deixarão de ser aceitos em benefício dos pecadores.
DILETOS COOPERADORES E AMADOS FILHOS.
Não deixemos passar estas duas datas memoráveis, o (250º)
300º aniversário do encontro da milagrosa Imagem de Nossa Senhora da Conceição
aparecida, e o (50º) 100º das aparições da Virgem Mãe na Cova da Iria, sem um
sério exame de consciência que purifique nosso modo de pensar e agir, que nos
faça mais fiéis a Jesus Cristo, que nos afaste de proceder como o mundo
hodierno, tão dado à sensualidade, tão distante do espírito do Divino Salvador.
Que Nossa Senhora da Conceição que é a mesma Nossa Senhora do Rosário de Fátima
vos alcance de seu Divino Filho esta graça.
E que a bênção de Deus Onipotente, Pa+dre, Fi+lho e Espírito
+ Santo, desça sobre vós e permaneça sempre. Amém.
Dada e passada em Nossa episcopal Cidade de Campos, sob o
Nosso sinal e o selo de Nossas armas, aos dois do mês de fevereiro do ano de
mil novecentos e sessenta e sete, festa da Purificação da Bem-aventurada Virgem
Maria.
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