segunda-feira, 29 de maio de 2017

AS TRÊS PROCISSÕES DE SÃO BENTO LABRE

 LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA

Diz S. Bento Labre que há três classes de pecadores que se confessam: penitentes perfeitos, penitentes imperfeitos, penitentes falsos. Ao saírem do confessionário, eles se dividem e formam como que TRÊS PROCISSÕES, cada uma das quais toma um caminho bem diferente.

·      -   A primeira procissão é composta de penitentes perfeitos, isto é, daqueles que procuraram com cuidado, no fundo, do seu coração, todos os pecados cometidos. Em seguida, fizeram deles uma confissão boa, compenetrados de uma dor sincera de ter ofendido a Deus infinitamente bom, o mais terno dos pais, estando bem resolvidos a satisfazer neste mundo à justiça divina, ajuntando à penitência que lhes tinha sido imposta na confissão outras penitências espontâneas e, para remissão das suas penas temporais, recorrendo às indulgências da Igreja. Se estes santos penitentes são bem fiéis, subirão ao céu no mesmo instante da sua morte, e alcançarão logo a felicidade eterna.

·     -    O segundo grupo é composto dos penitentes imperfeitos. Nada de essencial faltou à sua confissão, nem o exame, que foi sério, nem a acusação dos pecados, que foi humilde, sincera e inteira, nem a contrição, que foi sobrenatural e profunda. Mas, fracos e pouco zelosos para levarem até o fim um trabalho de purificação por atos de contrição e de amor reiterados, por mortificações, esmolas e indulgências, morrem na amizade de Deus, sem que possam gozar logo da sua união, porque têm ainda de satisfazer à justiça divina. Eles são condenados ao purgatório, para lá se purificarem das manchas de que tão facilmente se poderiam purificar sobre a terra.

·     -    Finalmente, a terceira classe é composta dos falsos penitentes. Por sua culpa foi-lhes o remédio transformado em veneno mortal. Todos os cristãos sacrílegos chegam ao inferno pelo caminho que os devia conduzir ao céu; no inferno gemem eternamente por ter feito servir a sua condenação o que podia ser para eles um meio de salvação. Exclamarão durante toda a eternidade: por que não me converti cuidadosamente, não me acusei sinceramente, não me arrependi verdadeiramente?

Eis aí, caríssimos, o que dizia S. Bento Labre, o santo pobre de Jesus Cristo, para induzir os outros a que façam só boas confissões.

Terminemos com os conselhos do Padre Perriens: Alma cristã, não vos esqueçais de aplicar às almas do purgatório o maior número de indulgências que puderdes; fazendo-lhes esta caridosa aplicação, não receeis ficar passível das penas que tendes merecido. Santa Gertrudes, à hora da morte, afligia-se por não ter feito nada pela sua alma; pois, tudo quanto fizera de bem tinha-o aplicado às almas do purgatório. Então Jesus Cristo lhe apareceu e disse: Gertrudes, alegra-te; tua caridade para com as almas do purgatório foi-me tão agradável, que, depois da tua morte, serás isenta de toda a pena, e far-te-ei acompanhar ao paraíso por todas as minhas esposas queridas que a teus sufrágios devem o ter saído do purgatório".


quarta-feira, 24 de maio de 2017

CORRUPÇÃO EPIDÊMICA!

CORRUPÇÃO EPIDÊMICA!  

                                                                                                                                         Dom Fernando Arêas Rifan* 

          Certa vez, um rei perguntou aos seus ministros a causa de o dinheiro público não chegar ao seu destino como quando saiu da sua fonte. Um ministro mais velho, sentado na outra cabeceira da mesa, tomou uma grande pedra de gelo e pediu que a passassem de mão em mão até o Rei. Quando a pedra lá chegou estava bem menor. O ministro então disse: é essa a explicação: “passa por muitas mãos e sempre deixa alguma coisa”.
          A corrupção é considerada pela ONU o crime mais dispendioso de todos, causa de muitos outros. A corrupção propicia a ocupação de cargos por pessoas indignas, manobras políticas, compra de votos, licitações desonestas, o desvio, a malversação e o desperdício do dinheiro público, a impunidade, o tráfico de drogas, a sua veiculação nos presídios etc.
          “Aquele que ama o ouro não estará isento de pecado; aquele que busca a corrupção será por ela cumulado. O ouro abateu a muitos... Bem-aventurado o rico que foi achado sem mácula... Quem é esse homem para que o felicitemos? Àquele que foi tentado pelo ouro e foi encontrado perfeito está reservada uma glória eterna:... ele podia fazer o mal e não o fez” (Eclo 31, 5-10). São palavras de Deus para todos nós.
        Ao ler o título desse artigo, pensa-se logo nos políticos. Mas há muita gente, fora da política, que se enquadra nesse título: quantos exploradores da coisa pública, quantos sugadores do Estado, que não são políticos! Aí se enquadram todos os profissionais ou amadores que se corrompem pelo dinheiro.  Quem vota por dinheiro é corrupto. Quem vota apenas por emprego próprio é corrupto. Quem corre atrás dos políticos para conseguir benesses espúrias é corrupto.
        O Papa Francisco tem insistido sobre a diferença entre pecado e corrupção, entre o pecador e o corrupto. Pecadores somos todos nós, mas corrupto é aquele que perdeu a noção do bem e do mal. Já não tem mais o senso do pecado. Os corruptos fazem de si mesmos o único bem, o único sentido; negando-se a reconhecer a Deus, o sumo Bem, fazem para si um Deus especial: são Deus eles mesmos. O Papa lembrou que São Pedro foi pecador, mas não corrupto, ao passo que Judas, de pecador avarento, acabou na corrupção. “Que o Senhor nos livre de escorregar neste caminho da corrupção. Pecadores sim, corruptos, não.” (Homilia, 4/6/2013).
         A Igreja proclamou padroeiro dos Governantes e dos Políticos São Tomás More, “o homem que não vendeu sua alma”, exatamente porque soube ser coerente com os princípios morais e cristãos até ao martírio. Advogado, Lorde Chanceler do Reino da Inglaterra, preferiu perder o cargo com todas as suas regalias e a própria vida a trair sua consciência. Possa o exemplo de Santo Tomás More ensinar aos políticos, atuais e futuros, e a todos nós, que o homem não pode se separar de Deus, nem a política da moral, e que a consciência não se vende por nenhum preço, mesmo que isto nos custe caro e até a própria vida.
         Que Nossa Senhora, Auxílio dos Cristãos, que hoje celebramos, interceda pelo nosso Brasil para que Deus o livre desse grande mal da corrupção.

*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

segunda-feira, 22 de maio de 2017

A PENITÊNCIA DADA PELO CONFESSOR

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA

 Outra parte necessária da confissão é a SATISFAÇÃO, ou seja, a penitência imposta ao penitente pelo confessor. Dizemos que a satisfação ou penitência na confissão é parte necessária mas não essencial. Por que não é essencial? Porque sem ela o sacramento pode ser válido. Diz-se em teologia que a satisfação ou penitência é parte integrante do sacramento. Vamos dar exemplo de quando o sacramento da Penitência pode ser válido mesmo não havendo condição de se fazer a penitência: uma pessoa perto de morrer, recebe validamente o sacramento da Penitência, sem a imposição da penitência, porque o moribundo está incapacitado de a fazer.

Sendo, porém, a satisfação parte integrante, significa que ao confessar-se, se o penitente não tiver a intenção de cumprir a penitência, a confissão seria nula, pois, deve-se ter a vontade de satisfazer a penitência que o confessor impuser. Se, ao contrário, havia esta intenção ao confessar-se, e depois houvesse negligência em cumprir, a confissão seria válida, mas cometer-se-ia um pecado grave, sendo a penitência imposta em matéria grave.

Caríssimos, vamos explicar o porquê e o significado da SATISFAÇÃO ou PENITÊNCIA. Quem peca se torna culpado da falta cometida, e se torna passível da pena devida a esta falta. A absolvição, que dá depois o confessor, perdoa a falta, e ao mesmo tempo a pena eterna; e, quando o penitente tem uma grandíssima contrição, recebe também a remissão de toda a pena temporal; mas quando a sua contrição não é bastante grande, fica passível de uma pena temporal, que deve satisfazer, nesta vida ou no purgatório. Ora, o Santo Concílio de Trento nos ensina que, pela penitência sacramental não só se satisfaz a pena merecida, mas ainda se remedeiam os maus efeitos do pecado, as paixões, os hábitos viciosos , a dureza do coração, e, além disso, se adquire força para não recair. Daí compreendemos a vantagem de se confessar mais vezes, senão de quinze em quinze dias, pelo menos mensalmente.

Algumas perguntas com as devidas respostas sobre este assunto de que estamos tratando:

- Que pecado comete quem se descuida de fazer a penitência imposta pelo confessor na confissão? RESPOSTA: Devemos distinguir: se a penitência é leve, peca venialmente; se é grave, peca mortalmente. Quem sente muita dificuldade em cumprir a penitência recebida, pode fazê-la mudar pelo mesmo confessor ou por um outro.

2ª - Pode acontecer que realmente o penitente, dadas as circunstâncias em que se acha, não tenha condição de fazer tudo o que o confessor mandou, então o que fazer? RESPOSTA: O melhor é ali mesmo na hora da confissão, expor para o confessor as dificuldades que terá em cumprir aquela penitência que acabou de lhe impor. E deve dizer assim: Padre, temo não poder fazer esta penitência,  peço que me dê outra. É melhor agir assim do que ficar calado, e aceitar a penitência e depois não fazer nada.

3ª - Em que tempo devemos cumprir a penitência? RESPOSTA: No tempo prescrito pelo confessor; e, se este nada determinar a tal respeito, deve-se cumpri-la logo: pois, quando a penitência é grave, principalmente sendo medicinal, seria grave falta diferi-la por longo tempo.

4ª - Quem, depois da confissão, tivesse a desgraça de recair em um pecado grave, teria ainda de fazer a penitência imposta? REPOSTA: Sim, seria ainda obrigado a isso.

5ª - E a penitência assim feita, em estado de pecado, é satisfatória? RESPOSTA: Sim, é satisfatória.


Infelizmente pode acontecer que haja pessoas que não fazem a penitência imposta pelo confessor. Ou, então, vão adiando, e acabam se esquecendo. Sabei, caríssimos, que se não cumprirdes a vossa penitência neste mundo, tereis de fazer uma muito maior no purgatório. Por isso, devemos considerar a penitência do confessor muito pequena em comparação do castigo que merecemos, e devemos tomar aquela penitência imposta pelo confessor mais como uma lembrança de que devemos fazer mais penitências. Daí está respondida já uma outra pergunta: se a gente pode fazer mais ou maior penitência do que aquela imposta pelo confessor? Respondo: Pode e é sumamente aconselhável que o faça, desde que tenha a discrição para não fazer nada que prejudique à saúde, e faça tudo com muita humildade e reta intenção. 

sexta-feira, 19 de maio de 2017

O SEGREDO DA CONFISSÃO

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA

Dizia Santo Agostinho: "O que eu sei pela confissão, eu o sei menos do que aquilo que ignoro".
E Santo Ambrósio: "Não há nada mais oculto do que é descoberto em confissão".

Esta é a lei: O confessor é obrigado ao mais inviolável segredo a respeito do que sabe pela acusação do penitente. Esta lei do segredo da confissão não admite absolutamente nenhuma exceção. Fosse preciso salvar a sua vida, evitar uma grande desgraça, conservar mesmo a vida a cem milhões de pessoas, jamais o confessor poderia declarar o que ouviu no santo tribunal. Seria antes obrigado a deixar-se queimar vivo, do que revelar um só pecado. Também sempre que o sacerdote se viu colocado na alternativa de escolher entre a revelação do segredo sacramental e a morte, nunca hesitou em escolher a morte. Atesta-o São João Nepomuceno.

Há inúmeros fatos semelhantes ao de São João Nepomuceno. Vou relatar aqui apenas um: Em 1860, um indivíduo cometeu um assassinato. Confessou-se depois, deixando na sacristia, onde um pobre cura o tinha ouvido, uma roupa ensanguentada que pertencia à vítima. O cura foi preso e acusado do crime. Não podia dizer uma só palavra de desculpa sem que violasse o segredo sacramental. Deixou-se, pois, condenar como culpado. Foi degradado e enviado para as minas da Sibéria. Em 1875, o verdadeiro assassino, achando-se no leito de morte, chamou testemunhas e declarou, sob a fé do juramento, que era ele o culpado e que o sacerdote estava inocente. O novo João Nepomuceno foi, pois, chamado do exílio, e solenemente reintegrado em sua paróquia.

Um sacerdote, citado em justiça, deve responder, mesmo com juramento, que ignora o autor de um crime, quando não o sabe senão pela confissão. "Um homem, diz Santo Tomás de Aquino, não pode ser chamado como testemunha senão como homem. É a razão porque o padre não prejudica a sua consciência afirmando ignorar uma coisa de que não teve conhecimento senão como ministro de Deus. Pois, propriamente falando, não foi a ele que se fez a confissão, mas a Deus".


Uma pergunta que geralmente se faz é a seguinte: E o penitente é obrigado ao segredo? Em outras palavras: pode ele contar a outros o que o confessor lhe disse no santo tribunal da confissão? Resposta: O sigilo da confissão foi estabelecido em favor do penitente, e não em favor do confessor. Entretanto, os teólogos concordam em dizer que o penitente é obrigado, pela lei do segredo natural, a não divulgar as palavras do confessor, que possam causar-lhe algum prejuízo. "Eu, acrescento, diz Santo Afonso, que esta lei é mais rigorosa que qualquer outra do mesmo gênero, porque o confessor dá os seus conselhos, não livre e espontaneamente como os outros, mas por dever e por obrigação". Convém, além disso, que o penitente guarde silêncio sobre tudo o que lhe diz seu padre espiritual, pelos seguintes motivos: a) Pelo respeito devido ao sacramento, as coisas santas não devem ser objeto de conversações fúteis; b) Pelo respeito a si mesmo, visto que se expõe por isso a tornar conhecidas as suas próprias faltas, e passar por ter uma língua inconsiderada; c) Pelo respeito que se deve ao confessor, cujas palavras são tantas vezes mal compreendidas e deturpadas pelo penitente; d) Pelo respeito às almas que precisam ter uma confiança muito grande no confessor, confiança que não deixa de diminuir por esta espécie de conversas. Devemos ter presente na mente que o confessor é médico, e, o que se dá atinente às doenças corporais, com as devidas adaptações, se aplica também às doenças espirituais no que se refere a alguns detalhes: por exemplo: os remédios que são salutares para um paciente, podem ser prejudiciais a outros. Assim os conselhos que se aplicam a um penitente, podem não ser salutares a outros, porque as consciências não são iguais: há as consciências delicadas, as escrupulosas e as laxas. Agora, detalhes na confissão que, com certeza não farão nenhum mal a ninguém, mas, pelo contrário será para o bem de todas as almas que deles tomarem conhecimento, o penitente pode externá-los, embora não esteja obrigado a isso. Em algumas das postagens que aqui fiz sobre o "Sacramento da Confissão", relatei alguns destes exemplos. 

quarta-feira, 17 de maio de 2017

DESFAZENDO DÚVIDAS DE CONSCIÊNCIA

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA

Padre, tenho tantas dúvidas de consciência! Que devo fazer? Responderei com o célebre escritor espiritual e grande teólogo o Padre Perriens. Este, por sua vez se baseia em Santo Afonso Maria de Ligori, que, como todos sabem é a maior autoridade na Igreja no que se refere à Teologia Moral.

"Quanto às dúvidas, que podereis ter, relativamente a pecados que não estais certos de ter cometido, ou a confissões talvez mal feitas, se quiserdes manifestá-las ao vosso diretor, para maior tranquilidade, fareis bem, a menos que não sejais escrupulosos; pois, para os escrupulosos, não aconselho a que confessem as suas dúvidas.

Todavia, é bom que conheçais alguns ensinamentos aprovados pelos teólogos, que podem livrar-vos de muitas inquietações e dar-vos a paz.

1. Em primeiro lugar, não há obrigação de confessar os pecados graves, quando duvidosos, ou quando há dúvida de terem sido cometidos com pleno conhecimento ou consentimento perfeito e deliberado.

Além disso, as pessoas que levaram durante muito tempo vida espiritual, quando duvidam de ter cometido ou não algum pecado grave, podem estar certas de não ter perdido a graça de Deus; pois, é moralmente impossível que uma vontade firme nos bons propósitos mude de repente, e consinta em um pecado mortal, sem o conhecer claramente; porque o pecado mortal é um monstro tão horrível, que não pode entrar em uma alma que teve por muito tempo horror a ele, sem se fazer conhecer claramente.

2. Em segundo lugar, quando o pecado mortal foi cometido com certeza, e se duvida se foi confessado ou não, então, não havendo razão para julgar que tenha sido confessado, deve-se certamente declará-lo.

Mas, havendo razão ou presunção fundada de que o pecado foi outrora confessado, não há obrigação de o confessar.

Daí, quando uma pessoa fez as suas confissões gerais ou particulares com o cuidado requerido, e receia ter omitido algum pecado ou alguma circunstância, não precisa acusar-se de novo, pois pode crer prudentemente que fez o que devia.  - Mas, objetar-me-eis, se eu estivesse obrigado a dizer isso, sentiria muita vergonha. Resposta: Não importa; desde que não estais obrigado a falar da vossa dúvida, esta repugnância não vos deve inquietar. Basta dizer em vosso coração: Senhor, se eu soubesse verdadeiramente que devia confessar-me, eu o faria logo, qualquer que fosse a pena que tivesse de sofrer.

Demais, é bom que cada um descubra ao seu diretor as dúvidas que o inquietam, não fosse isto senão para se humilhar, a menos que não seja escrupuloso; pois, neste caso, não deve falar neles. [Escrupuloso: quem tem coceira nas vistas, quanto mais esfrega, mas coça].

Mas o que eu queria principalmente é que fizéssemos conhecer ao confessor as vossas PAIXÕES, as vossas INCLINAÇÕES  e AS CAUSAS das vossas tentações, afim de que ele pudesse achar as raízes do mal; pois, não se arrancando essas raízes, as tentações não cessarão nunca; e há grave perigo de consentir nelas, quando se pode afastar a causa e não se o faz.

É ainda útil, pelo menos, a algumas pessoas, para se humilharem, descobrir as tentações que mais as humilham; tais são especialmente, as tentações contra a castidade. "A tentação descoberta é meio vencida",  diz São Filipe Nery. Eu disse, PELO MENOS A ALGUMAS PESSOAS,  pois, para outras, que são raras vezes tentadas, mas muito tímidas neste matéria, temendo sempre ter consentido, é por vezes prudente proibir-lhes que se confessem sobre tal ponto, enquanto não têm a certeza de ter consentido no pecado."


Gostaria de acrescentar que, uma pessoa que conta as tentações, mas logo garante que não deu consentimento, isto é simplesmente perder tempo no confessionário. Porque aí se contam pecados, e, quando não se consente nas tentações, não há nenhum pecado. E se alguém, porventura só contar tentações nas quais não consentiu, não pode receber a absolvição, a menos que inclua pecados passados já confessados e dos quais tem certeza de ter arrependimento de os ter cometido. Digo isto, porque temos de distinguir duas coisas: a confissão e a direção espiritual. Mas, quando há tempo suficiente, e não vai deixar outros penitentes esperando muito tempo, se pode por ocasião da confissão, fazer também a direção espiritual.  

segunda-feira, 15 de maio de 2017

ESCLARECIMENTOS QUE TRANQUILIZAM A RESPEITO DA CONFISSÃO

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA

Fazemos estes esclarecimentos para que o demônio não engane ninguém na confissão.

Primeiramente, a quantas pessoas devemos fazer conhecer os nossos pecados? Resposta: Basta que o digamos uma vez a um só confessor. E, como já tivemos ensejo de demonstrar, temos obrigação de confessar somente os pecados mortais. Esta é a matéria necessária. Por conseguinte, caríssimos, se o vosso pecado não é mortal, ou se, quando o cometestes, não o considerastes como tal, não sois obrigado a confessá-lo. Por exemplo: uma pessoa cometeu em sua infância uma ação desonesta, ignorando então que isso fosse pecado mortal, não tendo mesmo a menor dúvida a esse respeito; não é obrigada a confessar esse pecado.

Para desfazer outra possível tentação do demônio mudo para afastar alguém da confissão, ou, para levá-la a fazer confissão nula e sacrílega, vou formular mais alguns pretextos que o inimigo das almas costuma apresentar:

Temo, dirá alguém, que o confessor me repreenda, quando ouvir o meu pecado. Resposta: Isto, caríssimo(a), é uma apreensão inteiramente sem fundamento. Repreender-te? Por que? Isto é pura insinuação do demônio mudo, porque o ministro de Deus coloca-se no confessionário, para aí ouvir, não a narração de êxtases e de revelações, ou atestado de pretensas virtudes. O confessor, na verdade, se senta no confessionário, esperando ouvir a acusação de pecados cometidos. E caríssimos, o confessor não pode ter consolação maior do que quando uma alma lhe descobre as suas misérias. Se pudésseis sem muita pena livrar da morte uma rainha ferida pelos seus inimigos, que consolação não experimentaríeis procurando a sua liberdade! Pois bem! é o que faz o confessor, quando uma pessoa vai declarar-lhe o mal de que se tornou culpada: pela absolvição que lhe dá, cura a sua alma ferida pelo pecado, e a livra da morte eterna. Os sacerdotes zelosos têm alegrias que nenhum leigo poderá ter; mas estas alegrias os confessores as levarão consigo para o túmulo. Nós padres, às vezes, parecemos tristes, mas estamos sempre alegres e distribuindo alegrias espirituais.

Outra preocupação: O confessor, ao menos, escandalizar-se-á e tomará para sempre horror de mim. Resposta: Erro completo! Longe de se escandalizar com a vossa conduta, ficará edificado por vos ver fazer a confissão sincera das vossas faltas, apesar da confusão que experimentais. E, depois, pensais que o confessor não ouviu, confessando outros, muitos pecados semelhantes aos vossos, e talvez mais graves? Oh! quem dera que fôsseis só vós que tivésseis ofendido a Deus! Também não é verdade que o confessor vos terá horror; ao contrário, mais vos estimará, e se aplicará de boa vontade a ajudar-vos, comovido pela confiança que lhe testemunhastes, descobrindo-lhe as vossas misérias. Eis o que se passou com  um afortunado penitente de São Francisco de Sales: Muito lutou consigo mesmo para fazer uma confissão geral dos numerosos desvarios da sua mocidade. O bondoso S. Francisco de Sales, que ficara muito comovido com o humilde arrependimento  do penitente, manifestou-lhe o seu contentamento e a sua alegria. "Quereis consolar-me, padre, respondeu o penitente ainda todo confuso; pois, com certeza, não podeis ter ainda estima por um miserável pecador como eu!  -  "Estais muito enganado, replica logo São Francisco de Sales; eu seria um verdadeiro fariseu, se, depois da absolvição, vos considerasse ainda pecador. A meus olhos estais agora mais branco que a neve. Devo amar-vos duplamente: pela grande confiança que me testemunhais, abrindo-me tão perfeitamente o vosso coração, e porque vos tornastes meu filho em Jesus Cristo. De vaso de ignomínia, vejo-vos transformado em vaso de glória; não é certo que a Nosso Senhor agradaram mais as lágrimas do que desagradou a queda de São Pedro? Finalmente, eu teria muito duro coração se não tomasse parte na alegria que experimentam os anjos. Acreditai-me, acrescenta o Santo Bispo, as lágrimas que vi correr dos vossos olhos fizeram em minha alma o que faz a água dos ferreiros, que mais depressa abrasa do que extingue o fogo dos seus braseiros. Ó Deus! como eu vos amo deveras, agora que o nosso coração ama a Deus!" Esse penitente retirou-se tão satisfeito, que não sabia com que palavras exprimir a sua felicidade e o seu reconhecimento. E não contendo dentro de si o oceano de felicidade, externou-o a todos os que queriam ouvi-lo, contando tudo o que aconteceu com ele na confissão feita com o bispo Francisco de Sales.

Outra tentação do demônio: Confessar-me-ei mais tarde. Resposta: Mas, neste caso, o que pode acontecer é a pessoa ir acrescentando mais sacrilégios. E o sacrilégio é coisa horrível!!! E assim, o remédio que Jesus Cristo vos preparou com seu sangue na confissão, é convertido para vossa alma em um veneno mortal! É preciso também pensar no seguinte: quantas mortes repentinas e imprevistas! E então, que será daqueles que deixam a confissão para mais tarde, e são assim surpreendidos pela morte? Que será destes tais para toda a eternidade?

Caríssimos, tomai, pois, coragem. O difícil é só até começar a confissão. Desde que tiverdes começado a abrir o vosso coração, toadas as apreensões se dissiparão, e ficai persuadidos de que , depois da confissão, estareis mais contentes, por ter confessado as vossas faltas, do que um homem do mundo que ficasse rei de toda terra. E ficai sabendo que, quanto maior for a violência que tiverdes feito para vos vencerdes, maior será o amor com o qual Deus vos abraçará.


Para terminar, quero contar um fato: O célebre orador Padre Paulo Ségneri refere que uma mulher fez um tal esforço sobre si mesma, para confessar certos pecados cometidos em sua infância, que desfaleceu. Em recompensa deste ato generoso, Nosso Senhor lhe concedeu uma compunção tão grande e um amor tão forte, que desde esse momento entregou-se à perfeição, praticando austeras penitências. Morreu em odor de santidade. Amém!

quarta-feira, 10 de maio de 2017

É UMA LOUCURA E UMA DESGRAÇA A VERGONHA EM CONFESSAR OS PECADOS

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA

Em primeiro lugar, vamos ouvir a palavra do grande doutor da Igreja, Santo Agostinho: "Que desgraça para vós! Pensais somente na vergonha e não pensais que, se não confessardes, vos condenareis! Ó loucura! não receastes fazer uma ferida mortal em vossa alma, e corais de lhe aplicar o remédio que a pode curar".

O Sacrossanto Concílio de Trento diz: "Se o médico não vê e não conhece bem a chaga, não pode curá-la". Caríssimos, que desgraça para uma alma que se confessa, calar por vergonha qualquer pecado grave! "O que devia reparar o mal causado por este pecado, torna-se um novo triunfo para o demônio", exclama Santo Ambrósio.

Prestai atenção nesta comparação: Os soldados vitoriosos fazem alarde das armas que tomaram ao inimigo; e assim que o demônio se gloria das confissões sacrílegas, armas  de que despojou àqueles que podiam servir-se delas para o vencer. Realmente, como são dignas de lástima estas almas, que mudam assim seu remédio em veneno!

Na  parte superior: símbolo de uma alma no
estado de graça após uma santa confissão.
Na parte inferior do quadro: símbolo de uma
alma dominada pelo demônio após confissão
sacrílega. 
Por exemplo: Tal pessoa teve a desgraça de cair em um pecado grave; mas, não o declarando na confissão, comete um sacrilégio, que é um pecado muito maior; eis aí como o demônio triunfa.
Dizei-me: se, por não ter confessado vosso pecado, devêsseis ser mergulhado em uma caldeira de azeite a ferver, e que depois este pecado devesse ser conhecido por todos os vossos parente e todos os vossos concidadãos, ocultá-lo-eis? Seguramente que não, tanto mais quanto sabeis que, depois de uma boa confissão, o vosso pecado ficaria escondido, e não teríeis de vos sujeitar a esse horrível suplício. Ora, é muito certo que, se não confessais o vosso pecado, ardereis no fogo do inferno durante toda a eternidade, e, no dia do julgamento, esse pecado será conhecido, não só dos vossos parentes e dos vossos concidadãos, mas de todos os homens: "Pois devemos todos comparecer ao tribunal de Jesus Cristo" (2 Cor. V, 10). Se não confessais o mal que fizestes, diz o Senhor, "manifestarei vossas ignomínias a todas as nações" (Naum, III, 5).

Suponhamos: Cometestes o pecado mortal; se não o confessais, sereis condenado. Por conseguinte, se vos quereis salvar, deveis confessá-lo um dia; e, se deveis confessá-lo um dia, por que não agora? Quereis esperar que chegue a morte, depois da qual não podereis mais confessá-lo! Ficai sabendo que, quanto mais diferirdes a sua confissão, multiplicando com isto os sacrilégios, tanto mais hão de aumentar em vós a vergonha e a obstinação, ou o endurecimento do coração. Sabei, outrossim, que, se não confessais o vosso pecado, nunca tereis repouso durante a vossa vida. Ah! que tormento experimenta em si mesmo uma pessoa que sai do confessionário, sem ter declarado o seu pecado" É uma víbora que traz continuamente em seu seio, e que não deixa de lhe dilacerar o coração. Dupla desgraça: sofrerá um inferno nesta vida e na outra! Coragem, pois, o pecador demasiadamente temeroso; se tivestes a desgraça de não confessar algum pecado por vergonha, tomai a resolução de vos acusar dele o mais depressa possível. Isto não é difícil; basta que digais ao confessor: "Padre, tenho vergonha de confessar um pecado". Ou, então,  dizei: "Tenho inquietação de consciência sobre minha vida passada". Será depois trabalho do confessor arrancar o espinho que vos mortifica. Oh! que alegria quando tiverdes expulsado do vosso coração aquela funesta víbora!

Para terminar esta postagem, quero contar um fato histórico: Santa Ângela de Foligno, que também teve, em sua mocidade, a desgraça de ocultar pecados em confissão. Desde muitos anos, o cuidado da sua reputação lhe fechava a boca, quando uma noite, não podendo mais suportar-se a si mesma, levantou-se, ajoelhou e, derramando lágrimas, invocou com fervor o socorro de S. Francisco de Assis, em quem tinha tido sempre uma grande confiança. O santo apareceu-lhe e lhe disse com suave compaixão: "Pobre filha, se me tivésseis chamado mais cedo, desde muito tempo que eu teria vindo em teu auxílio! Amanhã, ao amanhecer, sai de casa; o primeiro padre que encontrares, será este que te envio para te confessar e te salvar". No dia seguinte, de manhã, Ângela encontrou diante da sua casa um bom padre capuchinho que entrou na igreja, para celebrar a missa. Ela seguiu-o; depois da missa, confessou-se com grande arrependimento. Fez desde então tais progressos na virtude, que chegou a uma santidade sublime e foi enriquecida do dom dos milagres. Tal foi sua humildade que fez questão de contar esta passagem de sua vida! Mas ela não tinha obrigação de contar. E realmente só no dia do juízo final, veremos quantas almas se salvaram, por terem rezado para conseguir esta graça de sair de uma vida de sacrilégios!


sexta-feira, 5 de maio de 2017

S.PIO V CODIFICA E CANONIZA O MISSAL - 1570

Pode alguém pensar que São Pio V tenha reformado o Missal Romano e até fabricado um novo Missal. Hoje seria possível  entrar na cabeça de alguém tais conjecturas. Mas não foi isto nem poderia sê-lo. São Pio V apenas restaurou, ou, em outras palavras, codificou e canonizou o Missal. O Concílio de Trento publicou o Catecismo destinado à instrução do povo; e corrigiu o Breviário. Quanto ao Missal era sobremaneira oportuno restaurá-lo para que houvesse um só rito para celebrar a Missa. A edição do Missal, tarefa que deveria ser efetuada o mais cedo possível não o foi pelo Concílio mas por São Pio V. Aliás, já um julho de 1562, fora formada uma Comissão de sete padres com a finalidade de averiguar os abusos a serem corrigidos; fazer uma lista de novos cânones. Tudo isto foi submetido à discussão do Concílio de Trento. A tarefa se resumia em cinco pontos: 1º- Unificar os Missais; 2º - Purificá-los de qualquer erro; 3º Reconduzir o rito romano ao tipo exemplar de sua origem; 4º - Torná-lo obrigatório para todos; 5º - Respeitar, no entanto, os costumes legítimos e em vigor ininterrupto por mais de 200 anos. Acontece que o Concílio se encerrou antes de ter podido realizar por si próprio estas resoluções tomadas. A tarefa ficou por conta do Santo Padre o papa que, então era Pio IV e que morreu antes que os trabalhos estivessem concluídos. Seu sucessor, Pio V realizou esta obra eminentemente religiosa. É este o grande Santo que venceu pelo santo Rosário os turcos muçulmanos em Lepanto.

    Como o plano do Concílio de Trento foi realizado, o próprio São Pio V explica-o no nº 4 de sua Bula "QUO PRIMUM TEMPORE": "Julgamos dever confiar este trabalho a uma comissão de homens eruditos. (O cardeal Ferdnando Antonelli diria: homens bem competentes). Estes começaram por cotejar cuidadosamente todos os textos com os antigos de nossa Biblioteca Vaticana ( A mais completa do mundo no gênero, havia ao todo quase 400 mil volumes) e com outros, quer corrigidos, quer sem alteração, que foram requisitados de toda parte. Depois, tendo consultado os escritos dos antigos e de autores aprovados, que nos deixaram documentos relativos à organização destes mesmos ritos, eles restituíram o Missal propriamente dito, à norma e ao rito dos Santos Padres".

   É desnecessário dizer que nesta comissão não havia "observadores de irmãos recém-separados"). Se os houvesse, com certeza, não sairiam sorridentes e tão pródigos em elogios.

    Pela explanação acima feita pelo próprio São Pio V, trabalho mais completo, mais seguro, mais perfeito, não seria possível realizar-se. Depois, não é só a erudição, a competência, mas, sobretudo a santidade. É o que faz a diferença! Podemos dizer que este trabalho, pelo menos, no essencial, foi suficiente para por um ponto final. E o "INDULTO PERPÉTUO" é uma demonstração disto. E quantos séculos de posse tranquila!!! Quantas e quantas pessoas se santificaram celebrando ou assistindo!!!

   S. Pio V pôde dizer: "Afim de que todos e em todos os lugares (Através deste Missal assim revisto e corrigido) adotem e observem as tradições da Santa Igreja Romana, Mãe e Mestra de todas as igrejas".

   O ponto que chama  a atenção nesta Bula de São Pio V, é o célebre "PRIVILÉGIO" ou "INDULTO". Vamos falar um pouco sobre ele. É mister intendê-lo melhor. A primeira coisa que nos chama a atenção é, de um lado, a firmeza com que São Pio V impõe a obrigação do Missal restaurado; e de outro lado a sua atenção em respeitar os legítimos direitos, mesmo adquiridos por simples costume. Mas o que há de singular, digamos assim, é justamente este "PRIVILÉGIO" . Pois não estava estabelecida a Lei do Missal restaurado com toda firmeza e garantias? Basta concentrarmos a nossa atenção nos termos fortes empregados pelo papa S. Pio V: p. ex.: "Por nossa presente Constituição, que será válida para sempre, Nós decretamos e ordenamos..." e "Decretamos e ordenamos que a Missa, no futuro e para sempre, não seja cantada nem rezada de modo diferente do que esta, conforme o Missal publicado por Nós...' e no fim da bula diz:"Assim, portanto, que a ninguém absolutamente seja permitido infringir ou, por temerária audácia, se opor à presente disposição de nossa permissão, estatuto, ordenação, mandato, preceito, concessão, indulto, declaração, vontade, decreto e proibição. Se alguém contudo, tiver a audácia de atentar contra estas disposições, saiba que incorrerá na indignação de Deus Todo-poderoso e de seus bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo". Estes são, digamos assim, os termos técnicos que todo Papa usa quando faz um decreto.  Quanto ao "INDULTO" trata-se de ALGO ESPECIAL. 

   Este indulto, porém,  é bem diferente daquelas "permissões" de continuar usando os missais em uso aprovado e contínuo por mais de 200 anos. Aliás, este missais são fundamentalmente idênticos ao Missal Romano.Há apenas algumas variantes secundárias.

    O que se deve notar é que este privilégio é acrescentado à própria Lei que decreta e ordena o uso do Missal restaurado. E o indulto é para dar uma nova força à Lei que, como acabamos de ver, já não podia ser mais forte e segura. Por que isso? Só um outro papa, e mesmo assim, só em pontos acessórios, poderia modificar o presente Missal  e impô-lo com estas alterações. Então, neste caso, prevendo esta possibilidade, São Pio V deu este "INDULTO". Entre aqueles que detêm o poder Supremo, como é o caso dos papas, ninguém pode obrigar o seu igual. Assim, São Pio V não pretende restringir o poder de seus sucessores. É óbvio, Mas, caso algum papa, no futuro faça alguma alteração neste Missal que ele ora promulga, resta para os padres ( para celebrar) e consequentemente para os leigos,(para assistir)  uma como que válvula de escape, se assim é permitido dizer. É o 'INDULTO". Ei-lo:"Além disso, em virtude de Nossa Autoridade Apostólica, pelo teor da presente Bula, concedemos e damos o indulto seguinte: que doravante, para rezar ou cantar a Missa em qualquer Igreja, se possa, sem restrição seguir este Missal, com permissão e poder de usá-lo livre e licitamente, sem nenhum escrúpulo de consciência e sem que se possa incorrer em nenhuma pena, sentença e censura e isto para sempre".

   Prestemos bastante atenção como São Pio V começa e como termina o "INDULTO". Começa aduzindo sua AUTORIDADE APOSTÓLICA. Termina com estas palavras: "sem que se possa incorrer em nenhuma pena, sentença e censura e isto para sempre". Ora, quem teria o poder de nestes semelhantes casos, impor uma pena e cominar uma sentença e censura? Outro papa. Portanto, pelo indulto S. Pio V se dirige aos seus sucessores. E assim todos os papas intenderam. Por isso declarou o Santo Padre, o Papa Bento XVI: "A MISSA DE SÃO PIO V NUNCA FOI AB-ROGADA".

   Além disso, parece que S. Pio V, ao dar este "INDULTO" tinha em mente também a possibilidade de no futuro algum papa fazer alguma mudança neste Missal Romano que deixasse alguma intranquilidade nas consciências. Pois, no "INDULTO" ele disse assim: "Sem nenhum escrúpulo de consciência". O "indulto"  seria assim  uma espécie de refúgio seguro. O indulto também garantiria a pessoa de não estar desobedecendo à Igreja.

   São Pio V, do Vaticano, viu em espírito a batalha de Lepanto, e no momento da vitória total do exército católico sobre os turcos, ele pediu que os cardeais e demais pessoas presentes se ajoelhassem juntamente com ele para agradecer a Deus e a Nossa Senhora a milagrosa vitória.
   Mesmo sem precisar supor que São Pio V aqui também, teve uma visão profética do que iria acontecer daí a 400 anos, podemos dizer que ele fez este indulto prevendo a possibilidade de um papa promover uma missa não só bem diferente da de sempre, mas que também deixasse espaço e desse azo para interpretações não ortodoxas. Pois a História é Mestra da vida. E não lemos na História da Igreja que houve papa que, por suas ambiguidades e negligências favoreceu a heresia? E a coisa foi tão grave que este papa foi anatematizado por outro papa e santo. (Trata-se do papa Honório I anatematizado pelo papa São Leão II).

   Mas o "INDULTO" de São Pio V, no meu pobre modo de pensar, também está a dizer a todos os padres e fiéis, que em casos assim tristes da parte de papas, não há necessidade  de se cair no sedevacantismo. São eclipses. Mas a Igreja é divina. Mais cedo ou mais tarde o sol da verdade voltará a brilhar com todo seu esplendor. E Nossa Senhora disse também: "Por fim meu Imaculado Coração triunfará."

     Alguém me perguntou: " Mas um papa não terá poder para realmente acabar com este "Indulto"?

     RESPOSTA: Se um papa tivesse pura e simplesmente o poder de desligar o que outro papa ligou ou vice-versa, seria uma anarquia de ordens sucessivas contraditórias. Por exemplo, no caso presente do "INDULTO", que significado teria São Pio V aduzir sua Autoridade Apostólica, empregar termos jurídicos e bem claros e dizer que é para sempre; para quê? repito, tudo isto, se um seu sucessor tivesse o poder de a seu talante, pura e simplesmente com uma mesma penada derrubasse tudo? Então não é bem assim. Tem poder porque se trata de Lei Eclesiástica; mas há também uma norma a seguir, e esta é: Tem que haver razões gravíssimas: as mesmas que teriam decidido São Pio V a voltar ele mesmo sobre suas próprias ordens.

                                                                                                                                                                                                                  

quarta-feira, 3 de maio de 2017

PODE HAVER PROGRESSO NO DOGMA?

  Extraímos a resposta do livro "POR UM CRISTIANISMO AUTÊNTICO" pág. 4-8. 
   Diz D. Antônio de Castro Mayer, de saudosa memória: "... Os homens fascinados pela miragem de uma felicidade ilusória, procuram criar para si um ideal de vida cristã segundo os moldes das exigências do mundo contemporâneo. Desprezam, neste afã,  o que a tradição católica mantém intransigentemente, e estabelecem novos cânones de um evangelho novo, em nada conforme àquilo que o Filho de Deus veio ensinar aos homens.
   Em primeiro lugar, que é um Dogma?
   Dogma entende-se uma verdade revelada e como tal proposta pela Igreja à profissão de Fé dos   fiéis. Envolve dois elementos. Para que haja "dogma" exige-se que a verdade definida tenha sido revelada, isto é, manifestada aos homens por Jesus Cristo ou mediante outros mensageiros escolhidos por Deus. Tais verdades se encontram no "depósito da revelação", isto é, nas Sagradas  Escrituras e na Tradição Apostólica. Quer dizer que não fazem parte da Revelação outras manifestações particulares de Deus a algumas pessoas, ainda que delas possa advir edificação espiritual para os fiéis. Tais manifestações nada acrescentam de novo à Revelação propriamente dita, e não exigem, como esta, o ato de fé de todos os homens.
   Outro elemento constitutivo do dogma é a definição da Igreja. É a Igreja que tem autoridade para ensinar o que Deus revelou. É a Igreja que goza da assistência do Espírito Santo para não errar quando propõe a Revelação. Pois foi à Igreja que Jesus Cristo mandou pregar o Evangelho a todos os povos (Mc. 16, 15); foi à ela que prometeu sua assistência até o fim do Mundo. (Mt. 28, 20). Assim é a Igreja, o santo Padre, ou o Concílio Ecumênico, que estabelece o Dogma.
   Duas questões, convém, aqui elucidemos. A primeira responde aos incrédulos que vêem nas sucessivas definições da Igreja uma prova da  versatilidade da Instituição de Jesus Cristo.
   Um dogma novo! - A Igreja então varia - dizem - que hoje crê o que ontem negava: tem agora por inconcusso e absolutamente certo o de que antes duvidava; nega no momento ou afirma o que, levada pelo vórtice dos tempos, desdirá mais tarde?!
   Como se enganam estes sábios do mundo que, infelizmente, ignoram a Sabedoria de Deus! No entanto, sua própria ciência deveria encaminhá-los a ver nesta vida da Igreja, que cresce e se desenvolve, um fenômeno natural a todo organismo vivo. Que faz a ciência? - Debruça-se sobre o livro da natureza que Deus, Suma Verdade, lhe abriu à investigação, e vai, pouco a pouco, folheando as páginas desta obra admirável, num esforço contínuo para descobrir as leis que regem este cosmo maravilhoso, e assim melhor conhecê-lo para mais facilmente dominá-lo.
   O sábio não inventa leis, nada cria de novo. Ele apenas verifica as relações existentes nos sêres desde sua origem milenária. Verifica, alegra-se, e coloca-as ao serviço da Humanidade. Quis a Providência dispor as coisas desta maneira, e assim dar à mais nobre das faculdades humanas o alimento espiritual da investigação no grande livro da natureza, onde reluz a Sabedoria da Criação.
   Coisa semelhante se dá com a Revelação, este acervo de verdades sobrenaturais com que se dignou Deus elevar nossa inteligência a uma ordem de conhecimento mais nobre. Este depósito sagrado entregue à Igreja não apresenta todas as verdades de modo explícito e claro. Há nas Sagradas Escrituras e na Tradição muita doutrina que, para ser explícita e claramente conhecida, demanda o estudo laborioso dos Padres e Doutores da Igreja. Assim, muitas verdades da Revelação só vieram a ser definidas mais tarde. E outras,    objeto de fé imediata e direta por parte dos fiéis, com o tempo, graças ao esforço dos estudiosos, tornaram-se mais claras e mais precisas.
   Poderíamos estabelecer um paralelo. Como a Ciência profana aprofunda o conhecimento da natureza, sem nada criar de novo; assim a Ciência sagrada, a Teologia Católica, penetra mais no íntimo do depósito da Fé, elucidando pontos já revelados, sem nada introduzir de absolutamente novo. O conhecimento da Revelação se enriquece e amplia; não há revelação nova. Como a natureza -  com relação à Ciência profana - é melhor apreendida, não é de novo criada.
   Há, porém, uma diferença entre as investigações científicas e os estudos teológicos realizados pela Igreja. Na investigação científica, a inteligência humana, falível por natureza, pode desgarrar-se e fixar-se em erros. Daí a sucessão de hipóteses explicativas dos fenômenos naturais, por vezes, em oposição umas às outras. Na Ciência sagrada, o estudo, enquanto é feito pelo conjunto dos doutores e sob a vigilante orientação da Santa Igreja, goza da assistência do Espírito Santo, de maneira que jamais acontece vir a totalidade dos fiéis a aceitar como certo e revelado aquilo que não foi objeto da palavra divina. O desenvolvimento, metódico e vivo da Fé, não se faz por etapas que se chocam e contradizem, mas de maneira harmônica, como o desabrochar de uma natureza que cresce sempre igual a si mesma, afirmando-se sempre melhor e com mais pujança.
   A definição de um dogma, pois, não quer dizer uma verdade nova, embora implique para o fiel uma obrigação nova: o ato de fé explícito na verdade cuja revelação é autenticada pela palavra da Igreja. Desde o começo da Igreja, lá estava este ponto, que entrava como matéria de Fé no conjunto indeterminado de tudo quanto Deus revelara. Agora, após anos de vida em que a Igreja foi explicitando sua Fé, chegou o momento conveniente de o Vigário de Cristo, no uso de sua infalibilidade, como  Pastor Supremo dos fiéis, declarar que, de fato, este mistério é do número dos revelados.
   Eis o sentido em que se pode falar em evolução dos Dogmas. Pois, no conhecimento dos artigos de Fé, podemos distinguir três períodos. No começo, há a posse pacífica da Revelação, na expressão simples e vulgar que nos apresentam os primeiros símbolos, antigos como os tempos apostólicos. Com o correr dos anos, surgem dúvidas, hesitações, às vezes contraditas. É a fase do esclarecimento, da polêmica apologética, do estudo mais aprofundado das fontes da Revelação, as Sagradas Escrituras e a Tradição. Neste período, aparecem heresias, isto é, posições que desvirtuam o conceito da verdade revelada, e não se submetem às diretrizes da Santa Igreja, a quem compete presidir e guiar as investigações teológicas. Como fruto destes estudos, apologética e polêmica, aclaram-se pontos obscuros, e reponta o conceito exato e, quanto possível, claro do mistério. Fixa-se a expressão da verdade, estabelecem os dogmas propriamente ditos, pois, nesta fase, intervém sempre a palavra autorizada e infalível do Concílio ou do Santo Padre que define o conteúdo da revelação na questão agitada.
   O  segundo ponto, que elucidar, atende às necessidades apologéticas para fazer face a orientações heretizantes que ressurgem no seio da Igreja.
   Quando a Igreja define um dogma, exprime em conceitos humanos, e em palavras humanas, a verdade divina, o mistério revelado. Esta expressão pode ser exata e própria quando se trata de um fato; será exata, mas analógica, quando o revelado for um mistério, no sentido estrito da palavra. Assim, não podemos ter um conceito próprio da Santíssima Trindade, verdade que supera nossa inteligência, aqui na terra. Mas, temos um conceito exato, isto é, isento de erro, quando analogicamente, através de comparações tomadas às coisas criadas, formamos uma ideia deste mistério altíssimo. Estes conceitos a Igreja os exprime em fórmulas dogmáticas, que sempre e em todo tempo, significam a mesma coisa, sempre e em todas as épocas correspondem àquelas idéias em que a Igreja,  guiada pelo Espírito Santo, concebeu o mistério de Deus... Aquilo que há dois mil anos acreditavam os primeiros cristãos, quando diziam que em Deus há uma natureza e três pessoas, é ainda a mesma coisa que nós hoje cremos quando enunciamos este dogma. Houve aperfeiçoamento na elucidação das noções de "pessoa" e "natureza", mas, em substância, o conteúdo da nossa fé foi e é objetivamente o mesmo... A verdade revelada é sempre a mesma. E o aperfeiçoamento  que, no decurso das idades há, não é evolução de um conceito para outro novo, mas progresso no conhecimento do mesmo conceito  que se aclara, que se aprofunda...Não há eliminação de uma verdade a que outra sucede. Na Igreja há vida, há progresso, há pujança, mas sempre da mesma natureza, por desenvolvimento, não por mudança, como sabiamente notou o Lerinense: " progresso quando uma coisa se desenvolve em si mesma; há mudança, quando uma coisa cessa de ser ela mesma e se torna outra. Cuide que haja progresso não haja mudança. Cresçam, pois, estas santas doutrinas, como é necessário. Progridam em amplidão e rapidez no decurso dos anos, com a ciência, a inteligência, a sabedoria de todos e de cada um, de cada indivíduo e de toda a Igreja! Mas que progridam na sua própria natureza (...) Há certamente uma grande diferença entre o desabrochar da infância e a maturidade do homem. Mas o homem e  o menino são a mesma pessoa(...) Que a doutrina da Igreja obedeça, pois, a esta lei do progresso; que ela seja aprofundada com os anos; mas que ela permaneça sempre uma, pura, incorruptível" (São Vicente de Lérins, Comm. 22).
  

terça-feira, 2 de maio de 2017

A CONFISSÃO DOS PECADOS

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA

 Contar os próprios pecados ao confessor talvez pareça algo muito penoso para o homem, que é naturalmente orgulhoso. Por isso devemos pedir a Deus, Nosso Senhor a virtude da humildade. Na verdade, o confessionário é um tribunal de misericórdia. O pecador, o réu se acusa, mas não para ser condenado e sim para ser perdoado. Ma o faz no segredo do confessionário. Como Deus é bom!. Podia exigir, de quem O ofendesse, uma confissão pública das suas faltas, e o pecador devia, mesmo assim, julgar-se muito feliz podendo evitar o inferno por esse preço. Deus, porém, contenta-se com uma confissão secreta, e o sacerdote que a ouve é obrigado ao mais inviolável segredo.

É evidente que a confissão dos pecados para ser boa e, portanto válida, deve apresentar algumas qualidades. São três estas qualidades: humilde, sincera e inteira (íntegra).

Com a graça de Deus, nesta postagem de hoje, vamos explicar a primeira qualidade:

1. A confissão deve ser humilde.

O penitente que se vai confessar deve considerar-se um criminoso condenado à morte, carregado de tantas correntes quantos são os pecados que tem na consciência; assim se apresentará diante do confessor, que ocupa o lugar de Deus, e que só o pode livrar dessas correntes, bem como do inferno que o pecador mereceu. É necessário, pois, que o penitente fale ao confessor com toda a humildade. O pecador não deve dizer uma palavra sequer para se desculpar. É preciso, outrossim, que o próprio tom e a linguagem denotem a humildade do coração.

Eis um exemplo: Um dia, um grande pecador foi procurar S. Francisco de Sales, e confessou-lhe as suas desordens com um tom e uma linguagem que denunciavam falta de arrependimento e de pudor. O Santo rompe em suspiros e em soluços. "Padre, diz o pecador, estais sentindo-se mal?  -  Não, sinto-me bem, mas sois vós que estais mal.  - O penitente disse-lhe: eu, padre, sinto-me otimamente!  -  Pois, bem! então, meu filho, continuai. Então o penitente continua com o mesmo tom, e o Santo a chorar cada vez mais. "Mas, afinal, diz o penitente, porque chorais?  - Eu choro, meu filho, porque vós não chorais, replicou o confessor. A estas palavras, todo envergonhado de si mesmo e completamente transformado, o pecador exclama: "Ó miserável que eu sou! os outros confessores fazem algumas vezes chorar os seus penitentes, e eu faço chorar o meu confessor! Os meus pecados arrancam lágrimas ao inocente, e eu não choro!" E com esta consideração, quase chegou a desfalecer de dor. E desde então tornou-se um modelo de virtude, sobretudo de humildade, chegando ao ponto de contar tudo isto para os outros  afim de se humilhar.

Há alguns que ousam contestar o confessor, e que lhe falam com tanta arrogância, como se ele lhes devesse submissão; que fruto poderão tirar de uma confissão feita assim? É preciso, pois, que testemunheis ao confessor o mais profundo respeito: falai-lhe sempre com humildade, e obedecei humildemente em tudo que vos prescreve! Se, por acaso, algum confessor vos repreender, guardai silêncio, escutai humildemente os seus conselhos, e aceitai com a mesma humildade o remédio que vos dará para vos corrigir.

Não vos zangueis com o vosso confessor, como se vos tivesse faltado com a justiça ou com a caridade. Vamos fazer uma comparação: que diríeis, se vísseis um doente que, em quanto o cirurgião lhe faz uma operação, se queixasse da sua crueldade? Não o acusaríeis de loucura? Ele me faz sofrer, diz o doente.  -  Sim; mas esta dor, que ele vos causa, é o que vos deve curar; de outro modo estaríeis perdido.

Se o confessor vos manda voltar depois de oito ou quinze dias, para a absolvição, e neste intervalo fazer alguma restituição, afastar a ocasião, recomendar-vos a Deus, evitar a recaída, empregar outros remédios que ele vos prescreve  -  obedecei, e ficareis assim livres do pecado.

Não vedes que, antes, tendo sido sempre absolvido, recaístes poucos dias depois nos mesmos pecados? Talvez me respondais: mas, padre, e se nesse meio tempo vem a morte? Respondo: Deus que vos deu vida durante o longo tempo em que vivestes no pecado, sem pensardes em que vos corrigir, agora, que quereis mudar de vida, temeis que vos tire a vida?  -  Entretanto, dizeis ainda: mas, padre, pode acontecer-me que chegue a morte.  Respondo: meu filho! Uma vez que isto pode dar-se, não deixeis de vos conservar disposto a morrer, fazendo continuamente atos de contrição. Já dissemos que quem se acha contrito e disposto a recorrer ao sacramento, recebe de Deus no mesmo instante o perdão dos seus pecados. Depois, caríssimo, pensa no seguinte: que vos serviria receber a absolvição sem demora, cada vez que vos confessásseis, se não renunciais ao pecado? Todas estas absolvições não fariam senão aumentar os vossos tormentos no inferno, porque. Por isso, caríssimo amigo, não fiqueis descontente; quando o confessor diferir a vossa absolvição, quer experimentar-vos algum tempo, para ver como vos conduzis. Se cairdes sempre no mesmo pecado mortal, ainda que vos acuseis, o confessor não pode absolver-vos, sem algum sinal extraordinário e manifesto da vossa boa disposição; doutro modo seríeis condenado e ele também. Submetei-vos, pois, e fazei o que ele vos diz; depois, quando voltardes, tendo observado o que prescreveu, recebereis certamente a absolvição, podereis, assim, fica em paz. Amém!