segunda-feira, 30 de setembro de 2019

ESPÍRITO DE INFÂNCIA - "Conselhos e Lembranças"




Celina e Teresinha
Celina, irmã de Santa Teresinha e que foi também Carmelita com o nome de Irmã Genoveva da Santa Face, recolheu num livro os "CONSELHOS E LEMBRANÇAS"  de Santa Teresa do Menino Jesus. Aqui resumimos o texto em que ela fala do "PEQUENO CAMINHO DA INFÂNCIA ESPIRITUAL" vivido e ensinado por Santa Teresinha do Menino Jesus.

   NB.: Antes de iniciarmos queria lembrar aos caríssimos leitores que o processo de beatificação de Santa Teresinha teve início no dia 8 de maio de 1908 sendo então Papa Pio X. Em 29 de abril de 1923 houve a Promulgação solene em S. Pedro de Roma, do Breve da Beatificação da Venerável Teresa do Menino Jesus. Era então papa, Pio XI.  Já em 16 de janeiro de 1910 a serva de Deus , Irmã Teresa do Menino Jesus, apareceu à Madre Carmela, prioresa do Carmelo de Gallipoli (Itália) e revelou-lhe que o seu "Caminhozinho era seguro. Celina morreu com 83 anos, e, portanto, teve a graça de dar pessoalmente testemunho no Processo de Beatificação e Canonização de sua irmã Sóror Teresa do Menino Jesus.

 

 "No Processo, quando o Promotor da Fé me perguntou porque desejava eu a beatificação de Sóror Teresa do Menino Jesus, respondi-lhe que "era unicamente para dar a conhecer o seu "caminhozinho". Era assim que ela chamava a sua espiritualidade, a sua maneira de ir a Deus. Ele retorquiu: "Se falar de "Caminho", a causa cairá infalivelmente, como aconteceu já em várias circunstâncias análogas".
 
Pintado por Celina em 1912
          "Tanto pior, respondi eu, o medo de perder a causa de Sóror Teresa do Menino Jesus não seria capaz de me impedir de pôr em relevo o único ponto que me interessa: fazer, em certo modo, que se canonize o "caminhozinho". E mantive-me e a causa não caiu à água. Foi por isso que experimentei mais alegria quando do discurso de Bento XV que exaltava a "Infância Espiritual" do que na beatificação e na canonização da nossa santa. Atingira o meu fim nesse dia, 14 de agosto de 1921.
          "Por outra parte, o Summarium  registou esta resposta que eu dei a respeito dos "Dons sobrenaturais": "Foram muito raros na vida da serva de Deus. Quanto a mim, preferiria antes que ela não fosse beatificada do que não dar dela o seu retrato como eu o creio exato em consciência". ... A sua vida devia ser simples para servir de modelo às "almas pequenas".
                   "É fato que em todos os encontros a nossa querida Mestra indicava-nos o seu "caminhozinho". "Para caminhar na "sendazinha", declarava ela, é preciso ser humilde, pobre de espírito e simples". Como ela teria gostado, se a tivesse conhecido, desta oração de Bossuet: "Grande Deus!... não permitais que certos espíritos, alguns dos quais se classificam entre os sábios, e outros entre os espirituais, possam jamais ser acusados no vosso terrível Tribunal, de terem contribuído de alguma maneira para vos fecharem a entrada de não sei quantos corações, porque vós queríeis entrar neles duma maneira cuja simplicidade os chocava e por uma porta que, por mais aberta que esteja pelos santos desde os primeiros séculos da Igreja, não era talvez assaz conhecida deles; fazei antes que, tornando-nos todos tão pequenos como crianças, como Jesus Cristo manda, possamos entrar uma vez por essa portinha, a fim de que em seguida possamos mostrá-la aos outros, mais segura e mais eficazmente".  Assim seja.

Teresa menina e sua mãe: pintura de Celina

             "Não é para admirar que na sua última hora este homem tenha pronunciado estas palavras comovedoras: "Se pudesse recomeçar a minha vida, quereria não ser outra coisa senão uma criancinha a dar sem cessar a mão ao Menino Jesus".
"Teresa soube maravilhosamente na luz revelada aos pequeninos descobrir essa porta de salvação e indicá-la aos outros. A Sabedoria divina e a sabedoria humana não assinalaram, nesse espírito de infância, a verdadeira grandeza de alma?" ... Para a nossa Santa, esta "sendazinha" consistia praticamente na humildade, como já o disse. Mas traduzia-se ainda por um espírito de infância muito acentuado. E assim ela gostava muito de me recordar estas palavras que tirava do Evangelho: "Deixai vir a mim as criancinhas, porque delas é o Reino dos Céus... Os seus anjos vêem continuamente a Face de meu Pai Celeste... Quem for como uma criança será o maior no reino do Céu... Jesus abraçava as crianças depois de as ter abençoado". Evangelho. Ela tinha-as copiado no verso duma estampa na qual estavam as fotografias dos nossos irmãozinhos e irmãzinha que voaram para o céu de tenra idade. Deu-ma de presente, guardando outra igual no seu breviário. As fotografias, agora, estão em parte um pouco apagadas pelo tempo. A estes textos evangélicos ela tinha acrescentado outros, tirados da Sagrada Escritura, que a encantavam e sempre em relação com o espírito de infância: "O Senhor conduzirá o seu rebanho às pastagens. Ele juntará os Cordeirinhos e levá-los-á ao colo" (Isaías, XL, 2). "Se alguém é muito pequeno, venha a mim" (Prov.).

Teresa e seu pai: pintura de Celina
"Mostrei-lhe uma memória mortuária com a fotografia duma criança, falecida em tenra idade; ela pôs o dedo sobre o rosto do bebê, dizendo com ternura e ufania: "Estão todos sob meu domínio!", como se já previsse o seu título de "Rainha dos Pequeninos". Sóror Teresa do Menino Jesus era alta, media um metro e sessenta e dois , ao passo que a Madre Inês de Jesus era muito mais pequena. Disse-lhe eu um dia: "Se a tivessem deixado escolher, que preferiria: ser grande ou pequena? Ela respondeu sem hesitar: "Teria escolhido ser pequena, para ser pequena em tudo".
"A Igreja viu sempre em Teresa do Menino Jesus a Santa da Infância Espiritual. Numerosos são os testemunhos dos Papas a este respeito. Limitar-me-ei a citar o do Pontífice reinante Pio XI, através do seu Legado a latere para a Inauguração da Basílica de Lisieux, a 11 de julho de 1937: "Santa Teresa do Menino Jesus tem uma missão, tem uma doutrina. Mas a sua doutrina, como toda a sua pessoa,  é humilde e simples; reduz-se a estas duas palavras: Infância Espiritual, ou a estas duas equivalentes: "Pequeno Caminho".





domingo, 29 de setembro de 2019

São Miguel Arcanjo na Bíblia.

   Apocalipse, XII, 7-9: "Houve no céu uma grande batalha: Miguel e os seus anjos pelejavam contra o dragão, e o dragão com os seus anjos pelejava contra ele; porém estes não prevaleceram, nem o seu lugar se encontrou mais no céu. Foi precipitado aquele grande dragão, aquela antiga serpente, que se chama demônio e satanás, que seduz todo o mundo, foi precipitado na terra, e foram precipitados com ele os seus anjos".
   EXEGESE DO TEXTO: Miguel (Mi-cha-el = Quem como Deus?) Arcanjo ( 1Tess. IV, 15) é um dos primeiros príncipes  do céu (Dan. X, 13) aos quais estava confiado o povo de Deus (Dan. X, 21; XII,1) e, agora a Igreja, o verdadeiro povo de Deus, a exemplo do que aconteceu no céu entre S. Miguel, unido com os outros santos anjos de Deus, e o Lúcifer, seguido dos seus anjos rebeldes, haverá um terrível combate no fim do mundo entre a Igreja, assistida por São Miguel e seus anjos, e o dragão, isto é, o demônio mesmo e os espíritos infernais. Combaterá São Miguel ajudando e animando os cristãos, e, em particular os ministros da Igreja, visto que com Henoc e Elias fortemente resistirão ao Anticristo, o qual terá em sua ajuda Lúcifer e os seus anjos. (São Beda e São Gregório Magno).

   Daniel, X, 13 e 14: "Porém o príncipe do reino dos persas resistiu-me durante vinte e um dias; mas eis que veio em meu socorro Miguel, um dos primeiros príncipes, e eu fiquei lá junto do rei dos persas. Vim para te ensinar as coisas que estão para suceder ao teu povo nos últimos dias, porque o cumprimento desta visão ainda está para dias (longínquos)".
   EXEGESE DO TEXTO: Cada nação tem o seu anjo protetor que a inspira e lhe guia no verdadeiro progresso espiritual e material. O versículo 13 do capítulo X de Daniel fala do anjo protetor da Pérsia e de Miguel, protetor de Israel. Gabriel, anjo mensageiro de Deus, e Miguel desejavam que Israel voltasse à pátria para restabelecer a cidade e o templo, mas o anjo da Pérsia queria que Israel ficasse para propagar a verdadeira religião. Gabriel se confronta com o anjo da Pérsia, e, ajudado por Miguel, obtém  que se deixe partir Israel. Esta disputa de 21 dias impedira Gabriel de levar a Daniel a revelação divina que está para fazer. São Jerônimo, Teodoreto, São Gregório etc., dizem que este anjo da Pérsia é um anjo bom, dado por Deus para guardar o reino da Pérsia. Mas logo vem a pergunta: Pode um anjo bom opor-se a outro anjo bom? Santo Tomás de Aquino (S.T. q. CXIII, a. 7 e 8) prova que não há nisto nada que repugne à caridade entre os anjos, nem à sua perfeita felicidade. Os anjos se bem que unidos entre si com perfeitíssima caridade, podem ter parecer e vontade diferentes, naquelas coisas em que o querer de Deus não está ainda claramente manifestado. e, assim podem, cada qual olhando um bem sob prisma diferente,  procurar um, uma coisa e o outro, coisa diferente, salvado  sempre, é claro, o beneplácito de Deus. Com mais facilidade compreendemos que o mesmo possa acontecer entre pessoas santas aqui na terra, como o exemplo clássico de São Paulo e São Barnabé. (Cf. Atos, XV, 36-39).
   São Miguel é chamado "um dos primeiros príncipes": quer dizer "um dos anjos principais" ou seja, "o primeiro dos primeiros príncipes".
   Eu fiquei lá junto dos reis dos persas: Fez isto para inspirar a Ciro, rei dos Persas, sentimentos sempre mais favoráveis ao povo hebreu, que no Antigo Testamento era o Povo de Deus.



  Daniel, XII, 1,2 e 3: "Naquele tempo se levantará o grande príncipe Miguel, que é o protetor dos filhos do teu povo; virá um tempo, qual não houve desde que os povos começaram a existir até àquele tempo. E naquele tempo o teu povo será salvo; (sê-lo-á todo aquele que estiver inscrito no livro). A multidão dos que dormem no pó da terra, acordarão uns para a vida eterna e outros para o opróbrio, que terão sempre diante dos olhos. Mas aqueles que tiverem sido doutos resplandecerão como a luz do firmamento; e os que tiverem ensinado a muitos os caminhos da justiça (luzirão) como as estrelas por toda a eternidade."
   EXEGESE DO TEXTO: "Naquele tempo": a profecia, para alguns exegetas, diz respeito, como as anteriores, ao tempo dos Macabeus, mas para a maioria dos santos Padres fala do fim do mundo. Antes do fim do mundo os judeus se converterão, se não todos, pelo menos em sua maioria. As palavras desta profecia são pronunciadas pelo Arcanjo São Gabriel, que já vem falando a Daniel desde os capítulos anteriores. São Gabriel continuando, pois, a instruir o profeta, depois de haver descrito no capítulo anterior a perseguição  de Antíoco, que era uma figura da perseguição do Anticristo, passa agora a falar do que vai acontecer no fim do mundo, quando aparecerá o filho da perdição para fazer guerra à Igreja. Assim o Arcanjo junta dois tempos entre si distintos, junta a figura com o figurado. O mesmo fez Jesus Cristo quando fala da destruição de Jerusalém que é figura do fim do mundo. Jesus engloba numa mesma narração estes dois acontecimentos tão distantes entre si. Num mesmo olhar vê a figura e o figurado. São Jerônimo e outros Santos Padres ensinam que o Arcanjo Gabriel anuncia que naquele tempo de tribulação e de aflição virá o grande São Miguel, o qual foi sempre especialíssimo protetor da Sinagoga (=Igreja dos Judeus) do povo de Deus no Antigo Testamento e agora no Novo é o protetor da Igreja Católica que substituiu a Sinagoga. Realmente será extremamente necessária a ajuda do primeiro Príncipe da Milícia celeste, o Arcanjo São Miguel, porque haverá uma grande tribulação como nunca houve desde o princípio do mundo
   "E naquele tempo o teu povo será salvo": Porque então os judeus crerão em Cristo e se salvarão todos os hebreus cujos nomes estão escritos no livro da eterna predestinação. Se não todos, pelos menos a máxima parte dos judeus reconhecerá que Aquele que o povo judeu crucificou era realmente o Messias.

   Epístola de São Judas Tadeu, versículo 9: "Quando o Arcanjo Miguel, disputando com o demônio, altercava sobre o corpo de Moisés, não se atreveu a proferir contra ele a sentença da maldição, mas disse somente: "Reprima-te o Senhor".
   EXEGESE DO TEXTO: O Apóstolo São Judas Tadeu contrapõe a modéstia e a temperança de São Miguel Arcanjo à petulância e à arrogância dos heréticos, que como animais sem razão, blasfemam das coisas  de Deus que eles nem compreendem. O Arcanjo São Miguel, segundo a ordem do Senhor, quis que ficasse oculta a sepultura de Moisés. O demônio, por sua vez, quis mostrá-la aos Israelitas para dar ao povo, ocasião de idolatria. Nesta disputa São Miguel se contentou em dizer: "Reprima-te, o Senhor", porque, diz São Jerônimo (Ep. ad Ti. III), o demônio verdadeiramente merecia a maldição, mas esta não devia sair da boca de um anjo. A história deste fato não é relatada em nenhuma parte do antigo Testamento. São Judas Tadeu dela pôde ter tido conhecimento através da tradição ou por alguma revelação especial. Alguns santos dizem que, num livro apócrifo sobre Moisés, este fato vem narrado. Devemos observar que nos Livros apócrifos, as vezes se encontra alguma coisa verdadeira.

  ORAÇÃO DE SÃO MIGUEL ARCANJO
   São Miguel Arcanjo, protegei-nos no combate; cobri-nos com o vosso escudo contra os embustes e ciladas do demônio. Subjugue-o Deus, instantemente o pedimos; e vós, príncipe da milícia celeste, pelo divino poder precipitai no inferno a satanás e aos outros espíritos malignos, que andam pelo mundo para perder as almas. Amém.
   

 "Quem como Deus? E Jesus Cristo, Nosso Senhor e Divino Salvador, é Deus, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem; é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, o Verbo de Deus feito Homem para nos salvar na Cruz.
   "De Deus não se zomba, diz São Paulo". Diz ainda o Apóstolo : "Quem não amar a Jesus Cristo, seja anátema".

   Caríssimos, neste ano de 2018, estando próximas as eleições em nosso País, e mais do que em 1964, correndo-se o risco de os Comunistas completarem a obra destruidora nos governos do PT e introduzirem o demônio e o inferno do Comunismo em nossa querida Pátria, fazendo dela uma outra Venezuela, imploramos com toda confiança que  Nossa Senhora Aparecida, o Anjo do Brasil  e  S. Miguel Arcanjo defendam-nos da vitória dos partidos de esquerda e tenhamos um governo cristão que livre o Brasil da leis do aborto, das uniões de pessoas do mesmo sexo, da eutanásia, da ideologia de gênero; que nos livre da corrupção e que haja ordem e progresso; que as pessoas de bem não sejam estupradas, torturadas e mortas por bandidos. Que a Operação Lava Jato não seja extinta e que o querido Brasil seja realmente querido não só por nós mas também pelos imigrantes e turistas das demais nações. S. Miguel Arcanjo defendei-nos neste combate! Amém!

  

  

sábado, 28 de setembro de 2019

MÉTODO PARA ASSISTIR COM FRUTO À SANTA MISSA (Extraído de S. Leonardo de P. Maurício)

LEITURA ESPIRITUAL


INTRODUÇÃO

  Era opinião de S. João Crisóstomo( e também de S.Gregório) que, no momento em que o padre celebra a Missa, os céus se abrem, e multidões de anjos  descem do Paraíso para assistir ao Santo Sacrifício. S. Nilo, abade, discípulo do mesmo S. João Crisóstomo , afirmava que via, quando este santo doutor celebrava, uma grande multidão daqueles espíritos celestes assistindo os ministros sagrados em suas augustas funções...
   Entre os hebreus, enquanto se celebravam os sacrifícios da antiga Lei, nos quais se ofereciam apenas touros, cordeiros e outros animais, era coisa digna de admiração ver com quanto recolhimento, modéstia e silêncio o povo todo acompanhava. E, se bem que o número de assistentes fosse incalculável, além de setecentos ministros que sacrificavam, parecia, no entanto, que o templo estava vazio, pois não se ouvia o menor ruído. Ora, se havia tanto respeito e veneração por estes sacrifícios que, afinal, não eram mais que uma sombra e figura do nosso, que silêncio, que atenção, que devoção não merece a Santa Missa, na qual o próprio Cordeiro Imaculado, o Verbo de Deus feito homem, se imola por nós.
   Bem o compreendia Santo Ambrósio. Após o Evangelho ele virava-se para o povo e o exortava a um piedoso recolhimento e impunha a todos guardar o mais rigoroso silêncio, não só proibindo a menor palavra, mas ainda abstendo-se de ficar raspando goela ou fazer qualquer ruído.E era obedecido. Dizia Santo Agostinho que um santo fervor como que contagiava a todos. Quem quer que assistisse à missa do Santo Bispo, sentia-se tomado de profundo respeito e comovido até ao fundo da alma, tirando assim grande proveito e acréscimo de graças.
  Hoje, infelizmente, até os fiéis não compreendem o valor do silêncio!!! Creio que também é falta de fé.
   Primeiro método: É o das pessoas que, de livro à mão, seguem atentamente todas as ações do sacerdote, a cada uma recitam outra prece vocal que lêem no livro, e  assim passam todo o tempo da Missa a ler. Não há dúvida que, se a essa leitura se junta a meditação dos grandes mistérios, é uma excelente maneira de assistir ao santo Sacrifício, e produz também grandes frutos. 
   São Leonardo considera este método fatigante.

   Segundo método: É o das pessoas que não se servem de livros e não lêem absolutamente nada durante todo o tempo do santo Sacrifício , mas que, com viva fé, fixam os olhos da alma em Jesus crucificado, e, apoiados na árvore da cruz, dela recolhem os frutos por meio de doce contemplação. Passam todo o tempo em piedoso recolhimento interior e na consideração dos sagrados mistérios da Paixão de Jesus Cristo, que são não somente representados, mas misticamente reproduzidos no santo Sacrifício. É certo que estas pessoas, mantendo suas almas assim recolhidas em Deus, exercem atos heróicos de fé, de esperança e de caridade e de outras virtudes, e não há dúvida que esta maneira de assistir à Santa Missa é muito mais perfeita que a primeira, e também mais doce e mais suave, como atesta a experiência de um bom irmão converso. Costumava ele dizer que, ao ouvir a Missa, não lia mais que três letras: a primeira, negra, era a consideração de seus pecados que lhe produziam confusão e arrependimento, e ocupava-o desde o começo ao ofertório. A segunda letra era vermelha: a meditação da Paixão de Cristo, na qual considerava o precioso Sangue que Jesus derramou por nós no Calvário, sofrendo morte tão cruel; nisto se entretinha até à comunhão. A terceira letra era branca:. Enquanto o sacerdote,scomungava, ele se unia a Jesus pela comunhão espiritual, ficando em seguida todo absorto em Deus, contemplando a glória eterna que esperava como fruto do divino Sacrifício. (Ele fazia só a comunhão espiritual, porque naquela época não era permitida a comunhão quotidiana).Esse homem simples, continua S. Leonardo, ouvia a Missa com grande perfeição e quisera eu que todos aprendessem dele tão alta sabedoria.

MÉTODO DE SÃO LEONARDO (Resumo)
   Logo que a Missa começa, enquanto o padre se humilha ao pé do altar, dizendo o Confiteor, fazei também um pequeno exame, excitai em vosso coração um ato de contrição sincera, pedindo a Deus perdão de vossos pecados, e implorando o auxílio do Espírito Santo e da Santíssima Virgem Maria, a fim de ouvir essa Missa com todo o respeito e devoção possíveis. Em seguida, dividi em quatro partes o tempo da Missa, para, nestas quatro partes, vos desobrigardes dos quatro grandes deveres, que são os fins para os quais é celebrado o Santo Sacrifício da Missa.
   PRIMEIRA PARTE: Desde o começo até o Evangelho. Cumpris o primeiro dever de honrar e louvar a majestade de Deus, digno de receber honras e louvores infinitos.É o primeiro fim da Missa, chamado fim latrêutico: ADORAR.  Para isso humilhai-vos com Jesus, abaixando-vos na consideração de vosso nada,e confessai sinceramente que nada sois absolutamente diante da imensa Majestade Divina. Dizei-lho, humilhando-vos não só em vosso coração, como também exteriormente, pois importa assistir à Santa Missa com uma atitude recolhida e modesta. Continuai a fazer muitos atos interiores, comprazendo-vos de que Deus seja infinitamente honrado, e repeti muitas vezes: "Sim, meu Deus, regozijo-me da honra infinita que resulta deste santo Sacrifício, para vossa Majestade; felicito-me e regozijo-me quanto posso".
   Não vos preocupeis em observar à risca as palavras que vos indico, mas usai aquelas que vos inspirar vossa piedade, mantendo-vos recolhido e unido a Deus, Desde modo cumpris o primeiro dever para com Deus: ADORÁ-LO.

   SEGUNDA PARTE: Deste o Evangelho até á Elevação: Cumpris o segundo dever de pedir perdão dos pecados. Este é um outro fim da Missa, chamado propiciatório: PEDIR PERDÃO. Lançando um rápido olhar aos vossos pecados; e vendo a dívida imensa que por eles contraístes com a Justiça divina, dizei com o coração humilhado: "Meu Jesus Bem-Amado, dai-me as lágrimas de Pedro, a contrição de Madalena, e a dor daqueles pecadores que, depois de terem sido grandes pecadores, se tornaram verdadeiros penitentes, a fim de que, por esta Missa, eu obtenha o mais completo perdão de meus pecados. Repeti muito destes atos de profunda e sincera contrição. Dai livre curso a vossos sentimentos e, sem confusão de palavras, mas do fundo do coração. Fazendo estes muitos atos de contrição, todo recolhido em Deus,  ficai certo de que assim pagareis completamente todas as dívidas que, por vossos pecados, contraístes com Deus.

   TERCEIRA PARTE: Depois da elevação até à Comunhão: Cumpris o terceiro dever de agradecer a Deus as graças recebidas. É outro fim da Missa chamado eucarístico: AGRADECER. Considerai os imensos benefícios de que foste cumulado e, em troca, oferecei a Deus um presente de valor infinito: o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo. Convidai mesmo todos os anjos e santos a render graças a Deus, por vós, da maneira seguinte: "Eis-me aqui, meu amado Senhor, cumulado de benefícios tanto gerais como particulares, que concedestes e quereis conceder-me no tempo e na eternidade. Reconheço que vossas misericórdias para comigo foram e são infinitas. Eis aqui, portanto, em reconhecimento e em paga, este sangue divino, este corpo sacratíssimo , que vos apresento pela mão do sacerdote. Ó queridos santos, meus advogados, agradecei por mim a Deus a sua bondade, não viva eu e morra como ingrato, Peço-vos, suplicai-lhe aceitar minha boa vontade e levar em conta o agradecimento cheio de amor, que, por esta missa, lhe oferece, por mim, o meu Jesus". Devemos repetir muitas vezes estes atos de ações de graça pelos benefícios recebidos da Bondade divina.

   QUATA PARTE: Depois da Comunhão até o fim da Missa: Cumpris o quarto dever que é o de pedir novas graças. É o fim da Santa Missa chamado impetratório: PEDIR GRAÇAS. Depois da comunhão sacramental do sacerdote e depois que comungardes também sacramentalmente, ou, senão for o caso, depois que fizerdes a comunhão espiritual, podeis e deveis pedir a Jesus novas graças. Contemplando a Deus nos íntimo de vosso coração, não receeis pedir-Lhe muitas graças, pois neste momento Jesus une-se todo a vós e Ele mesmo ora por vós. Expandi, portanto, vosso coração, pedindo, não coisas de somenos importância, mas grandes graças, já que tão grande é a oferenda que Lhe fazeis, o seu divino Filho. Dizei-Lhe então com o coração repleto de humildade:"Ó meu Deus, reconheço-me por demais indigno de vossos favores; Não mereço ser atendido. Como poderíeis, porém, deixar de escutar vosso divino Filho, que, sobre este altar, pede por mim, oferendo-Vos a sua vida e o seu sangue?"
   Pedi graças para vós, para as crianças, para vossos amigos, parentes e conhecidos; implorai socorro para todas as vossa necessidades espirituais e temporais, rogai para a santa Igreja a plenitude de todos os bens e o fim de todos os males. E não o façais com negligência, mas com grande confiança, seguros de que vossas orações, unidas às de Jesus, serão atendidas. Saí da Igreja com o coração compungido, como se descêsseis do Calvário.
   Dizei-me agora: se tivésseis ouvido deste modo todas as missas às quais assististes até ao presente, de quantos tesouros não teríeis enriquecido vossa alma!?
   No fim de seu livro sobre "As excelências da Santa Missa" São Leonardo traz alguns exemplos para excitar os padres e os fiéis, a uma grande devoção à Santa Missa. Vou transcrever apenas três.

EXEMPLOS
   1º - A piedosa rainha Maria Clemtina, que morreu em Roma com 33 anos de idade e foi assistida no hora da morte pelo mesmo São Leonardo de Porto Maurício. Diz este santo Missionário: "Como a própria Maria Clementina se dignou dizer-me muitas vezes, punha todas as suas delícias em assistir ao divino Sacrifício e cada dia ouvia quantas Missas podia, Mantinha-se imóvel, diz S. Leonardo que o presenciou muitas vezes, sem almofadas, sem apoio , imóvel como uma estátua. Sua carruagem, continua S. Leonardo, percorria a toda velocidade as ruas de Roma, a fim de permitir-lhe chegar a tempo nas diversas igrejas." Esta santa rainha era dirigida espiritualmente por S. Leonardo. Ele afirma que Maria Clementina lhe escreveu um carta jé no leito de morte onde ela afirma que morria porque seu coração não aguentava mais o ardente desejo de receber Jesus todos os dias. E isto naquela época não era permitido.  

  2º - Fora de Roma, diz São Leonardo, conheço uma grande princesa, ilustre tanto por sua piedade como pelo seu nascimento, que ouve cada manhã várias missas, e ocupa suas damas nos trabalhos destinados ao altar, a ponto de enviar caixas cheias de corporais, manustérgios e outras peças semelhantes aos missionários e pregadores, para que as distribuam às igrejas pobres e a fim de que o divino Sacrifício seja oferecido a Deus com toda pompa, decência e solenidade adequadas.

   3º- Para ouvir a Missa Santa Isabel da Hungria se dirigia com grande pompa à igreja. Mas para assistir o Santo Sacrifício da Missa, retirava da cabeça a coroa, os anéis dos dedos, depunha seus ornamentos de rainha, e cobria-se com um véu, ficando em atitude tão modesta que jamais foi vista desviar sequer os olhos. Tudo isso agradou de tal modo a Deus, que Ele quis manifestá-lo a todos: durante a Missa, a Santa aparecia envolta de tal claridade que se velavam de deslumbramento os olhos dos assistentes; parecia-lhes contemplar um anjo do Paraíso.
São Leonardo apresenta inúmeros exemplos e de todas as classes de pessoas. 
Não posso, porém, deixar de fazer-vos uma pergunta: Diante do que vemos hoje, há ou não motivo de chorar?

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

PESADELO OU DEMÔNIO?



Caríssimos, o que vou contar aqui foram fatos que se deram comigo. O primeiro talvez explique os seguintes.

Hoje na explicação da Epístola deste domingo, no meio do sermão, veio-me uma inspiração de contar um fato que se deu comigo no dia 26 de setembro de 1974,  fato este que nunca havia contado publicamente e, particularmente, só a umas três pessoas. E o motivo é porque procurava interpretá-lo como um pesadelo, embora meu superior me tivesse dado a certeza que se tratava de um ataque do demônio.  Hoje, com a experiência de 44 anos de sacerdócio, já aceito a opinião de meu ex-reitor no Seminário que então funcionava nas dependências da Igreja de Nossa Senhora do Terço em Campos, RJ, onde se deu o fato que passo a contar unicamente pensando que possa fazer algum bem às almas.
Este meu superior, que também era pároco desta mesma Igreja, Mons. José Luiz Marinho Villac, pediu que eu pregasse na festa de S. Miguel Arcanjo, celebrada no dia 29 de setembro. Seria meu primeiro sermão, pois tinha sido ordenado diácono em 1974 e só em 08 de dezembro do mesmo ano seria ordenado sacerdote. Durante a novena do Santo Arcanjo da Milícia Celeste estava preparando o sermão. Era o dia 26 de setembro de 1974 e meu colega o diácono Fernando Areas Rifan não estava, não me lembro porque razão. E eis o que aconteceu.

No meio da noite, não me lembro a que horas, eu estava dormindo. Graças a Deus nunca tive problemas no sono. Dormia como uma pedra. Mas, eis que, de repente, senti que uma  serpente e logo depois uma espécie de tênue sombra sem forma bem definida, se atirou contra mim, como para me estrangular. Voei da cama e rolei com aquele ser quase invisível mas, não sei como; pois, sem vê-lo eu o acompanhei em todos os recantos de meu quarto e o tempo todo eu procurava atingi-lo com socos. Havia um monte de malas ao lado de minha mesa de trabalho onde esculpia e pintava. Inclusive, neste mesmo dia havia acabado de esculpir e pintar uma imagem de Nossa Senhora de Fátima. Pois bem, com socos derrubei malas pesadas, derrubei tudo o que estava sobre a mesa, menos, graças a Deus, a imagem que estava no meio da mesa cercada dos meus objetos de escultura e pintura. Não saberia dizer quanto tempo durou a briga. O fato é que o seminarista que dormia no quarto vizinho acordou com o barulho, e depois de ver que o barulho não parava, achou (como ele me disse) que estivesse me defendendo de algum ladrão. Criou coragem e bateu na minha porta. Aí é que acordei. Abri o porta e ele (era o seminarista José Gualandi) disse assustadíssimo: Que foi isto, Murucci? Tem ladrão aí? Você está com a rosto todo cheio de sangue! Falei: não é possível! Mas fui olhar no espelho e confesso que fiquei apavorado. Olhei as mãos e estavam com vários galos e hematomas. Como nunca fui um homem assustado, fui deitar e dormi tranquilamente. Mas no outro dia cedo correu a notícia dentro do Seminário e meu reitor o Revmo. Mons. José Luiz Marinho Villac quis me ver e ficou convicto que fora o demônio que me atacou porque iria pregar na festa de S. Miguel Arcanjo. O detalhe interessante é que todas aqueles hematomas e feridas no outro dia à tarde já haviam sumido inteiramente, ficando apenas uma pequena marca nos lábios até hoje.

Outros fatos: Fui ordenado sacerdote em 08 de dezembro de 1974 e no início do ano seguinte, D. Antônio de Castro Mayer, de saudosa memória, colocou-me nesta mesma paróquia de Nossa Senhora do Terço. E poucos dias após a posse, apareceu na sacristia onde eu estava um homem desconhecido. Disse-me: padre gostaria de conversar em particular com você. Chamei-o para uma sala mais retirada. Ele disse-me: Padre, eu desde bem novo sempre me envolvi com coisas relacionadas ao demônio. Cheguei até aos mais altos graus. Agora, estão me dizendo que, para eu conseguir o máximo, tenho que entregar minha alma ao demônio. Que você acha? Respondi-lhe: não acho nada, devemos ter certeza de estarmos com Deus e rejeitarmos o demônio. Aí disse tudo o que ele devia fazer. Não respondeu nada, despediu-se e foi-se embora. Qual foi sua intenção só saberei no dia do juízo.

Outro fato: Era meu sacristão o Sr. Ayres Penha, de santa memória. Quando me lembro dele, fico pensando que foi um santo, e como era negro, penso que foi um outro S. Benedito. Que rapaz educado e caridoso!!! Todos os campistas que tiveram a graça de conhecê-lo devem concordar comigo: já deve estar no céu. Pois bem! Um dia ele disse-me: Padre Elcio, fique atento porque fiquei sabendo que há na cidade uma mulher extremamente estranha, é uma agente comunista de S. Paulo, mas que percorre o Brasil todo com uma missão diabólica: seduzir os padres que pregam contra o comunismo. Caso ela não consiga, ela espalha calúnias contra eles. E acho que ela usa o confessionário, porque ali o padre fica sem defesa por causa do sigilo sacramental. Por isso, se ela aparecer e pedir confissão V. Reverendíssima, não atenda! Agradeci muito a ele. No outro dia uma mulher ligou pra mim pedindo confissão. Perguntei: a senhora é paroquiana minha? Ela não quis dizer de onde era. Só disse que: "não sou daqui". Pedi que ela viesse depois de três dias e marquei a hora e disse que, primeiro gostaria de conversar em particular com ela. Como eu tinha em Campos um grande amigo militar, por sinal capitão, expus pra ele toda esta história. Ele disse que iria combinar tudo com o Serviço Nacional de Informação, SNI. A sacristia era separada da sala dos paramentos com uma cortina, e os agentes do SNI ficaram atrás com os microfones. A estranha mulher chegou na hora exata e parou na porta e perguntou: não tem ninguém aqui para gravar minha conversa? Disse-lhe sem mentir: Fique tranquila e sente-se aqui.
Hoje, com minha longa experiência em exorcismos, tenho certeza que aquela mulher estava possessa. Ela desviou a conversa e não falou nada que pudesse comprometê-la. A não ser pelo demônio ela não podia saber e nem de longe desconfiar de nada.  Mas ao sair foi seguida dos agentes do SNI. O que  se deu depois não sei.

Atendendo os doentes, porém, topei com uma mulher  que me pareceu ser a tal comunista. Mas, como não tinha certeza, fui conversar com ela. Pois bem, ela não quis se confessar, mas suas conversas foram no sentido de me seduzir, e quando começou a me tocar com maldade, virei as costas e sai quase correndo. Mas tive a inspiração de pedir no hospital a prancheta onde estavam os seus dados pessoais. Sendo eu padre e prometendo guardar segredo logo mo cederam.  Só posso dizer que ficou confirmado ser a tal comunista possessa.
Caríssimos, os comunistas que são na verdade ateus, mas vão às missas celebradas por comunistas padres e nelas comungam, embora sejam favoráveis à lei do aborto e a tudo o que destrói a família, podem estar certos, estes e estas estão possessos de demônios, espíritos malignos espalhados pelos ares.

Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, defendei a nossa querida Pátria do Comunismo! Amém!

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

HUMILDADE

PARA LER E MEDITAR
Como deve cada um sentir humildemente de si mesmo


   Que aproveita a ciência sem o temor de Deus? Aquele que bem se conhece tem-se por vil e não se deleita nos louvores humanos.
   "Não presumas de alta sabedoria, mas confessa a tua ignorância" (Rom. XI, 20).
   Se queres saber e aprender alguma coisa proveitosamente, deseja que não te conheçam, nem te estimem. O verdadeiro conhecimento e desprezo de si mesmo é altíssima e utilíssima lição.
   Grande sabedoria e perfeição é pensar cada um sempre bem e favoravelmente dos outros, e ter-se e reputar-se em nada.
    Se vires alguém pecar publicamente ou cometer culpa grave, não te deves julgar melhor; porque não sabes quanto tempo poderás perseverar no bem.
    Todos somos fracos; mas a ninguém tenhas por mais fraco do que a ti. 
    A soberba derrotou o homem e só a humildade pode levantá-lo e restabelecê-lo em graça com Deus. Seu mérito não está no que ele sabe, senão no que ele faz. A ciência sem as obras não o justifica no tribunal supremo, antes agravará sua sentença. 
    Não deixa a ciência de ter suas vantagens, pois que vem de Deus; mas esconde um grande laço e uma grande tentação: "A ciência incha, diz São Paulo; ela alimenta a soberba, inspira uma secreta preferência de si próprio, preferência criminosa e, ao mesmo tempo, louca, porque a mais vasta ciência não é mais que um outro gênero de ignorância, e a verdadeira perfeição consiste unicamente nas disposições do coração.
    Não esqueçamos nunca que somos nada e nada possuímos de próprio senão o pecado, que a justiça quer que nos abaixemos entre todas as criaturas, e que no reino de Jesus Cristo, "os primeiros são os últimos e os últimos serão os primeiros" (S. Mat. XIX, 30). 
     Meditemos nesta terrível afirmação de São Gregório Magno: "O sinal mais certo da condenação de uma alma é o orgulho". Procuremos aprender de Jesus a ser mansos e humildes. Só assim também, mesmo nesta terra, encontraremos a paz e o descanso. 
    Ó meu Deus, quantas vezes amigo de mim e esquecido de Vós, me esvaeço como os fumos do mundo! Dai-me, Senhor, o verdadeiro espírito de humildade, a fim de que, sendo no mundo o último dos homens, possa entrar com os primeiros no reino de vosso divino Filho no Céu.
     Deste pequeno jardim onde sobressaem as violetas, colherei e levarei comigo durante o dia um ramalhete  cuja simplicidade e perfume ajudem-me a dar muitos frutos de humildade: "Senhor, fazei que eu conheça a Vós e conheça a mim; conheça a Vós, para Vos amar; conheça a mim, para me desprezar" (Santo Agostinho). 

terça-feira, 24 de setembro de 2019

RESPONDENDO OBJEÇÃO CONTRA A HUMILDADE

LEITURA ESPIRITUAL

OBJEÇÃO: Esta humildade excessiva, diz a maior parte das pessoas do mundo, enerva a alma e tira-lhe toda a confiança em suas forças. Acham que uma pessoa humilde seja sinônimo de uma pessoa deprimida, sem coragem e energia.

RESPOSTA: Vamos provar que é precisamente o contrário que é a verdade. Mas, antes permitam-me explicar melhor o principal móvel da humildade em sumo grau. Além do amor à verdade e à justiça como motivadores da suma humildade, quero, antes de refutar a objeção, explanar um pouco mais um outro motivo poderoso, um atrativo irresistível que incita as almas grandes às humilhações e desprezo: É O EXEMPLO DO DIVINO MESTRE.

Caríssimos, no Céu não podia o Verbo eterno humilhar-se; é Filho de Deus, em tudo igual a seu Pai. Desce à terra, faz-se homem. Como homem, é inferior, pode abater-se. Vede agora como abraça as humilhações e os desprezos, como percorre todos os graus da abjeção e aniquilamento. Diz S. Paulo: "Aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens e sendo reconhecido por condição como homem. Humilhou-se a si mesmo, feito obediente até a morte, e morte de cruz" (Filipenses II, 7 e 8). Nasce num estábulo, passa sua vida na oficina dum pobre carpinteiro; morre numa cruz, saturado de opróbrios e afrontas... Que lição, que exemplo, que estímulo! No mundo afinal, não chega a fascinar os mundanos a paixão por uma vil criatura, de quem o coração se enamorou, até fazer-lhes amar seus defeitos, seus caprichos, até imitá-los?! Não se impõem cada dia os sensuais peníveis sacrifícios para agradar a um ídolo de barro?!

E não pode o amor divino arrebatar uma alma, e inspirar-lhe transportes tão vivos, tão veementes como o amor profano? Não pode um cristão inebriar-se tanto no amor do seu Salvador, que ache sua glória e sua dita em se lhe assemelhar, em ser como Ele escarnecido e pisado?

"Fanatismo", dirá o mundo. Mas é que para ele a santa loucura da cruz é um mistério; ignora qual é o preço das humilhações, desde que o Homem-Deus as tomou por divisa.

"Devaneio!" insistirá o mundo.

Caríssimos, interrogai a maior parte das pessoas do mundo, mesmo essas que se prezam de sábias e instruídas, e perguntai-lhes: O que é um cristão humilde? Responder-vos-ão: É um homem que só tem aspirações rasteiras. Dizem ainda: é um homem a quem a devoção destituiu de todo o sentimento da sua dignidade, de toda coragem, de toda magnanimidade, isto é, de todas as energias para  grandes ações.

Eis aí como julga das coisas o mundo insensato! Pois, é justamente o contrário que é a verdade. Conheceis um orgulhoso? Toda a sua aspiração é distinguir-se, dar que falar de si [se desculpam dizendo que é para vencer o respeito humano]. Para atingir seus fins, irá agora arrojar-se ante os grandes da terra e adorar seus devaneios, logo adular ignobilmente a alguém que arvoram em ídolo. O orgulhoso descerá às mais vis, às mais vergonhosas intrigas para suplantar um êmulo e elevar-se em sua queda. Adorador de si mesmo, tendo estima só por si, comprimiu-lhe o egoísmo seu coração, paralisou-lhe todas as potências de sua alma. Debalde esperareis dele sacrifícios generosos em prol do bem público. Joguete de suas paixões, adulador, escravo dos que dispõem das honras e das riquezas, ou se desvanece nas fumaças do orgulho, ou se estira na lama.  

Na verdade, só os humildes mantêm a dignidade da natureza humana. Pois, na pessoa humilde nunca o conhecimento do seu nada e de sua miséria está isolado do conhecimento das grandezas e bondades de Deus. É nada, e de si mesmo nada tem; e assim todo bem que vê em si, reconhece ter recebido de Deus. E sabe que Deus o criou para glória d'Ele, que lhe deu um nobre destino, que por graça de sua misericórdia o admitiu à adoção de seus filhos. Não andará à busca da aprovação duma vil criatura. Sabe que é nobre vassalagem depender senão de Deus! Mas sabe que criado por Deus, deve reverter a Deus; que, redimido pelo sangue de Jesus Cristo, tem o Céu como herança. Os humildes deixam que os amadores da vaidade e da ilusão se fatiguem em demanda das honras, das riquezas e prazeres. Eles puseram suas esperanças bem mais alto e assim as comodidades sensuais mas efêmeras deste mundo, as pessoas humildes as calcam aos pés; livram-se de todos os empecilhos  que tolhem os vôos de seus corações nobres e generosos. A alma dos humildes deixa a terra e voa em busca dos bens celestes e imortais.

Caríssimos, basta compulsarmos a vida dos santos para constatarmos a verdade do que acabamos de escrever. E só para indicar alguns exemplos: Santo Agostinho, S. João Batista M. Vianney, S. Bernardo, S. Francisco de Sales, S. Francisco de Assis, S. Vicente Ferrer, S. Francisco Xavier, S. Vicente de Paulo, Santa Catarina de Sena etc. Não eram todos humildes? Claro que sim, em sumo grau, do contrário não seriam os grandes santos que foram. E, no entanto, que sublimidade em seus pensamentos, que maravilhas no predomínio que exerceram em seus contemporâneos, quando se chega ao conhecimento de seus imortais escritos, sermões, cartas e feitos caritativos e apostólicos. Caríssimos, podemos estar certos que os santos acharam o princípio de sua força e grandeza exatamente na virtude da mais alta humildade.

Enquanto o orgulho, enfatuando as almas de presunção e vaidade, obceca o homem a tal ponto que coloca alguém ou a si mesmo como ídolo, a humildade, fazendo-o curvar aos pés do Soberano Senhor, põe-no em via de receber os mais preciosos dons do céu, a luz para conhecer, e a força para operar. Somos nada, mas tudo podemos em Deus quando oramos com humildade. Tudo podemos em Deus que dá sua graça aos humildes. Assim, nos erguemos do nosso pó, tornando-nos de alguma sorte semelhantes a Deus, fortes de sua força, sábios de sua sabedoria, onipotentes de sua onipotência.  Ao contrário, Deus resiste ao soberbo e abandona-o aos seus próprios recursos, isto é, ao seu nada, e todas as suas obras são infecundas. Agora veio-me a mente um fato: quando se tratou de escolher um candidato ao episcopado para conservação da Tradição em Campos, dois dos nossos padres, foram perguntar a D. Antônio de Castro Mayer qual a sua indicação e ele respondeu: "escolham a Monsenhor Licínio porque ele é humilde".

Quando Jesus Cristo apareceu na terra, havia pelo mundo reis e imperadores, não faltavam oradores afamados e profundos filósofos. Jesus escolheu a estes? Não... bem outro foi o plano concebido pela Sabedoria eterna. Escolheu pobres pescadores, rudes e alguns ignorantes. Ninguém os tinha em consideração. Mas, eis aí, os instrumentos que se há mister nas mãos de Deus para fazer coisas maravilhosas. Sua missão era nada menos que conquistar e mais ainda reformar o mundo inteiro. E como o farão: sofrendo a fome, a sede, as calúnias, as perseguições, as zombarias, os suplícios e a morte. E por que? Para que os mais cegos não possam deixar de ver que não são os homens mas a mão do Onipotente, que tudo fez. Ó sabedoria humana, que confia em seu pretensos dotes e em seu dinheiro e renome, confunde-te! Quão diversos são os juízos de Deus! Deus escolhe as coisas fracas para confundir os fortes!

Olhemos agora o outro lado da moeda considerando apenas um exemplo: Martinho Lutero. Tal homem havia recebido do céu talentos raros, um engenho muito grande; era dever seu fazer disto homenagem ao autor de todo dom perfeito, pô-los ao serviço de Sua glória. Mas ele se maravilha de si mesmo, atém-se às suas próprias forças e ideias. Mas, logo Deus se afastou dele; e eis a razão  que se abala das mais altas regiões, cai e desmorona-se, de queda em queda, aos mais vergonhosos desvios, aos mais incríveis delírios diabólicos. Deus rejeitou o orgulhoso!

Donde devemos concluir sem a menor sombra de dúvida: só os humildes podem esperar de Deus ajuda, amparo e proteção. Só eles, portanto, são capazes de efetuar coisas grandes na ordem sobrenatural e levantar monumentos que sobrevivam às catástrofes dos impérios. Eles, na verdade, nada empreendem, cônscios que estão de sua própria impotência, mas oram com humildade, pedem luzes, pedem forças, e Deus sempre os atende. Deus inspira-lhes algum pensamento para a glória Sua, e ei-los à obra com denodo; não há dificuldade que os amedronte; é seu sentir que, a despeito do seu nada pecador, alentados da força do alto, chegariam a revolver o universo. Não têm em vista nem estima nem respeito. Estão conscientes de que toda a glória do bom êxito  deve ser atribuída a Deus que é quem lhes dá a luz e a força. E Deus reconhece aí a sua obra e por vezes se compraz de sinalá-la com o selo da sua imortalidade. Assim entendemos o porquê de tantas maravilhas operadas no Cristianismo por homens simples e desprezíveis no pensar do mundo.

JESUS MANSO E HUMILDE DE CORAÇÃO! FAZEI O NOSSO CORAÇÃO SEMELHANTE AO VOSSO! Amém!

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

GRAUS DA HUMILDADE



A santidade depende estreitamente da humildade. E, quanto mais um homem é humilde, tanto mais é justo, tanto mais é santo, tanto mais é perfeito. Assim como há três etapas no caminho da perfeição, na humildade há três graus.

Caríssimos, sabemos pelas Sagradas Escrituras que o pecado origina-se do orgulho que não aceita nenhuma submissão. No Céu, no tempo de prova, Lúcifer se rebelou dizendo: "Não servirei!" e muitos anjos seguiram este mau exemplo. Na terra, Eva e Adão caíram também levados pelo orgulho: pensar em ser "iguais a Deus". E este espírito de rebelião passou a todos os homens: é o triste apanágio de nossa natureza decaída. Por efeito do pecado original, somos todos, uns mais outros menos, inimigos da obediência, e da dependência. Como o filho pródigo almejamos liberdade longe de Deus para fazermos o que nos agrada. Ah! que tendência terrível!!! Ai de nós se não adquirirmos a humildade e nela sempre nos esforçarmos por crescer!

PRIMEIRO GRAU DE HUMILDADE: O orgulho está como que entranhado na medula de nossos ossos e infecciona todas as potências de nossa alma. Somos tentados a erigir-nos em pequenos deuses, referindo tudo a nós, como se fôramos o centro e último fim de todas as criaturas.

Mas, quando a luz divina chega a iluminar o nosso espírito e a graça a tocar nosso coração, logo se apressa a despedaçar esse ídolo, isto é, o "Eu". Desvanece-nos o nosso nada e ei-nos convictos de que o primeiro e mais essencial dever da criatura é submeter-se ao Criador, e obedecer a seus mandamentos, dispostos a perder tudo, a sofrer tudo, do que transgredir um só em matéria grave, e ultrajar um Senhor  que é a própria Santidade, onipotente e de suprema Majestade.

Esta disposição é o primeiro grau da humildade. Ele é necessário para a salvação. Portanto, no assalto da tentação, em perigo de ofender a Deus mortalmente, todo o cristão deve prorromper com São Paulo: "Quem me separará do amor de Cristo? Nada, nem o infortúnio, nem a fome, nem a sede, nem a perseguição, nem a espada, nem a morte!" (Rom. VIII, 35). Portanto, quem tiver perseverado até ao fim, resoluto antes a sacrificar seus bens, sua honra, sua vida, do que cometer um pecado mortal, este será salvo; afinal, humilhou-se sob a autoridade do Soberano Senhor, deu a Deus o que essencial e rigorosamente lhe é devido; deve por isso ser contado no número de justos. Mas, se não vai mais longe, não é senão um justo muito imperfeito. E devemos observar, embora de passagem, que as pessoas consagradas a Deus (os clérigos e os religiosos) não podem se contentar só com este grau de humildade.

SEGUNDO GRAU DE HUMILDADE: Consiste em nos submetermos ao nosso Criador com tão profunda entrega, que estejamos devotados a morrer, mas nunca contristá-lo nem na mínima coisa voluntariamente, isto é, de caso pensado. Este estado não aceita afeto nem apego ao pecado venial. As leves faltas em que se cai não são mais que o efeito da fragilidade humana; o coração e a vontade abominam-nas. Fica evidente que esta disposição é bem mais perfeita que a primeira que é o primeiro grau. E assim, quanto mais diante de Deus nos humilhamos, mais nos aproximamos da verdade e da ordem, da justiça e da santidade. E, caríssimos, não será sobremaneira consentâneo à ordem e à justiça que um bom filho jamais dê o mínimo desgosto ao melhor dos pais?

O ínfimo grau de glória vale incomparavelmente mais que nossa vida,e todos os bens deste mundo; porque é Deus o derradeiro fim de todas as coisas, e o fim é sempre de preferência aos meios. Ora a glória de Deus, (refiro-me à sua glória acidental) é que todas as criaturas Lhe sejam totalmente reverentes, que atendam ao mínimo sinal da Sua vontade. Quanto não devemos, logo, abominar o pecado venial, que é uma revolta contra esse Deus; é querer roubar a Sua glória!

Quanto aos eclesiásticos, todos os que possuírem este segundo grau de humildade, serão bispos e padres piedosos, fervorosos, que tratam a miúdo com Deus na oração, e dessas comunicações íntimas haurem as luzes e as graças que tornam seu ministério profícuo entre os povos. Padres assim, até com talentos medíocres farão o que outros não são capazes de fazer com todos os recursos da ciência e do gênio. Exemplo clássico é o do Santo Cura d'Ars!

Quem possui este segundo grau de humildade já é indubitavelmente justo e santo, quando com denodo se sacrifica tudo o que poderia diretamente opor-se à glória de Deus. No entanto, nem por isso se tem chegado a tal desapego das coisas criadas, que não se preze já sua própria reputação, a estima das pessoas virtuosas, certos prazeres inocentes que Deus não reprova. Mas, prestemos bem atenção nisto, sobretudo, nós caríssimos colegas no sacerdócio, que os que estacionam neste segundo grau, sem mirar mais alto, caem a breves passos em faltas impensadas, em muitas imperfeições inevitáveis em tal estado.  É ainda por isso que deixam escapar frequentes ensejos de praticar grandes virtudes. É claro que Deus os ama, e sobre eles derrama copiosas graças. Mas não vê neles a digna generosidade e correspondência, para lhes comunicar os dons extraordinários, os grandes privilégios, de que Lhe apraz cumular os Seus eleitos. É que ainda falta um grau mais excelente da humildade, grau este sim, que constitui o ápice da perfeição evangélica.

TERCEIRO GRAU DE HUMILDADE: De início, devemos observar que o heroísmo da santidade é um dom à parte. Mesmo na perfeição há diferentes graus. É bom, porém, que o conheçamos, mesmo que seja só no intuito de nos humilharmos vendo a imensa distância nossa destes heróis de santidade. Aqui é o lugar de meditarmos nestas palavras do divino Mestre: "Sede perfeitos como vosso Pai Celestial é perfeito"; e também nesta exortação do Divino Espírito Santo: "Aquele que é justo justifique-se mais, aquele que é santo, santifique-se mais" (Apocalipse XXII, 11).

O terceiro grau de humildade inspira à alma fiel tal desprezo do mundo, e tão grande amor ao desprezo, que, se dependesse de sua escolha ser honrada ou desprezada dos homens, e por qualquer destas vias viesse a redundar para Deus a mesma glória, essa alma, calcando aos pés a estima própria e das criaturas, abraçaria as ignomínias e os opróbrios com tanto afã como os mundanos empregam na procura de honrarias, renome e glória humana. E a alma faz esta escolha com toda alegria do coração por assim estar imitando o divino Salvador, e também porque assim se faz mais justiça a si mesma.

Mas, com certeza, muitos hão de perguntar: é possível chegar até lá. Digo que sim, desde que compreendamos bem o que é a humildade, se nos conhecemos perfeitamente a nós mesmos, e se amamos deveras a Nosso Senhor Jesus Cristo. Façamos algumas considerações: Haveis cometido em vossa vida um pecado mortal? Merecestes o inferno; por isto já estás ao nível do demônio. Haveis cometido dois? Com isto estás sob seus pés; pois que ele cometeu um só. Calculai agora a estima que vos é devida, pela que tendes para com os demônios, e para com os réprobos. Pois se ainda vos não achais na sua companhia a quem o deveis? Será à vossa virtude? Não é antes à bondade meramente gratuita do Divino Redentor?

Mas felizmente há almas que nunca cometeram um pecado mortal! Mesmo assim, se tivemos a dita de haver passado através dos perigos sem perdermos a graça batismal, só a vista de nossa baixeza e de tantas faltas em que cada dia caímos, não é para inspirar-nos o desprezo de nós mesmos? Pois, que somos nós por natureza? Nada. E que é o que se deve ao nada? O esquecimento; não se pensa no que não existe. Que somos nós por vontade? Pecadores, rebeldes mais ou menos, mas sempre rebeldes a Deus. E que merece o pecado, a rebelião? O desprezo, o castigo.

Quando nas epístolas de S. Paulo e na vida dos Santos, lemos que eles se consideravam como o lodo e a imundície do mundo, que se reputavam indignos de ver o dia, que se maravilhavam que Deus os pudesse suportar e que os homens não viessem todos a um tempo cobri-los de injúrias e de maus tratos, talvez pareça exagero. Mas não. Os Santos humilhando-se assim faziam-se justiça, e tanto mais eram agradáveis a Deus, quanto mais exata, e mais rigorosa justiça se faziam.

O homem humilde não gosta de receber louvores porque sabe que os não merece. Gostam que o tenham pelo que são em verdade: um nada pecador, e, portanto, um ser vil e desprezível. Eis o conceito que a pessoa humilde faz de si mesma, e folga que os outros pensem como ela. E mais, se alegram se a tratam segundo este julgamento que corresponde a realidade. Já o orgulhoso é um mentiroso, um usurpador, e por isso é que Deus o abomina, e repele com indignação.

A tal ponto nos perverteu a culpa original, que este terceiro grau de humildade constitui um heroísmo. Mas como chegar a termo-nos por pequenos, vis e desprezíveis, quando não podemos deixar de ver que temos feito coisas grandes? Respondo que é só ver isto que diz o Espírito Santo: "E que tens tu, que não recebesses? E, se o recebeste, porque te glorias, como se o não tiveras recebido? ((1 Cor. IV, 7). Portanto devemos dizer: Como Deus tem feito por nós coisas grandes! Então é o caso de só admirar o poder e a sabedoria desse Deus grande, que, com instrumentos tão vis, quando Lhe apraz, opera prodígios! Na verdade, humildade não é desconhecer os dons de Deus e o poder de suas obras; é sim, não se arrogar a sua glória. Que perfeito modelo não é o proceder da Santíssima Virgem Maria: "Minha alma engrandece o Senhor... Porque fez em mim grandes coisas Aquele que é poderoso!"...

Quando alguém nos rende louvores, ilude-se; é uma injustiça que faz a Deus; e nós deveríamos ficar envergonhados, confundidos.

No próximo artigo, se Deus quiser, responderei esta objeção, infelizmente não tão rara: Esta humildade excessiva enerva a alma, e tira-lhe toda a confiança em suas forças, deprime e impede a coragem e a fortaleza.

JESUS, MANSO E HUMILDE DE CORAÇÃO! FAZEI O MEU CORAÇÃO SEMELHANTE AO VOSSO! Amém!

domingo, 22 de setembro de 2019

A VIRTUDE DA HUMILDADE


LEITURA ESPIRITUAL

"Deus resiste aos soberbos e dá a graça aos humildes! (S. Tiago IV, 6; 1 S. Pedro V, 5).

Por estas palavras do divino Espírito Santo, podemos concluir que, sem humildade não se chega ao céu, pois para se salvar é necessária a graça de Deus. E prestemos bem atenção nestas palavras: "Deus resiste aos soberbos", porque se, de um lado Deus dá a graça aos humildes, por outro, RESISTE aos soberbos. Ora, ser resistido por Deus é coisa muito séria. Donde se, fazendo um exame de consciência, alguém chegar à conclusão que é orgulhoso deve empregar todo empenho, todos os meios para combater a soberba e, conseguintemente, adquirir a virtude da humildade. São Gregório escreveu uma palavra que deveria fazer tremer a todos aqueles que não são humildes: "O sinal mais evidente da reprovação é o orgulho". Na verdade, quando este pecado não condena diretamente por si mesmo os homens que o cometem, condena-os por uma multidão de obras más que nascem dele como de uma fonte envenenada. Aliás, a característica deste vício capital é a estreita conexão que tem com os outros vícios. E podemos dizer que assim como a virtude da humildade está presente em todas as outras virtudes, assim também o orgulho está de uma maneira ou outra, ligado intrinsecamente a todos os pecados. E lamentamos como poucas pessoas julgam o orgulho tão nocivo, como efetivamente é. E assim muitos não o combatem e o acolhem sem desconfiança e pior, há pessoas que, dentro de certas entidades, confundem-no à fortaleza de alma no escopo de pretensamente combater o respeito humano. E o demônio empurra tais pessoas para o fanatismo. E não há quem os possa convencer mesmo citando as Sagradas Escrituras e os Santos Padres! E esta disposição, que por certo não é rara, é nimiamente perigosa. Por exemplo: separe-se um homem da Igreja pela heresia, e todos dizem: "o infeliz perdeu a fé". É verdade, mas antes de perder a fé, tinha perdido a humildade; e foi por não querer submeter humildemente seu juízo ao da Igreja, que arvorou o estandarte da rebelião.  Que horror, caríssimos, se, esquecendo do nada que é, o homem se deixar dominar pelo orgulho, odioso vício que o Divino Salvador tem em especial abominação: "O que é excelente segundo os homens, é abominação diante de Deus" (S. Lucas XVI, 15).

Todo o edifício de nossa santificação deve estar construído sobre um alicerce sólido, sobre a rocha. Esta rocha é o conhecimento de si mesmo, que leva o homem a fazer-se justiça, a colocar-se no seu lugar, a ser humilde. A humildade é verdade e é justiça. Vamos explicá-lo: A humildade é o justo juízo que de nós mesmos fazemos, e segundo o qual pautamos a estima de nossa própria excelência. Esta virtude faz que, reconhecendo-nos tais como somos, não nos arroguemos a nós mesmos, nem queiramos que os outros nos arroguem senão o que nos é legitimamente devido. Se, pois, descobrimos que em nós não há, como procedente de nós, bem algum, perfeição nenhuma, seja natural ou sobrenatural, requer a humildade que, restringindo-nos ao nada que é nosso apanágio, nos remontemos até Deus, a quem é devida toda a honra e glória.

Devemos observar, porém, que ninguém é humilde por haver compreendido que é nada, que de si próprio nada se tem. Os filósofos da antiguidade haviam  reconhecido esta verdade, e eram soberbos; a vista da sua baixeza e do seu nada irritava-os e revoltava-os. O primeiro elemento da humildade é este: reconhecer o nosso nada. Esta é a verdade. Mas a humildade não é só isto que está na inteligência. Ela tem sua base na vontade: ela é justiça e assim faz-nos aceitar o que nós merecemos; leva-nos a comprazer-nos nisso, como no que por justiça nos toca. Infere-se daqui que a humildade é uma virtude baseada na verdade conhecida, amada, abraçada com todas as suas consequências, por amor à ordem e à justiça.

Em cima: Fé e humildade do Centurião
A humildade é o fundamento de todas as virtudes, como o orgulho a fonte de todos os vícios. Assim, o maior perigo do orgulho não consiste tanto na falta, que faz cometer contra a humildade, como nas graças, de que priva, e nos numerosos vícios a que conduz infalivelmente suas vítimas. Infelizmente a terra está cheia desses mundanos soberbos, que são verdadeiramente idólatras, e idólatras de si mesmos. Quando estão sós, concentrados em seu espírito, como em santuário profano, colocam-se em face de sua própria excelência e, de turíbulo na mão, admiram-se, extasiam-se  e gabam-se de seu pretendido mérito, preferem-se àqueles com quem se comparam, estão ali diante de seu ídolo, como o selvagem do deserto diante do sol, a quem adora. Pensam só em si mesmos! Deus é como se não existisse!

Devemos concluir que quanto mais uma pessoa é humilde, tanto mais é justa, tanto mais é santa, tanto mais é perfeita. Há, portanto, na humildade tantos graus, como na mesma santidade. No próximo artigo, se Deus quiser, falaremos dos graus da humildade.

Caríssimos, sejamos humildes, sejamo-lo profundamente. Expulsemos do nosso espírito todo o pensamento, todo o sentimento que tiver por origem o orgulho. Esqueçamo-nos de nós mesmos para não pensar senão em Deus. Oponhamos incessantemente às vãs concepções de nosso orgulho o pensamento de nossa miséria e de nossa indignidade.

Nosso Senhor Jesus Cristo é o modelo perfeito de todas as virtudes, mas quis dar toda ênfase sobre a humildade e a mansidão (aliás gêmeas): " Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração!" (S. Mat. XI, 29).

JESUS MANSO E HUMILDE DE CORAÇÃO! FAZEI O MEU CORAÇÃO SEMELHANTE AO VOSSO! Amém!

sábado, 21 de setembro de 2019

HUMILDADE DO CURA D'ARS

Por Abbé A. Monnin

      Para quem não conhecesse o Cura d'Ars pela narração das coisas maravilhosas que se realizavam em torno dele e que lhe mereciam as ovações da multidão, era natural supor que, naquele ambiente de glória que o circundava, o orgulho lhe era, senão a armadilha, ao menos a tentação. Que provação, com efeito, permanecer humilde entre os testemunhos mais expressivos e mais retumbantes da veneração pública! Alguém insinuava certa vez essa ideia diante dele; ele compreendeu, e, levantando os olhos aos céu com uma expressão profunda de tristeza e quase de desalento, disse: "Ah! se ainda eu não fosse tentado de desespero!"
    Um dia recebeu ele uma carta cheia de coisas inconvenientes; pouco depois recebeu outra que só respirava veneração e confiança. e na qual lhe chamavam um santo. Ele o participou às suas caras filhas da Providência: "Vede, diz-lhes, o perigo que há em nos determos nos sentimentos humanos. Esta manhã eu teria perdido a tranquilidade da alma, se tivesse querido dar atenção às injúrias que me dirigiam, e esta tarde teria sido grandemente tentado de orgulho, se me tivesse fiado em todos aqueles cumprimentos. Oh! como é prudente não nos apegarmos às vãs opiniões e aos vãos discursos dos homens, e não fazer nenhum caso deles!"
    Ele dizia ainda a propósito dessas cartas: "Recebi duas cartas pelo mesmo correio; numa diziam que eu era um grande santo, noutra que eu era um hipócrita e um charlatão... A primeira não me acrescentava nada, a segunda nada me tirava: a gente é aquilo que é diante de Deus; e depois, nada mais!"
    Outra vez dizia ele: "O bom Deus escolheu-me para ser o instrumento das graças que ele faz aos pecadores, porque eu sou o mais ignorante e o mais miserável de todos os padres. Se houvesse na diocese um padre mais ignorante e mais miserável do que eu, Deus o teria aproveitado de preferência".
    O Cura d'Ars tinha uma sentença que lhe tornava com frequência à conversação: "Se dizem mal de vós, dizem o que é verdade; se vos cortejam, zombam de vós... Qual é melhor, que vos avisem, ou que vos iludam? que vos tomem a sério, ou que vos escarneçam?"
    O Padre Vianney nunca falava de si primeiro. Se o interrogavam, respondia com uma modéstia que impunha reserva e com um laconismo que reduzia o interlocutor ao silêncio. Depois cortava com tudo que lhe dizia respeito e só procurava desviar a conversa. No mais, esgotava em tais ocasiões todas as formas do desprezo, e a sua humildade era engenhosa em inventar formas novas. Fazia o elogio de um padre a quem estimava, e dizia, na sua linguagem imaginosa e pitoresca, que havia nele algo da andorinha e da águia.
    "- E em V. Revma., sr. Cura, que há?
    " - Oh! o que há em mim? Serviram-se para formar o Cura d'Ars duma pata, duma perua e de uma lagosta".
    "Como V. Revma. é bom", dizia o santo homem a um missionário recém-chegado a Ars, "de vir ajudar-nos!
    "- Sr. Cura, sem falar do prazer que temos de viver junto a V. Revma., é um dever que cumprimos.
    " -Oh não! é caridade!
    "- Sr. Cura não creia isso. Não há caridade da nossa parte. 
    "- Oh! há! Bem vê V. Revma., que, quando V. Revma., está aqui, isto ainda vai; mas quando eu estou sozinho, não valho nada. Sou como os zeros, que só têm valor ao lado dos outros algarismos... Estou velho demais, não presto para nada. 
    "- Sr. Cura, V. Revma. é sempre jovem pelo coração e pela alma.
    "- Sim, meu amigo, posso dizer, como um santo a quem perguntavam a idade, que ainda não vivi um dia".
    Na necessidade que o Padre Vianney sentia de se diminuir e rebaixar, fazia emprego contínuo do termo pobre. Era a sua pobre alma, o seu pobre cadáver, a sua pobre miséria, os seus pobres pecados. Tinha sempre a língua levantada para reconhecer suas faltas, e, a dar-lhe crédito, a sua vida inteira não bastaria para chorá-las. Só acusações tinha a formular contra si próprio.
    A humildade do seu coração fazia-lhe derramar verdadeiras lágrimas sobre a sua fraqueza e ignorância. Essas lágrimas só podiam ser enxugadas pela generosidade do seu ânimo que o premia a lançar-se de olhos fechados, com todas as suas impotências, nos braços de Deus. Ele se exprobrava tudo. Crer-se-ia que ele envelhecera no mal, que era o mais vil e o mais desgraçado dos pecadores. 
    "Como Deus é bom, dizia ele muitas vezes, para suportar as minha imensas misérias!"
    "Deus me fez esta grande misericórdia de não pôr nada em mim em que eu me possa apoiar, nem talento, nem ciência, nem força, nem virtude... Só descubro em mim, quando me considero, os meu pobres pecados. E ainda Deus permite que eu não os veja todos, e que não me conheça todo. Essa vista me faria cair no desespero. Não tenho outro recurso contra esta tentação do desespero senão lançar-me aos pés do tabernáculo, como um cachorrinho aos pés do dono..."
    O servo de Deus era do pequeno número dos que falam da humildade humildemente. "Senhor Cura, como fazer para ser direito? perguntava-lhe um dia alguém.
    "- Meu amigo, é preciso amar a Deus".
    "- Ah! e como fazer para amar a Deus?
    "- Ah! meu amigo, humildade! humildade! É o nosso orgulho que nos impede de nos tornarmos santos. O orgulho é a corrente do rosário de todos os vícios, a humildade é a corrente do rosário de todas as virtudes".
    Eis aqui sobre o mesmo assunto alguns pensamentos do servo de Deus:
   "A humildade é como uma balança; quanto mais a gente se abaixa de um lado, tanto mais é elevada do outro".
    "Os que nos humilham são nossos amigos, e não os que nos louvam".
    "Perguntavam a um santo qual era a primeira das virtudes, e ele respondeu: "É a humildade. - E a segunda? - A humildade. - E a terceira? - A humildade".
    "Jamais compreenderemos a nossa pobre miséria. Faz fremir só o pensar nisto! Deus só nos dá sobre isso uma pequena vista. Se nos conhecêssemos a fundo, como ele nos conhece, não poderíamos viver; morreríamos de pavor".
    "Os santos se conheciam melhor que os outros, e é por isto que eram humildes. Entravam em grandes confusões vendo que Deus se servia deles para fazer milagres. São Martinho era um grande santo e julgava-se um grande pecador. Atribuía aos seus pecados todos os males que sucediam no seu tempo".
    "Ai! não se concebe como e de que uma criatura tão pequena como nós possa orgulhar-se... O diabo apareceu um dia a São Macário, armado de um chicote como para batê-lo, e lhe disse: "Tudo isso que tu fazes eu faço: tu jejuas, eu nunca como; tu velas, eu nunca durmo. Só há uma coisa que tu fazes e eu não posso fazer. - Oh! que é então? - "humilhar-me!" respondeu o diabo; e sumiu-se!...
    "Há santos que punham em fuga o demônio dizendo: "Como sou miserável!"


SÃO JOÃO BATISTA MARIA VIANNEY! ROGAI POR NÓS!

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

CELIBATO SACERDOTAL - PAPA PAULO VI - ( I )

Respondidas as perguntas sobre a Santa Missa, responderei as perguntas que me foram feitas sobre o CELIBATO SACERDOTAL. Esta questão foi muito agitada no Concílio Vaticano II. Seria um dos pontos do "aggiornamento"  e também do Ecumenismo que seria facilitado pela supressão do celibato sacerdotal. Sendo a Igreja divina, o Papa Paulo VI prometeu aos Padres do Concílio que ele mesmo iria imprimir uma nova glória e um novo vigor ao celibato sacerdotal. Para tanto, o Santo Padre escreveu uma carta a Sua Ema. o Card. E. Tisserant, carta esta que foi lida na Congr. Geral 146 de 11 de outubro. Cortava assim pela raiz a fermentação deletéria dos progressistas que tencionavam acabar com o celibato sacerdotal.  
   O Papa Paulo VI, cumprindo a sua promessa, dois anos após o término do Concílio escrivia a Encíclica "Celibato Sacerdotal" (junho de 1967). Desta encíclica extrairei, se Deus quiser, as respostas às perguntas que me fizeram sobre o celibato sacerdotal.
                                                    SIGNIFICADO CRISTOLÓGICO DO CELIBATO
   "O sacerdócio cristão, que é novo, só pode ser compreendido à luz da novidade de Cristo, Pontífice máximo, e Sacerdote eterno, que instituiu o sacerdócio ministerial como participação do Seu Sacerdócio Único. Portanto o ministro de Cristo e administrador dos mistérios de Deus (1 Cor. IV, 1), encontra também n'Ele o modelo direto e o ideal supremo (cf. 1Cor. 11, 1). O Senhor Jesus Cristo, Unigênito de Deus, enviado ao mundo pelo Pai, fez-se homem para que a humanidade sujeita ao pecado e à morte, fosse regenerada e, por meio dum nascimento novo (S. Jo. III, 5; Ti. III, 5), entrasse no reino dos céus. Consagrando-se inteiramente à vontade do Pai (S. Jo. IV, 34; XVII, 4), Jesus realizou, por meio do seu ministério pascal, esta nova criação (2 Cor. V, 17; Gál. VI, 15), introduzindo no tempo e no mundo uma forma de vida, sublime e divina, que transforma a condição terrena da humanidade (Cf. Gál. III, 28).
   "O matrimônio que , por vontade de Deus, continua a obra da primeira criação (Gên. II, 18), ao ser integrado no desígnio total da salvação, adquire novo significado e valor. Na verdade, Jesus, restituiu-lhe a dignidade primitiva (S. Mat. XIX, 3-8), honrou-o (Cf. S. Jo. II, 1-11) e elevou-o à dignidade de sacramento e de sinal misterioso da sua união com a Igreja (Ef. V, 32). Assim, os conjuges cristãos - no exercício do amor mútuo e no cumprimento dos próprios deveres, e tendo aquela santidade que lhes é própria - caminham juntos à pátria celeste. Mas Cristo, Mediador dum Testamento mais excelente (Hebr. VIII, 6), abriu támbém novo caminho, em que a criatura humana, unindo-se total e diretamente ao Senhor e preocupada apenas com Ele e com as coisas que Lhe dizem respeito (1 Cor. VII, 33-35), manifesta de maneira mais clara e completa a realidade profundamente inovadora do Novo Testamento".
   "A correspondência à vocação divina é resposta de amor à caridade para conosco que Jesus Cristo mostrou de maneira sublime (S. Jo. XV, 13; III, 16); é resposta coberta de mistério no amor particular pelas almas a quem Ele fez sentir os apelos mais instantes (cf. Marc. X, 21). A graça multiplica, com força divina, as exigências do amor; este, quando autêntico, é total, exclusivo, estável e perene, é estímulo irresistível que leva a todos os heroísmos. Por isso, a escolha do celibato consagrado foi sempre considerada pela Igreja "como sinal e estímulo da caridade": sinal de amor sem reservas, estímulo de caridade que a todos abraça. Numa vida de entrega tão inteira, feita pelos motivos que expusemos, quem poderá reconhecer sinais de pobreza espiritual ou de egoísmo, sendo ela, e devendo ser, pelo contrário, exemplo raro e excepcionalmente expressivo duma vida impulsionada e fortalecida pelo amor, no qual o homem exprime a grandeza que é exclusivamente sua? Quem poderá duvidar da plenitude moral e espiritual duma vida, assim consagrada não a qualquer ideal por mais nobre que seja, mas a Cristo, e à Sua obra em favor duma humanidade nova, em todos os lugares e em todos os tempos?
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