"Zelo zelatus sum pro Domino Deo Exercituum",1Reis,XIX,10. Tradução do latim para o português:"Eu me consumo de zelo pelo Senhor Deus dos Exércitos". Este é o lema do Santo Profeta Elias que é reconhecido pela Santa Igreja como o Fundador da Ordem Carmelitana. Como estou construindo um Carmelo, escolhi o Profeta Elias como padroeiro deste blog ao lado da Padroeira principal que é Nossa Senhora do Monte Carmelo.
quarta-feira, 30 de dezembro de 2020
ÚLTIMO DIA DO ANO
quinta-feira, 24 de dezembro de 2020
UM NATAL E UM ANO NOVO DE 2021 SANTOS E FELIZES
FELIZ E SANTO NATAL
"Jesus Cristo, sendo rico, se
fez pobre por vós, a fim de que vós fôsseis ricos pela sua pobreza" (II Cor VIII, 9).
Jesus Cristo é o Filho Eterno do Pai Eterno. É o Verbo de
Deus. "Todas as coisas foram feitas
por Ele" (Jo I, 2). Quem mais rico do que o Criador do Céu e da Terra?
Não ganhou, mas CRIOU todas as riquezas, todo ouro e toda pedra preciosa. No
entanto, quem mais pobre do que Jesus? Pobre por escolha: sendo o mais rico,
QUIS ser o mais pobre: nasceu pobre, viveu mais pobre, morreu paupérrimo, e foi
sepultado num túmulo emprestado. Mas, por que assim quis? Para nos dar a
verdadeira riqueza que está no Céu, que é Deus, o Sumo Bem. Não procuremos os
bens, mas o Bem, a fonte de todos os bens.
Hoje muitos
pregam a Jesus, mas não o Jesus pobre, não o Jesus que disse: "Não podeis seguir a Deus e as
riquezas", não o Jesus que é sempre o mesmo, mas um Jesus que deve ser
adaptado aos tempos modernos onde o dinheiro seria a única solução, inclusive
para a Igreja.
O Jesus
verdadeiro não tinha dinheiro: teve que fazer um milagre para que Pedro
recebesse da boca de um peixinho a moeda para pagar o tributo do seu Templo, da
Casa de Seu Pai Eterno. O Jesus dos Evangelhos não espoliou suas ovelhas; deu
sim sua vida por elas. Foi tratado por aqueles que veio resgatar, como um homem
que não tinha direitos. Veio para servir e não para ser servido. Desceu do Seio
do Pai Eterno, dos esplendores do Céu para buscar a ovelhinha tresmalhada da
Humanidade pecadora. Atraiu-nos, não pela pompa, mas pela doçura, mansidão e
humildade. "Aprendei de mim que sou
manso e humilde de coração e encontrareis descanso para as vossas almas" (Mt
XI, 29).
Depois do século X, "século de ferro", a humanidade estava em disputas pelo dinheiro e pelas honras. Muitas pessoas da Igreja também envolvidas pelas paixões da cobiça e da avareza. O crucifixo da capela de S. Damião em Assis, na Itália, milagrosamente falou a um jovem rico que abandonara tudo para seguir a Jesus pobre: "Vai, Francisco, ressoou a voz, restaura a minha Igreja que ameaça ruína!". E Francisco de Assis fê-lo fundando a Ordem dos Frades Menores e, com Santa Clara de Assis, a Ordem feminina. E o fundamento da Regra de sua Ordem era a POBREZA EVANGÉLICA.
Quem, por primeiro, teve a ideia de armar um presépio representando o mais fielmente possível o nascimento de Jesus, foi S. Francisco de Assis.
Menino
Jesus, que quisestes nascer pobre, humilde e penitente, fazei o nosso coração
semelhante ao vosso. SANTO ANO DE 202I, com toda riqueza espiritual que Jesus
nos trouxe. Amém!
quarta-feira, 9 de dezembro de 2020
POR QUE MARIA
POR QUE MARIA?
Ontem, dia 8, celebramos a solenidade da Imaculada Conceição de Nossa Senhora. Dia 27 de novembro, tivemos a festa de Nossa Senhora das Graças e no próximo dia 12 festejaremos Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira da América Latina. Honramos assim aquela mulher predestinada, escolhida por Deus para dela nascer o seu Filho feito homem. Por isso, ela foi preservada do pecado original e cheia de graça, aquela graça perdida por Adão, para si e seus descendentes, recuperada pelo segundo Adão, Jesus Cristo, pela sua Redenção.
Deus havia prometido, no momento do pecado de Adão, que uma mulher com o seu filho, o futuro Salvador, venceria completamente o demônio. Não teria, pois, nenhum pecado. Não teria, em nenhum instante, a menor privação da graça divina. Por isso, essa mulher especial, Maria, escolhida para a Mãe do Redentor, foi saudada pelo Anjo mensageiro de Deus com as palavras: “Ave, ó cheia de graça (agraciada de modo especial) ..., bendita entre as mulheres”, ou seja, sem pecado (privação da graça). A Redenção de Cristo a atingiu, de modo preventivo, preservando-a, por privilégio único, do pecado que atinge a todos os homens.
A Imaculada Conceição de Maria tem muito a ver com o Brasil. Em 1646, o Rei Dom João IV consagrou a Nossa Senhora da Conceição Portugal e todos os seus domínios, nos quais estava incluído o Brasil. E a padroeira oficial do Brasil é Nossa Senhora da Conceição, vulgarmente chamada de Aparecida.
E Nossa Senhora de Guadalupe é honrada por nós de modo especial, por ter sido a primeira aparição dela aqui no Novo Mundo, ao índio São Juan Diego, no México.
Mas, por que honramos Maria, de modo tão especial?
“O nosso mediador é só um, segundo a palavra do Apóstolo: ‘não há senão um Deus e um mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo, que Se entregou a Si mesmo para redenção de todos’ (1 Tim. 2, 5-6). Mas a função maternal de Maria em relação aos homens de modo algum ofusca ou diminui esta única mediação de Cristo; manifesta antes a sua eficácia. Com efeito, todo o influxo salvador da Virgem Santíssima sobre os homens se deve ao beneplácito divino e não a qualquer necessidade; deriva da abundância dos méritos de Cristo, funda-se na Sua mediação e dela depende inteiramente, haurindo aí toda a sua eficácia; de modo nenhum impede a união imediata dos fiéis com Cristo, antes a favorece” (Lumen Gentium 60).
“A Virgem Santíssima, predestinada para Mãe de Deus desde toda a eternidade simultaneamente com a encarnação do Verbo, por disposição da divina Providência foi na terra a nobre Mãe do divino Redentor, a Sua mais generosa cooperadora e a escrava humilde do Senhor. Concebendo, gerando e alimentando a Cristo, apresentando-O ao Pai no templo, padecendo com Ele quando agonizava na cruz, cooperou de modo singular, com a sua fé, esperança e ardente caridade, na obra do Salvador, para restaurar nas almas a vida sobrenatural. É por esta razão nossa mãe na ordem da graça” (Lumen Gentium 61).
*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
http://domfernandorifan.
quinta-feira, 19 de novembro de 2020
NÃO AO RACISMO
RACISMO, NÃO!
O famoso ator Morgan Freeman, negro, entrevistado pelo âncora da CNN sobre o racismo, disse: “Se você fala sobre isso, isso existe. Não é que isto exista e nós nos recusamos a falar sobre isso. O problema aqui é fazer disso um problema maior do que ele precisa ser”. Há, de fato, exageros. Mas o problema do racismo, infelizmente, ainda persiste e o dia nacional da consciência negra, comemorado no próximo dia 20, é ocasião para falarmos do preconceito racial. É um erro antropológico, anticristão e anti-humanitário, fruto do orgulho e da injustiça.
Talvez o racismo procure se justificar com as ideologias dos séculos XVIII e XIX (Nietzsche), nas quais também se baseou o partido totalitário nacional-socialista (Nazi), com a doutrina da superioridade da raça ariana sobre as demais. Por isso, o Papa Pio XI escreveu a encíclica Mit Brennender Sorge (1937), condenando o nacional-socialismo e sua ideologia racista e racialista.
A Igreja já se pronunciara diversas vezes contra o preconceito baseado na cor da pele ou na etnia, proclamando, firmada na divina Revelação, a dignidade de toda a pessoa criada à imagem de Deus, a unidade do gênero humano no plano do Criador e a reconciliação com Deus de toda a humanidade pela Redenção de Cristo, que destruiu o muro de ódio que separava os mundos contrapostos. A Igreja prega o respeito recíproco dos grupos étnicos e das chamadas “raças” e a sua convivência fraterna. A mensagem de Cristo foi para todos os povos e nações, sem distinção nem preferências. “Não há distinção entre judeu e grego, porque todos têm um mesmo Senhor...” (Rm 10,12); “já não há judeu nem grego, nem escravo nem livre..., pois todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gal 3, 28).
Infelizmente, com a descoberta e colonização do Novo Mundo, no século XVI, começaram a surgir abusos e ideologias racistas. Os Papas não tardaram a reagir. Assim, em 1537, na Bula Sublimis Deus, o Papa Paulo II denunciava os que consideravam os indígenas como seres inferiores e solenemente afirmava: “No desejo de remediar o mal que foi causado, nós decidimos e declaramos que os chamados Indígenas, bem como todas as populações com que no futuro a cristandade entrará em relação, não deverão ser privados da sua liberdade e dos seus bens – não obstante as alegações contrárias – ainda que eles não sejam cristãos, e que, ao contrário, deverão ser deixados em pleno gozo da sua liberdade e dos seus bens”. Infelizmente, nem sempre essas normas da Igreja foram obedecidas, mesmo pelos cristãos.
Quando começou o tráfico de negros, vendidos também pelos africanos como escravos e trazidos para as novas terras, os Papas e os teólogos pronunciaram-se contra essa prática abominável. O Papa Leão XIII condenou-a com vigor na sua encíclica In Plurimis, de maio de 1888, ao felicitar o Brasil por ter abolido a escravidão. E o Papa São João Paulo II não hesitou, no seu discurso aos intelectuais africanos, em Yaoundé, em 13 de agosto de 1985, em deplorar que pessoas pertencentes a nações cristãs tenham contribuído para esse tráfico de negros.
*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
CARACTERES DA REDENÇÃO
TEXTOS BÍBLICOS: 1 -(Jesus Cristo)"nos amou e nos lavou
dos nossos pecados no seu sangue" (Ap I, 5).
2 - "Salvador
nosso, Jesus Cristo, que se deu a si mesmo por nós, a fim de nos resgatar de
toda a iniquidade" (Tt II, 14).
3 -
"Cristo se ofereceu uma só vez para apagar os pecados de muitos (de
uma multidão inumerável)" (Hb IX, 28).
REFLEXÕES: 1º - A Redenção é UNIVERSAL: Jesus
Cristo entregou-se para resgate de todos os homens e de todos os pecados: "Cristo Jesus, que se entregou Ele
próprio como resgate por todos (I Tm II, 5 e 6). Cf. Tt II, 14..
2º - A
Redenção foi LIVRE: Jesus sofreu e morreu por nós voluntariamente, porque quis. "Foi oferecido em sacrifício porque
ele mesmo quis" (Is LIII, 7). O próprio Jesus dissera: "Por isso meu Pai me ama,porque dou minha
vida para outra vez a assumir. Ninguém ma tira, mas eu por mim mesmo a
dou" (Jo X, 17 e 18).
3º - A
redenção foi a SATISFAÇÃO pelo pecado: Esta satisfação foi substitutiva, isto é, efetuada por um
MEDIANEIRO, que pagou o débito que a humanidade culpada devia pagar. Foi também
UNIVERSAL e PLENA, ou seja, abrangeu toda a humanidade, e foi adequada à
ofensa. E não só foi plena, mas, outrossim, SUPERABUNDANTE, pois, sendo Jesus
Cristo uma Pessoa divina, seus atos, mesmo os praticados só pela natureza
humana, tinham valor infinito. E se as ações mais ínfimas (como alimentar-se,
dormir, chorar etc.) já tiveram valor infinito, o sacrifício da cruz atinge
alturas incomensuráveis: "Onde
abundou o pecado, superabundou a graça" (Rm V, 20). Ó feliz culpa que
nos mereceu um tal Redentor!!!
4º - A redenção
foi a RECONCILIAÇÃO do homem pecador com Deus: Diz S. Pedro: "Levou nossos pecados no próprio corpo,
sobre o madeiro, a fim de que, mortos para os pecados, vivamos para a
justiça" (I Pe II, 24). Reconciliando o homem com Deus, a redenção foi
assim a libertação da escravidão do demônio: "A fim de destruir pela morte (sofrendo na sua carne e
derramando Seu Sangue) aquele que tinha o
império da morte, isto é, o demônio, e para livrar aqueles que, pelo temor da
morte, estavam em escravidão toda a vida" (Hb II, 15).
5º - A redenção foi RESTAURAÇÃO: Pelo
pecado original o homem perdeu a graça santificante e a glória do Céu. A
redenção restitui ao homem estes dons sobrenaturais: "A todos os que O receberam, deu poder de se tornarem filhos de
Deus, aos que crêem em seu nome" (Jo I, 12).
"E, se somos filhos, também
somos herdeiros: herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo; mas isto, se
sofremos com Ele, para ser com Ele glorificados" (Rm VIII, 17). Estas palavras de S.
Paulo mostram que Deus quer a nossa cooperação. Em outras palavras: Para
lucrarem os benefícios da Redenção, os homens têm que expiar seus pecados, em
união com Jesus Cristo e segui-Lo levando a cruz de cada dia. Diz S. Agostinho:
"Aquele que te criou sem ti, não te salvará sem ti".
PARÁBOLA: Um rei muito bondoso adotara como
filho um rapaz mendigo. Também o rei deu-lhe como esposa uma linda moça e, após
o casamento, colocou-os numa quinta muito rica e bonita. Como filhos adotivos,
eles e seus descendentes seriam, um dia, herdeiros, mas com a condição de se
lhe conservarem fiéis. Mas o jovem casal não manteve o pacto. O rei, então,
mandou-os para o exílio. Ali aquele casal teve muitos filhos que nasceram
naquela extrema miséria. Não puderam herdar nem o título de filhos do rei nem
suas riquezas, porque seus pais tinham perdido tudo isto. Exilados que estavam,
não podiam também entrar no palácio do rei.
O rei era tão
bom que mandou o seu único filho por
natureza ir até aquele exílio. O príncipe
cumpre exatamente a vontade de seu pai e, à custa de fadigas, de suores,
de feridas, adquire grandes benemerências junto do pai, e lhe diz: Por estes
merecimentos te peço que os filhos adotivos desterrados e tornados pobres por
culpa própria, possam todos regressar à vida feliz na corte real. O rei
consente; mas estabelece um tempo de prova, para que cada um, com a fidelidade
ao Soberano e com a observância das leis do Estado, se tornem dignos do favor.
Esta é uma
imagem do que Jesus Cristo fez para nos salvar, e da condição que nos
estabeleceu nesta terra, antes de nos admitir à glória do Céu.
É sumamente
urgente fazermos o que o primeiro chefe visível da Igreja, Simão Pedro, indicou:
"Portanto, irmãos, ponde cada vez
maior cuidado em tornardes certa a vossa vocação e eleição por meio das boas
obras, porque, fazendo isto, não pecareis jamais. Desde modo vos será dada
largamente a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus
Cristo" (II Pe I, 10 e 11). Amém!
sexta-feira, 13 de novembro de 2020
JESUS CRISTO É O ÚNICO SALVADOR
TEXTOS BÍBLICOS: 1 -"Não há salvação em nenhum outro; porque, sob o céu, nenhum outro
nome foi dado aos homens, pelo qual nós devamos ser salvos" (S. Pedro
em At IV, 12).
2 - "Todos
pecaram e estão privados da glória de Deus e são justificados gratuitamente
pela sua graça, por meio da redenção, que está em Jesus Cristo".
REFLEXÕES: Deus criara o homem seu filho e
herdeiro do Céu. Criou-o em estado de graça e santidade. Mas, Adão, Cabeça do
gênero humano, prevaricou e assim perdeu tudo para si e para seus descendentes.
Se não houvesse um Salvador, os homens não poderiam entrar no Céu. Deus, Pai de
sabedoria e bondade infinitas, vendo a fraqueza do homem, quis usar de
misericórdia e dar-lhe um Salvador.
Deus quis
exigir uma reparação perfeita, isto é, equivalente à injúria. Neste plano, só o
próprio Deus poderia ser o Salvador, reparando a honra divina ultrajada pelo
pecado, dando novamente ao homem a graça santificante para assim poder merecer para
o Céu. Na verdade, a gravidade de uma ofensa se mede pela dignidade da pessoa
ofendida. Ora, o pecado ofendeu a Deus que é infinito, perfeitíssimo, a própria
Santidade. Logo o pecado, sob este aspecto, é de uma gravidade infinita. E só
Deus é infinito e, portanto, só Ele é que poderia dar uma reparação plena.
Por outro
lado, sendo o homem que pecou, o salvador da humanidade teria que ser UM
REPRESENTANTE dos homens, isto é, um homem. Concluindo, devemos dizer que o
Salvador deveria ser um DEUS-HOMEM.
Deus,
conciliando a Bondade com a Justiça, decretou a ENCARNAÇÃO: "O Verbo se fez carne e habitou entre
nós" (Jo I, 14). "Assim
como pelo pecado de um só [Adão], incorreram todos os homens na condenação,
assim, pela justiça de um só[Cristo],recebem todos os homens a justificação que
dá a vida" (Rm V, 18).
Como veremos
no capítulo seguinte, Jesus Cristo é uma Pessoa divina, a Segunda Pessoa da
Santíssima Trindade, o Verbo, o Filho. E, como ensina a Filosofia, "as
ações pertencem à pessoa". Assim, mesmo as ações operadas só pela natureza humana de Jesus (e
até as menores e mais simples) têm um valor infinito. Donde, mesmo dentro do
plano divino duma redenção proporcionada à falta, uma prece, uma lágrima de
Jesus seria suficiente. Jesus Cristo não tinha absolutamente nenhuma obrigação
de sujeitar-se aos extremos de suplício infame, vergonhoso e sangrento.
A Encarnação
e a Redenção são mistérios e mistérios de amor. É um amor infinito, e assim não
temos condição de avaliá-lo devidamente. Deus, após o pecado de Adão e Eva, não
quis reluzi-los ao nada do qual os tirou. Nem quis reduzir Adão e Eva ao estado
simplesmente natural e assim toda a subseqüente humanidade. E amou-nos de tal
modo que nos deu o seu Filho Unigênito: "O
Verbo se fez carne e habitou entre nós". S. Paulo diz: "Aniquilou-se a si mesmo, tomando a
forma de servo, tornando-se semelhante aos homens e sendo reconhecido por
condição como homem. Humilhou-se a si mesmo, feito obediente até a morte, e
morte de cruz! (Ef II, 7 e 8).
São sete
abismos de humilhação por nosso amor: Fazer-se homem; tomar a forma de servo;
assumir as fraquezas da carne (exceto o pecado); tomar a semelhança da carne do
pecado (como se Ele fosse o próprio pecado); esvaziar-se de Si mesmo (aniquilar-se);
fazer-se obediente até à morte; derramar o seu Sangue até a última gota numa
cruz. Razão tinha S. Paulo em dizer: "Quem
não amar a Jesus Cristo, seja anátema" (I Cr XVI, 22).
EXEMPLO: À entrada do Templo o Apóstolo Pedro disse a um homem paralítico
de nascimento: "Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou: Em
nome de Jesus Cristo de Nazaré, levanta-te e anda. E tomando-o pela mão direita
o levantou, e imediatamente, se lhe consolidaram os pés e os tornozelos. E,
andando, soltando e louvando a Deus, entrou no Templo juntamente com os
apóstolos Pedro e João.
Jesus deu-nos a vida e, em
abundância: onde abundou o pecado do homem, superabundou a graça de Jesus
Cristo. Amém!
terça-feira, 10 de novembro de 2020
A VIDA CRISTÃ
TEXTO BÍBLICO: "Eu sou a verdadeira videira... Permanecei em mim e Eu em vós. Como
a vara não pode de si mesma dar fruto, se não permanecer na videira, assim
também vós, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira e vós os ramos. O que
permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto, porque, sem mim, nada podeis
fazer" (Jo XV,
1-5).
REFLEXÕES: A SS. Trindade, fonte de todo bem,
deu-nos todo um organismo sobrenatural:
a graça habitual (santificante), as virtudes infusas e os sete dons. Mas o
homem, por si mesmo, não tem condição de fazer movimentar esta vida
sobrenatural. Deus, então, nos dá as graças atuais. Tudo isto, porém, é operado
pelos méritos e satisfações do nosso divino Salvador. Por esta razão, esta vida
sobrenatural é chamada CRISTÃ. Podemos e devemos dizer mesmo que Cristo é toda
a vida espiritual. Na verdade, tudo na vida cristã, converge para Cristo, fonte
de toda santidade.
Jesus Cristo
é a causa MERITÓRIA, a causa EXEMPLAR e a causa VITAL da nossa santificação. (Explanaremos
tudo isto em artigos distintos).
Cristo é a causa meritória, porque Ele reconquistou os nossos direitos à
graça e à glória no Céu. É a causa exemplar porque mostra com
seus exemplos como devemos viver para nos santificarmos. É a causa vital da nossa santificação
porque é a Cabeça deste Corpo Místico (Igreja) de que somos membros.
No Santo
Sacrifício da Missa, pouco depois da Consagração, o celebrante, tendo na mão
direita a Hóstia divina, traça com ela cinco cruzes, dizendo: "Por Ele,
com Ele e n'Ele, a Vós Deus Pai Onipotente, na unidade do Espírito Santo, demos
toda honra e glória". Sim, por Cristo, com Cristo e em Cristo, é que a SS.
Trindade nos santifica. Como a Santíssima Eucaristia é o próprio Jesus, ela é a
fonte e o ápice da vida cristã. Contém todo o bem espiritual da Igreja. A nossa
santificação está na união íntima com Jesus Cristo. E justamente a Comunhão
aumenta esta união com Ele: "Quem
come a minha carne e bebe meu sangue, permanece em Mim e Eu nele" (Jo
VI, 57).
Como todos
os SACRAMENTOS foram instituídos por Jesus Cristo e d'Ele recebem toda
eficácia, também dão a vida de fé do cristão: origem (Batismo) e o crescimento
(Confirmação e Eucaristia), cura (Penitência e Unção dos Enfermos) e missão
(Ordem e Matrimônio).
A
ORAÇÃO é, outrossim, elemento
indispensável da vida cristã: é feita em NOME de Nosso Senhor Jesus Cristo. E
Ele afirmou que o Pai nos concederá tudo o que pedirmos em seu nome (Cf. Jo XV,
16).
EXEMPLO: Atalarico, rei dos Godos, sendo pagão,
perseguiu a ferro e fogo os cristãos. Fazia passar pelas regiões um carro tendo
em cima a estátua de um ídolo: todos aqueles que não saíssem para adorá-lo,
eram mortos.
Na região
onde morava S. Saba, havia pagãos tão afeiçoados a este servo de Deus por causa
de sua caridade, que a todo transe queriam conservá-lo em vida. Mas, bem
sabendo que de modo algum ele se deixaria persuadir a apostatar, pensaram em ir
ter com os oficiais imperiais para atestarem que no seu distrito não havia
sequer um só cristão e portanto não deviam perder o tempo em ir lá com o carro
e com o ídolo. Mas S. Saba soube deste pensamento e começou a gritar:
"Desventurados, que é que estais maquinando? Quereis dizer uma mentira
para me salvar? Quereis ofender a Deus para me conservardes a vida? Que é a
minha vida e o mundo todo para que se deva antepô-lo à glória de Jesus?
E quando
chegou o carro do ídolo, logo ele saiu fora de sua tenda gritando: "Não
adorarei o demônio! Pela graça de Deus, nunca renunciarei ao meu divino
Redentor, Nosso Senhor Jesus Cristo! Sou cristão e podem matar-me. E assim o
fizeram. (Vida dos Santos, por Vogel).
Ó Jesus, dai-me a vossa graça, o
vosso amor e a perseverança neles até ao fim! Amém!
sábado, 7 de novembro de 2020
A GRAÇA ATUAL
GRAÇA ATUAL
TEXTOS BÍBLICOS: 1 -"É Deus que
opera em nós o querer e o fazer" (Fl II, 13).
2 - "Ora, sendo nós cooperadores (de Cristo) vos exortamos a que não recebais em vão a graça de Deus" (II
Cr VI, 1).
REFLEXÕES: Deve-se distinguir a graça habitual, que é uma disposição
permanente para viver e agir conforme o chamado divino, e as GRAÇAS ATUAIS, que
são as intervenções divinas, quer na ordem da conversão, quer no decorrer da
obra de santificação. Na verdade, Deus acaba em nós aquilo que Ele mesmo
começou: começa com sua intervenção, fazendo com que nós queiramos e acaba
cooperando com as moções de nossa vontade já convertida. Como mostrou S.
Agostinho, Deus termina premiando os seus próprios dons, porque todo bem vem
d'Ele, o Sumo Bem. Daí a oração deste doutor da graça: "Dai-me o que ordenais, e ordenai-me o que quiserdes".
Se na ordem
da natureza já temos necessidade do concurso de Deus para agir, com maior
razão, na ordem sobrenatural. Para exercitar as nossas faculdades (inteligência
e vontade) precisamos de moções divinas: são as graças atuais. São luzes
para a inteligência e força para a vontade. Daí a definição dada pelos
teólogos: Graça atual é um auxílio
sobrenatural e transitório que Deus nos dá para nos iluminar a inteligência e
fortalecer a vontade na produção dos atos sobrenaturais. A graça atual
eleva e move nossas faculdades espirituais.
Exemplo de
graça interior: antes da conversão (justificação) ela ilumina o pecador acerca
da malícia e dos temerosos efeitos do pecado, para o levar a detestar tão
grande mal. Depois da justificação (conversão), mostra-lhe, à luz da fé, a
infinita beleza de Deus e a sua misericordiosa bondade, a fim de levar o
convertido a amá-Lo de todo coração.
Exemplo de
graças exteriores: Estas graças atingem INDIRETAMENTE as nossas faculdades espirituais (e quase
sempre são acompanhadas de graças interiores). São: leituras espirituais (máxime
das Sagradas Escrituras), vida dos Santos, sermões, o bom exemplo de pessoas
piedosas, boas conversas, músicas religiosas (como o Gregoriano e as parecidas
a este) etc. São coisas que causam impressões
favoráveis à conversão e/ou à santificação.
S. Paulo
exorta-nos a não recebermos em vão as graças de Deus, porque, na verdade, Deus
respeita a nossa liberdade: criou-nos sem nós, mas não nos santifica sem nós;
Deus exige a nossa LIVRE COOPERAÇÃO. Cabe-nos acolher com alegria as primeiras
iluminações da graça, seguir docilmente as suas inspirações, mau grado os
obstáculos, e pô-las em prática, mesmo se exigir grandes sacrifícios. Mas Deus
não se deixa vencer em generosidade: quando correspondemos com generosidade,
Ele já tem novas graças para nos dar.
"Se aprouve
à bondade divina, diz Tanquerey, derramar nas nossas almas uma vida nova, uma
participação da sua vida divina, se nos deu virtudes e dons para praticarmos
atos sobrenaturais e deiformes; se, pela graça atual, nos convida ao esforço,
ao progresso espiritual, ficar-nos-ia mal rejeitar estas amabilidades divinas,
levar uma vida medíocre e só produzir frutos imperfeitos".
PARÁBOLA: Uma princesa, órfã de pais, morava
num dos castelos dos seus domínios recebidos em herança.. Um dia, a filha de um
pobre pedreiro foi procurá-la apressadamente e disse-lhe: Alteza, meu pai está
à morte; venha imediatamente vê-lo porque tem algo a dizer-lhe. A orgulhosa
princesa não fez caso do recado dizendo:
"que pode ter um pedreiro a dizer-me na hora da morte?" Uma hora mais
tarde, chegava de novo a filha do pedreiro ofegante de tanto correr: _ "Alteza
_ disse _ venha depressa! Meu pai diz que a mãe da senhora, durante a última
guerra mundial, mandara embutir numa parede de um dos castelos, uma grande
quantidade de ouro, prata e diamantes. Meu pai tinha ordem de não lhe dizer
nada antes que a senhora completasse vinte anos. Mas, como está certo de que
vai morrer, quer antes revelar-lhe o secreto local do imenso tesouro".
No mesmo
instante a jovem princesa saiu a correr para a casa do agonizante. Aconteceu,
porém, que, ao entrar ela no quarto, o pedreiro acabava de expirar.
A princesa
empregou grandes esforços para descobrir o tesouro escondido, mas tudo foi em
vão. A herdeira do tesouro materno jamais o encontrou.
Lição: Muitos
procedem a respeito da graça de Deus como aquela jovem princesa. Fazem deste tesouro
divino muito pouco caso. Virá, porém, uma hora em que não mais o
encontrarão. Daí dizer S. Agostinho: "Temo a Jesus que passa em não volta
mais".
Ó dulcíssimo Jesus, que a vossa graça
nunca seja vã em mim! Amém!
quarta-feira, 28 de outubro de 2020
A VIDA ETERNA
A VIDA ETERNA
“Fazes o impossível para morrer um pouco mais tarde, e nada fazes para não morrer para sempre?” pergunta Santo Agostinho. Todos queremos viver, viver muito tempo e mesmo para sempre. Por isso, após o mês do Rosário, a Igreja nos convida a pensar na coisa mais importante da nossa existência: a vida eterna. “Deus não criou a morte e a destruição dos vivos não lhe dá alegria alguma. Ele criou todas as coisas para existirem... e a morte não reina sobre a terra, porque a justiça é imortal” (Sb 1, 13-15). O pecado é que fez entrar a morte no mundo. Mas a esperança da ressurreição e da vida eterna nos consola.
Domingo próximo, dia 1º de novembro, celebraremos a solenidade de Todos os Santos, a festa daqueles que se salvaram, chegaram à vida eterna feliz para sempre. E, na segunda-feira próxima, a Comemoração de todos os Fiéis Defuntos, os “finados”, aqueles que já partiram dessa vida temporal e começaram a vida eterna, que, esperamos e rezamos para isso, seja no Céu. Dom Boaventura Kloppenburg fez questão de resumir o seu testamento nessa palavra: “Creio na Vida Eterna”. Creio na vida que não terá fim. É a nossa profissão de fé no Credo.
É tempo de reflexão sobre a humildade que devemos ter, sabendo que a morte nos igualará a todos. Todos compareceremos diante de Deus, para dar contas da nossa vida. Ali não haverá distinção entre ricos e pobres, entre reis e súditos, entre presidentes, parlamentares e magistrados e os cidadãos comuns, entre Papa, Bispo, Padres e simples fiéis. A distinção só será entre bons e maus, e isso não na fama, mas diante de Deus, que tudo sabe.
Olhemos a morte com os olhos da fé e da esperança cristã, não com desespero. Confiemos na misericórdia de Deus, que é nosso Pai, que nos enviou seu Filho, Jesus, que morreu por nós, para que não nos condenássemos, mas que tivéssemos a vida eterna.
Os santos encaravam a morte com esse espírito de fé e esperança. Assim São Francisco de Assis, no Cântico do Sol: “Louvado sejais, meu Senhor, pela nossa irmã, a morte corporal, da qual nenhum homem pode fugir. Ai daqueles que morrem em pecado mortal! Felizes dos que a morte encontra conformes à vossa santíssima vontade! A estes não fará mal a segunda morte”. “É morrendo que se vive para a vida eterna!”. E São Paulo, o Apóstolo: “Para mim o viver é Cristo e o morrer é um lucro... Tenho o desejo de ser desatado e estar com Cristo” (Fl 1, 21.23).
“Eis, pois, o que vos digo, irmãos: o tempo é breve; resta que os que têm mulheres, sejam como se as não tivessem; os que choram, como se não chorassem; os que se alegram, como se não se alegrassem; os que compram, como se não possuíssem; os que usam deste mundo, como se dele não usassem, porque a figura deste mundo passa” (1 Cor 7, 29-31). “Enquanto temos tempo, façamos o bem a todos” (Gl 6, 10). “Que prudente e ditoso é aquele que se esforça por ser tal na vida qual deseja que a morte o encontre!... Melhor é fazeres oportunamente provisão de boas obras e enviá-las adiante de ti, do que esperar pelo socorro dos outros” (Imitação de Cristo, I, XXIII).
*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
http://domfernandorifan.
terça-feira, 27 de outubro de 2020
A AÇÃO DAS VIRTUDES INFUSAS COM A AJUDA DOS SETE DONS DO ESPÍRITO SANTO
SENTENÇA: "Ensinai-me a fazer a vossa vontade, porque vós sois o meu Deus. O
vosso Bom Espírito me conduzirá por uma terra aplanada" (Sl 142, 10).
REFLEXÕES: As virtudes teologais são: fé,
esperança e caridade. As virtudes cardeais são: prudência, justiça, fortaleza e
temperança. Os sete dons do Espírito Santo são: sabedoria, inteligência,
conselho, fortaleza, ciência, piedade, temor de Deus.
O Espírito
Santo com seus dons, completa e leva à perfeição as virtudes.
A FÉ une-nos a Deus (Verdade) levando-nos a aderir
às verdades que nos revelou. O exercício desta virtude é aperfeiçoado pelos dons da INTELIGÊNCIA
e da CIÊNCIA. O dom da
inteligência leva-nos a penetrar mais profundamente nas verdades da fé para
nelas descobrirmos os seus tesouros escondidos. O dom da ciência eleva-nos das
criaturas até Deus, mostrando-nos que Ele é o seu princípio, a sua causa
exemplar e também o seu fim.
A ESPERANÇA une-nos a Deus (Suma Bondade
e nossa Felicidade) levando-nos a fazer atos de confiança absoluta e de filial
entrega em suas mãos. Faz-nos esperar com serenidade a Céu e os meios de lá
chegarmos. Esta virtude é fortificada pelo dom do TEMOR DE DEUS, enquanto nos desapega dos falsos bens da terra que
nos poderiam arrastar ao pecado. Assim, ajuda-nos a desejar o Céu.
A CARIDADE leva-nos a amar a Deus como
infinitamente bom em si mesmo e, assim, nos comprazemos nas suas infinitas
perfeições mais que se fossem nossas. Leva-nos a uma santa amizade e a uma doce
familiaridade. É pela caridade que nos tornamos mais semelhantes ao nosso Pai
Celeste. É o dom da SABEDORIA, que
nos faz gostar das coisas de Deus e assim, aumenta em nós a virtude da caridade,
isto é, o Amor de Deus.
A virtude da
PRUDÊNCIA leva-nos a escolher
devidamente os meios para alcançarmos o nosso fim sobrenatural. É muito
aperfeiçoada pelo dom de CONSELHO que
nos faz participar da sabedoria divina
mostrando-nos logo claramente, nos casos particulares e dificultosos, o
que é conveniente fazer ou omitir.
A virtude da
JUSTIÇA (à qual está relacionada a
virtude da RELIGIÃO) mandando-nos
dar a outrem o que lhe é devido, santifica as nossas relações com os nossos
irmãos. A virtude da RELIGIÃO inclina-nos
a prestar a Deus o culto que Lhe é devido. Esta virtude da religião é
facilitada singularmente pelo dom de PIEDADE
fazendo-nos ver em Deus um pai amorosíssimo que somos venturosos de
glorificar e louvar. O dom de piedade ajuda-nos a tratar o próximo como irmãos em Jesus Cristo.
A virtude da
FORTALEZA arma-nos contra as
provações e a luta. Leva-nos, outrossim, a suportar com paciência os
sofrimentos; a empreender com coragem os mais árduos trabalhos para glória de
Deus. O dom de FORTALEZA ajuda a
virtude do mesmo nome, levando esta coragem até ao heroísmo.
A virtude da
TEMPERANÇA modera em nós a ânsia do
prazer, e subordina-o à lei do dever. O dom do TEMOR DE DEUS, além de facilitar a virtude teologal da esperança,
também aperfeiçoa em nós a temperança, fazendo temer os castigos e os males que
resultam do amor ilegítimo dos prazeres.
EXEMPLO: A princesa Luísa (de que falamos em
exemplo anterior) filha de Luis XV, rei de França, recebeu o véu no Carmelo de
Paris, em presença do núncio apostólico do papa Clemente XIV. A capela foi
engalanada com esplendor nunca visto. A princesa apareceu vestida com
maravilhoso traje que reluzia de ouro e pedras preciosas, e em sua cabeça
levava coroa de puríssimos diamantes. A princesa, em dado momento, despojada de
todas aquelas jóias, recebeu em troca o hábito grosseiro e o véu e prostrou-se
por terra. Muitas lágrimas correram dos olhos das pessoas da corte presentes na
cerimônia. Viveu no claustro dezessete anos com o nome de Sóror Teresa de Santo
Agostinho, em grande pobreza. Faleceu aos cinqüenta anos de idade em odor de
santidade.
Eis a
verdadeira grandeza!... De filha de rei mortal, tornou-se para sempre filha do
Rei Imortal, o verdadeiro Rei. o Rei dos reis. Amém!
domingo, 25 de outubro de 2020
AS VIRTUDES INFUSAS
SENTENÇA: 1 - "Salvou-nos mediante o batismo de regeneração e de renovação do
Espírito Santo, que Ele difundiu sobre nós abundantemente por Jesus Cristo,
Nosso Salvador" (Tt III, 5 e 6).
REFLEXÕES: S. Agostinho, explicando as palavras "derramou com
abundância", acrescentou o comentário: "isto quer dizer, para
remissão dos pecados e abundância de
virtudes.
Deus,
Bondade infinita, depois de ter criado o homem com dons naturais espirituais e
extraordinários (a inteligência para conhecer a verdade; a vontade para desejar
e amar o bem) na sua infinita liberalidade, quis vir morar em nós. E mais: veio
para nos santificar e tornar o homem seu filho, e, portanto, herdeiro de seu
reino. Em outras palavras: quis tornar-nos participantes da sua Vida, da sua
Natureza e assim divinizar a criatura humana e torná-la semelhante a Si,
dando-lhe a capacidade de fazer obras meritórias para o Céu.
Para tanto,
o nosso Pai do Céu, elevou as nossas faculdades naturais (de si boas, porque
feitas por Ele) a uma ordem acima da natureza, i, é, SOBRENATURAL. A graça
santificante é o princípio vital desta vida que está acima de toda natureza
criada. Juntamente com esta graça habitual que recebemos no santo Batismo, Deus
infunde na alma as virtudes teologais, e, segundo doutrina comum dos teólogos,
também as cardeais.
Virtude é
uma disposição habitual e firme de fazer o bem. Há as virtudes morais (humanas)
e as teologais (divinas). As humanas (das quais as principais são as cardeais:
prudência, justiça, fortaleza e temperança) são perfeições habituais e estáveis
da inteligência e da vontade, que regulam os nossos atos, ordenam as nossas
paixões e orientam a nossa conduta em conformidade com a razão e a fé. As
teologais (fé, esperança, caridade) têm como origem, motivo e objeto imediato o
próprio Deus (teologal=que se refere a Deus). Infundidas no homem com a graça
santificante, elas nos tornam capazes de viver em relação com a SS. Trindade e
fundamentam e animam o agir moral do cristão, vivificando as virtudes morais.
Observação
importante: Estas virtudes cardeais infundidas por Deus juntamente com a graça
santificante não nos dão a facilidade, mas o
poder sobrenatural próximo de praticar atos sobrenaturais. Ao chegar ao uso da razão, iluminado e movido
pelas graças atuais, será necessário que o homem repita atos destas virtudes e
assim, adquira o hábito delas, isto é, uma facilidade em colocar em prática aquele
poder infundido por Deus.
Com os atos
relativos a cada virtude teologal, porém, nós não as adquirimos, mas
exercitamo-las.
EXEMPLOS: 1
- Um dia um menino de Turim, o Marques Máximo de Azeglio, dirigiu às
pessoas de sua família esta pergunta: "Somos nobres?" O seu pai
respondeu: "Serás nobre se fores virtuoso!"
Este pai
disse uma grande verdade. Eram marqueses e, portanto, de linhagem nobre. Mas,
na verdade, a nobreza da linhagem nenhum mérito tem perante Deus, ao passo que
só a da alma, dada precisamente pela prática da virtude, tem grande valor
perante Deus.
2 - A
princesa Luíza de França (que mais tarde havia de entrar no Carmelo para expiar
os crimes de seu pai o Rei Luis XV) um dia, num momento de cólera, disse para
sua ama: "Não sabes que sou a filha de teu rei? --- E vós, replicou a ama,
não sabeis que sou filha de vosso Deus?
A esta
resposta inesperada, que lhe recordou a sua fé e a sua origem divina, a
irascível princesa instantaneamente se acalmou e passou a meditar na verdadeira
nobreza de ser filha de Deus. Terminou se convertendo, como veremos no próximo
artigo.
"O fim de uma vida virtuosa, diz S. Gregório de Nissa, consiste
em se tornar semelhante a Deus" Amém!
quarta-feira, 21 de outubro de 2020
A GRAÇA SANTIFICANTE EXPLICADA ATRAVÉS DE COMPARAÇÕES
SENTENÇA: "O reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo, o
qual, quando um homem o acha, esconde-o, e, contente com o achado, vai, vende
tudo o que tem, e compra aquele campo. O reino dos céus é também semelhante a
um mercador que busca pérolas preciosas, e, tendo achado uma de grande valor,
vai, vende tudo o que tem e a compra" (Mt XIII, 44-46).
REFLEXÕES: Jesus compara a graça santificante a
um tesouro e a uma pérola de grande valor. Depois do próprio Jesus, nada existe
mais precioso sobre a face da Terra.
Compara-a também a uma água viva que jorra
para a vida eterna (Jo IV, 4). Na verdade, é pela graça que entramos na família
de Deus. Somos seus filhos e, portanto, irmãos de Jesus Cristo. E assim, somos
herdeiros de Deus e co-herdeiros de Jesus Cristo. Pela graça santificante,
participamos da própria natureza divina. Pode haver tesouro maior do que este? A
graça santificante dará à alma a posse da vida eterna no céu, onde a sede de
felicidade e de amor será saciada inteira e eternamente, pela visão beatífica
de Deus face à face.
Os Santos
Padres e teólogos fazem, outrossim, muitas comparações sobre a graça
santificante no intuito de dar uma ideia mais clara deste dom extraordinário.
Eis algumas:
1ª - A alma
em estado de graça é semelhante a um globo de cristal iluminado pelo sol. Este
cristal transparente recebe a luz do sol e é como que penetrado por ele e assim
adquirindo um brilho incomparável que em seguida difunde em torno. Na verdade,
a alma recebe a luz divina, resplandece com vivíssimo clarão e reflete-o sobre
os objetos que a rodeiam.
2ª - A graça
santificante penetra no íntimo da alma: Assim como uma barra de ferro, metida
numa fornalha ardente, adquire o brilho, o calor e a maleabilidade do fogo,
assim a nossa alma, mergulhada na fornalha do amor divino, ali se purifica das
escórias, tornando-se brilhante, ardente e dócil às divinas inspirações. A
barra de ferro, sem deixar de ser o que é, parece-se com o fogo, de tal modo é
penetrada por ele. Mas, retirada da fornalha, volta a ser feia e fria.
3ª - Há
teólogos que comparam a graça ao enxerto. Fazem-no para mostrar que a graça é uma vida nova. A nossa alma é
a árvore silvestre. A graça santificante é o enxerto divino. Assim como o
enxerto não confere à árvore selvagem toda a vida da espécie a quem o foram
buscar, senão tão somente uma ou outra das suas propriedades vitais, assim a
graça santificante não nos dá toda a natureza de Deus, mas alguma coisa da Sua vida, que constitui para nós uma vida nova, i.
é, uma participação real mas limitada da vida de Deus.
4ª - A graça
santificante é já uma preparação para a visão beatífica no Céu. Neste sentido,
é comparada ao botão que já contém a flor, embora vá desabrochar só lá no
Paraíso. Assim, a graça habitual é chamada também de SEMENTE DA GLÓRIA. A graça
santificante é uma semente lançada em nós para aí fazer germinar a vida
celeste.
EXEMPLO: I Rs XVI narra como Elias ressuscitou
o filho da viúva de Sarepta; II Rs IV,
32 e 35 conta como Eliseu ressuscitou o filho da mulher Sunamita que o
hospedava. O profeta estendeu-se sobre o menino morto, aplicou a boca, as mãos,
os olhos sobre a cabeça, as mãos e os olhos da criança e esta voltou à vida.
Assim, o Espírito Santo faz o mesmo para ressuscitar a alma para a vida divina
mediante a sua graça: inclina-se para a alma, sua imagem; aplica sua boca à
nossa para se insuflar em nós; põe os seus olhos sobre os nossos, i. é, dá-nos
o conhecimento de si mesmo; junta as suas mãos às nossas, dando-nos a sua força
divina. A nossa alma renasce assim para
uma nova vida. A alma vive em Deus e Deus nela (C. Spirago).
Senhor, fazei que eu me apresente a Vós no Banquete Eterno, revestido da cândida veste nupcial! Amém!
segunda-feira, 19 de outubro de 2020
A PERDA DA GRAÇA SANTIFICANTE
SENTENÇA: "Mas são as vossas iniquidades que puseram uma separação entre vós e o vosso Deus, e os vossos pecados são os que lhe fizeram esconder de vós a sua face, para não vos ouvir" (Is 59, 2).
REFLEXÕES: Quão infeliz é a alma que cai em
pecado mortal, que assim atrai o desagrado do próprio Deus. A pessoa que vive
em pecado mortal, vive separado de seu Sumo Bem, que é Deus. Ela não é de Deus,
nem Deus é seu. "E o Senhor disse a
Oséias: Põe-lhe o nome de Não-meu-povo porque vós já não sois meu povo e eu não
serei mais vosso (Deus)" (Os I, 9). Falando contra os pecados de
idolatria diz a Sagrada Escritura: "Deus
aborrece igualmente o ímpio e a sua impiedade". Se alguém tem por
inimigo a um príncipe do mundo, não pode repousar tranquilo, receando a cada
instante a morte. E aquele que foi inimigo de Deus, como pode ter paz? Pode-se
escapar das mãos dos homens, mas das de Deus não: "A todo e qualquer lugar aonde vá, tua mão alcançar-me-á. E disse:
Talvez me ocultarão as trevas; mas a noite converte-se em claridade para me
descobrir no meio dos meus prazeres" (Sl 138, 10 e 11).
Além disso,
a pessoa que vive no pecado mortal, traz consigo a perda de todos os
merecimentos. Ainda que tivesse merecido tanto como uma S. Teresinha do Menino
Jesus, um Santo Cura d'Ars, e até tanto como S. Paulo, se tal pessoa cometesse
um só pecado mortal, perderia tudo. De filho de Deus, o pecador converte-se em
escravo do demônio; de amigo predileto torna-se odioso inimigo; de herdeiro da
glória, em condenado do inferno.
Como é
triste a gente ver como os homens em geral, no mundo, choram por ter perdido
algo de valor e/ou de estimação. Vi na Internet um sujeito chorando porque
perdeu seu macaco de estimação. Aliás S. Agostinho já dizia: "Aquele que
perde um cavalo, uma ovelha, já não come, já não descansa , mas chora e
lastima-se. Mas se perde a graça de Deus, come, dorme e não se queixa!".
S. Francisco de Sales dizia: "Se os anjos pudessem chorar, certamente
chorariam de compaixão ao verem a desdita de uma alma que comete um pecado
mortal e perde a graça divina". E S. Afonso comenta: "Entretanto, a
maior tristeza é que os anjos chorariam, se pudessem chorar, e o pecador não
chora".
Ó meu
dulcíssimo Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo, se na vida passada meu coração
andou mal, amando as criaturas e as vaidades do mundo, de agora em diante, só
viverei para Vós e só a Vós amarei, meu Deus, meu tesouro, minha esperança e
minha fortaleza. Inflamai meu coração em vosso santo amor. Maria, minha Mãe,
fazei que minha alma arda em amor de Deus.
EXEMPLO: Conta S. Jerônimo que no tempo dele
era permitido aos judeus de pisar o lugar de Jerusalém destruída, só uma vez ao
ano, no aniversário da conquista da cidade. Nesse dia, apareciam grandes
multidões de judeus, homens, mulheres, jovens e velhos, pais e filhos, trajando
todos de luto, com o cabelo desgrenhado e olhos baixos, pálidas de amargura
entrando processionalmente na cidade com muitas lamentações e gritos de dor.
Mal entravam no recinto da destruída Capital, estourava um alarido de partir o
coração; batiam violentamente aos peitos com suspiros e gemidos, arrancavam o
cabelo da cabeça, correndo com gestos de desesperados pelos sítios da cidade em
busca dos lugares santos dos seus antepassados. Não achando mais vestígios do
antigo Templo, duplicavam os gritos de tristeza e desespero, enchendo as ruas e
vielas de choros e lamentações. Assim permanecia o povo o dia inteiro, da manhã
até a noite, até serem obrigados pelos soldados a retirar-se quando o sol já ia
em declínio. Repetidas vezes davam aos soldados somas avultadas para que lhes
concedessem a graça de permanecer mais um pouco, chorando ainda algum tempo a
perda da santa Cidade de Jerusalém (S. Hieron. im cap. I. Sophon.).
Pobre
pecador: se assim os judeus lastimavam a perda temporal de uma cidade como hás
de chorar tu um dia, e isso sem mais remédio a perda da eterna e ditosa
Jerusalém Celeste, se não te converteres a tempo. Faze já penitência e não
perderás a felicidade suprema. (P. Miguel Meier, S. J. "A CATEQUESE").
Amém!.
domingo, 18 de outubro de 2020
A GRAÇA DE DEUS É UM BEM INEFÁVEL
SENTENÇA:"Ó se conhecêsseis o dom de Deus!" (Jo IV, 10).
REFLEXÕES: Poderíamos dirigir às multidões
pecadoras e sedentas de felicidade, o mesmo lamento que Jesus Cristo expressou
à mulher samaritana: "Ó se conhecêsseis o dom de Deus!". Porque não conhecem o valor da graça divina,
muitos e muitos trocam-na por ninharia, um fumo subtil, um punhado de terra, um
deleite irracional.
A graça santificante,
vida da alma, participação real, embora limitada da própria natureza divina, é
um tesouro de valor infinito, que nos torna dignos da amizade de Deus. O
próprio Jesus Cristo disse: "Quem é
meu amigo, guarda os meus mandamentos". Se estou na graça de Deus, sou
amigo de Deus, sou seu filho. Filho adotivo, na verdade, mas esta adoção é
infinitamente superior à da terra, porque esta
é só questão de assinatura de um documento (o sangue é outro). A adoção
pela graça, porém, é uma participação REAL da natureza de Deus: "participantes da natureza divina" (Cf.
II Pe I, 4). Tanta é esta dignidade que Jesus Cristo no-la mereceu por sua
Paixão! Jesus Cristo nos comunicou, de certo modo, o resplendor que recebeu de
Deus: "Eu (disse Jesus
dirigindo-se a seu Pai) dei-lhes a glória
que tu me deste, para que sejam um, como também nós somos um" (Jo
XVII, 22). A alma que está na graça está
intimamente unida a Deus: "Ao que
está unido ao Senhor é um só espírito com ele" (1 Cor. VI, 17). O
próprio Jesus disse que a Santíssima Trindade vem habitar na alma que está no
estado de graça: "Aquele que retém
os meus mandamentos e os guarda, esse é que me ama; e aquele que me ama, será
amado por meu Pai, e eu o amarei (também), e me manifestarei a ele... Se alguém
me ama, guardará a minha palavra, meu Pai o amará, nós viremos a ele e faremos
nele morada" (Jo XIV, 22).
"Que
tesouros de merecimentos, diz S. Afonso de Ligório, pode adquirir uma alma em
estado de graça! Em cada instante lhe é dado merecer a glória; pois, segundo
disse S. Tomás de Aquino, cada ato de amor, produzido por tais almas, merece a
vida eterna". Estando na graça de Deus, podemos adquirir continuamente as
maiores grandezas celestes.
"Muita
paz aos que amam a tua lei" (Sl 118, 165). A paz que provém dessa união com Deus excede a quantos prazeres
possam oferecer os sentidos e o mundo: "E
a paz de Deus, que está acima de todo o entendimento, guarde os vossos corações
e os vossos espíritos em Jesus Cristo" (Fl IV, 7).
Donde,
devemos pedir sempre o amor de Deus, a sua graça e a perseverança neles; pedir
forças a Nosso Senhor para sofrermos com paciência todas as cruzes que Ele nos
destinar, já que merecemos a separação e o fogo eternos se perdida a graça
tivéssemos morrido assim. Devemos estar resolvidos a servir unicamente a Jesus
Cristo, mesmo que for necessário vencer todo respeito humano. Devemos procurar
agradar só a Jesus, e fazer de tudo para evitar o pecado mortal, e lutar também
por evitar o venial.
Só quero
viver na graça de Deus, e quero, pelas graças atuais, crescer sempre mais na
graça santificante.
EXEMPLO: 1 - A irmã Carmelita Santa Maria Madalena
de Pazzi recebeu um dia de Deus uma revelação especial acerca da suprema
preciosidade e beleza da graça santificante na alma. Entrou em êxtase. Tornada
a si, a santa, não podendo descrever quanto vira, porque não encontrava
palavras apropriadas, contentou-se em dizer que "se uma alma, adornada com
a graça santificante, conhecesse o amor e a estima que goza junto de Deus,
morreria por excesso de alegria; e disse
que, caso oposto, "desejaria voltar para o nada, se visse a sua fealdade
quando está privada da graça".
2 - Dizia S.
Brígida que ninguém seria capaz de ver a beleza de uma alma em estado de graça,
sem morrer de alegria. Santa Catarina de Sena, ao contemplar uma alma em estado
tão feliz, disse que preferia dar sua vida para que aquela alma jamais viesse a
perder tanta beleza. Era por isso que a Santa beijava a terra que os sacerdotes
pisavam, considerando que por seu intermédio recuperavam as almas a graça de
Deus. Amém!
terça-feira, 13 de outubro de 2020
COMO O DIVINO HÓSPEDE SANTIFICA A ALMA
SENTENÇA: "Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens" (Jo I, 4).
REFLEXÕES: Deus, a própria Bondade, quis elevar-nos
até Ele. Como? Fazendo-nos participar da sua própria vida. Para tanto, cria em
nós um organismo sobrenatural: graça habitual santificante, virtudes
infusas, dons do Espírito Santo. E para fazer agir todo este organismo que
supera inteiramente toda natureza criada, dá-nos as graças atuais. Cabe a alma acolher com gratidão esta vida divina e aperfeiçoá-la
com cuidado, sob a ação da graça atual.
Sem nada
tirar do que há de bom em nós, Deus transforma a nossa vida natural numa vida
sobrenatural, divinizada. Pela graça santificante, faz-nos semelhantes a Ele (não iguais, pois só Jesus é o Filho por natureza
e, portanto IGUAL AO PAI). A graça habitual que nos é dada no santo Batismo,
prepara-nos (remotamente) para podermos conhecer a Deus como Ele se conhece e
para o amar como Ele se ama. As virtudes infusas e os dons do Espírito Santo
(que acompanham a graça habitual) sobrenaturalizam (divinizam) as nossas
faculdades naturais e dão-nos o poder imediato de praticar atos meritórios para a vida eterna.
Como Deus é
vida, também é luz. Pelas suas graças atuais, Deus dá-nos força e luz. Luz para
a inteligência; e força para a vontade. Deus opera em nós o querer e o fazer: "Deus é o que opera o querer e o
executar, segundo o seu beneplácito" (Fl II, 13). Assim, os atos que
fazemos em estado de graça, na verdade, não são meramente humanos: embora
nossos, são divinos. A graça santificante penetra totalmente a vida natural e a
transforma em uma vida semelhante à vida de Deus.
Deus opera a
nossa salvação e santificação através de seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo,
que, inclusive nos deixou a sua Igreja
com os seus sete sacramentos. Jesus Cristo é o Caminho, a Verdade, a Vida e a
Luz.
Deus quer
que, reconhecendo a nossa incapacidade e miséria, peçamos a Ele, com toda
confiança, as luzes e a força para praticarmos o bem e evitarmos o mal. Portanto,
a nossa salvação será garantida pela oração feita com fé, humildade, atenção,
confiança e perseverança. Daí dizer Santo Afonso de Ligório: "Quem reza,
se salva".
Aqui na terra,
a pessoa em estado de graça vai possuindo a Deus pela fé e pelo amor, de uma maneira
inferior como será no Céu, mas verdadeiramente de modo muito superior ao
conhecimento natural que se tem pelo razão.
Em próximos
capítulos falaremos mais especificamente de cada um destes elementos do
organismo sobrenatural.
EXEMPLO: Nos fins do século III, vivia em Roma
uma santa viúva, de família nobre. Seu marido havia sido martirizado, deixando
um único filho com poucos meses.
A santa
viúva amava ternamente o seu filho, porque era um menino obediente e piedoso. Tinha
doze anos de idade, quando se deu o fato que se segue:
Todos os dias aquela piedosa mãe, pondo-se de
joelhos, pedia a Deus que seu amável filho fosse sempre bom; que não se
extraviasse como tantos outros meninos que até aos doze anos são anjos de
pureza e aos quinze começam a ser demônios de luxúria.
Um dia,
estava ela em oração, quando, de repente, seu filhinho abre violentamente a
porta do quarto dizendo em voz alta: mamãe, mamãe! A mãe levanta-se de seu
genuflexório, e, abraçando-o, pergunta-lhe tremendo de emoção:
--- Que te
aconteceu, meu filho?
--- Mamãe,
respondeu o menino com voz entrecortada pela fatiga --- mamãe, agora mesmo,
quando saia do colégio, o filho do governador, que é pagão, perguntou-me se eu
era cristão. E eu,mamãe, respondi como a senhora me ensinou: sou cristão pela
graça de Deus.
--- Muito
bem, meu filho. E o que ele fez? perguntou a mãe.
--- Mamãe,
como é pagão e muito mau, ele deu um forte soco no meu rosto.
Aquela santa
mãe sentiu como se aquele soco fosse no seu próprio rosto; mas contendo a
emoção e as lágrimas, querendo ver até onde ia a virtude de seu filhinho amado,
perguntou-lhe: meu filho, que você fez, então?
--- Mamãe,
fiz como Jesus fez e ensinou: perdoei do fundo do coração.
E a mãe não
pôde conter as lágrimas pela felicidade que sentiu em ter um filho tão santo que
aprendera e colocava em prática a doutrina e os exemplos do divino Mestre.
Naqueles
tempos, os filhos de famílias nobres levavam ao pescoço, até a idade viril,
pendente dum cordão de ouro, uma bolinha também de ouro. A mãe, tirando o
cordão do pescoço do filho, disse-lhe : Filho meu, já não és menino, porque
ages como adulto. Por isso, em lugar desta bolinha de ouro, vás trazer ao
pescoço outra que vale muito mais que todo ouro do mundo. E a mãe tirou do
pescoço um cordão no qual estava suspensa uma bolinha de cristal, dentro da
qual via-se uma esponja. Mostrou-a ao filho e disse-lhe: Vês esta esponja que
está dentro desta bolinha de cristal? É vermelha..., porque foi empapada de
sangue. Meu filhinho, é uma preciosa relíquia porque é o sangue de seu pai! Por
ser cristão e confessar a Jesus Cristo, foi condenado a ser lançado às feras. E
no anfiteatro foi despedaçado e devorado pelos leões. Quando as feras foram
recolhidas, corri até o local do martírio e embebi esta esponja no sangue de
seu pai que ainda estava numa poça. Beija, meu filho, é o sangue de seu pai.
Até hoje, trouxe esta relíquia sobre o meu coração; a partir de hoje,
levá-la-ás sobre o teu. Quero antes, porém, que me prometas três coisas:
viverás como cristão, sofrerás como cristão e morrerás como cristão? O menino
contemplava sua mãe, sereno e imóvel como um mártir, e disse-lhe: mamãe, pela
graça de Deus, farei como papai fez: viverei como cristão, sofrerei como
cristão e morrerei como cristão.
E a mãe beijou
a esponja, beijou o filhinho, e chorando de emoção, colocou a preciosa relíquia
no pescoço do filho.
Aquele
angélico rapaz cumpriu a sua palavra. E dois anos depois, foi levado a presença
do governador pagão; confessou a nosso Senhor Jesus Cristo e foi devorado pelas
feras.
É o grande
mártir S. Pancrácio (+ 304) cuja memória é celebrada pela Igreja no dia 12 de
maio. Amém!