segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

A ORDEM CRISTÃ, FUNDAMENTO E GARANTIA DA PAZ

   Pequeno excerto da Radiomensagem Natalícia de Pio XII (1951). (N.B.: O mundo já estava na 2ª guerra mundial).

   "Hoje, ainda, como outras vezes o fizemos, ante o presépio do divino Príncipe da Paz, vemo-nos na necessidade de declarar: o mundo está bem longe da ordem querida por Deus em Cristo, ordem que é garantia da paz real e duradoura.

   Dir-se-ia talvez que, sendo assim, não vale a pena traçar as grandes linhas de tal ordem do mundo e realçar o contributo fundamental da Igreja para a consolidação da paz. Objetar-se-á, em segundo lugar, que deste modo não fazemos senão estimular o cinismo dos céticos e aumentar o desânimo dos amigos da paz, não podendo esta ser defendida senão com o recurso aos valores eternos do homem e da humanidade. Opor-se-nos-á, enfim, que damos efetivamente razão, na causa da paz, aos que vêem a última e definitiva palavra na "paz armada", solução deprimente para as forças econômicas dos povos e exasperante para os nervos.

   Se, se quiser, porém, ver o centro do problema tal com se apresenta no momento atual; se se quiser, não só na teoria mas também na prática, fazer ideia do contributo que todos, e em primeiro lugar a Igreja, podem verdadeiramente prestar, ainda em conjunturas a despeito dos céticos e dos pessimistas, julgamos indispensável fixar os olhos na ordem cristã, perdida de vista por muitos hoje em dia.

   Este olhar convencerá principalmente todo o observador imparcial que o centro do problema da paz é hoje de ordem espiritual, é falta ou defeito espiritual. Escasseiam sobremaneira no mundo de hoje as convicções profundamente cristãs; são muitos poucos verdadeiros e perfeitos cristãos. E assim, são os próprios homens que põem obstáculos à realização da ordem querida por Deus. 

   Mas é preciso que cada um se persuada desse caráter espiritual inerente ao perigo duma guerra. Inspirar esta persuasão é dever em primeiro lugar da Igreja, e é este hoje o seu primeiro contributo para a paz".

sábado, 20 de dezembro de 2014

DOUTRINA PROTESTANTE E DOUTRINA CATÓLICA

   Nos oito posts anteriores mostramos o desmantelo e o desiquilíbrio da teoria protestante sobre a salvação pela fé. Estamos falando em teoria e não na prática. Digo isto porque na prática nem sempre se segue a teoria. Um pastor protestante convertido disse-me uma vez que os protestantes em geral vivem muito melhor que a sua doutrina. E eu disse-lhe que, infelizmente muitíssimos católicos não vivem sua fé verdadeira. A doutrina é verdadeira, mas não vivem segundo ela. Têm fé, mas não têm o espírito de fé, ou seja, creem mas vivem como se não cressem, ou vivem em desacordo com a sua fé. 

   Na verdade os protestantes (embora a gente não possa constatar bem, porque são milhares de seitas) em se tratando de fé e de obras, já não falam como falou Lutero: Peca fortemente, mas crê mais fortemente ainda e estás salvo. Lutero dizia inclusive que as obras eram inúteis ou mesmo nocivas à salvação. Dizem os protestantes de hoje que as boas obras são um meio de exercitar a fé, são um fruto ou, melhor dizendo, uma consequência da salvação pela fé: o indivíduo que jé está salvo pela fé pratica boas obras, mas as boas obras, dizem eles, não são CAUSA  da salvação. 

   A distinção é sutil, capciosa e, sobretudo, confusa para se ensinar ao povo, que precisa saber de uma maneira límpida e clara o que deve fazer e o que não deve fazer para ganhar o Céu. Mas o Protestantismo não está ligando muita importância a isto: discordar da Igreja Católica é todo o seu gosto e prazer.

   A fórmula protestante encerra uma linguagem duvidosa e geradora de confusões: "As boas obras são uma consequência da fé: aquele que já está salvo pela fé, pratica boas obras". Procuremos desfazer as confusões ou melhor dizendo, mostrá-las. 
   Dizem que as boas obras são consequência da fé. Mas, perguntamos: consequência mas de que modo? Seria uma consequência livre, no sentido de que aquele que tem fé praticará as boas obras que bem entender? Isto não se admite. Se Deus nos impôs 10 mandamentos, não está em nosso poder fazer uma escolha entre eles, não nos é lícito nem ao menos escolher nove mandamentos e rejeitar um só; quem peca contra um só mandamento que seja, peca contra toda a lei, pois se rebela contra Deus, Nosso Senhor Supremo, que é autor de toda a lei: Qualquer que tiver guardado toda a lei e faltar em um só ponto, fez-se réu de ter violado todos (Tiago II-10). 

   Outra confusão: Seria consequência necessária, no sentido de que aquele que tem fé, já não peca mais e só pratica boas obras? Isto é conversa para boi dormir. Ninguém é tolo para acreditar nisto. A experiência de cada dia nos demonstra que não existe sobre a face da terra nenhum homem impecável: Todos nós tropeçamos em muitas coisas (Tiago III-2). Aquele, pois, que crê estar em pé veja não caia (1ª Coríntios X-12). 

   Outra confusão: Seria consequência necessária, no sentido de que qualquer ação, seja boa, seja má, praticada por aquele que tem fé se torna um obra boa? Mas isto seria o maior dos absurdos. Como é que Deus vai considerar obras boas o roubo, a injustiça, o adultério, o falso testemunho pelo simples fato de serem praticados por um homem que tem fé? Muito pelo contrário; se estes pecados já são graves para o pagão que não conhece a Cristo, mais graves ainda se tornam para o cristão, esclarecido pelas luzes da fé. 

    Uma última pergunta: Seria consequência necessária, no sentido de que aquele que tem fé se sente forçosamente na obrigação de observar os mandamentos e praticar boas obras? Mas, neste caso, caro protestante, isto é a pura doutrina católica; neste caso os mandamentos são tão obrigatórios como a própria fé. Sua observância é indispensável para a conquista do Céu. Não se trata mais, portanto, de salvação pela fé sem as obras. 

   Nós católicos, afirmamos que para o homem salvar-se, para ganhar o Céu, não só é necessária a fé em Cristo; é necessária também a observância dos mandamentos, pelo amor de Deus e do próximo, indispensável para a salvação. Não é a fé sem as obras que salva; é a fé acompanhada das obras, a fé CONSUMADA PELA OBRAS (Tiago II-22), como se expressou S. Tiago. 

   Se se exige o arrependimento dos pecados para o pecador receber o perdão, isto é porque ele, desviando-se da obrigação dos mandamentos, se afastou do caminho do Céu. Dizendo, porém, que a fé salva com as obras, não afirmamos que o homem realiza estas obras, sozinho, por suas próprias forças naturais; realiza-as, sim, ajudado com a graça de Deus, a qual Deus dá a todos; ao que faz o que está ao seu alcance, Deus não nega a sua graça, porém a graça é necessária, não só para a fé, mas para a observância dos mandamentos, como também para fazer qualquer ato bom meritório para a vida eterna, como veremos depois mais detalhadamente, se Deus o permitir. Em suma, existe na obra da salvação a parte de Deus e a nossa. A nossa parte não consiste só na fé, mas também nas obras, na observância dos mandamentos, embora que para isto precisamos que Deus noa ajude. Se cooperamos com a sua graça, pela fé e pela observância dos mandamentos de Jesus, e morremos em estado de graça santificante, seremos salvos. Se com ela não cooperamos e morremos em estado de pecado mortal, seremos condenados. A salvação é, portanto, efeito da graça e das nossas obras, da nossa cooperação, ao mesmo tempo. 

  

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

DESPAUTÉRIO

S. Francisco moribundo, por Burnand
   Citar Pio XI, num esforço inglório, para justificar coisas que têm um espírito contrário ao de São Francisco de Assis, é sem dúvida um despautério. Eis alguns excertos da Encíclica "Rite expiatis" de Pio XI: ..."rejeitando a figura fantasiosa do Santo (São Francisco) que dele se fazem de preferência os fautores dos erros modernos e os sequazes do luxo e dos prazeres mundanos, procurem propor à fiel imitação dos cristãos aqueles ideais que ele em si reproduziu, copiando-os da pureza e simplicidade da doutrina evangélica". ..."Quisemos, Veneráveis irmãos, demorar-nos um pouco na contemplação dessas altíssimas virtudes(pobreza, humildade, obediência à Igreja, pureza penitência e caridade) tanto mais porque muitos, em nosso tempo, contaminados pela peste do laicismo, costumam despir os nossos heróis da genuína luz e glória da santidade, para rebaixá-los a uma espécie de natural excelência e à profissão de uma religiosidade vã, louvando e exaltando-os somente como beneméritos do progresso nas ciências e artes, das obras de beneficência, da pátria e do gênero humano. Não cessamos, porém, de admirarmos como tal admiração de um Francisco assim diminuído, ou antes contrafeito, possa aproveitar a seus modernos admiradores, a esses que cobiçam riquezas e prazeres, ou, enfeitados e perfumados, frequentam as praças, as danças e os espetáculos, ou rolam pelo lodo da volúpia, ou ignoram e repelem as leis de Cristo e da Igreja. Aqui vem muito a propósito a lembrança: "A quem agradar o mérito do santo, devem também agradar-lhe o obséquio e o culto de Deus. Ou imite aquele a quem louva, ou não se ponha a louvar a quem não quer imitar. Quem admira os méritos dos santos deve, ele mesmo, distinguir-se pela santidade de vida" ( Breviário Romano, d, 7 Nov. lect. IV) ... "Que impede aos amigos do povo elogiar esta caridade que foi a de Francisco, por todos os homens, especialmente os pobres? Mas guardem-se os arrebatados, por imoderado amor da pátria, de glorificá-lo como quase um pregoeiro e símbolo deste apaixonado nacionalismo, diminuindo o "homem católico". Os outros se guardem de impingi-lo como precursor e padroeiro de erros, dos quais ele, mais que ninguém, estava longe". ..."Para usarmos as palavra de Leão XIII - "quanto às honras que se querem prestar a São Francisco, é certo que serão sobremaneira gratas àquele a quem as dirigem, desde que aproveitem aos que as fazem. Será esse, porém, o fruto sólido e não caduco, que procurem copiar de algum modo a este cuja exímia virtude os homens admiram e tornar-se melhores com sua imitação" (Enc. Auspicato, 17 Set. 1882). Talvez alguém dirá que para restaurar a sociedade cristã de hoje, precisaríamos de um outro Francisco. Entretanto, fazei que os homens, animados de novo zelo, tomem aquele antigo Francisco por mestre de santidade e piedade, fazei com que todos imitem e reproduzam em si os exemplos que nos deixou quem era "o espelho de virtude, o caminho de retidão, a regra de costumes" (Brev. Fr. Min.); não terá isto força e eficácia suficiente para sanar e exterminar a corrupção dos nossos tempos?"

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Profunda crise da fé no seio da Igreja

Extraído  da Carta Pastoral "Aggiornamento e Tradição" (1971)  de D. Antônio  de Castro Mayer

   "...Na ocorrência do quinto aniversário do encerramento do II Concílio do Vaticano, o Santo Padre, Paulo VI, em memorável Exortação, encarecia aos Bispos católicos do mundo inteiro a obrigação de cuidar da ortodoxia no ensino da doutrina católica. 
   "Eis, pois, amados filhos, que não eram vãos os nossos temores. Os males que receamos em Nossa Diocese, de fato, ameaçam os fiéis do mundo todo. Aliás, não teria sentido a Exortação pontifícia, dirigida a todos os Bispos católicos da terra.
   "...Ao direito imprescritível que tem o fiel de receber o ensinamento sagrado, corresponde nos Bispos "o dever grave e urgente de anunciar infatigavelmente a Palavra de Deus, para que o povo cresça na fé e na inteligência da Mensagem cristã". (A.A.S.. p. 100). 
   Semelhante ofício do múnus episcopal é, hoje, mais imperioso, porque lavra no seio da Igreja uma crise generalizada e sem precedentes, como atesta o Papa, porque, conduzida por membros da Igreja, abala profundamente a consciência dos fiéis, pois os confunde no que eles têm de mais essencial na Religião. 
   Afirma, com efeito, Paulo VI, no Documento que estamos a apresentar, que hoje "muitos fiéis se sentem perturbados na sua fé por um acumular-se de ambiguidades, de incertezas e de dúvidas, atingem essa mesma fé no que ela tem de essencial. Estão neste caso os dogmas trinitário e cristológico, o mistério da Eucaristia e da Presença Real, a Igreja como instituição de salvação, o ministério sacerdotal no seio do Povo de Deus, o valor da oração e dos Sacramentos, as exigências morais que dimanam, por exemplo, da indissolubilidade do matrimônio ou do respeito pela vida. Mais: até a própria autoridade divina da Escritura chega a ser posta em dúvida, em nome de uma "desmitização radical" (A.A.S.  p. 99).
   Como vedes, amados filhos, a crise na Igreja não poderia ser mais profunda. Lendo as palavras do Papa, nós nos perguntamos: que ficou de intacto no Cristianismo? pois, se não há certeza sobre o dogma trinitário, mistério fundamental da Revelação cristã, se pairam ambiguidades sobre a Pessoa adorável do Homem-Deus, Jesus Cristo, titubeia-se diante da Santíssima Eucaristia, se não se entende a Igreja com instituição de salvação, se não se sabe a que o Sacerdote entre os fiéis, nem há segurança das obrigações morais, se a oração não tem valor, nem a Sagrada Escritura, que há de Cristianismo, de Revelação cristã? Compreendemos que o Papa se sinta impelido a excitar o zelo dos Bispos, guardiães da Fé, sagrados para serem autênticos Pastores que apascentem com carinho, desvelo e firmeza, as ovelhas do Divino Pastor das almas. 
   Tanto mais, quanto a Exortação do Santo Padre deixa entrever que há uma verdadeira conspiração para demolir a Igreja. É o que se deduz do trecho seguinte ao acima citado, no qual o Pontífice observa que às dúvidas, somam-se o silêncio "sobre certos mistérios fundamentais do Cristianismo" e a "tendência para construir um novo cristianismo a partir de dados psicológicos e sociológicos" no que "vida cristã esteja destituída de elementos religiosos" (A.A.S.  p. 99).
   Há, pois, entre os fiéis, um movimento de ação dupla convergente para a formação de uma nova Igreja, que só pode ser uma nova falsa religião: de um lado, criam-se incertezas sobre os mistérios revelados; de outro, estrutura-se uma vida cristã ao sabor do espírito do século". 

domingo, 14 de dezembro de 2014

Profunda crise da fé no seio da Igreja (Continuação)

Ocasião e causa da atual crise religiosa

   Como foi possível chegar-se a esse estado de coisas? 
   Paulo VI faz, a este propósito, duas considerações. A primeira, sobre a finalidade especial que o Papa João XXIII propôs ao II Concílio Vaticano, como aparece claramente na Alocução com que ele abriu a primeira Sessão do grande Sínodo: "Impõe-se que, correspondendo ao vivo anseio daqueles que se acham em atitude de sincera adesão a tudo o que é cristão, católico e apostólico, esta doutrina [cristã] seja mais ampla e profundamente conhecida e que as almas sejam por ela impregnadas e transformadas. É necessário que esta doutrina certa e imutável e que tem de ser repeitada fielmente, seja aprofundada e apresentada de maneira a satisfazer as exigências de nossa época". E explicando melhor o seu pensamento, prossegue o Papa Roncalli: "Uma coisa é, efetivamente, o depósito da Fé em si mesmo, quer dizer, o conjunto das verdades contidas na nossa venerável doutrina, outra coisa é o modo como tais verdades são enunciadas, conservando sempre o mesmo sentido e o mesmo alcance" (p. 101).
   Deveria, o Concílio, e, em consequência, o Magistério Eclesiástico, com o concurso dos teólogos, procurar aliar duas coisas: transmitir, sem engano ou diminuição, a doutrina revelada; e fazer um esforço por apresentá-la de modo a ser recebida, íntegra e pura pelos homens de nosso tempo. Entende-se pelos homens de espírito reto, "aqueles que se acham em atitude de sincera adesão a tudo o que é cristão, católico e apostólico" como diz João XXIII. Portanto pelos homens realmente desejosos de chegar à verdade; pois, aos que preferem as máximas deste mundo, e, por isso, rejeitam a cruz de Cristo, aplicam-se as palavras de São Paulo: é impossível uma união entre a luz e as trevas, entre a justiça e a iniquidade, entre Cristo e Belial (cf. 2 Cor. 6, 14 s.). 
   Eis em que consistia o "aggiornamento" do Papa Roncalli, na sua melhor interpretação: uma adaptação, na maneira de expor a doutrina católica, de sorte que possa atrair o homem moderno de espírito reto. 
   Tal empenho, nota Paulo VI, e é a sua segunda observação, não é fácil. Diz ele: "O magistério episcopal estava relativamente facilitado, numa época em que a Igreja vivia em estreita simbiose com a sociedade do seu tempo, inspirava a sua cultura e adotava os seus modos de exprimir-se; hoje, ao invés, é-nos exigido um esforço sério para que a doutrina da Fé conserve a plenitude do seu sentido e do seu alcance, ao expressar-se sob uma forma capaz de atingir o espírito e o coração dos homens aos quais ela se dirige" (pp. 101-102).
   Ou pela dificuldade do empreendimento, ou por uma concessão ao espírito do tempo, o fato é que, na execução do plano traçado pelo Concílio, em largos meios eclesiásticos, o esforço na adaptação foi além da simples expressão mais ajustada à mentalidade contemporânea. Atingiu a própria substância da Revelação. Não se cuida de uma exposição da verdade revelada, em termos em que os homens facilmente a entendam; procura-se, por meio de uma linguagem ambígua e rebuscada, mais propriamente, propor uma nova Igreja, ao sabor do homem formado segundo as máximas do mundo de hoje. Com isso, difunde-se, mais ou menos por toda parte, a idéia de que a Igreja deve passar por uma mudança radical, na sua Moral, na sua Liturgia, e mesmo na sua Doutrina. Nos escritos, como no procedimento, aparecidos em meios católicos após o Concílio, inculca-se a tese de que a Igreja tradicional, como existira até o Vaticano II, já não está à altura dos tempos modernos. De maneira que Ela deve transformar-se totalmente. 
   (...) A Exortação de Paulo VI fala na dificuldade de obter a renovação da roupagem, em que se transmitissem aos homens de hoje os mistérios de Deus. E reconhece que foram as novas expressões para as verdades de Fé que trouxeram a angústia das incertezas, ambiguidades e dúvidas. Como foram os novos termos que facultaram, aos fautores de uma nova Igreja, a difusão de um concepção nova e estranha da Religião cristã.
   É de São Pio X a afirmação de que o abandono da escolástica, especialmente do tomismo, foi uma das causas da apostasia dos modernistas (Encíclica "Pascendi"). Após o Concílio Vaticano II, retorna a meios católicos o mesmo erro, a mesma ojeriza contra a filosofia que Leão XIII apelidou "singular presídio e honra da Igreja" (Encíclica "Aeterni Patris").
   (...) Lembremos que a verdade revelada se comunica ao mundo em linguagem humana. Tal linguagem, embora inadequada, não é mero simbolismo; ela deve dizer, objetivamente, o que é o mistério de Deus, ainda que o não manifeste na sua riqueza inesgotável. Eis a razão por que as fórmulas dogmáticas não podem evoluir mudando de significado. A fé, uma vez transmitida, diz São Judas Tadeu, o é "uma vez por todas" (vers. 3). Ela é imutável e invariável. Não padece adições, subtrações, ou alterações. Pode esclarecer-se, não pode transformar-se. É como um ser vivo que se desenvolve e aperfeiçoa, porém, na mesma natureza, que faz com que o indivíduo seja sempre o mesmo". 
   

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

LEITURA ESPIRITUAL - Dia 10 do mês

Da caridade

   Para proveito de algum necessitado, se pode, e alguma vez, se deve interromper a boa obra e assim trocá-la por outra melhor. Desta sorte não se deixa de obrar bem, antes, se muda em melhor.
    A obra exterior sem caridade de nada aproveita, mas tudo o que se faz com caridade, por pouco e desprezível que seja produz abundantes frutos, porque Deus, Nosso Senhor, olha mais o afeto ou intenção com que obramos que para a obra em si. 
    Quem ama a Deus tem também caridade para com o próximo. Deus é caridade e nos leva a praticar a caridade. E muito faz quem muito ama. 
    Não havendo, porém, o verdadeiro amor a Deus, muitas vezes parece caridade o que é, na verdade, amor próprio; porque a propensão de nossa natureza, a própria vontade, a esperança de recompensa, o gosto da comodidade, raras vezes nos deixam.
    Quem, porém, tem verdadeira e perfeita caridade em nenhuma coisa se busca a si mesmo, mas deseja que em todas Deus seja glorificado. Deseja sobre todas as coisas ter alegria e felicidade em Deus.
     Para chegarmos ao verdadeiro amor de Deus e à verdadeira caridade para com o próximo devemos trabalhar sempre no sentido de vencer o nosso amor próprio que tende sempre a passar dos limites. Assim, quase todas as ações dos homens nascem dum princípio viciado, daquela tríplice concupiscência de que fala São João na sua 1ª Epístola, II, 16. Aliás, este Apóstolo predileto do Divino Mestre tem palavras belíssimas sobre a caridade e, com justiça, é chamado o Apóstolo da caridade. "Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque a caridade vem de Deus. Todo aquele que ama, nasceu de Deus e conhece a Deus. quem não ama, não conhece a Deus, porque Deus é caridade. Nisto se manifestou a caridade de Deus para conosco, em que Deus enviou o seu Filho unigênito ao mundo, para que por Ele tenhamos a vida. A caridade consiste nisto: em não termos sido nós os que amamos a Deus primeiro, mas em que Ele foi o primeiro que nos amou e enviou o seu Filho, como vítima de propiciação pelos nossos pecados. Caríssimos, se Deus nos amou assim, devemos nós também amar-nos uns aos outros... Temos de Deus este mandamento: que aquele que ama a Deus, ame também o seu irmão". 
    Caríssimos, como dizia acima, devemos combater o demasiado amor próprio porque ele corrompe de ordinário as mesmas obras que parecem as mais puras. Quantos trabalhos, quantas esmolas, quantas penitências, em que os homens põem grande confiança, serão talvez estéreis para o céu! Deus não se dá senão àqueles que o amam: Ele é o prêmio da caridade, daquele amor inefável, sem limites e sem medida. o qual, enquanto tudo o mais passa, permanece eternamente, como diz São Paulo.
    Admoestar e corrigir os que erram é uma obra de caridade; mas se alguém, admoestado uma ou duas vezes, se não emendar, não porfies como ele; mas encomenda tudo a Deus. 
     Estuda e aprende a sofrer com paciência quaisquer defeitos e fraquezas alheias, pois que tu tens muito que te sofram os outros. Infelizmente, muitas vezes, ofendemo-nos com facilidade dos defeitos alheios e não trabalhamos por emendar os nossos. Ninguém há sem defeito, ninguém é suficiente nem completamente sábio para si: mas convém que uns aos outros nos soframos, nos consolemos e reciprocamente nos ajudemos com instruções e advertências.
      Volta os olhos para ti mesmo e vê se teus irmãos não têm nada que sofrer de ti! A verdadeira piedade tudo sofre com paciência porque ela nos faz ver o que somos. O que se sente fraco e deplora sua fraqueza, não se ofende facilmente das fraquezas dos outros. Sabe muito bem que todos nós temos necessidade de conforto, de indulgência e de misericórdia: desculpa, compadece-se, perdoa, e conserva assim a paz interior e dá mostras exteriores de verdadeira caridade.
      Ó amor divino, único que fazeis os santos, Amor que sois Deus, penetrai, possuí, transformai  em Vós todas as potências de minha alma, sede a minha vida, a minha única vida, agora e sempre nos séculos dos séculos Assim seja!
      Os elogios que São Paulo faz da caridade serão o ramalhete espiritual de hoje: "A caridade é paciente, é benigna; a caridade não é invejosa, não é temerária; não se ensoberbece, não é ambiciosa, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo sofre" (1 Cor. XIII, 4-7). 

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

DEVEMOS ESPERAR IR PARA O CÉU

   Caríssima Dona Dulcina e seus filhos, meus pêsames pelo falecimento do meu grande amigo o Sr. João Luiz Bento!
   Lá no céu, todos nos convidam para o paraíso; nosso anjo da guarda impele-nos com todo o seu poder recebido de Deus para nos conduzir à Pátria do repouso eterno; Nosso Senhor Jesus Cristo, do alto do céu, contempla-nos amorosamente, e convida-nos com doçura para o trono da glória que nos prepara na abundância de sua  bondade; a Santíssima Virgem chama-nos aí maternalmente; os santos, com um milhão de almas santas, exorta-nos a isso afetuosamente e certificam-nos que o caminho da virtude não é tão penoso como o mundo o pinta. Não aceitareis os favores que vos oferece o céu? Não auxiliareis vós esses atrativos e inspirações que sentis?
   Caríssimos e amados leitores, especialmente a esposa e os filhos do falecido, tende confiança em todas as vossas provas; não esqueçais que, como disse Jesus, convém que o grão morra no seio da terra, para  que floresça a sua superfície sobre uma haste rejuvenescida e renovada. Ainda mais alguns dias de dor paciente e resignada e esta mortalidade que se transforma, revestirá a imortalidade, e esta corrupção que acabou e se precipita transforma-se-á em uma luz incorruptível: reunidos com os santos no lugar de alívio e paz, donde são banidos a dor e os gemidos, direis com eles: Não; os sofrimentos deste tempo tão curto não são dignos da glória que nos revelaram; não, este momento fugitivo, esta pequena tribulação, que nos foi medida, não vale este peso eterno, esta imensa medida de felicidade, que é o seu fruto e recompensa.
   "Oh! como deveríamos muitas vezes dirigir os nosso espírito para a Jerusalém celeste, essa gloriosa cidade de Deus, onde ouviríamos retinir de toda a parte os louvores pelas vozes duma variedade infinita de santos; e perguntando-lhes como aí chegaram, saberíamos que os Apóstolos chegaram lá, principalmente pelo amor, os mártires pela constância, e os doutores pela meditação, os confessores pela mortificação, as virgens pela pureza do corpo e coração e todos geralmente pela humildade". (S. Francisco de Sales).
   Nós faremos bastante, para chegarmos ao Céu, não nós, mas a graça de Deus conosco. Quanto maior e mais forte for em nós o desejo, tanto mais prazer e contentamento nos trará  a sua posse e gozo.
   Numa carta a Santa Joana Francisca F. de Chantal, São Francisco de Sales dizia-lhe: "Viva Deus! Tenho firme  confiança no íntimo do coração, que viveremos eternamente com Deus e nos reuniremos um dia no céu; é preciso coragem; iremos bem depressa para lá".  São Vicente de Paulo, conta que, à hora da morte de Santa Joana F. F. de Chantal, ele viu debaixo da forma dum globo de fogo, a alma da santa desligar-se do corpo e ao passo que subiu ao céu, viu vir ao seu encontro igualmente sob a forma de um globo de fogo maior a alma de São Francisco de Sales, morto havia muitos anos. Estes dois globos inflamados reuniram-se e entraram no seio da Glória Eterna de Deus. 
   Caríssimos e amados leitores,  vede com que fidelidade o Santo Bispo cumpriu a promessa que tinha feito a Santa Chantal de a vir buscar para levá-la ao céu. Esta consolação mútua de se reverem na felicidade celeste, é concedida a todos os que se amaram com afeto cristão. Sim, vós tornareis a encontrar na glória um pai, uma mãe, filhos queridos, irmãos e irmãs, esposo ou esposa,   todos os que na terra trabalharam na vossa salvação ou vos devem a sua bem-aventurança! Que inefável encontro nas alegrias eternas, em um amor sempre novo, em uma sociedade de anjos e santos! Nesta corte incomparável que encantadora felicidade não nos separarmos dos que amamos! Tornar a ver as feições dos que estimamos traz agradável surpresa; mas tornar a vê-los no céu com encantos imorredouros, para nunca mais deixar os que amamos, que felicidade indizível!
   Caríssima Dona Dulcina   e seus extremosos e queridíssimos filhos, consolai-vos mutuamente com estas palavras. Temos o consolo de fazer pelo Sr. João Luiz mais do que fizemos quando vivo: fazermos orações e outras boas obras pela sua alma, alma tão bondosa, tão simples e tão humilde. Comecei no dia mesmo de sua morte, a celebrar a série gregoriana de 30 missas pela alma deste meu inesquecível amigo. 

sábado, 6 de dezembro de 2014

São Pio X: "O Sillon deixou de ser católico e ele apresenta uma idéia desfigurada do Divino Redentor".

   "E agora, penetrado da mais viva tristeza, perguntamo-nos, Veneráveis Irmãos, aonde foi parar o catolicismo do Sillon. Ah! Ele, que dava outrora tão belas esperanças, esta torrente límpida e impetuosa foi captada em sua marcha pelos inimigos modernos da Igreja, e agora já não é mais do que um miserável afluente do grande movimento de apostasia organizada, em todos os países, para o estabelecimento de uma Igreja universal que não terá nem dogmas, nem hierarquia, nem regra para o espírito, nem freio para as paixões, e que sob pretexto de liberdade e de dignidade humana, restauraria no mundo, se pudesse triunfar, o reino legal da fraude e da violência, e a opressão dos fracos, daqueles que sofrem e que trabalham. Conhecemos demasiadamente bem os sombrios laboratórios, em que se elaboram estas doutrinas deletérias, que não deveriam seduzir espíritos clarividentes. Os chefes do Sillon não souberam evitá-las: a exaltação de seus sentimentos, a cega bondade de seu coração, seu misticismo os impeliram para um novo Evangelho, no qual julgaram ver o verdadeiro Evangelho do Salvador, a tal ponto que ousam tratar Nosso Senhor Jesus Cristo com uma familiaridade soberanamente desrespeitosa, e que, sendo o seu ideal aparentado com o da Revolução, não temem fazer entre o Evangelho e a Revolução aproximações blasfematórias, que não têm a escusa de haverem escapado a alguma improvisação tumultuosa.
O "Sillon" dá uma idéia desfigurada do Divino Redentor.
           "Queremos chamar vossa atenção, Veneráveis Irmãos, sobre esta deformação do Evangelho e do caráter sagrado de Nosso Senhor Jesus Cristo, Deus e Homem, praticada no Sillon e algures. Desde que se aborda a questão social, está na moda, em certos meios, afastar primeiro a divindade de Jesus Cristo, e depois só falar da sua soberana mansidão, de sua compaixão por todas as misérias humanas, de suas instantes exortações ao amor do próximo e fraternidade. Na verdade, Jesus nos amou com um amor imenso, infinito, e veio à terra sofrer e morrer, a fim de que, reunidos em redor d'Ele na justiça e no amor, animados dos mesmos sentimentos de mútua caridade, todos os homens vivam na paz e na felicidade. Mas para a realização desta felicidade temporal e eterna Ele impôs, com autoridade soberana, a condição de se fazer parte de seu rebanho, de se aceitar sua doutrina,de se praticar a virtude e de se deixar ensinar e guiar por Pedro e seus sucessores. Ademais se Jesus foi bom para os transviados e os pecadores, não respeitou suas convicções errôneas, por sinceras que parecessem; amou-os a todos para os instruir, converter e salvar. Se chamou junto de si, para os consolar, os aflitos e os sofredores, não foi para lhes pregar o anseio de uma igualdade quimérica. Se levantou os humildes, não foi para lhes inspirar o sentimento de uma dignidade independente e rebelde à obediência. Se seu coração transbordava de mansidão pelas almas de boa vontade, soube igualmente armar-se de uma santa indignação contra os profanadores da casa de Deus, contra os miseráveis que escandalizam os pequenos, contra as autoridades que acabrunham o povo sob a carga de pesados fardos, sem aliviá-la sequer com o dedo. Foi tão forte quão doce; repreendeu, ameaçou, castigou, sabendo  e nos ensinando que, muitas vezes, o temor é o começo da sabedoria, e que, às vezes, convém cortar um membro para salvar o corpo. Enfim, não anunciou para o sociedade futura o reinado de uma felicidade ideal, de onde o sofrimento fosse banido; mas, por lições e exemplos, traçou o caminho da felicidade possível na terra e da felicidade perfeita no céu: a estrada real da cruz. Estes são ensinamentos que seria errado aplicar somente à vida individual em vista da salvação eterna; são ensinamentos eminentemente sociais, e nos mostram em Nosso Senhor Jesus Cristo outra coisa que não um humanitarismo sem consistência e sem autoridade."
CONCLUSÃO: ..."a Igreja, que jamais traiu a felicidade do povo em alianças comprometedoras, não precisa livrar-se do passado, bastando-lhe retomar, com o auxílio de verdadeiros operários da restauração social, os organismos quebrados pela Revolução, adaptando-os, com o mesmo espírito cristão que os inspirou, ao novo ambiente criado pela evolução material da sociedade contemporânia; porque os verdadeiros amigos do povo não são revolucionários, nem inovadores, mas tradicionalistas".

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

AMIZADE

   Quão grande motivo de alegria para nós padres o meditar nestas palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo: "Não vos chamarei servos, mas amigos"!
   "O discípulo que Jesus amava". É assim que o Evangelho fala de São João Evangelista. Era o amado por excelência porque o Mestre sabia que na hora das dores e nos vexames do Calvário, seria o único a tudo arriscar - a honra,  a vida; o sofrer opróbrios por amor dEle. Todos os discípulos fugiram, só ele ficou. Amizade não é palavra vã, mas uma alma em dois corpos como escreve Santo Agostinho - comunhão portanto de ideais, de alegrias, de sofrimentos, identificação completa. Por isso mesmo como é rara a verdadeira amizade!
   Jesus Cristo , não só enquanto Deus, mas enquanto homem, tem direito ao Amor das suas criaturas e mostra-se grandemente sensível às manifestações de dedicação ou perante a ingratidão; chora na morte do amigo Lázaro, chora ainda a ruína da infiel Jerusalém. Deus é Amor.
   Queres saber em que altura o amas e a intensidade do teu amor?
   Observa, se os seus interesses são os teus interesses, a sua glória, a tua glória, a salvação das almas, teu alimento; o progresso do seu Reino, o teu maior anseio. Amas a Igreja que é o Corpo de Cristo? Não vibras de indignação; quando a perseguem e caluniam? Alegras-te, com os seus triunfos e choras quando ela chora, sobre o cadáver dos seus filhos, mortos pelo pecado; gemes na apostasia dos fracos e na traição dos falsos irmãos? A boca fala da abundância do coração e pensa-se com facilidade, em quem se ama. Vê, se tens o coração tão cheio de amor que amas o teu Deus sem pensar que amas e pensas continuamente nele sem pensar que pensas; de tal modo estás identificado ao teu Senhor e Pai e Amigo!
   Vê ainda, se as tuas obras, dão flores e frutos, dignos de Jesus Cristo que disse, ser Ele a Videira, e nós os seus ramos - toda árvore boa dá bons frutos e é pelos frutos que conhecemos a árvore. Se formos de Deus nosso odor é Deus, saberemos a Deus, anunciaremos a Deus. Depois da  graça divina, nada tão precioso neste mundo, como a sã amizade, aliás ela é um prolongamento do mesmo Deus. Os santos, porque mais perto d'Ele, que os outros homens, são mais do que ninguém, sensíveis à amizade e ingratidão.
    No meio das cruzes da sua vida o Santo Cura d'Ars exclamava: "Do que tenho falta é dum pouco de amizade" Nós sabemos que seus colegas por inveja o perseguiam. Santa Teresa d'Ávila, não resistiu à pena causada pela ingratidão da superiora dum dos seus conventos, que educara e formara desde pequena, com desvelo de mãe carinhosa.
   Nenhum santo, atingiu os cumes da perfeição, sem ter passado pela prova da ingratidão, da traição e do abandono dos amigos.
   Jesus Cristo, nosso divino modelo,deu-nos o exemplo , permitindo a traição de Judas, suportando a sua presença nauseabunda durante três anos, convivendo com ele, o criticador, o ladrão, o cínico, o hipócrita... Ai, amar e não ser amado, ser franco e encontrar reserva, usar de lealdade e encontrar a velhacaria, a hipocrisia; criar alguém no amor para nos enterrar o punhal no coração!... "Quem encontrou um amigo, encontrou um tesouro" diz o Divino Espírito Santo. Os tesouros, apreciam-se muito, também porque são raros. A amizade nasce entre os bons, progride entre os melhores e consuma-se entre os mais perfeitos, sobretudo os santos. A amizade verdadeira, Deus a quer, e a abençoa e a deseja. Ama-se alguém como Deus quer, quando a nossa dedicação pelo amigo, não nos afasta do Pai Celeste, mas antes concorre para mais nos unirmos a Ele. O  amor ao amigo deve ser um prolongamento do amor de Deus. Dele deve provir e para Ele nos deve encaminhar.
   A verdadeira amizade, dizia Cícero ("De amicis"), é gerada e mantida pela virtude e sem virtude não pode haver amizade. Pois eu sinto que a amizade existe só entre os bons". Este filósofo e escritor latino, sendo pagão, se referia só à virtude natural. Os cristãos devem subir ainda mais e dizer que só há verdadeira amizade onde houver virtude sobrenatural, sobretudo a verdadeiro amor de Deus. Não há como negá-lo: A gente sente necessidade de um coração amigo; Jesus mesmo permitiu que seu Apóstolo predileto repousasse a cabeça sobre Seu coração. . É mister, no entanto, que o nosso amigo seja amigo de Deus ainda mais que nosso.
   Dai-me,  Senhor, a graça de Vos amar como preceituais, sobre todas as coisas, até sacrificar por Vós, todos os interesses, amar até dar a vida. Concedei-me por misericórdia a graça dum bom amigo que me aproxime do vosso amor, da vossa graça, da vida eterna; afastai Senhor, de mim, todos os maus, todas a tentações, todos os enganos, todos os hipócritas. Senhor, que me guardem os Anjos e os Santos!
   Ó Jesus, seja a Vossa Mãe Santíssima  a minha guia e a minha luz. Dai-me, Senhor, a graça de ser sempre bom, ainda que os outros sejam para mim maus; humilde perante os orgulhosos que me maltratam, mas jamais, Senhor, me deixeis ser cobarde na defesa dos direitos santos da vossa Igreja, no zelo da honra do vosso nome; fazei neste caso Senhor, que a minha alma mansa se transforme num leão, cujos rugidos ecoem pelo deserto do mundo, despertando os adormecidos, fortalecendo os fracos, animando e esclarecendo os confusos. Neste caso, Senhor, sofrer perseguição e dar a vida, é ser missionário, é aniquilar-se para que muitos vivam e cumpram plenamente o ensinamento que nos destes: "Não há  maior prova de amor do que dar a vida por quem se ama; se o grão não cair à terra e não morrer não dará fruto".
   Não creio que se possa chegar à plena identificação com Jesus Cristo, sem ter experimentado a traição, a perseguição, a ingratidão dos maus e sobretudo dos bons, ou como diz São Paulo: dos falsos irmãos.
   Terminemos com uma palavra das Sagradas Escrituras: "Aquele que é amigo o é em todo tempo, e nos transes angustiosos conhece-se o irmão". (Provérbios, XVII, 17).



sexta-feira, 28 de novembro de 2014

JESUS, O SACERDOTE POR EXCELÊNCIA OU O SOBERANO SACERDOTE

INTRODUÇÃO: Esta matéria é extraída da Summa Theológica de Santo Tomás de Aquino e também do célebre teólogo Tanquerey. A Teologia prova esta tese baseada sobretudo na Epístola de São Paulo aos Hebreus. Faremos, se Deus quiser, várias postagens sobre este assunto importantíssimo: 1ª - As condições requeridas para o sacerdócio; 2ª - As condições essenciais para o sacerdócio são perfeitamente satisfeitas por Cristo; 3ª - Jesus, Sacrificador e Vítima; 4ª - Jesus se oferece como Vítima; 5ª - Jesus se imola como Vítima; 6ª - Comunhão, consumação do sacrifício.  

1- AS CONDIÇÕES REQUERIDAS PARA O SACERDÓCIO

    Diz São Paulo na Epístola aos Hebreus, V, 1: "Todo o pontífice tomado de entre os homens, é constituído a favor dos homens naquelas coisas que se referem a Deus, a fim de oferecer dons e sacrifícios pelos pecados". Temos aí a definição do sacerdote. Mas o Apóstolo acrescenta: "Ninguém se arrogue esta dignidade, mas só aquele que é chamado como Araão" (Heb. V, 4). Destas palavras de São Paulo concluímos que são três as condições necessárias para alguém ser sacerdote: 1ª) ser HOMEM e este escolhido por Deus; 2ª) ser CONSAGRADO ao culto divino para exercer oficialmente o papel de mediador entre o céu e a terra; 3ª) oferecer a Deus um SACRIFÍCIO, que é o mais perfeito ato da adoração e expiação.
   Uma rápida análise destes três pontos: ser homem, ser consagrado, oferecer sacrifício.

   A) O sacerdote deve ser homem, ou seja, não poderia ser um anjo, que é puro espírito. São Paulo mostra o porquê desta condição: "O qual se possa condoer daqueles que pecam por ignorância e por erro, pois que também ele está cercado de enfermidades" (Heb. V, 2). Realmente se o sacerdote fosse um anjo, um puro espírito, como poderia ele compreender as tentações corporais? Como poderia compadecer-se e mostrar-se misericordioso a nosso respeito? E como poderíamos confiar-lhe as fraquezas que dimanam da enfermidade da nossa carne?
    Mas,  tem que ser um homem escolhido por Deus. Caso não fosse, como ousaria apresentar-se diante de sua Majestade, ele que tem necessidade de se purificar das suas faltas antes de aparecer diante do Deus de toda santidade?
 
   B) O sacerdote deve ser consagrado, isto é, separado das coisas profanas, votado exclusivamente aos serviço de Deus e de seus irmãos. É o que diz São Paulo em Hebreus, V, 1: "É tomado de entre os homens, é constituído a favor dos homens em tudo o que se refere ao culto de Deus". Criado à imagem e semelhança de Deus, participante da sua vida, o homem deve viver em perpétua adoração diante do seu Criador. "D'Ele, por Ele e n'Ele existem todas as coisas: glória a Ele por todos os séculos!... Pois que, se vivemos, é pelo Senhor que vivemos; se morremos, é pelo Senhor que morremos..." (Rom. XI, 26; XIV, 7 e 8). E acrescenta o mesmo Apostolo: "Glorificai a Deus em vosso corpo" (1 Cor. IV, 20). Infelizmente, a maioria dos homens, absorvidos pelos seus negócios e pelo prazer, pouco tempo consagram à adoração. Daí a necessidade de pessoas especialmente delegadas por Deus, que pudessem, não apenas em seu nome, mas no de toda a sociedade, tributar a Deus os deveres da religião a que Ele tem direito. É exatamente o papel do sacerdote católico: escolhido por Deus, de entre os homens, ele é como que o mediador da religião entre o céu e a terra, a ele cabe glorificar a Deus e levar-lhe as homenagens dos seus irmãos.
   É mediador também para obter da misericórdia de Deus os auxílios que são necessários aos homens para vencerem as tentações, conservarem e aumentarem em si a vida da graça. Que grande dignidade e também responsabilidade a dos sacerdotes!.

   C) O sacerdote deve oferecer a Deus o sacrifício. Para adorar a Deus e obter novas graças, o ato por excelência é o sacrifício. Que é o sacrifício? Trata-se de um ato exterior e social, pelo qual o sacerdote oferece a Deus, em nome da grande família humana, uma vítima imolada, para reconhecer o seu domínio soberano, reparar as ofensas feitas à sua majestade, pedir-Lhe graças e entrar em comunhão com Ele. O sacrifício, instituído por Deus desde a criação do homem e mais tarde regulamentado pela lei moisaica, foi sempre o principal ato de culto entre os judeus. No Antigo Testamento havia quatro sacrifícios sangrentos: o holocausto, em que a vítima era inteiramente queimada para melhor exprimir a profundo sentimento de adoração e o reconhecimento do supremo domínio de Deus; o sacrifício pelo pecado, no qual uma parte da vítima era queimada e a outra reservada aos sacerdotes em expiação das faltas cometidas; o sacrifício pelo delito, quer este fosse contra as leis do culto, quer contra o direito de propriedade; o sacrifício pacífico, em que a vítima era dividida em três partes: uma era queimada, as outras duas consumidas pelos sacerdotes e pelos que ofereciam o sacrifício. Tinha por fim agradecer a Deus os benefícios passados e obter novos favores.

O QUE DEVEMOS CRER - ( 5 )

   70.  A CASTIDADE.

   Outro ponto em que Jesus, o novo Legislador, exige maior perfeição do que entre os antigos, e não está apenas aconselhando, mas exigindo mortificação e sacrifício, sob pena de condenação eterna, é o sério problema da castidade. É uma interpretação cristã mais rigorosa do 6º mandamento: Ouvistes que foi dito aos antigos: Não adulterarás. Eu, porém, digo-vos que todo  o que olhar para uma mulher cobiçando-a, já no seu coração adulterou com ela. E, se o teu olho direito te serve de escândalo, arranca-o e lança-o fora de ti; porque melhor te é que se perca um de teus membros, do que todo o teu corpo seja lançado no inferno (Mateus V-27 a 29).

   Ninguém, é claro, vai interpretar isto no sentido material de que havemos de cegar os nossos olhos, para não ficarmos mais sujeitos às tentações da carne; mas Jesus quer mostrar que, como essas amizades pecaminosas  tanto prendem e escravizam o coração da criatura, nestas ocasiões é preciso fazer a renúncia,  o sacrifício, mesmo que seja este tão doloroso para a alma, como seria cruel para o corpo a extirpação do próprio olho. Porque, como diz São Paulo: Os que são de Cristo crucificaram a sua própria carne com os seus vícios e concupiscência (Gálatas V-24). 

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

A CONVERSÃO DE AFONSO RATISBONNE - ( II )

   Era o ano de 1842. Afonso Ratisbonne achava-se em Roma,  a cidade eterna, da qual cada pedra é uma lembrança sagrada e tem uma voz para celebrar as grandezas da fé cristã. Ali Ratisbonne encontrou seu companheiro de infância Gustavo Bussíère, irmão do barão Teodoro de Busssière.
   Teodoro de Bussière era íntimo amigo do Padre Teodoro Ratisbonne. O Barão abandonara o protestantismo para fazer-se católico e por esta razão inspirava a Afonso Ratisbonne uma profunda antipatia. Gustavo Bussière mantinha-se protestante e, em companhia de Afonso Ratisbonne, metia freqüentemente a rídiculo a Igreja Católica.
   A 15 de Janeiro, nove dias apenas depois de sua chegada, resolveu Afonso deixar Roma e se viu na dura contingência de ir apresentar suas despedidas ao indesejável barão Teodoro de Bussière. O distinto e piedoso barão  suportou pacientemente, durante uma hora, uma saraivada de sarcasmos proferidos pelo jovem Afonso contra o catolicismo, procurando evidentemente atingir os dois Teodoros convertidos: o seu irmão Ratisbonne convertido do judaísmo; e o irmão de Gustavo Bussière, convertido do protestantismo.
   "Então, - refere o barão - apresentou-se à minha mente uma idéia maravilhosa, uma idéia celeste, que os sábios do mundo teriam julgado rematada loucura: "Já que sois um espírito tão forte e seguro de vós mesmo, lhe disse, não recusareis trazer o que estou para dar-vos".
   - De que se trata? perguntou secamente Afonso. - "Respondi-lhe  mansamente - disse Bussière, trata-se simplesmente desta medalha". Era a medalha milagrosa de Nossa Senhora das Graças. Recusou-a Afonso com um misto de indignação e de espanto.
   "Mas - acrescentou o barão Bussière friamente - segundo o vosso modo de ver, isto vos deve ser absolutamente indiferente, ao passo que para mim trará um grandíssimo prazer". - "Oh! - exclamou Afonso rindo a bom rir, a bandeiras despregadas - "então a trarei por mera complacência para mostrar-vos que é sem razão que acusam os judeus de obstinação e de invencível teimosia. Além disso me fornecereis um belíssimo capítulo para as minhas notas e impressões de viagem".
   "E, prossegue  o barão, "Ratisbonne continuava com motejos que me ralavam o coração... Entretanto, passei-lhe ao pescoço uma fita à qual minhas netinhas tinham pregado uma medalha. Mas restava-me ainda uma coisa mais difícil de obter: queria que ele recitasse a piedosa invocação de São Bernardo: "Lembrai-vos, ó piíssima Virgem Maria..." Revoltou-se ao ouvir este segundo pedido. "Mas uma força interior impelia-me, prossegue B. de Bussuère, a lutar contra as suas reiteradas recusas com uma espécie de obstinação. Apresentei-lhe a oração suplicando-lhe que a trouxesse consigo e que tivesse a bondade de copiá-la porque eu não dispunha de outro exemplar". Então, com um movimento de impaciência e ironia, para se ver livre das minhas importunações, disse ele: "Bem! eu escreverei; dar-vos-ei a minha cópia e conservarei a vossa". E retirou-se visivelmente contrariado.
   Afonso cumpriu a palavra; copiou a oração, leu-a e releu-a tantas vezes que já a sabia de cor. As palavras de "Memorare" não lhe saíam da memória.
   No dia 20 de Janeiro, festa de São Sebastião, Afonso ainda se achava em Roma, onde o retinha uma força misteriosa. Ao meio dia conversou num café com dois amigos. "Se neste momento - diz ele - um terceiro interlocutor  se tivesse aproximado de mim e me tivesse dito: "Afonso, dentro de um quarto de hora adorarás Jesus Cristo, teu Deus e teu Salvador... e renunciarás ao mundo, a suas pompas, a seus prazeres, a tua fortuna, a tuas esperanças, a teu futuro, e se for necessário renunciarás ainda a tua noiva, à afeição da tua família... Digo que se algum profeta me tivesse feito semelhante predição, só a um homem eu julgaria mais insensato que ele, e seria aquele que tivesse dado crédito à possibilidade de tal loucura".
   (Continua no próximo post. Por gentileza continue lendo. Obrigado!

A CONVERSÃO DE AFONSO RATISBONNE - ( III )

   Era 20 de Janeiro de 1842. Ratisbonne acha-se ainda em Roma. Saindo de um Café onde acabara de conversar com dois amigos, encontra uma carruagem: é do Barão de Bussière que o convida para dar um passeio. Afonso, sem muito entusiasmo, mais para não fazer uma descortesia àquele do qual pouco antes tinha sido hóspede, aceita o convite. Acharam-se logo diante da igreja de Santo André delle Fratte. O piedoso conde de Laferronays devia receber as honras fúnebres e o Barão de Bussière fora encarregado de reservar uma tribuna para a família do defunto.
   "Será coisa de dois minutos, diz ele a Afonso que, durante este tempo resolve visitar a igreja. Esperava-o nesta igreja a misericórdia de Maria Santíssima. Soara a hora da graça que desde a conversa no café, já trabalhava suavemente em sua alma. A Mãe de Deus se deixara comover pelas orações do barão de Bussière , do conde de Laferronays que morrera repentinamente depois de ter dito à sua esposa: "Repeti hoje mais de cem vezes o Lembrai-vos", e sobretudo pelas orações e lágrimas ardentes que em seu Santuário derramava seu diletíssimo servo o Padre Teodoro, irmão de Afonso Ratisbonne.
   Tenta Afonso descrever o que então se passou em sua alma: "Esta igreja é pobre e deserta; creio que nela me achei mais ou menos só... Nenhum objeto de arte atraiu a minha atenção... Subitamente nada mais vejo... ou antes, ó meu Deus, vejo uma só coisa! Como seria possível falar do que vi? Oh! não, a palavra humana não deve tentar exprimir o que se não pode exprimir; toda descrição, por sublime que seja, não seria mais que uma profanação da inefável realidade..."
   Tornando à igreja, Barão de Bussière não encontra Afonso onde o havia deixado, mas ajoelhado diante da capela de São Miguel Arcanjo e de São Rafael, submergido em profundo recolhimento.
   "A esta vista, pressentindo um milagre, depõe o barão, apoderou-se de mim um frêmito religioso. Dirijo-me a ele, agito-o várias vezes sem que ele dê conta da minha presença. Afinal, voltando para mim seu rosto banhado de lágrimas, junta as mãos e me diz: "Oh! como este senhor rezou por mim!"
   Compreendi logo que se tratava do falecido Conde de Laferronays. Amparado, quase levado por mim, sobe à carruagem. Onde quereis ir? pergunto-lhe eu.
    _ "Levai-me para onde quiserdes. Depois do que vi, obedeço".
   Declara-me em seguida que só falará com o consentimento de um padre, porque o que eu vi - acrescenta ele - só o posso dizer de joelhos".
   Conduzido à igreja do Jesú, dos padres jesuítas, ao lado do padre Villefort que o convida a explicar-se, tira Afonso a medalha, abraça-a, mostra-a e exclama: "Eu a vi! Eu a vi!... Havia uns instantes que eu estava na igreja, quando repentinamente me senti dominado por uma turbação enexprimível. Ergui os olhos; todo o edifício desparecera à minha vista; só uma capela tinha, por assim dizer, concentrado toda a luz; e, no meio desta irradiação, apareceu, em pé sobre o altar, grande, brilhante, cheia de majestade de doçura a Virgem Maria, tal qual está em minha medalha; uma força irresistível atraiu-me para ela. A Virgem com a mão me fez sinal para que me ajoelhasse. Pareceu dizer-me: "Está bem! Não me falou nada, mas eu compreendi tudo".
   Mais tarde dirigiu-se Afonso à Basílica de Santa Maria Maior a fim de agradecer a sua celeste benfeitora o grande benefício recebido.
   Ao entrar na capela de Nossa Senhora, exclamou: "Oh! como estou bem aqui! Gostaria de ficar aqui para sempre: parece-me que já não estou na terra!"
   Ao fazer a visita ao Santíssimo Sacramento, por pouco não desfaleceu. Apavorado, exclamou: "que coisa horrível estar na presença do Deus vivo sem ser batizado!"
   Afirma o Padre Roothan, geral da Companhia de Jesus, que "depois da sua conversão o senso da fé nele se manifestava de modo tão intenso que lhe fazia sentir, penetrar e reter tudo o que lhe era proposto, tanto que em pouco tempo o julgaram suficientemente instruído para receber o santo Batismo".
   Ratisbonne recebeu sem dúvida uma assistência toda especial de Deus e da Santíssima Virgem.
   A 31 de Janeiro, 11 dias após a aparição, Afonso Ratisbonne abjura solenemente a maçonaria e recebe o batismo na igreja do Gesú das mãos do cardeal Patrizzi. O vasto e suntuoso templo estava repleto. Ali se encontrava o escol da sociedade romana e estrangeira. Acompanhado pelo Padre Villefort e por seu padrinho, o barão de Bussière, Afonso foi levado à porta da igreja. Vestido de uma longa túnica de damasco branco, trazia o têrço e a medalha de Nossa Senhora nas mãos.
   - Que pedes à Igreja de Deus? pergunta-lhe o oficiante.
   - A fé!
   Ah! diz uma testemunha ocular dessa cena majestosa, já tinha a fé católica aquele a quem a estrela da manhã iluminara com os seus raios.
   Afonso beija a terra e fica prostrado até ao fim dos exorcismos.
   Levanta-se e, guiado pelo pontífice, encaminha-se para o altar entre as bênçãos de uma imensa multidão que respeitosamente se abre à sua passagem.
   Perguntam-lhe qual é o seu nome.
   - Maria! responde num arrebatamento de amor e de gratidão.
   - Que desejas?
   - O batismo.
   - Crês em Jesus Cristo?
   - Creio!
   - Queres ser batizado?
   - Quero!
   Com um sorriso de celeste beatitude levantou sua cabeça ainda umedecida da água batismal. Acabava de transpor um abismo: era cristão.
   Afonso, cheio de Deus, radicalmente transformado pela graça, deixa o mundo e entra na Companhia de Jesus. Nela viveu dez anos vida exemplar e só a deixou, desfeito em lágrimas, para fazer a vontade de Deus que o queria ao lado do seu irmão, o Padre Teodoro, para com ele trabalhar numa obra tão grata ao mesmo Deus e de tanta relevância, qual é a da conversão dos judeus.
   O piedoso Padre Maria Afonso Ratisbonne nunca se esqueceu de sua Mãe amantíssima que o arrancou das trevas da incredulidade para os esplendores da verdadeira fé.
   Inclinava-se profundamente sempre que ouvia no canto das ladainhas a invocação: "Refúgio dos pecadores, rogai por nós!"
   Os que o ouviam falar da sua Mãe Celeste adivinhavam o que se passava no seu coração; seu olhar fulgurante parecia que ainda contemplava a mais bela e a mais pura das virgens.
   A medalha milagrosa, que exercera papel preponderante em sua conversão, era o seu mais caro tesouro. Julgou um dia que a havia perdido; sua aflição foi extrema; parecia-lhe que fora abandonado pela Virgem misericordiosíssima. Suas lágrimas não cessaram de correr até que a encontrou.
   Maria Santíssima foi a sua consolação em todas as penas e seu grande motivo de esperança em todas as provações. Dizia que Maria Santíssima não é outra coisa que uma mão de Deus, não a mão que castiga, mas a mão das misericórdias.
    Dizem os historiadores que quando o Padre Ratisbonne pregava sobre Nossa Senhora, todos os ouvintes se comoviam, muitos pecadores se convertiam. Leiam por gentileza o próximo post deste blog e verão a conversão mais importante que o Padre Maria Afonso obteve por intercessão de Maria Santíssima.
   Caríssimos leitores, possa esse episódio tão comovente, que acabais de ler, reavivar em vossos corações a chama da devoção a Santíssima Virgem Maria.
   Se quisermos assegurar o único bem desejável que é a eterna salvação de nossa alma, vivamos, como bons filhos, no Coração maternal de Maria Santíssima.
   Os que a ela recorrem não deixam de ser ouvidos; os que choram em seu regaço materno não deixam de ser consolados e os que nela depositam inteira confiança e evitam tudo o que possa magoar-lhe o coração, nada têm que temer nem na vida nem na morte.
   A devoção sincera a Maria Santíssima é penhor seguro de salvação. Deus quis que por ela tivéssemos Jesus. E Jesus é a nossa salvação. Por isso o pedido que nos faz a Nossa Mãezinha do Céu é este: "Não ofendam mais o meu Filho!!!"

NB: As três postagens que fiz sobre a Conversão de Afonso Ratisbonne foram quase integralmente extraídas do livro: "O caminho que leva para Deus" do Pe. Arlindo Vieira, S. J.
                                                                                                          

domingo, 16 de novembro de 2014

A PERFEIÇÃO CRISTÃ

   Eis aqui, caríssimos, a encantadora resposta que São Francisco de Sales deu a algumas religiosas que, tendo jejuado todo o ano três vezes por semana, julgavam, para a perfeição, dever jejuar quatro vezes no ano que começava.: "Se, respondeu o santo diretor, para chegar à perfeição, deveis jejuar quatro vezes este ano, pela mesma razão no ano seguinte deveis jejuar cinco, depois seis, depois sete, por consequência toda a semana. Em virtude deste mesmo princípio, para avançar na perfeição pelo aumento dos jejuns, será preciso jejuar progressivamente, duas vezes por dia, depois três, depois quatro e cinco vezes, e aquelas cuja vida for longa deverão jejuar sessenta, setenta, oitenta vezes por dia. O que se diz do jejum pode aplicar-se a todos os outros atos de piedade".

   Caríssimos, em vez de multiplicar as práticas de piedade que, o mais das vezes, fatigam o espírito em vez de lhe darem repouso, aplicai-vos antes a aperfeiçoar as vossas práticas de todos os dias, desempenhando-as com mais tranquilidade de alma, fervor e pureza de intenção. E até, quando não puderdes desempenhar comodamente todas as vossas piedosas práticas de cada dia, abreviai-as, suprimi-as suficientemente , afim de que sejam feitas com tranquilidade. O espírito de perfeição, segundo São Bernardo, não consiste em fazer muitas coisas, nem coisas grandes: mas em fazer coisas comuns e diárias, corriqueiras, em fazê-las, contudo, dum modo não comum.  Aplicai-vos, caríssimos, sobretudo a aperfeiçoar os deveres de vosso estado.

   O fim da perfeição é unicamente o amor de Deus; mas para lá chegar há caminhos diversos. Os próprios santos seguem caminhos diferentes. São Bernardo proibia aos seus monges que consultassem os homens da arte e aceitassem os seus socorros, enquanto que Santo Inácio obedecia com exatidão ao seu médico. Lemos na vida de São Bento que nunca ninguém o viu rir, enquanto que São Francisco de Sales ria com toda a gente, e mostrava um espírito de jovialidade e de santa alegria. Santo Hilarião olhava como uma delicadeza mudar de cilício, e Santa Catarina de Sena, pelo contrário, costumava dizer que a limpeza exterior é o símbolo da pureza da alma. Se consultais São Jerônimo, parecer-vos-á que não fala senão de rigores; se vos dirigis a Santo Agostinho, só ouvis a linguagem do amor. Caríssimos, na verdade, a graça de Deus aperfeiçoa gradualmente, mas não destrói a natureza. Diz o Salmo: "Que todo espírito louve o Senhor". Assim, não devemos nem condenar as diversas práticas dos santos nem segui-las em tudo. 

   Caríssimos, outra coisa que deveis observar: não julgueis estar fora do caminho da perfeição, porque caís em algumas faltas e tendes certos defeitos. Tiveram-nas até os grandes santos; por isso podiam eles, segundo Santo Agostinho, repetir com o Apóstolo São João (1 João I, 8): "Se dizemos que não há pecados em nós, enganamo-nos, e a verdade não está em nós".

   O que não podemos é amar as nossas faltas; se caímos, é por mera fraqueza. Caríssimos, devemos tirar proveito destas faltas, que não é dado à nossa natureza evitar. Deus permite, muitas vezes, nas almas avançadas já na perfeição, os defeitos das principiantes, afim de que elas se aperfeiçoem no conhecimento de si mesmas e na confiança n"Ele. Vede. caríssimos, que palavras consoladoras estas de Santo Agostinho: "O Senhor achou mais conforme à sua infinita sabedoria tirar o bem do mal, do que impedir o próprio mal". Portanto, quando tirais das vossas faltas a humildade, correspondeis ao fim tão alto da inefável sabedoria de Nosso Pai do Céu. Tudo que favorece à humildade, é lucro. 

   Convém que nos apliquemos à perfeição com paz e confiança em Deus. Teremos sempre bastante cedo o que desejamos, quando o tivermos na hora em que aprouver a Deus no-lo conceder. Filhinhos de Deus, coloquemo-nos nos braços de Nosso Pai do Céu e fiquemos tranquilos, desde que façamos também a parte que Ele pede de nós. Amém!

sábado, 15 de novembro de 2014

A MISSA, ORAÇÃO OFICIAL DA IGREJA

   O Sacrifício da Cruz precisa prolongar-se no Sacrifício da Missa. Morrendo por nós e dando-nos o seu próprio Sangue, Jesus mereceu para nós A GRAÇA: a graça habitual ou santificante e também todas as graças atuais. De modo que TODAS AS GRAÇAS, recebidas por TODOS OS HOMENS, desde o princípio do mundo, após o pecado de Adão, foram, são e serão concedidas em virtude dos merecimentos infinitos de Jesus Cristo, na Sua Morte Redentora na Cruz. Podemos fazer uma comparação: Há no Sacrifício da Cruz UM MAR IMENSO DE GRAÇAS para a Humanidade,  ( aliás mais do que todos os oceanos, pois Seus merecimentos são sem limites, são infinitos). Mas para nos banharmos neste mar, temos que ir até ele através dos sacramentos. Estes são os canais da graça. Assim quando não possuímos a graça santificante, o meio estabelicido por Cristo para adquiri-la, para recebê-la são os sacramentos do batismo e da Penitência; é aí que recebemos o banho purificador no oceano imenso de graças merecidas por Jesus no Calvário. Os outros sacramentos servem para aumentar em nós esta graça. A Eucaristia, porém, diferentemente dos outros sacramentos, é um sacramento que pode ser recebido até todos os dias. A Santa Missa está continuamente renovando-o no Altar.
   O Sacrifício do Calvário não só é fonte da graça santificante, mas também de GRAÇAS ATUAIS. Mas pelo fato de Jesus ter morrido na Cruz, não quer dizer que nós recebemos infalivelmente todas as graças atuais. Temos que fazer a nossa parte. Temos por exemplo, que fazer oração, e não só para pedir graças, mas para adorar a Deus, para pedir perdão e para agradecer as graças recebidas.
   O que acontecia na Antiga Lei? Alguém podia muito bem orar a Deus, adorá-LO, agradecer-Lhe, pedir favores, tudo isto sem que fosse preciso oferecer-Lhe um SACRFÍCIO. Sacrifício, naquele tempo, de animais e frutos da terra. Mas, quando se oferecia o sacrifício, então já era a ORAÇÃO OFICIAL DO POVO DE DEUS,  que aos sentimentos de adoração, ação de graças, contrição ou aos seus pedidos acrescentava um PRESENTE, uma OBLAÇÃO, uma OFERTA feita a Deus para melhor granjear a divina benevolência. Oferecia-se a Deus, então, um SACRIFÍCIO, que era de valor bem limitado, porque de animais e frutos da terra.
   Jesus, instituíndo o Santo Sacrifício da Missa, quis dar também ao povo cristão esta possibilidade de fazer uma oferta, uma oblação a Deus, juntando esta oferta a suas orações e sentimentos, de modo que a Missa passou a ser A ORAÇÃO PÚBLICA E OFICIAL DO POVO CRISTÃO, que é o povo de Deus na Nova Lei. Só que agora, A OFERTA A DEUS, não é de animais ou frutos da terra, não se trata mais de uma oferta de valor limitado. Não! Agora basta-nos um pouco de pão e de vinho e graças ao maravilhoso poder de Jesus Cristo, temos sobre os nossos altares o PRÓPRIO CORPO E O PRÓPRIO SANGUE DO SALVADOR QUE FORAM OFERICIDOS NA CRUZ. Daí este PRESENTE que ofertamos a Deus é de valor infinito. Esta VÍTIMA  que oferecemos a Deus é, ela mesma inteligente, consciente , livre, e de merecimento infinito; faz, ela mesma, no altar A MELHOR DE TODAS AS ADORAÇÕES, DE TODAS AS SÚPLICAS, DE TODAS AS AÇÕES DE GRAÇAS,  e aí nós ajuntamos, como a gota d'água no vinho, dentro da nossa tão grande insuficiência, os  nossos próprios sentimentos. Só depende de nós tirarmos o maior fruto possível, porque de si a Missa é de valor infinito.
   Mas avivemos a nossa fé. Porque Jesus é A CABEÇA DO CORPO DA IGREJA (Col. I, 18). Formamos com Jesus um todo inseparável. Na Missa Ele não só se oferece a si mesmo, mas dá também à Igreja o gosto, a satisfação, o privilégio de oferecê-Lo ao Eterno Pai, bem como de oferecer-se a si mesma juntamente com Ele. A nossa adoração sobe aos céus unida com a adoração infinitamente perfeita de Jesus; o nosso reconhecimento, unido a Sua perfeitíssima ação de graças; a nossa contrição juntamente com o poder expiador do seu Sangue; a nossa contrição juntamente com o poder eficaz do nosso Divino Redentor.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

O SACRIFÍCIO DE CRISTO FOI ÚNICO: POR QUE HÁ O SACRIFÍCIO DA MISSA?

PERGUNTA: O sacrifício de Jesus Cristo foi SACRIFÍCIO ÚNICO; portanto não há dois sacrifícios: o Sacrifício da Cruz e o Sacrifício da Missa. Só haveria, então, o sacrifício da Cruz.
RESPOSTA: O Sacrifício da Missa e o Sacrifício da Cruz não são dois sacrifícios mas são um ÚNICO E MESMO SACRIFÍCIO, porque a Vítima é UMA SÓ: NOSSO SENHOR JESUS CRISTO. O Sacerdote  também é o mesmo: NOSSO SENHOR JESUS CRISTO. Pois o supremo sacerdote da Nova Lei, e na realidade o único sacerdote, é Jesus Cristo. O homem que celebra a santa Missa, o sacerdote católico, é um ministro de Cristo, que age apenas em nome de Cristo: "Os homens devem-nos considerar como  UNS MINISTROS DE CRISTO E COMO UNS DISPENSADORES dos minstérios de Deus" (1 Cor. IV, 1). "Nós fazemos o ofício de EMBAIXADORES em nome de Cristo" ( 2Cor. V, 20).
   Façamos algumas comparações: Quando o patrão manda o servo levar um presente a alguém, quem é que está dando o presente? É claro que é o patrão. Quando alguém escreve um discurso e manda outro ler, quem é o AUTOR do discurso? Quem o escreveu. Quando o rei manda um embaixador assinar um tratado de paz, quem o está assinando; é o embaixador em seu nome particular ou é o próprio rei? É claro que é o rei.
   Os ministros de Cristo receberam esta ordem: "FAZEI ISTO EM MEMÓRIA DE MIM" (São Lucas, XXII, 19).
   Quando o sacerdote celebra a santa Missa, não diz: Isto é o Corpo de Cristo ou Isto é o cálice do Sangue de Cristo - mas diz: Isto é o MEU CORPO, Isto é o cálice DO MEU SANGUE, porque ele está agindo apenas em nome de Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote. Jesus é que quis ligar a sua presença no altar à vontade e à ação de um homem. Na verdade, o sacerdote só é sacerdote sob a dependência de Cristo e só age como Seu representante, Na Missa o sacerdote faz as vezes de Jesus emprestando suas mãos e seus lábios a Jesus. E depois da Consagração Jesus está presente no altar, oferecendo-se a si mesmo ao Pai. É Cristo que se oferece na Missa; os sacerdotes só se oferecem com Ele, por Ele e nEle. O sacerdote, portanto, é mero instrumento de Cristo e por vontade de Cristo. Já os sacerdotes da Antiga Lei eram independentes uns dos outros.
   Concluindo: Não são dois sacrifícios mas um só. Porque a diferença está só no modo ao passo que a identidade está no fundamento, isto é, num e noutro são os mesmos o sacerdote e a vítima. No altar temos o mesmo Cristo e com as mesmas disposições que no Calvário, ou seja, no altar como na Cruz, Jesus é o adorador do Pai, confessando como homem a sua total dependência do Pai, pedindo perdão pelos pecados dos outros e disposto a ser obediente até à morte. E como já dissemos, o principal aos olhos de Deus Pai são estes sentimentos de Jesus, é o Seu oferecimento como Hóstia (=vítima). 
   Fixemos esta idéis para nos recordarmos dela a seu tempo. Talvez nos sintamos tentados a comportar-nos em face da Hóstia que o sacerdote levanta depois da Consagração como se ela fosse insensível, morta. Mas é um grande erro nosso! Pois Jesus está presente, vivo, glorioso e o seu estdo de espírito é o mesmo que quando foi levantado na Cruz pelos algozes. Por isso se a nossa fé for fraca não tiramos frutos da Santa Missa.  
UMA PARÁBOLA
    Em certo reino houve durante muito tempo, um problema: uma doença considerada incurável e muito propagada. Vários sábios procuraram uma solução; publicaram muitas obras sobre o assunto, porém inultilmente. Porque não davam a chave da solução do problema.
   Apareceu, afinal, um GRANDE SÁBIO, que resolveu a questão para sempre: fez uma exposição diante do rei, demonstrando as causas da doença, estudando profundamente o asunto e mostrando o meio certo e seguro de combatê-la e evitá-la.
   Suas palavras foram apanhadas pelos taquígrafos, depois publicadas em livro e se foram tirando muitas e muitas edições. Cada vez que sai uma nova edição é  A MESMA OBRA porque é o mesmo autor e são as mesmas idéias, apesar dos tipos e capas serem diferentes. Já o mesmo não se dá com aquelas outras obras publicadas antes de se resolver o problema: eram obras diversas, de diversos autores e nenhuma encontrou A SOLUÇÃO DEFINITIVA.
    APLICAÇÃO DA PARÁBOLA: é o que se deu com os sacrifícios da Antiga Lei: vítimas diversas, sacerdotes diversos. Ao passo que a Santa Missa é apenas a renovação do Sacrifício do Calvário, sendo a mesma vítima e o mesmo sacerdote. De modo que o padre que celebra não passa no caso, de um humilde tipógrafo que vai reeditar a grande OBRA DE CRISTO; não vai resolver um problema que por Cristo já foi resolvido. 

sábado, 8 de novembro de 2014

"UNIDOS EM DEFESA DA FÉ" ( VI )

   Logo nos primeiros meses do pastoreio de D. Navarro ficou bem claro que seu objetivo era introduzir o "Novo Ordo Missae" e com ele e através dele, introduzir o "PORGRESSISMO" na Diocese de Campos. Com a Missa Nova foram aceitas as vestes indecorosas nos templos sagrados, e até para a recepção dos sacramentos; logo apareceram os ministros e as ministras da Eucaristia; a comunhão de pé, as mulheres sem véu; e a comunhão na mão; as músicas modernas e prostestantizadas com violão, acordeon, pandeiro etc. Não vou relatar aqui os escândalos dos quais o povo logo tomou conhecimento e com grande tristeza.
    Pois bem, os 25 padres que ficaram fiéis, mesmos os expulsos (porque o Bispo foi expulsando aos poucos: um por um) fizeram de tudo,  com grande amor a Santa Igreja e as almas, para neutralizar a ação nefasta do progressismo que, como o fogo nos canaviais de Campos, foi rapidamente se alastrando.
   Empregando a grande inteligência que Deus lhe deu, o grande lutador contra esta avalanche de males, foi, sem dúvida o nosso caríssimo colega o Revmo. Sr. Padre Fernando Arêas Rifan. Foi ele que escreveu o folheto com 60 razões contra a Missa Nova. Foi ele que escreveu, logo no início da gloriosa batalha em defesa da fé, um folheto respondendo as objeções que D. Navarro e os seus seguidores faziam para defender a Missa Nova. Esclareceu totalmente os fiéis que pudessem ainda conservar alguma dúvida, naquela triste conjuntura. 
   Logo no início se não me engano, escreveu um folheto intitulado "Missa Nova ou Missa Tradicional. Eis, na íntegra, o folheto:


MISSA NOVA OU MISSA TRADICIONAL
Esclarecendo dúvidas

   Há muitos católicos, aliás no mundo inteiro, que dizem não poder, em consciência, aceitar a Missa Nova.
   Contra eles, costuma-se dar três objeções:
   - 1ª) A Missa Nova, na verdade é a mesma Missa de sempre. Não há portanto razão para recusá-la.
  - 2ª) O Papa mandou explicitamente a Missa Nova. Ora os fiéis devem obedecer ao Papa, mesmo quando não fale "ex-cathedra".
   - 3ª) O Papa, apesar de não usar neste caso a sua infalibilidade, não poderia errar em matéria tão grave.

RESPOSTAS
   1ª OBJEÇÃO: A Missa Nova é a mesma missa de sempre.
   É melhor deixar responder a isto o próprio Mons. Aníbal Bugnini, então secretário da Congregação do Culto Divino, o grande mentor da Missa Nova: "Não se trata apenas de retoques numa obra de grande valor, mas às vezes é preciso dar estruturas novas a ritos inteiros. Trata-se de uma  restauração fundamental, eu diria quase uma mudança total e, para certos pontos, de uma verdadeira nova criação" (Doc. Cat. nº 1493, 7-5-67). Por estas palavras se vê que a Missa Nova já não é a mesma Missa Tradicional.
   Aliás, se é a mesma coisa, então por que criticar e até perseguir os que querem ser fiéis à Missa Tradicional?

   -2ª OBJEÇÃO: O Papa mandou explicitamente a Missa Nova.
   Antes de responder, gostaria de fazer quatro perguntas a quem fizesse essa objeção:
   a) Um Papa pode entrar em desacordo com a Tradição?
   b) Se um Papa estiver em descordo com a Tradição, a quem devemos seguir, ao Papa ou à Tradição?
   c) Um Papa pode terminar favorecendo uma heresia?
   d) Se o Papa favorece a heresia, neste caso o que se deve fazer: obedecer ao Papa e favorecer a heresia ou conservar a Fé intacta?

   Existem graves razões de Fé para não se aceitar a Missa Nova.
   A Igreja condenou os erros protestantes. Definiu, com infalibilidade, dogmas de Fé sobre a PRESENÇA REAL  de Jesus Cristo na SSma. Eucaristia, sobre o SACERDÓCIO HIERÁRQUICO distinto do dos simples fiéis, sobre o SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA.
  
    A Igreja condenou aqueles que dizem que a Missa deve ser celebrada só em venáculo (em português) (Conc. de Trento).

   A Igreja reprovou os que querem que a Consagração seja em voz alta (Conc. de Trento e Pio VI).

   A Igreja reprovou o altar em forma de mesa (Pio XII).

   Ora, na Missa nova, os erros que a Igreja me ensinou a reprovar agora são tidos como certos e aprovados. E mais. Os dogmas de fé acima citados, não são mais tão explícitos como o eram na Missa Tradicional, e isso é tão evidente que os Protestantes, que jamais toleraram a Missa Tradicional (Lutero a chama de abominável), afirmaram que, com a Missa Nova, teologicamente é possível que eles celebrem a sua ceia com as mesmas orações da liturgia reformada da Igreja Católica. (cf. Max Thurian, La Croix, 30-05-1969). Não é sintomático?!

   Pode uma autoridade, por suprema que seja, nos impor algo que é contra a nossa Fé e que é ofensivo a Deus, Nosso Senhor?

   Eis o dilema para todo bom católico: ou sacrificar a Fé e a Tradição em nome da obediência, ou manter-se firme na Fé e na Tradição, obedecendo ao que foi sempre ensinado pela Santa Igreja, e por isso ser taxado de rebelde e de desobediente!.

   São Paulo já nos advertiu:  "Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do Céu vos anuncie um Evangelho diferente daquele que vos tenho anunciado, seja anátema". (Gál. 1,8).

   Não se trata de desobediência ou de rebeldia. Trata-se de fidelidade e lealdade à fé do nosso Batismo, e, portanto, à cátedra de Pedro e à Santa Igreja.

   Pode-se cair em heresia ou favorecer a ela por palavras ou por atos. E os hereges sempre procuraram manifestar na liturgia os seus erros. Assim, por exemplo, no tempo da heresia monofisita, que negava as duas naturezas em Jesus Cristo, os hereges, quando celebravam a Missa, não colocavam a gotinha de água no vinho no ofertório, porque isto significa também a natureza humana de Cristo unida à natureza divina. Se um padre, naquela época, celebrasse a Missa assim, estaria fazendo, por este simples gesto, uma profissão de fé herética, terrivelmente ofensiva a Deus. E nenhuma autoridade poderia obrigá-lo a tal, porque era uma questão de fé.

   O Papa Leão XIII afirmou na encíclica "Satis Cognitum": "Nada poderia ser mais perigoso que estes hereges que, conservando em tudo o mais a integridade da doutrina, por uma só palavra, como por uma só gota de veneno, corrompem a pureza e a simplicidade da Fé que nós recebemos da Tradição de Nosso Senhor e, depois, dos Apóstolos."

   A obediência é uma virtude moral, inferior à Fé, que é uma virtude teologal. A obediência está condicionada à Fé. A Fé não tem limites. A obediência os tem. Obedecer é fazer a vontade de Deus, expressa na vontade dos superiores, representantes de Deus. Mas se a ordem dos superiores se revela em contradição com a vontade de Deus, então vale aplicar a frase de São Pedro: "É preciso obedecer a Deus antes que aos homens". (Atos, 5,29). Assim, o 4º Mandamento manda ao filho obedecer aos pais. Mas se o pai lhe manda algo contra a vontade de Deus, o filho não deve fazer o que o pai lhe ordena, e e peca se o fizer. 

   - 3ª OBJEÇÃO: O Papa, apesar de não empenhar neste caso a sua infalibilidade, não poderia errar em matéria tão grave.

   Os que afirmam que o Papa, fora do campo da infalibilidade, não pode errar, apesar de ser matéria muito grave, estão afirmando mais do que o Concílio Vaticano I afirmou, mais do que Pio IX definiu. Estão querendo, segundo disse alguém (ndr: este alguém era D. Navarro) saber mais do que o Papa, ser mais católicos que o Papa. Pois se o Concílio definiu os contornos dentro dos quais não há possibilidade de erro, querer ampliar por conta própria estes contornos é querer saber mais do que o Papa e a Igreja.
   Aliás, isso seria contraditório com a História da Igreja. Por exemplo, o Papa Honório I, em matéria muito grave e que interessava à Igreja toda, pois era uma decisão em assunto de heresia, ao dar uma ordem, falhou e foi antematizado por um Papa posterior porque favoreceu a heresia.

   Portanto, nas coisas em que o Papa não é infalível, ele normalmente não erra, mas pode errar. Qual é o critério que nos ilumina sempre: a Tradição. O que for de acordo com a Tradição da Igreja é certo. O que não for é falso. Foi por esta razão que o Papa Honório foi anatematizado. Eis as palavras de São Leão II, Papa: "Anatematizamos Honório, que não ilustrou esta Igreja Apostólica, mas permitiu, por uma traição sacrílega que fosse maculada a Fé imaculada ("...") da TRADIÇÃO apostólica, que recebera de seus predecessores". "... Não extinguiu, com convinha à sua Autoridade Apostólica, a chama incipiente da heresia, mas a fomentou por sua negligência" (Denz. Sch. 563 e 561). Do mesmo modo o VI Concílio Ecumênico rejeitou de modo absoluto e execrou como nocivas às almas (sic) as cartas do Papa Honório, por ter "verificado estarem elas em inteiro desacordo" com a Tradição.

   Eis porque o Concílio Vaticano I definiu: "O Espírito Santo não foi prometido aos sucessores de São Pedro para que estes, sob a revelação do mesmo, pregassem uma nova doutrina, mas para que, com sua assistência CONSERVASSEM SANTAMENTE e expusessem fielmente o depósito da Fé, ou seja, a revelação herdada dos Apóstolos". (D. 3070)

     Virgem Mãe de Deus Maria,
      que sozinha destruistes todas as heresias no mundo inteiro,
      rogai pelo povo, intercedei pelo clero.

                     Pe. Fernando Arêas Rifan
                      ex-Diretor Diocesano do Ensino Religioso
                            Campos - RJ.
  
  
  
   

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

O ÍDOLO DO DINHEIRO - Caso verídico e terrível contado por S. Leonardo de Porto Maurício

   O deus do nosso tempo é o dinheiro. Quão numerosos são os que se prostram diante dele e lhe oferecem adoração em todo tempo e lugar! O resultado é que, correndo atrás deste ídolo, esquecem o verdadeiro Deus, e, por consequência, precipitam-se num abismo de desgraças e perdem toda a felicidade, enquanto que - na afirmação do Profeta Davi - aqueles que buscam a Deus antes de tudo ( dinheiro, parente, amigo, jogo etc.), não caem em nenhum verdadeiro mal e abundam em todos os bens. (cf. Salmo XXXIII, 11). "Os ricos tiveram necessidade e fome, mas os que buscam o Senhor, não terão falta de bem algum". Esta palavra se verifica ainda mais naqueles que, antes de se entregarem a seu trabalho ou a seus negócios, têm o cuidado de assistir à Santa Missa
   É o que prova a história dos três negociantes de Gúbio, Itália. Dirigiram-se a uma feira que se realizava num burgo chamado Cisterno. Depois de vender suas mercadorias, dois deles começaram a pensar na volta e resolveram partir no dia seguinte de madrugada, a fim de estarem em casa ao cair da tarde. O terceiro, homem de fé e que amava a Deus acima de tudo, discordou desta resolução dos dois amigos e declarou sem respeito humano, que, sendo o dia seguinte um domingo, não se punha a caminho sem ter antes ouvido a Santa Missa. E exortou os outros, se queriam voltar como tinham vindo, a concordar em assistir em primeiro lugar ao Santo Sacrifício da Missa; em seguida, fariam uma refeição e partiriam mais satisfeitos. Além disso, se não pudessem chegar naquela mesma noite a Gubio, não faltariam albergues confortáveis no caminho.
   Não se renderam os companheiros a aviso tão sensato e salutar; mas decididos a chegar aquela mesma noite a seus lares, responderam que Deus havia de perdoar-lhes se por aquela vez faltassem à Missa no Domingo. Assim, no domingo, antes da aurora, sem entrar sequer na igreja, montaram a cavalo e tomaram a estrada para sua terra. Em breve chegaram ao rio Corfuone, que a chuva torrencial da noite anterior engrossara a ponto de fazer transbordar. A água, em corrente impetuosa, sacudira e deslocara bastante a ponte de madeira. Os dois negociantes meteram-se por ela com seus animais, mas, bem não tinham chegado ao meio, roupeu-se a madeirame à pressão da água e os dois cavaleiros precipitaram-se no rio onde se afogaram, perdendo assim dinheiro, mercadorias e a vida, e, quem sabe, ainda a alma. Ao fragor desta catástrofe, acorreram os camponeses, e por meio de ganchos e varapaus conseguiram retirar os cadáveres que deixaram estendidos na margem, para que fossem identificados e se lhes pudesse dar sepultura.
   O terceiro, entretanto, que se deixara ficar para cumprir o preceito de ouvir Missa, pôs-se a caminho alegre e animado. Ao chegar à mesma torrente, viu na margem os dois mortos, e por curiosidade se deteve para olhá-los. Reconheceu imediatamente seus dois amigos, e ouviu emocionado o descrição da tragédia. Levantou, então, as mãos aos céus, agradecendo a Deus que tão misericordiosamente o preservara de sememlhante desgraça, e abençoou mil vezes a hora que consagrara à Santa Missa, à qual devia estar são e salvo. Ao chegar a sua cidade, comunicou a triste notícia e excitou em todos os corações um vivo desejo de nunca perder a Santa Missa nos Domingos e até, o quanto for possível, assisti-la todos os dias.
   Permiti-me escrever aqui: continua S. Leonardo, malditos ídolos que afasatam de Deus nosso coração e tiram de certo modo à liberdade de pensar no grande negócio da salvação eterna!

sábado, 25 de outubro de 2014

JESUS É O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA

   A) JESUS É O CAMINHO que devemos seguir para chegar a Deus. "Éramos, diz o Beato Olier, devedores a Deus de um milhão de deveres religiosos, mas como éramos incapazes por nós próprios de Lho tributarmos - de adorá-Lo como Ele merece e é nosso dever - necessitávamos que o grande Mestre, pela sua caridade, servisse de suplemento aos nossos deveres e fosse mediador da nossa religião. Foi por isso que Ele quis reviver depois da sua morte e estar sempre vivo - ad interpellandum pro nobis, diz São Paulo, para louvar e pedir ao seu Pai por nós e na nossa falta".
   Tivemos a infelicidade de ofender a Deus? É o próprio Jesus, mediador de redenção, que pleiteia a nossa causa e se oferece como vítima de propiciação pelos nossos pecados. Diz São João: 'E se alguém pecar, temos um advogado junto do Pai: Jesus Cristo, o justo. Ele mesmo é uma vítima de propiciação pelos nossos pecdos, não só pelos nossos, mas pelos do mundo inteiro" (1 João, II, 1 e 2).
   Queremos implorar novas graças? Jesus está presente para apoiar as nossas preces com todo o valor dos seus méritos infinitos. O próprio Jesus nos garante: "Em verdade, em verdade vos digo, tudo o que pedirdes ao meu Pai, Ele vo-lo dará em meu nome" (Jo. XVI, 1-4). Jesus pede conosco e por nós. E Ele é sempre ouvido por causa da dignidade da sua pessoa: "Foi atendido pela sua reverência" (Heb. V, 7).
   É por Jesus que nós também recebemos o Espírito Santo. É o próprio Jesus que no-lo afirma: "É bom para vós que eu vá, porque se não for, o Paráclito não virá para vós; mas se eu for, eu vo-Lo enviarei... Quando o Espírito de verdade vier, Ele vos guiará em toda a verdade... O Paráclito, o Espírito Santo, que meu Pai enviará em meu nome, há de ensinar-vos todas as coisas e lembrar-vos-á tudo o que eu vos disse" (S. Jo. XVI, 26; 7-13). Diz São Paulo que é o próprio Espírito Santo que pede por nós com gemidos inenarráveis (Rom. XVI, 7-13).
   Portanto, Jesus nos conduz ao Pai e ao Espírito Santo. Assim é o caminho que nos conduz a mais alta perfeição. É-o também por ser o modelo perfeito de todas as virtudes que devemos praticar. Caríssimos, sigamo-Lo, portanto, com todo amor. Seguindo-O, não nos extraviaremos. Caminharemos para a luz.

   B) JESUS É A VERDADE INFALÍVEL que devemos crer e abraçar com amor. Jesus como Verbo, é a infinita Sabedoria, a luz que ilumina todos os espíritos; como homem, possui três ciências: a visão beatífica, pela qual vê a Deus face a face e, n'Ele, todo o domínio do real, passado, presente e futuro; a ciência infusa, que se estende a todas as realidades do ordem natural e sobrenatural; a ciência experimental, que adquiriu progressivamente e que, sem ser tão universal como as outras duas, acabou por atingir um dia o conjunto das verdades a que o espírito humano pode elevar-se. É neste sentido que o Evangelho diz que o Menino Jesus crescia em idade e ciência. Jesus é, portanto, o nosso Mestre por excelência; "VÓS SÓ TENDES UM MESTRE QUE É CRISTO" (S. Mat. XXIII, 10). Que os outros escolham, se quiserem, "mestres que deleitem os ouvidos e se desviam da verdade para se entregarem a fábulas" (2 Tm. IV, 3 e 4). Quanto a nós, pela graça de Deus, iremos Àquele que tem palavras da vida eterna, Aquele que veio a este mundo para dar testemunho da verdade. Iremos a Ele com toda a nossa alma, com a dupla luz da razão e da fé. Não percamos o nosso tempo em elogiar seja lá que "mestre" for, porque, na verdade, seria elogiar "salteadores". Seja, isto sim, o Verbo Eterno Encarnado a nossa luz nos estudos de todas as ciências, profanas ou sagradas. Não esqueçamos que toda a verdade é uma espécie de parcela da divina Sabedoria, e conduzamos todos os nossos conhecimentos para a glória de Nosso Senhor Jesus Cristo. Mas procuremo-Lo sobretudo no Santo Evangelho, que havemos de ler e reler, sempre interessados na doutrina do Mestre, que é o Doutor infalível. A quem iremos? Só Jesus tem palavras de Vida eterna! Façamos da Sua doutrina a regra da nossa vida, não esquecendo que o melhor meio de conhecer e sentir a verdade, é pô-la em prática.

   C) JESUS É A NOSSA VIDA. A vida, hauriu-a Ele integralmente como Deus no seio do Pai; como homem, possui uma participação de vida tão abundante que é a fonte onde todos nós devemos beber. Primeiro pelos sacramentos que são os canais da graça. Saem do Sagrado Coração de Jesus e derramam-na nas nossas almas. Devemos estar sempre lembrados que a vida divina de que os sacramentos nos torna participantes, é fruto do sangue de Jesus e do seu amor para conosco. Sobretudo a Eucaristia, porque é o próprio Jesus que recebemos; quer dizer, o Verbo encarnado com todos os tesouros da sua divindade e da sua  humanidade, com o Pai e o Espírito Santo inseparavelmente unidos a Ele. Jesus disse: "Eu vim para que tenham a vida, e  com abundância".
   Não só dos sacramentos nos vem esta vida; mas ainda de todos os atos feitos em estado de graça, em união com Jesus. A graça santificante é uma participação da vida divina. E cada ato nosso feito em união com Jesus, aumenta esta graça e portanto, aumenta a vida divina em nós.
   Caríssimos e amados irmãos, felizes as almas que saboreiam e praticam estas belas doutrinas, que São Paulo e São João ensinavam incessantemente aos primeiros cristãos e que transformaram o mundo! Felizes as almas que, segundo o Beato Olier, têm Jesus diante dos olhos, no coração e nas mãos. Vamos explicar estas três coisas:
   Ter Jesus diante dos olhos: ou seja, comtemplá-Lo como o modelo mais completo de todas as virtudes que devemos praticar. Quando oramos ou meditamos, quando estudamos ou cumprimos os nossos deveres de estado, perguntemo-nos muitas vezes, como São Vicente de Paulo: Que faria Jesus se estivesse no meu lugar?" Ao mesmo tempo  adoremo-Lo e supliquemos-Lhe que nos ajude a reproduzir as suas disposições interiores: "E depois, como diz o Beato Olier, quando o nosso coração estiver cheio de amor, permaneçamos em silêncio  diante d'Ele, nestas mesmas disposições e sentimentos".
   Ter Jesus no coração: Diz o Beato Olier: "Demo-nos a Cristo para que a sua virtude nos anime a deixarmo-nos possuir por Ele, e, depois fiquemos ainda algum tempo em silêncio junto d'Ele, para nos deixarmos imbuir interiormente da sua unção divina". Supliquemos ao Divino Espírito Santo, que animava a alma humana do Salvador e que é ainda hoje a alma do seu corpo místico, que venha até nós para nos tornar semelhantes a Jesus Cristo.
   Ter Jesus nas mãos: isto é, rogar a Ele que faça com que a sua vontade se cumpra em nós, que, como explica o Beato Olier, "como bons membros, devemos obedecer à cabeça, e cujos impulsos só devem vir de Jesus Cristo, o qual, enchendo a nossa alma do seu Espírito, da sua virtude e da sua força. deve operar em nós e por nós tudo quanto deseja".
    Assim como explicou o Beato Olier, Jesus se torna verdadeiramente o centro da nossa vida, dos nossos pensamentos, dos nossos sentimentos, das nossas ações; só assim Ele é sempre para nós uma fonte de água viva. Com São Paulo, digamos de todo o coração: "A MINHA VIDA É JESUS!!!