terça-feira, 26 de julho de 2016

ORIENTAÇÃO INDIVIDUALISTA DE LUTERO

   

   Apesar de todos os conselhos do seu diretor espiritual, a alma de Lutero cada dia mais se lança no desespero. Está convencido de que o homem não é livre, pois não se liberta nunca do pecado. Um dia, porém, nos seus estudos sobre a Bíblia, julga ter encontrado na Epístola aos Romanos a solução para o seu problema(4). Interpreta o Apóstolo São Paulo a seu modo, de acordo com suas próprias ideias, de maneira que, como diz o próprio Strohl, autor protestante: "foi a orientação puramente individualista e a força de sua experiência pessoal que impediram Lutero de assimilar todo o pensamento do Apóstolo".

   Se São Paulo nos lembra que O justo vive da fé (Romanos I-17), este mesmo São Paulo que nos diz: Todas as vossas obras sejam feitas em caridade (1ª Coríntios XVI-14) e nos afirma que o homem, mesmo tendo a fé a ponto de transportar montanhas, não é nada sem a caridade (1ª Coríntios XIII-12), Lutero não toma aquela frase no sentido de que todas as nossas ações devem ser revestidas de verdadeiro espírito de fé - mas no sentido de que na fé somente se resume toda a vida do cristão. Se São Paulo nos ensina que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei (Romanos III-28) no sentido de que não somos mais obrigados a cumprir todas aquelas determinações e cerimônias da lei mosaica, Lutero toma isto no sentido de que não somos obrigados a obedecer a lei nenhuma, nem mesmo a observar os mandamentos. Se São Paulo fala na liberdade da glória dos filhos de Deus (Romanos VIII-21) e diz que soltos estamos da lei da morte, na qual estávamos presos, de sorte que sirvamos em novidade do espírito e não na velhice da letra (Romanos VII-6), Lutero toma isto não no sentido de que os cristãos já estão libertos do jugo das prescrições da lei mosaica, mas no sentido de que os cristãos estão livres de todas as leis, tendo apenas a obrigação de crer.

   Foi assim que nasceu a teoria da salvação só pela fé. Vejamos agora, [nos próximos posts], em linhas gerais, a doutrina de Lutero, usando sempre as suas próprias palavras, pois vai aparecer tanta coisa espantosa que é melhor mesmo que Lutero fale, para que não se diga que estamos exagerando a sua doutrina. (Extraído do livro "LEGÍTIMA INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA", autor: Lúcio Navarro).

(4) NOTA: Lutero rompeu oficialmente com a Igreja no dia 1º de novembro de 1516, afixando às portas do templo, em Vitemberga, as suas 95 teses sobre as indulgências. Mas já antes disto lavrava no seu espírito o conceito herético sobra a justificação pela fé sem as obras, de modo que a pretensa descoberta da Lutero foi no ano de 1514 ou, ao mais tardar, em 1515, conforme se conclui do exame de suas notas privadas, como professor. 

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