DEPOIS DA JUSTIFICAÇÃO.
Já vimos, pelos textos estudados, que São Paulo absolutamente não ensina A SALVAÇÃO SEM AS OBRAS. Ensina, sim, que quando estamos mortos pelo pecado e somos ressuscitados, recebendo a vida da graça, isto se dá não por merecimento das nossas obras e o motivo é muito claro: os mortos não podem merecer. Uma vez recebida a VIDA DA GRAÇA, se esta graça nos tornasse impecáveis, ou se Deus naquele mesmo segundo nos chamasse para a eternidade, então poderíamos dizer que a salvação era obra exclusiva de Deus, nela não influiriam as nossas obras. Mas, depois de justificados pela graça, continuamos a viver. E continuamos homens livres, sujeitos a fraquezas, assaltados pelas tentações, combatidos pela concupiscência. Não nos falta a graça de Deus para nos ajudar, mas a graça não nos violenta a liberdade. Podemos cooperar com ela, conservando-nos na amizade de Deus, como podemos a ela ser rebeldes pelo pecado mortal; e se este se torna muito frequente, vem a degradação do vício que é como uma segunda natureza. Depois de recebida a graça santificante, é que a nossa alma, ramo enxertado na videira que é Cristo, pode produzir frutos para a vida eterna, mas tanto pode abundar em boas obras, como pode tornar-se infrutuosa. Está nas nossas mãos com a graça de Deus, conservar ou não o tesouro com que Deus enriqueceu a nossa alma. É esta a nossa parte, a nossa função, a influência das nossas obras, do nosso esforço, da nossa oração, da nossa vigilância, pela qual, sem desconhecer a ação de Deus, que é muito maior do que a nossa, nós contribuímos também para a nossa própria salvação.
Deus fez tão bem feito o seu plano que, embora o cristão se salve a si mesmo, ele não pode de modo algum orgulhar-se de sua salvação. Só salva a si mesmo, depois que Deus o pôs em condições de fazê-lo; mais ainda, só salva a si mesmo, com a ajuda constante de Deus. E considerando a ação de Deus e a sua, na obra da salvação, vê que a ação de Deus é tão maior, tão mais eficiente, tão mais importante e persistente do que a sua, que seria ridícula qualquer tentativa de presunção. Se os protestantes gostam de pintar aqueles que acham que além da fé e da graça, as suas obras são necessárias para a salvação, como sendo criaturas inevitavelmente presumidas, vaidosas, que se gloriam em si mesmas:
- é porque querem disfarçar a má impressão causada pela doutrina de que - só a fé é que salva, e nossas obras não influem nem direta nem indiretamente na salvação - doutrina esta que, tal qual como é enunciada, se mostra perigosa e indecente, não podendo, fora do Protestantismo, convencer a ninguém;
- é porque não têm ou fingem não ter uma noção exata do que é a verdadeira santidade, a qual é conseguida por meio da ação maravilhosa do Espírito Santo sobre as almas dóceis à sua graça, pois o Espírito Santo, à proporção que vai enriquecendo a alma com as mais belas virtudes, a vai tornando cada vez mais humilde, mais convicta de sua fraqueza e insuficiência;
- é também porque fazem uma ideia parcial e incompleta do verdadeiro mecanismo da salvação, o qual vamos tentar descrever por meio de uma alegoria [no próximo post].
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