Jesus alegrou-se em sofrer porque sabia que
seus sofrimentos e morte seria a vitória que Lhe havia de garantir a conquista
do mundo: "Quando eu for elevado da
terra, (= quando for crucificado) atrairei tudo a mim" (Jo XIII, 32).
Jesus desejou ardentemente o momento de sua Paixão e Morte: "Eu tenho que ser batizado num batismo
de sangue; e quão grande é a minha ansiedade, até que ele se conclua!"
(Lc XII, 50). E este batismo de sangue Jesus anunciou-o por diversas vezes aos seus apóstolos como o
coroamento de toda a sua missão: "Ponde
bem estas palavras em vossos corações: O Filho do homem será entregue às mãos
dos homens que o matarão" (Lc IX, 44); "O Filho do homem vai ser entregue aos príncipes dos sacerdotes e
aos escribas, e esses mesmos o entregarão aos gentios; ele será exposto à
zombarias e às injúrias, coberto de escarros, flagelado, depois morto, e ao
terceiro dia ressuscitará" (Mt XX, 18 e 19). E ao começar a Paixão disse: "Eis que agora o Filho do homem é glorificado
e que Deus é por ele glorificado" (Jo XIII, 31).
E Nosso
Senhor Jesus Cristo queria que seus discípulos tivessem também estes mesmos
sentimentos: "Bem-aventurados
(=felizes) os pobres"; bem-aventurados os que choram; bem-aventurados os
que são perseguidos... Sereis felizes quando vos insultarem e disserem
injustamente toda sorte de mal contra vós por minha causa. Regozijai-vos então
e alegrai-vos" (Mt V, 10). Jesus queria que seus discípulos tivessem o
amor da cruz, levado até ao amor dos sofrimentos. É claro que estranho seria
alguém sofrer como um estóico, mas o normal para um cristão é imitar o seu
Divino Mestre, amando como Ele e por amor a Ele, os sofrimentos.
O mundo não
compreende esta verdade; aliás, nem os Apóstolos, antes do Pentecostes, a
entendiam. Vede: Jesus Cristo, sempre tão bondoso e manso, empregou palavras
muito severas ao censurar Pedro porque o chefe dos apóstolos não queria admitir
que Jesus precisasse padecer e morrer: "Afasta-te,
Satanás (=tentador) - disse-lhe Jesus - porque
tu me escandalizas, nada compreendes das coisas de Deus, não tens senão
pensamentos humanos" (Mt XVI,
23). Também tratou de estultos os discípulos de Emaus, porque não compreendiam
que Lhe fosse preciso sofrer para entrar na glória: "Ó estultos e tardos de coração para crer!" (Lc XXIV, 26).
Mais tarde,
porém, já santificados e esclarecidos, alegraram-se por terem sido flagelados
pelo nome de Jesus (At V, 41). São Lucas, resumindo toda a pregação de S. Paulo
e de S. Barnabé, disse: "Fortaleciam
seus discípulos e mostravam-lhes que é por meio de muitas tribulações que
devemos entrar no reino de Deus" (At XIV, 21). Também, a exemplo de
seu Mestre, S. Paulo recomenda aos fiéis que suportem tudo, não só com
paciência, mas também com alegria: "Que
sejais confortados com toda fortaleza pelo seu [de Deus] poder glorioso, para suportar tudo com
paciência e longanimidade e alegria"... (Col. I, 11). E S. Tiago
escreve: "Meus irmãos, tende por um
motivo da maior alegria para vós as várias tribulações que vos afligem..."
(Tg I, 2).
O sofrimento
é tão salutar, que toda alma de fé deveria sentir-se feliz em sofrer. Pois o
sofrimento triunfa do pecado e do demônio, que reina pelo encanto do prazer,
mas é vencido pela cruz. Na verdade, o pecado não é outra coisa senão o
desprezo de um dever a cumprir ou a procura de uma satisfação ilícita. Daí o
remédio do pecado está nas privações e nos sofrimentos. Jesus disse: "O reino dos céus padece violência, e
só os violentos (i. é, os fortes no sofrimento e nas renúncias) arrebatam-no".
As cruzes,
as renúncias, os sofrimentos e as privações tornam a alma forte e viril,
enquanto o bem-estar, o repouso e as doçuras da vida amolecem. A dor purifica a
alma e Deus nela se compraz quando a vê acrisolada pela dor. O sofrimento,
outrossim, alimenta e mantém o amor de Deus e do próximo. É mais fácil padecer
bem do que agir bem porque há menos perigo de amor próprio, menos de espírito
puramente humano. "Sofrer - dizia S. Francisco de Sales, é quase que o
único bem que possamos fazer na terra... uma onça de paciência vale mais que
uma libra de ação".
Ademais, os
sofrimentos preparam delícias imensas e eternas na Pátria Celestial. As dores
suportadas por amor de Deus produzem suaves alegrias: "Vossa tristeza - disse Jesus aos seus apóstolos - se converterá em alegria" (Jo XVI,
20).
Caríssimos, se uma chuva torrencial, uma tempestade devastar todas as nossas plantações, teríamos imensa alegria, caso os granizos fossem grãos, uns de ouro e outros de diamantes. Pois bem, assim são os sofrimentos desta vida quando aceitos e suportados por amor a Jesus e em união com Ele, são tesouros que ajuntamos para a Vida Eterna. Amém!
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