"A sabedoria deste
mundo é loucura diante de Deus" (I Cor. III, 19)
Segundo Santo Afonso
Maria de Ligório
Há quem
enlouqueça pelas honras; outros, pelos prazeres; não poucos, pelas futilidades
da terra. E se atrevem a considerar loucos os santos, que desprezam os bens
mesquinhos do mundo para conquistar a salvação eterna e o Sumo Bem, que é Deus.
A seus olhos é loucura sofrer desprezos e perdoar ofensas; loucura, privar-se
dos prazeres sensuais e preferir a mortificação; loucura, renunciar às honras e
às riquezas, e amar a solidão, a vida humilde e oculta. Não consideram, no
entanto, que a essa sua sabedoria mundana Deus chama loucura: "A sabedoria deste mundo é loucura
diante de Deus" (I Cor. III, 19). Ah! ... Virá o dia em que
confessarão e reconhecerão a sua demência, mas será tarde: "Desgraçados de
nós, que reputávamos loucura a vida dos santos! agora compreendemos que os
loucos fomos nós. Eles já se contam no número feliz dos filhos de Deus e
compartilham a sorte dos bem-aventurados, que durará eternamente e os fará
felizes para sempre... ao passo que nós ficamos escravos do demônio, condenados
a arder neste cárcere de tormentos por toda a eternidade!... Enganamo-nos, pois
querendo cerrar os olhos à luz divina (cf.
Sabedoria, V, 6) e nossa maior desventura é sabermos que o nosso erro não tem
nem terá remédio enquanto Deus for Deus.
"Oxalá que eles tivessem sabedoria
e compreendessem e previssem o fim" (Dt XXXII, 29). O
homem que se guia razoavelmente em suas obras, prevê o futuro, isto é,
considera o que lhe há de acontecer no fim da vida: a morte, o juízo, e depois
dele o inferno ou a glória. Quanto mais sábio é um simples aldeão que se salva,
do que um monarca que se condena! "Vale mais um moço pobre, mas sábio, do que um rei velho e néscio, que não
sabe prever nada para o futuro" (Ec IV, 13). Ó Deus! Não teríamos por
louco aquele que, para ganhar um real, se arriscasse a perder todos os bens? E
não deve passar por louco aquele que, a troco de um breve prazer, perde a sua
alma e se expõe ao perigo de perdê-la para sempre?
Deus não nos
colocou neste mundo para alcançarmos riquezas, nem adquirirmos honras ou contentarmos
os sentidos, senão para procurarmos a vida eterna: "Mas agora que estais livres do pecado e feitos servos de Deus, tendes por vosso
fruto a santificação e por fim a vida eterna" (Rm. VI, 22). E a
consecução desta finalidade deve ser o nosso único interesse. "Uma só coisa é necessária"
(Lc X, 42). Ora, os pecadores desprezam este fim. Só pensam no presente.
Caminham até ao término da vida e se acercam da eternidade, sem saberem para onde
se dirigem. Sábio do mundo foi o rico avarento que soube enriquecer; e,
todavia, morreu e foi sepultado no inferno (Cf. Lc XVI, 22).
"Ante o homem, a vida e a morte:
aquilo que ele escolher, ser-lhe-á dado" (Eclo XV, 18). Cristão! diante de ti se apresentam a
vida e a morte, isto é, a voluntária privação das coisas ilícitas para ganhar a
vida eterna, ou o entregar-te a elas e à morte eterna ...Que dizes? Que
escolhes? "Que aproveita ao homem ganhar o mundo todo e perder sua
alma?" (Mt XVI, 26).
Compenetremo-nos
bem de que o verdadeiro sábio é aquele que sabe adquirir a graça divina e a
glória do Céu. Seremos eternamente venturosos, se soubermos amar a Deus, ainda
que ignoremos todas as demais coisas. Quantos ignorantes há, diz S. Agostinho,
que nunca aprenderam a ler, mas que sabem amar a Deus, e se salvam, quantos
doutros do mundo que se condenam! ... Quão sábios, tantos mártires e tantas
virgens que renunciaram a honras, prazeres e riquezas para morrer por Cristo! Aqueles
que renunciam os bens da terra para se consagrar a Deus são chamados homens desenganados. Como deveremos chamar os
que preferem os bens do mundo? ... Homens enganados.
Os sepulcros
são escola excelente para reconhecer a vaidade dos bens deste mundo e para
aprender a ciência dos Santos, adverte S. João Crisóstomo, saberíeis distinguir
ali o príncipe do plebeu, o analfabeto do letrado?" "Eu, por mim,
nada vejo, senão podridão e vermes". Todas as coisas do mundo passarão em
breve.
É preciso
evitar as ocasiões de pecar, frequentar os sacramentos, fazer oração e meditar
as máximas do Evangelho, como, p. ex.: "Que
aproveita ao homem se ganhar o mundo todo e perder a alma?" "Quem ama
desordenadamente a sua vida, perderá a vida eterna". " Se alguém
quiser vir após mim, negue-se a si mesmo". Nossa salvação consiste no
cumprimento da vontade divina (Sl 29, 61).
CONCEDEI-ME,
PAI ETERNO, PELOS MERECIMENTOS DE JESUS CRISTO, FORÇA PARA FAZER EM TUDO A
VOSSA VONTADE! Amém!
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