LEITURA ESPIRITUAL
"Permanecei, pois, constantes, irmãos, e conservai as tradições, que aprendestes, ou por nossas palavras ou por nossa carta" (II Tess. II, 14).
São Paulo atribui o mesmo valor ao que ensinou por escrito e ao que ensinou oralmente. E a Santa Madre Igreja, baseando-se principalmente neste texto do Apóstolo, atribui o mesmo valor ao que recebeu oralmente por uma sucessão contínua, assistida pelo Divino Espírito Santo, e ao que recebeu mediante a Sagrada Escritura divinamente inspirada.
São duas, portanto, as fontes da Revelação: a Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura. A Sagrada Tradição compreende aquelas verdades reveladas que Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou e que os Apóstolos pregaram sem consigná-las por escrito. O mesmo Espírito Santo, que inspirou os santos escritores a escreverem o que está na Escritura Sagrada, também assistiu com seu poder divino, para que se conservasse intacto e fielmente fosse passado de século em século, como de mão em mão, tudo o mais que Jesus Cristo e os Apóstolos ensinaram. Diz o mesmo São Paulo ao Bispo São Timóteo: "Os ensinos que de mim recebeste, em presença de muitas testemunhas, confia-os a homens fiéis, que os possam comunicar a outros" (II Tim., II, 2).
"Os irmãos separados", "os evangélicos", "os crentes", ou melhor, sem usar aspas, os protestantes recusam toda Tradição divina distinta e separada da Escritura Sagrada ou Bíblia. Segundo o espírito do Concílio Vaticano II, há de se ressaltar, disse Sua Santidade, o Papa João Paulo II: "o empenho que a Igreja deve dedicar ao ecumenismo" (Cf. Const. "Sacrae Disciplinae Legis" de 1983). Por isso no concílio, o esquema sobre as fontes da Revelação: a Sagrada Escritura e a Tradição, foi alvo de acirrado debate entre grupos conservadores e grupos progressistas. Daí entendemos porque o Cardeal progressista Frings, condenou o esquema feito pelo Cardeal conservador Ottaviani, como "ofensivo para com os irmãos separados".
Sabemos, porém, que a Santa Igreja, no Concílio de Trento e depois no Concílio Vaticano I, já havia definido como artigo de fé que a Sagrada Tradição é fonte da revelação distinta da Escritura Sagrada, merecedora, porém, da mesma fé. Hoje, a Sagrada Tradição está consignada principalmente nos Símbolos de fé, nos Escritos dos Santos Padres, nas decisões dos Concílios dogmáticos e na Liturgia da Igreja. Só para dar um exemplo desta última: nos missais de todos os tempos houve preces pelos defuntos na missa. É um dos argumentos na Teologia para provar a existência do Purgatório.
Não devemos ignorar que a Sagrada Tradição é anterior à Escritura Sagrada. No Antigo Testamento, desde a origem do gênero humano até Moisés, a revelação dada por primeiro por Deus, fora transmitida unicamente pela tradição oral, pois não havia ainda nenhuma Escritura. No Novo Testamento, a Revelação foi feita pelo próprio Nosso Senhor Jesus Cristo, o Divino Mestre. Ele, porém, não escreveu nada; e dissera aos Apóstolos: "Ide, ensinai a todas as nações" (Mat., XXVIII, 19); "Pondo-vos a caminho, pregai, dizendo: Está próximo o reino dos céus" (Mat., X, 7). Ele não disse: "Ide, escrevei o que vos ensinei e sirvam estes vossos escritos para instruir aos mais". Donde, entendemos que nem todos os Apóstolos escreveram, e, no entanto cumpriram perfeitamente a ordem dada por Nosso Senhor Jesus Cristo. Se Jesus tivesse dado ordem de ESCREVER, com certeza todos teriam escrito. Na verdade, foi a catequese o primeiro e principal modo de ensino empregado pelos Apóstolos. Apenas em circunstâncias excepcionais, enviaram às igrejas que tinham fundado, instruções por escrito. O próprio Evangelho, era espalhado, de primeiro, só por pregação. São Paulo diz que a fé vem pelo ouvido, isto é, pela audição da pregação.
Outra coisa que devemos saber é que o domínio da Sagrada Tradição é mais extenso que o da Escritura Sagrada. Realmente, se Jesus não escreveu e nem mandou escrever, é compreensível que a Tradição oral tenha um conteúdo muito maior que o da Escritura. São João ao terminar seu Evangelho, adverte: "Muitas outras coisas há que fez Jesus, as quais, se se escrevessem uma por uma, creio que nem no mundo todo poderiam caber os livros que seria preciso escrever" (Jo., XXI, 25). É evidente que aqui o Apóstolo do amor, emprega uma hipérbole, É um modo de dizer muito expressivo que ele usa para frisar que, para narrar todos os sermões e milagres que Jesus fez, haveria necessidade de escrever muitos volumes. E São Lucas nos mostra Jesus dando instruções especiais aos Apóstolos nos dias que mediaram entre a Ressurreição e a Ascensão: "Aparecendo-lhes por quarenta dias e falando-lhes do reino de Deus" (Atos, I, 3). Quais foram estas instruções a Bíblia não nos revela; mas com elas estavam os Apóstolos completando os seus conhecimentos para ensinar ORALMENTE aos fiéis.
Vinde Espírito Santo, iluminai a nossa inteligência! Amém!
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