"É preciso orar sempre, e nunca deixar de o fazer" (S.
Lucas XVIII, 1).
Deus é o manancial único e inesgotável de todos os bens. Ele
mesmo se chama "Omne Bonum", o "Bem Total". Sendo a
plenitude de todos os bens, de nada, de ninguém precisa. A criatura, ao invés,
por si mesma não tendo nada, só pode viver do que recebe, o que faz dizer a
Santo Agostinho que somos os mendigos de Deus. Por isso devemos continuamente
bater à porta do Pai das misericórdias para Lhe pedir o pão de cada dia, isto
é, tudo o que precisamos na ordem temporal e na espiritual. A oração é, pois, a
chave dos tesouros, dos auxílios divinos, o canal das graças e,
conseguintemente, o grande meio de salvação.
Mas o que é oração? Eis a definição dada pelo grande teólogo
Tanquerey: "Elevação do nosso espírito a Deus para Lhe prestar nossos
deveres e Lhe pedir suas graças a fim de nos tornar melhores para Sua
glória". Explicando os termos desta definição: A palavra ELEVAÇÃO é uma
metáfora, indicando o esforço que fazemos para nos desatar das criaturas e de
nós mesmos, para pensar em Deus, que não só nos envolve por todas as partes mas
reside no mais íntimo da alma. Esta elevação se chama conversa, colóquio,
porque a oração, quer seja adoração, quer pedido, chama uma resposta de Deus e
supõe assim uma entrevista com Ele.
Nesta entrevista, nosso primeiro ato deve ser evidentemente
prestar a Deus nossos deveres de religião, como, quando se faz uma petição a
uma pessoa, se começa pelo dever elementar de cumprimentá-la. Muitos o esquecem
e é uma das razões pelas quais seus requerimentos ficam às vezes sem despacho.
E mesmo quando pedimos graças de santificação e de salvação, não devemos
esquecer que o fim principal deve ser a glória de Deus; daí as últimas palavras
de nossa definição: "para se tornar melhor para Sua glória".
A oração é necessária para a salvação e vamos demonstrar que
se trata de uma necessidade absoluta. É mister que tenhamos uma profunda, forte
e eficaz convicção desta verdade. Segundo Santo Afonso Maria de Ligório, a
oração é o grande meio de salvação, de tal modo que chega a dizer: "Quem
reza se salva; e quem não reza se condena".
A necessidade da oração para se alcançar a salvação prova-se
pelas palavras e os exemplos de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos Apóstolos e dos
Santos:
1 - NOSSO SENHOR JESUS CRISTO. Não cessa de recomendar a
oração de modo urgente. "Vigiai e orai para que não entreis em
tentação" (S. Mat. XXVI, 41); "Vigiai, pois, orando sem cessar"
(S. Luc. XXI, 36); "É preciso orar sempre, e nunca deixar de o fazer"
(S. Luc. XVIII, 1). Vai até ensinar-nos o que devemos pedir naquela oração que
chamamos dominical e que devemos sempre trazer em nossos lábios: "Vós,
pois, orai assim: Pai Nosso..." (S. Mat. VI, 9-13). À autoridade de sua
palavra, Jesus Cristo acrescenta o peso de seu exemplo. A oração era contínua
em sua alma, mas querendo dar aos seus discípulos testemunhos exteriores,
rezava em toda parte: no Templo, em casa, em terra, no mar. Procurava a
solidão, subia a montanha para rezar como que mais perto do céu, e às vezes
passava a noite toda em oração: "Exiit in montem orare et erat pernoctans
in oratione Dei", "Retirou-se para o monte a orar e estava passando
toda a noite em oração a Deus" (S. Luc. VI, 12).
2 - OS APÓSTOLOS. São Paulo reproduz as insistências e os
exemplos do divino Mestre: "Perseverai na oração" (Col. IV, 2);
"Orai sem cessar" (1 Tess. V, 17). Do mesmo modo falam os outros
apóstolos: "Vigiai nas orações" (1 S. Pedro IV, 7). "Nós, porém,
ocupar-nos-emos totalmente na oração e no ministério da palavra" (Atos VI,
4).
3 - OS SANTOS. A oração foi sempre a ocupação principal dos
Santos. A Igreja no-los representa quase sempre na atitude de oração.
"Toda a vida de um santo está na oração", diz Santo Hilário. E Santo
Agostinho diz: "Sabe viver bem aquele que sabe rezar bem". "A
oração é para a alma, diz S. Vicente de Paulo, o que a comida é para o corpo. O
homem que não se alimenta bem, é fraco, não tem disposição para o trabalho, não
pode ganhar a vida; ao contrário, quem se alimenta bem, é forte, corajoso,
trabalha e prospera. Igual coisa se dá com a alma; se reza bem, será forte,
lutará vitoriosamente contra os inimigos da salvação; se reza mal será fraca,
cairá, será vencida". Costumava dizer ainda o Santo da Caridade: "O
homem de oração é capaz de tudo; e o missionário que não reza é um cadáver de
missionário".
4 - ARGUMENTO TEOLÓGICO. Prova-se a necessidade da oração
pela necessidade da graça atual: "Sem mim, diz Nosso Senhor Jesus Cristo,
nada podeis fazer"; nem sequer ter um bom pensamento, acrescenta S. Paulo;
porque "é Deus que opera em nós o querer e o fazer" (Filip. II, 13). E ainda diz o Apóstolo: "Não
que sejamos capazes por nós mesmos de pensar alguma coisa [sobrenaturalmente
boa], como vinda de nós mesmos, mas a nossa capacidade vem de Deus... (2 Cor.
III, 5). É pois uma verdade de fé, que sem a graça atual, achamo-nos na
impotência radical de nos salvar, quanto mais de chegar à perfeição. Ora, com exceção
da primeira graça que nos foi concedida gratuitamente, sem a pedirmos, visto
que ela é o princípio mesmo da oração, certo é que a oração é o meio normal,
eficaz e universal pelo qual Deus quer que alcancemos todas as graças atuais.
"Pedi e recebereis". É como se dissesse, acrescentam quase todos os
comentadores: Se não pedirdes não recebereis. Lembra-nos Jesus Cristo esta
necessidade da oração principalmente quando se trata de resistir à tentação:
"Vigiai e orai, para que não entreis em tentação" (S. Mat. XXVI,
41).É princípio geral ser a graça atual necessária para todo ato sobrenatural,
sendo que deve haver proporção entre o efeito e o seu princípio. Ora, sem
oração não há graça atual, por conseguinte, nem conversão nem perseverança
final. "Quem começou em nós a obra da salvação, diz S. Paulo, é o único
que pode levá-la a bom termo" (Filip. I, 6).
Concluindo podemos dizer que a oração é tão necessária à
vida sobrenatural como o ar à vida física. Atraímos o ar pela respiração. a
oração é a respiração da alma. Devemos orar como respiramos. Eis o que diz o
Divino Espírito Santo pela boca do real Profeta: "Abri a minha boca e
respirei, porque desejava os teus preceitos" (Salmo 118, 131). Assim, quem
reza certamente se salvará; o que não reza certamente se condenará.
A oração é portanto, o grande meio de salvação. É supérfluo
dizer que para tanto é mister que a oração seja feita com as devidas condições.
Sem elas, aliás, não haveria propriamente oração.
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