A castidade do sacerdote
Eu amo as almas puras. A minha Mãe era Imaculada. O meu Pai Nutrício era o justo e casto José, o meu discípulo amado o Apóstolo virgem.
Assim, no decorrer dos séculos, acho também prazer em me rodear de uma legião de sacerdotes castos. Nada manchado pode abeirar-se do meu altar.
Oh, como é bela aos meus olhos esta geração de almas puras! São a minha coroa de glória, o ornamento e defesa da minha Igreja, a confusão e o terror dos demônios.
Eu chamei-te, meu filho, para fazeres parte da minha corte de honra, e no Céu ocuparás um lugar no cortejo do Cordeiro imaculado.
Oh, como eu te tenho amado!
A castidade sacerdotal é uma pérola preciosa; mas tu a levas num vaso frágil.
Deixei-te a natureza humana com as suas tendências para o mal, com as suas paixões e as suas conivências secretas com o pecado. Mas ao mesmo tempo prodigalizei contigo a minha força divina, a graça da tua ordenação e o apoio das minhas inspirações.
Deixei-te um corpo mortal com as suas fraquezas, as suas inconstâncias e as suas revoltas; mas também te preparei um alimento celestial: o Pão dos anjos, o meu corpo e o meu sangue, para extinguir em ti o fogo do pecado, para reparar as tuas forças e suster a tua coragem.
Eu permito ao anjo de Satã armar-te ciladas, e lançar contra ti incessantes ataques; mas ao mesmo tempo deixei-te entregue à minha Mãe, que quebrantou a cabeça da serpente. Ela lutará por ti se fores fiel em chamá-la em teu socorro. Com a sua ajuda estás certo do triunfo.
Mas sabe que é necessário vigiar e orar, até à velhice, até à morte.
Aceita, corajosamente, a luta. Ninguém é tentado acima das próprias forças. Mas também ninguém será coroado, se não combateu fielmente.
Meu Padre, sê casto. Tens parte na maternidade da Virgem das virgens. Ela deu-me o ser humano, e tu dás-me o ser sacramental. Oh, como tu, a seu exemplo, deves ser puro e sem mácula!
Foste separado do resto dos homens para unicamente me pertenceres. Os teus pensamentos, as tuas aspirações, os teus desejos, os teus sentimentos, a tua atividade, tudo é meu!
Como eu estive e estou, deves tu igualmente estar ao serviço das almas. Deves ser mediador entre Deus e os homens, instruir os fiéis, corrigi-los, confortá-los e perdoar-lhes os seus pecados.
Sê casto! Sem esta virtude, como ousas tu arrostar os olhares dos homens, sentar-te sem corar no tribunal da Penitência, ouvir sem remorsos as confidências dos pecadores, arrancar-lhes delicadas e dolorosas declarações, inspirar-lhes horror a este cancro espantoso da impureza, se eles vêem o teu próprio coração roído?
Como te atreves a pregar em público sobre a pureza dos costumes, e exaltar a beleza da inocência, a lançar em rosto os escândalos, se não podes dizer sem temor de seres desmentido: "Quem de vós me acusará de pecado?"
E que miserável seria o teu coração simulando a virtude, quando a tua consciência é infame!
Meu sacerdote, pelo teu ministério estás em contato perpétuo com a lama do pecado. O vício impuro fala-te, encara-se contigo, rodeia-te e acotovela-te e por toda a parte te persegue.
Como evitarás as suas salpicaduras, se não estás sempre vigilante, se não te seguras sem cessar na minha divina mão?
Tu não te podes contentar com uma semi-pureza. A senda do vício é escorregadia; se nela dás um passo por ligeiras imprudências, poderás deter a marcha sem caíres no abismo?
Sê humilde e desconfia de ti mesmo. Colunas da minha Igreja tenho visto cair que pareciam tão inabaláveis como Jerônimo no deserto.
Não te creias mais virtuoso, nem menos exposto aos perigos, ou menos sensível aos atrativos do mal do que os outros. Se até agora não caíste, sabe que eu mesmo te preservei dos aliciantes do vício por comiseração da tua fraqueza. A tua secreta presunção obrigar-me-ia a retirar-te o meu apoio deixando-te entregue à tua miséria.
Sê casto nos teus pensamentos, nos teus desejos, na tua imaginação, nos teus olhares, nas tuas palavras, nos teus atos e nos teus passos.
Sê grave e reservado no teu trato, na conversa e em todo o procedimento.
Sê acolhedor para todos, mas familiar com ninguém. Prodigaliza o teu tempo, as forças, o talento, mas guarda com zelo a virgindade de teu coração.
Vela sobre os teus sentidos. Uma só faísca, um olhar imprudente, pode atear o fogo oculto sob a cinza e destruir a virtude mais provada.
Mortifica a tua carne e reduz o teu corpo à servidão, não seja que, pregando aos outros, tu próprio pereças.
Foge, como da serpente, da ocasião de pecado. Se para a evitares for preciso sacrificar o teu olho ou a tua mão, não duvides. Sem isto cairás, perecerás.
Confessa humildemente as tuas faltas. Recorre à tua Mãe, à Virgem toda pura, e, em seguida, retoma a luta com energia e confiança.
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