terça-feira, 4 de outubro de 2016

O APOSTOLADO DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS - ( I )

Frei Tomás de Celano
Apenas algumas citações de suas obras sobre São Francisco de Assis

   Observação: Penso ser de grande proveito para os leitores, saber quem foi este escritor: Frei Tomás de Celano. Juntamente com São Boaventura, sobre São Francisco de Assis, é o escritor mais completo e seguro. Escreveu em latim. Era poeta e a ele devemos a célebre Sequência do "Dies irae". Nasceu pelo ano de 1200, e entrou na Ordem Franciscana entre 1213 e 1216. Ali foi admitido pelo próprio São Francisco, no momento que este cogitava de uma missão no Marrocos, à qual, em seguida, teve de renunciar. Pela descrição que ele faz da canonização de São Francisco (em 1228) podemos concluir que ele próprio haja assistido a essa cerimônia. Por esse tempo o papa Gregório IX encarregou-o de escrever a biografia de São Francisco; e a 25 de fevereiro de 1229 pôde ele entregar ao Papa a obra realizada. Ele mesmo declara, no prefácio, ter bebido em duas fontes diversas: servindo-se daquilo que pôde ver e ouvir pessoalmente, e de tudo o que pôde saber de testemunhas dignas de fé; além disto declara que teve sempre cuidado de ater-se estritamente à verdade. Ainda hoje, - declara Götz, - a  "Vita Prima" de Celano persiste sendo o ponto sólido e estável do qual deve partir todo exame das outras fontes". Celano era um afamado literato latino: em todas as literaturas do mundo custar-se-ia a achar descrições dos homens e dos acontecimentos mais atraentes do que as que nos são oferecidas pelos seus escritos sobre São Francisco de Assis. Tem um latim bem castiço e ornado. Ter escrito em latim foi uma grande segurança em relatar História; isto porque o latim é uma língua exata e morta. Não sendo falado, não sofre nenhuma corruptela, nem mudança de sentido. Para quem sabe latim é mais seguro  lê-lo no latim ou confrontar as traduções com o original latino. Suas obras sobre São Francisco são: Vita Prima; Vita Secunda;  Legenda Prima; Legenda Secunda; Tractatus de miraculis.

   Leiamos, então, alguns excertos de suas obras onde fala do Apostolado de S. Francisco de Assis:
  

Crucifixo da igrejinha de São Damião
   Nas horas de mais profunda devoção e de mais alto entusiasmo, Francisco sentia nascer em si a vocação apostólica. Pedia ao Divino Mestre, com fervor, que o iluminasse. Foi neste estado de alma que passou um dia pela igrejinha de São Damião, meio arruinada. Obedecendo a um movimento interior, entrou, ajoelhou-se diante da imagem do Crucificado, e pediu a Deus, com todo o ardor da sua devoção, que lhe mostrasse o que devia fazer. Ouviu então uma voz, partindo da cruz, dizer-lhe com tanta doçura como simplicidade: "Francisco, não estás vendo que a minha casa cai em ruínas? Vai, conserta-a". Surpreendido e trêmulo, balbuciou: "De boa vontade o farei, Senhor". E imediatamente pôs mãos à obra, para restaurar essa pequena igreja, cujas paredes ameaçavam desabar. Que, falando assim, tenha Cristo em vista o templo espiritual, pelo qual dera o seu sangue, não o compreedia ainda Francisco. Parecia-lhe inconcebível que fosse ele o escolhido para renovar a Igreja em toda a terra, com o seu apostolado.
   Muito tempo se passou ainda, antes de a Providência romper o véu que o impedia de ver o vasto campo. Era na igrejinha da Porciúncula, em 24 de fevereiro de 1209. Francisco ouviu ler, durante a Missa, a passagem do Evangelho que diz como o Senhor mandou seus Apóstolos em pregação. Profundamente comovido com estas palavras, pediu uma explicação ao celebrante, logo depois do santo sacrifício. E, quando soube que um perfeito imitador dos Apóstolos não deve possuir ouro, nem prata, nem qualquer espécie de moeda; nem andar com sacola, bolsa ou bordão; nem ter sapatos, nem roupa forrada; mas que, despojado de todos os bens terrenos, deve pregar o reino de Deus e a penitência, estremeceu de divina alegria e exclamou: "Eis o que eu quero; eis o que eu procuro; eis o que, com todas as veras do meu coração, desejo realizar". Então com o espírito cheio de fervor e a alma em festa, põe-se a pregar a todos a penitência, edificando os ouvintes, com discursos sem aparato, mas jorrando de um coração sublime. As suas palavras eram fogo ardente que penetrava até ao mais fundo das almas e enchia de admiração os espíritos.


São Francisco pregando, por Chiapelli

   Era tão forte a impressão que o novo Apóstolo produziu, que não só o povo se convertia em massa, mas alguns homens magnânimos tomaram a resolução de acompanhar os passos deste pregador sem recursos; de compartilhar a sua vocação. Francisco conduziu-os à igreja mais próxima, mandou abrir o Evangelho diante deles, para saber se eram realmente chamados, como ele, à vida apostólica e à pregação. Por três vezes foi o Santo Livro aberto ao acaso e, de cada vez, surgiu aos seus olhos espantados a passagem da missão dos Apóstolos. Voltou-se então o guia para os seus companheiros, e disse-lhes: "Irmãos, eis qual será a nossa vida e a nossa Regra; será também a vida e a Regra daqueles que vierem para a nossa companhia. E agora, ide e fazei o que ouvistes". Foram então, venderam os bens e distribuíram o produto pelos pobres; depois, puseram-se a caminho com Francisco, para a sua primeira Missão.
   Eis o inimitável quadro que Celano traça da atividade apostólica oficial de S. Francisco: "O valentíssimo cavaleiro de Cristo pôs-se a percorrer as cidades e os burgos. Não falava com palavras persuasivas de sabedoria humana; mas, instruído e fortificado pelo Espírito Santo, anunciava a reino de Deus, pregava a paz, ensinava o caminho da salvação e da penitência, que apaga os pecados. Fortalecido pela autoridade apostólica, agia agora com mais segurança, sem usar de lisonja nem de palavras sedutoras. (Antes Celano mostrara como S. Francisco foi primeiro a Roma para obter a aprovação de sua Companhia). Não acariciava os vícios de certos ouvintes, mas atacava-os; não desculpava os pecadores em seu estado, mas açoitava-os com severas censuras. Como começara por pôr em prática os conselhos que aos outros dava, não temia contradição alguma, e dizia tão ousadamente a verdade que os homens mais instruídos, cobertos de glória e dignidades, admiravam os seus discursos e sentiam-se tomados, em sua presença, de um salutar temor. Os homens acorriam, as mulheres seguiam-no, os clérigos se apressavam, os religiosos se precipitavam para ver  e ouvir o Santo de Deus, que lhes aparecia como um homem de outros tempos. Todos, sem distinção de idade ou de sexo, se acotovelavam a contemplar os prodígios que o Senhor operava de novo no mundo, por intermédio do seu servo. Parecia verdadeiramente, naquele tempo, que a presença de São Francisco ou mesmo a sua fama era uma nova luz, mandada do céu à terra para espancar as trevas. Tinham estas de tal modo invadido o país que quase ninguém atinava mais com o caminho. O esquecimento de Deus era tão profundo e negligenciavam-se tanto as Suas leis, que mui grande dificuldade havia em sacudir o torpor causado por males antigos e inveterados. E agora Francisco brilhava como uma estrela na obscuridade da noite, como os fulgores da manhã que espancam as trevas. Assim, aconteceu que, em pouco tempo, foi a face da terra transformada e, desembaraçada das suas manchas, tomou um aspecto mais ridente. A antiga aridez desapareceu e a seara surgiu então nos campos, até aí incultos. A vinha, por si mesma, cobriu-se de brotos que, espalhando o perfume do Senhor, abriram em suave floração e produziram frutos de honra e de justiça. Por toda parte ecoavam os cânticos de ação de graças e de louvores. Muitas pessoas se libertaram das preocupações terrenas. À luz da vida e dos ensinamentos do bem-aventurado Pai Francisco, aprendiam a conhecer-se e sentiam-se levadas ao amor e à reverência devidos ao Criador. Tocados pelo sopro divino, muitos homens, nobres e plebeus, clérigos ou leigos, vieram ter com S. Francisco, para se submeterem à sua disciplina e combaterem perpetuamente sob suas ordens. Como um rio de graça, entumecido pelas chuvas dos dons celestes, o Santo de Deus refrescava-os e fazia desabrochar, no campo do seu coração, as flores de todas as virtudes. Foi o operário sem par, que, pelo seu espírito, sua Regra e sua doutrina - devemos proclamá-lo - renovou a Igreja nos cristãos de ambos os sexos e fez triunfar uma tríplice milícia dos futuros eleitos. A todos dava uma regra de vida, e a cada um mostrava qual era, na sua condição, o verdadeiro caminho da salvação... No tempo em que a doutrina do Evangelho era estéril, não só no seu país, mas em todo o universo, foi enviado por Deus, para pregar a verdade pelo mundo inteiro, como os Apóstolos Provava à evidência, com os seus ensinamentos, que toda a sabedoria do mundo não passa de loucura e, em pouco tempo, guiado por Cristo, levou os homens à verdadeira sabedoria de Deus pela loucura da sua pregação. Este novo evangelista dos nossos tempos espalhou por todo o universo, com um rio do paraíso, as águas vivas do Evangelho, e pregou com o seu exemplo o caminho do Filho de Deus e a doutrina da verdade. Nele e por ele conheceu o universo um inesperado ressurgimento, uma primavera de santidade, e a semente da antiga religião rejuvenesce de repente este mundo decrépito. Infundiu-se um novo espírito no coração dos eleitos e espalhou-se em sua alma a unção da salvação, quando,como um dos luminares do céu, o santo servo de Cristo brilhou no mundo. Todo tempo que ainda vivia entre os pecadores, percorria o mundo e pregava a todos".


Um comentário:

  1. Nossa muito interessante o teu blog! Pretendo te seguir de perto! "Tu és sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedeque"! Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo, para sempre seja Louvado!

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