"Quando fazes alguma coisa boa, diz Santo Agostinho,
faze-a por amor da vida eterna. Se por isso a fazes, estás seguro, porque assim
o mandou Deus". Aqui na terra os eleitos começaram a amar merecendo, e lá
no Céu continuaram a amar eternamente amando por prêmio.
A primeira causa capaz de aumentar os nossos méritos é o
GRAU DE UNIÃO COM DEUS. Como sabemos, pelo Batismo o homem é realmente
incorporado em Cristo; ora, sendo Ele a fonte de todos os nossos méritos,
quanto mais intima, habitual e atualmente estivermos unidos a Ele, mais
mereceremos. "Eu sou a videira, disse Jesus, e vós os ramos... Aquele que
permanece em mim e eu nele dá muito fruto" (S. João, XV, 1-6). É por isso
que a Santa Igreja nos exorta que pratiquemos as nossas ações por Ele, com Ele
e n'Ele. POR ELE, porque ninguém vai ao Pai sem passar por Ele (S. João XVI,
6); COM ELE, porque sem Ele não podemos nada, e Ele quer ser o nosso
colaborador; N'ELE, isto é, na sua virtude e sobretudo segundo as suas
intenções. Assim fazendo, podemos dizer com S. Paulo: "Eu vivo, mas já não
sou eu quem vive,é Cristo que vive em mim" (Gal. II, 20). Na vida prática,
o cristão deve unir-se frequentemente, sobretudo no começo dos atos que vai
praticar, a Jesus Cristo e às suas intenções, com a plena consciência de que é
incapaz de fazer qualquer coisa de bom por si mesmo e uma indefectível
confiança de que Ele pode remediar a sua fraqueza.
O segundo meio para aumentar a graça santificante é a PUREZA
DE INTENÇÃO, isto é, a PERFEIÇÃO DO MOTIVO que nos leva a agir. Assim, como a
caridade é a rainha e a forma de todas as virtudes, toda a ação inspirada pelo
amor de Deus e do próximo tem mais mérito do que se for inspirada apenas pelo
temor ou pela esperança. Portanto, todas as nossas ações, até as mais comuns
como as refeições e recreios honestos e moderados, podem tornar-se atos de
caridade e participar do valor dessa virtude, sem perderem o seu valor próprio.
Demos um exemplo: comer para restaurar as forças é um motivo digno e meritório;
mas refazer as forças para melhor trabalhar por Deus e pelas almas é um motivo
de caridade muito superior, que lhe confere um valor meritório muito maior.
Contudo não deve haver inquietação de espírito: os autores espirituais
aconselham que aceitemos as intenções que se nos apresentarem espontaneamente e
subordiná-las à caridade divina. Mas como a vontade humana é inconstante, é
mister explicitar e atualizar frequentemente estas nossas intenções sobrenaturais. Pois, pode
acontecer que a gente comece merecendo muito, e durante a execução da obra,
chegue a perder, pelo menos, uma parte de seu merecimento. O Santo Cura
d"Ars dizia que, quando sentimos que o fervor está diminuindo e se
desviando, devemos fazer oração jaculatória. Por ex.: MEU JESUS, TUDO POR VOSSO
AMOR; MEU PAI DO CÉU, EU VOS AMO.
Daí o terceiro meio para aumentar a graça santificante: A
INTENSIDADE DO AMOR, isto é, O FERVOR com que se age. Não basta fazer o bem, é
preciso evitar a indolência, o pouco esforço, a negligência. E pode até
acontecer de haver pecados veniais nestas negligências. Com certeza, uma obra
boa mas feita com indolência trará pouco merecimento para a alma. Pelo
contrário, se oramos, trabalhamos e nos sacrificamos COM TODO CORAÇÃO, cada uma
das nossas ações merece um grau apreciável de graça habitual. Caríssimos, como
vale a pena renovar frequentemente os esforços, com energia e perseverança!
A DIFICULDADE DO ATO, não em si mesma mas porque exige mais
amor de Deus, despende um esforço mais enérgico e mais demorado, e enquanto não
provém de uma imperfeição atual da vontade, também aumenta o mérito da alma.
Devemos prestar atenção no seguinte: adquire-se uma virtude com atos repetidos
desta virtude e aí torna-se fácil agir assim. No entanto, isto não diminui o
mérito. Essa facilidade, quando dela nos servirmos para continuar e até
aumentar o esforço sobrenatural, favorece o FERVOR do ato, e por conseguinte,
aumenta, outrossim o mérito. Assim os santos que, pela prática das virtudes,
fazem mais facilmente que os outros, atos por exemplo de humildade, de obediência
e de religião, não têm menos mérito, pois praticam mais fácil e frequentemente
o amor de Deus, e por outro lado, continuam a fazer esforços, sacrifícios,
sempre que sejam necessários. A dificuldade aumenta o mérito, mas na medida em
que suscita mais entusiasmo e amor.
Devemos ter sempre em mente que ser santo, é ocupar-se
tranquilamente em cumprir os deveres do seu estado, para agradar a Jesus, é
suportar por seu amor as penas da vida e deixar-Lhe plena liberdade para dispor
a seu grado da alma e do corpo, da saúde e de todos os bens. Jesus pede o nosso
coração, ou seja, quer o nosso amor. Amando-O, tudo está bem. Genoveva e
Pascoal Bailão eram pastores, mas amavam a Jesus e eram santos. Isidoro era um
lavrador, Zita uma criada. Crispim um sapateiro, Bento Labre um mendigo. Que
importa? Não tinham senão um emprego: amavam a Jesus com o máximo fervor e
esqueciam-se de si mesmos.
Devemos santificar todas e cada uma das nossas ações, mesmo
as mais comuns. Quanto progresso na santidade podemos fazer num só dia! Não há
meio mais eficaz, mais prático, e mais ao alcance de todos para se santificarem
do que sobrenaturalizar todas as ações, com estes três meios de que acabamos de
falar: recolhermo-nos um momento antes de agir, renunciarmos positivamente a
toda a intenção natural ou má, unirmo-nos, incorporarmo-nos em Cristo e
oferecermos por Ele a nossa ação a Deus para sua glória e bem das almas.
Ponhamos em prática o conselho do Espírito Santo por boca de S. João Apóstolo
no Apocalipse, XXII, 11: "Aquele que
é justo se torne mais justo ainda; e aquele que é santo se santifique ainda
mais". É assim que juntamos um tesouro no Céu, que o ladrão não rouba,
a traça não rói e nem a ferrugem consome. Amém!
Que esclarecedor!! Quando li sobre o fervor,a intensidade do amor com que se age,me veio uma dúvida: Como rezar com fervor? E como rezar quando se está sem vontade sem ser indiferente e tíbia? Sofro muito com uma certa tibieza na oração,e por vezes refaço-as pedindo perdão a Deus por me achar tão fria...sei que a oração não é sobre sentir,ainda mais na onda de sentimentalismos que o mundo está hoje,creio que nós leigos carecemos de explicação a respeito de como rezar bem ,ao contrário dos arrobos espirituais e sentimentos que alguns movimentos pregam... Vossa benção padre!
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