quarta-feira, 10 de junho de 2020

O CORAÇÃO DE JESUS E A QUINTA BEM-AVENTURANÇA


LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA
10º dia de junho

"Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia" (S. Mat. V, 7).

Santo Agostinho no seu livro "De Civitate Dei, livro 9, c. 5 diz: "A misericórdia é a compaixão de nosso coração da miséria dos outros, pela qual nós somos levados para onde podemos, a servir de socorro". Portanto, quem não pode praticar algum gênero de misericórdia, está incluído também nesta bem-aventurança, porque pode realmente ter o coração bem disposto neste sentido. A misericórdia inclui, pois, uma vontade pronta de socorrer os necessitados, mas somente podendo-o. Aconselhava o velho santo Tobias ao seu filho: "Sê misericordioso, quanto puderes. Se tens muito, dá muito. Se tens pouco, dá pouco. E assim acumularás para ti grande recompensa para o dia da necessidade" (Tobias, IV, 8-10). Quem, podendo-o, não usa de misericórdia, já não é mais misericordioso, porque a misericórdia, quando pode, não deve limitar-se a palavras de compaixão ou de pena, mas deve ir aos fatos. É o que ensina São Tiago: "Se um irmão ou uma irmã estiverem sem o necessário para se vestir e precisarem do alimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e saciai-vos - porém não lhe der as coisas necessárias ao corpo, de que lhes aproveitará? (Tiago, II, 15 e 16).

Para se chegar à santidade é necessário praticar as virtudes com heroísmo e, assim, acontece com a misericórdia. É mister que ela se estenda também aos inimigos, que seja praticada sem nenhum interesse. Neste sentido diz a Sagrada Escritura: "Se teu inimigo tem fome, dá-lhe de comer; se tem sede, dá-lhe de beber" (Rom. XII, 20); e "Quando fizeres um banquete, chama os pobres, os aleijados, os coxo, e serás feliz, porque não têm nada com que te pagar" (S. Lucas XIV, 13).

Assim a misericórdia verdadeira, garante-nos o Céu, é sinal de predestinação.  Jesus Cristo diz: "alcançarão misericórdia": a misericórdia da parte dos homens, mas esta é tão imperfeita, tão incerta, que não faz ninguém bem-aventurado. A misericórdia que o próprio Deus usa com os que forem misericordiosos, esta sim faz o homem bem-aventurado, porque é aquela que concede ao homem a maior felicidade, isto é, o morrer na graça de Deus. Deus dá ao pecador que usa de misericórdia heroica, a graça de abandonar em tempo o pecado e a de ficar livre dele até a morte: "Dar esmola vale mais do que juntar tesouros de ouro, porque a esmola livra da morte, é a que apaga os pecados e faz encontrar a misericórdia e a vida eterna" (Tobias, XII, 8 e 9). As obras de misericórdia podem apagar diretamente pecados veniais, e, quanto aos mortais, indiretamente livra deles o pecador misericordioso, enquanto em atenção às obras de misericórdia, Deus lhes concede a graça de um arrependimento perfeito acompanhado do desejo da confissão, ou dá-lhe o arrependimento imperfeito acompanhado da graça do sacramento. Jesus Cristo falando do Juízo Universal, diz que vai dar a sentença eterna de salvação aos que tiverem praticado as obras de misericórdia. Não diz que olhará diretamente para as outras virtudes como: a castidade, a obediência, a humildade, a mortificação ou até o martírio. A explicação não é que os eleitos devam no Paraíso se premiados mais pelas obras de misericórdia do que pela prática das outras virtudes, mas porque por meio destas obras aconteceu que eles dispuseram mais facilmente Deus para lhes dar a graça de ser castos, obedientes, humildes, mortificados e finalmente alcançar a graça sublime do martírio. Em poucas palavras: as obras de misericórdia são como a raiz da qual brotaram tantos frutos. E se a esmola faz encontrar misericórdia, a subtração dela faz que não seja encontrada: "Pela sua celerada avareza irritei-me e o feri-o; escondi dele a minha face, indignei-me e ele foi-se andando vagabundo pelo caminho do seu coração" (Isaías, 58, 17).

Caríssimos, devemos esforçarmo-nos por merecer estar na lista magnífica daqueles que Jesus Cristo chama "bem-aventurados", porque são misericordiosos. Para tanto, devemos ir além da obrigação de nosso estado, além do que nos sobra como supérfluo, e, como acima ficou dito, sem nenhum interesse, e incluir também os inimigos.

O profeta Daniel disse ao rei Nabucodonosor: "Por isso, ó rei, aceita o meu conselho: redime com esmolas os teus pecados" (Daniel, IV, 24).


Esta bem-aventurança está ligada ao dom do conselho. Não é verdadeiramente um bom conselho: dar a terra e ganhar o céu? Quem não segue este conselho é um INSENSATO: "Insensato, nesta mesma noite te será pedida a tua alma: e o que preparaste, de quem será?" (São Lucas XII, 20). Assim, procuremos combater qualquer espírito de avareza e sejamos misericordiosos. Amém!

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