LEITURA ESPIRITUAL
MEDITADA
10º dia de junho
"Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão
misericórdia" (S. Mat. V, 7).
Santo Agostinho no seu livro "De Civitate Dei, livro 9,
c. 5 diz: "A misericórdia é a compaixão de nosso coração da miséria dos
outros, pela qual nós somos levados para onde podemos, a servir de
socorro". Portanto, quem não pode praticar algum gênero de misericórdia,
está incluído também nesta bem-aventurança, porque pode realmente ter o coração
bem disposto neste sentido. A misericórdia inclui, pois, uma vontade pronta de
socorrer os necessitados, mas somente podendo-o. Aconselhava o velho santo
Tobias ao seu filho: "Sê misericordioso, quanto puderes. Se tens muito, dá
muito. Se tens pouco, dá pouco. E assim acumularás para ti grande recompensa
para o dia da necessidade" (Tobias, IV, 8-10). Quem, podendo-o, não usa de
misericórdia, já não é mais misericordioso, porque a misericórdia, quando pode,
não deve limitar-se a palavras de compaixão ou de pena, mas deve ir aos fatos.
É o que ensina São Tiago: "Se um
irmão ou uma irmã estiverem sem o necessário para se vestir e precisarem do
alimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e
saciai-vos - porém não lhe der as coisas necessárias ao corpo, de que lhes
aproveitará? (Tiago, II, 15 e 16).
Para se chegar à santidade é necessário praticar as virtudes
com heroísmo e, assim, acontece com a misericórdia. É mister que ela se estenda
também aos inimigos, que seja praticada sem nenhum interesse. Neste sentido diz
a Sagrada Escritura: "Se teu inimigo
tem fome, dá-lhe de comer; se tem sede, dá-lhe de beber" (Rom. XII,
20); e "Quando fizeres um banquete,
chama os pobres, os aleijados, os coxo, e serás feliz, porque não têm nada com
que te pagar" (S. Lucas XIV, 13).
Assim a misericórdia verdadeira, garante-nos o Céu, é sinal
de predestinação. Jesus Cristo diz:
"alcançarão misericórdia": a misericórdia da parte dos homens, mas
esta é tão imperfeita, tão incerta, que não faz ninguém bem-aventurado. A
misericórdia que o próprio Deus usa com os que forem misericordiosos, esta sim
faz o homem bem-aventurado, porque é aquela que concede ao homem a maior
felicidade, isto é, o morrer na graça de Deus. Deus dá ao pecador que usa de
misericórdia heroica, a graça de abandonar em tempo o pecado e a de ficar livre
dele até a morte: "Dar esmola vale
mais do que juntar tesouros de ouro, porque a esmola livra da morte, é a que
apaga os pecados e faz encontrar a misericórdia e a vida eterna"
(Tobias, XII, 8 e 9). As obras de misericórdia podem apagar diretamente pecados
veniais, e, quanto aos mortais, indiretamente livra deles o pecador
misericordioso, enquanto em atenção às obras de misericórdia, Deus lhes concede
a graça de um arrependimento perfeito acompanhado do desejo da confissão, ou
dá-lhe o arrependimento imperfeito acompanhado da graça do sacramento. Jesus
Cristo falando do Juízo Universal, diz que vai dar a sentença eterna de
salvação aos que tiverem praticado as obras de misericórdia. Não diz que olhará
diretamente para as outras virtudes como: a castidade, a obediência, a
humildade, a mortificação ou até o martírio. A explicação não é que os eleitos
devam no Paraíso se premiados mais pelas obras de misericórdia do que pela
prática das outras virtudes, mas porque por meio destas obras aconteceu que
eles dispuseram mais facilmente Deus para lhes dar a graça de ser castos,
obedientes, humildes, mortificados e finalmente alcançar a graça sublime do martírio.
Em poucas palavras: as obras de misericórdia são como a raiz da qual brotaram
tantos frutos. E se a esmola faz encontrar misericórdia, a subtração dela faz
que não seja encontrada: "Pela sua
celerada avareza irritei-me e o feri-o; escondi dele a minha face, indignei-me
e ele foi-se andando vagabundo pelo caminho do seu coração" (Isaías,
58, 17).
Caríssimos, devemos esforçarmo-nos por merecer estar na
lista magnífica daqueles que Jesus Cristo chama "bem-aventurados",
porque são misericordiosos. Para tanto, devemos ir além da obrigação de nosso
estado, além do que nos sobra como supérfluo, e, como acima ficou dito, sem
nenhum interesse, e incluir também os inimigos.
O profeta Daniel disse ao rei Nabucodonosor: "Por isso, ó rei, aceita o meu
conselho: redime com esmolas os teus pecados" (Daniel, IV, 24).
Esta bem-aventurança está ligada ao dom do conselho. Não é
verdadeiramente um bom conselho: dar a terra e ganhar o céu? Quem não segue
este conselho é um INSENSATO: "Insensato,
nesta mesma noite te será pedida a tua alma: e o que preparaste, de quem
será?" (São Lucas XII, 20). Assim, procuremos combater qualquer
espírito de avareza e sejamos misericordiosos. Amém!
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