Sabemos que Deus nunca pode ser atingido em sua Felicidade
por causa dos pecados. Para receber humilhações, sofrer e morrer, é que Se fez
Homem o Filho de Deus. Mas Nosso Senhor Jesus Cristo quis continuar conosco na
Eucaristia, como Deus e Homem. Não podemos, porém esquecer, que Jesus
ressuscitou imortal e impassível, e assim está presente na Eucaristia. Portanto
não pode sofrer nem morrer. Mas, sendo Deus, na sua Paixão e Morte já sofreu
por todos os pecados desde Adão e Eva até a última blasfêmia do Anti-Cristo,
até ao ultimo pecado que será cometido sobre a face da terra. À vista deste
cortejo fúnebre de pecados que foi passando diante de seus olhos apavorados, e
neste cortejo horripilante estavam os pecados cometidos contra a Eucaristia
desde a sua instituição, Jesus Cristo
sentiu no Getsêmani uma tristeza mortal a ponto de suar sangue em tanta
quantidade que chegou a correr pela terra. O Salvador viu aí todas as
profanações do Santíssimo Sacramento e
do Santíssimo Sacrifício do Altar. Se não nos comovermos diante deste amor de
Jesus instituindo a Santíssima Eucaristia mesmo prevendo as profanações e
sacrilégios de que seria alvo, que mais nos poderá causar compaixão e amor?!
O que mais nos admira nesta "maravilha das maravilhas
de Deus" (Cf. Salmo 110, 4), são as humilhações a que o Filho de Deus se
sujeitou; e o que mais nos comove é o amor que nos mostra. Mas a ingratidão dos
homens é tamanha que à estas humilhações que são da escolha de Jesus e que nos
obtêm os maiores bens, acrescentamos ainda outras, que são fruto do nosso
crime, e nos atraem horríveis desgraças, como doenças, incapacidades na alma e
no corpo e mortes, como afirma S. Paulo em 1ª aos Coríntios XI, 30: "Examine-se, pois, a si mesmo o homem e
assim coma deste pão e beba deste cálice, porque aquele que o come e bebe
indignamente, come e bebe para si a condenação, não distinguindo o corpo do
Senhor [do pão comum]". É por isso que há entre vós muitos enfermos e sem
forças(em latim" imbeciles" = sem força na alma e no corpo) e muitos
que dormem (morrem)".
Caríssimos, que faz então a Santa Madre Igreja? Preocupada
com estas duas classes de humilhações, ela esforça-se hoje por nos fazer honrar
as humilhações escolhidas por Jesus por nosso amor, justamente com um amor
agradecido; e por nos fazer reparar as humilhações que fazemos a Jesus por
nossos crimes, com um amor penitente.
1. Na verdade, em nenhum de seus mistérios Jesus Cristo é
tão humilhado como na Eucaristia. Em qualquer outra parte, se a sua divindade
se encobre, revela-se também de alguma maneira. Por exemplo no Calvário, por
entre os opróbrios do Homem moribundo, se divisa o Filho de Deus: há uma
tempestade e terremoto e as pedras do Calvário se fendem e muitos exclamam: "Verdadeiramente este homem era o Filho
de Deus". Pelo contrário na Eucaristia, nem mesmo tem semelhança com o
homem. Embora opere milagres, no entanto, são invisíveis e só muito raramente
se manifestam como em Lanciano. Enquanto que os prodígios que se manifestaram
no Nascimento de Jesus, durante a Sua vida e na Sua morte, eram destinados a
patentear as suas grandezas, os que multiplica neste sacramento, são empregados
em rodeá-las de uma obscuridade impenetrável. É um grande prodígio ficar a
substancia do Corpo, Sangue, Alma e até a Divindade debaixo das aparências
humildes do pão. Nem sequer estas aparências tomam alguma qualidade da Carne de
Jesus como por exemplo a cor e o gosto. São puramente os acidentes ou
aparências de pão comum e não do Pão descido do Céu! Caríssimos, se estas
humilhações nos confundem, quanto nos deve comover o amor que as causa?
Na verdade, em nenhum dos outros mistérios Nosso Senhor
Jesus Cristo se humilhou tão profundamente; e estas humilhações eram necessárias
para o cumprimento dos seus desígnios a nosso respeito. Queria estar conosco,
comunicar-se a nós com toda a efusão da amizade mais confiante, renovar
incessantemente o seu sacrifício por nós, identificar-se, por assim dizer,
conosco, dando-nos a sua própria Carne como comida e o seu Sangue como bebida.
E cada um destes favores, máxime o último, obrigava-O a descer até a este
abismo de humilhação, onde só a fé O reconhece. E, caríssimos, este mistério
não é a humilhação das humilhações, senão porque é, segundo S. Bernardo, o amor
dos amores.
E aí temos a razão da Festa de Corpus Christi: quanto mais o
Filho de Deus, na Eucaristia, se abate por causa de nós a sua infinita
grandeza, tanto mais devemos exalçá-la com o nosso culto . Daí este triunfo
público, universal, brilhante, que a Igreja Lhe tributa nesta solenidade.
2. Mas a Igreja
reconhece que esta só reparação não basta: a festa do Santíssimo Sacramento, não é somente um
triunfo conferido a seu divino Esposo; é também a penitência pública de seus
filhos. A Igreja emprega esta pompa pública e extraordinária para reavivar
a nossa fé, pondo-nos de alguma maneira
diante dos olhos aquela Majestade santíssima e tremenda, para nos incitar a
aplacá-la, humilhando-nos na sua presença. Os padres zelosos não deixam de
citar e levar o povo a meditar na terrível advertência do Apóstolo na sua
Primeira Epístola aos Coríntios XI, 30, já supracitada. Não podemos ignorar que
estão reservados os mais terríveis castigos aos que têm pisado aos pés o mesmo
filho de Deus, e profanado o seu Sangue: "Imaginai
vós quanto maiores tormentos merecerá o que tiver considerado como profano o
sangue do testamento, com que foi santificado" (Hebr. X, 29).
Os verdadeiros adoradores devem aproveitar esta ocasião para
honrar a Jesus Sacramentado; contribuir para a pompa do seu triunfo, alegrar-se
das adorações que recebe, e forcejar para reparar as ofensas que Lhe são feitas
principalmente nestes anos lúgubres e sem fé em que vivemos.
Este ano, por causa do Covid-19, não será possível realizarmos a Festa de Corpus Christi.
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