LEITURA MEDITADA
"Todas as coisas são vossas, ou seja Paulo, ou seja Apolo, ou seja
Cefas, ou seja o mundo, ou seja a vida, ou seja a morte ou sejam as coisas
presentes, ou sejam as futuras; tudo é vosso; mas vós (sois) de Cristo, e
Cristo de Deus" (1 Coríntios. III, 22 e 23).
Estas palavras mostram-nos, no cristão, a mais gloriosa
realeza e a mais nobre servidão. Tudo é seu: mas ele mesmo é de Jesus Cristo.
1 - Tudo é meu. - Quando Deus me adotou, na
fonte do batismo, revestiu-me de uma admirável realeza, dizendo-me, pela boca
do grande Apóstolo: Meu filho, tudo é teu: todas
as coisas são vossas. Que imenso horizonte se descobre, aqui, aos olhos da
minha fé! Desde o momento em que sou filho de Deus, tudo me pertence: em
primeiro lugar, a Igreja, representada pelos homens apostólicos, ou Paulo, ou Apolo, ou Cefas. Sim, a
Igreja é minha; a Igreja, com o esplendor dos seus mistérios, com as águas
vivas de seus Sacramentos, a sua nuvem de mártires, ou testemunhas, de
protetores e de modelos; com os seus tesouros de graças, verdadeiramente
inesgotáveis. Os trabalhos dos Apóstolos e dos seus sucessores, a sua vida, a
sua morte: tudo o que é da Igreja, é meu. Todos os seus ministros, todos os
meios de santificação de que dispõe, não me pertencem menos que a luz e o
orvalho do céu. Que cuidado devo ter em
aproveitar-me de tamanho tesouro! Uma alma ingrata não pode meditar, sem
terror, estas palavras do Apóstolo: "A
terra que absorve a chuva que cai muitas vezes sobre ela, e produz erva
proveitosa a quem a cultiva, recebe a bênção de Deus. Mas, se ela produz
espinhos e abrolhos, é reprovada e está perto da maldição, e o seu fim é a
queima" (Hebreus VI, 7 e 8).
Mas, se a Igreja é minha, e o mundo é da Igreja, é, por
conseguinte, meu o mundo, ou seja todas as coisas criadas, ou o mundo. Oh! quantas vozes me dão as
criaturas, para me incitar a amar o meu Deus! Como se doem e gemem, quando faço
violência à sua natureza, desviando-as do seu fim, empregando em ofender a
Deus, o que me é dado para ajudar-me a servi-Lo!
A vida é minha, ou a vida: sim, a vida, com todas as
suas vicissitudes, tristezas, alegrias, dias belos e dias sombrios, tribulações
e consolações. Diz a Sagrada Escritura que todas as coisas contribuem para o
bem daqueles que amam ao Senhor (Cf. Romanos. VIII, 28): sim, a vida, que o Filho
de Deus veio trazer à terra: Eu vim para
que tenham a vida; e tenham-na com abundância" (S. João. X, 10). E não é
Ele mesmo a vida?; ora, Jesus pertence-me: seu Pai deu-mo; Ele mesmo se deu, e
se dá, ainda, a mim todos os dias, na qualidade de pão vivo e princípio de
vida: "Eu sou o pão vivo que dá a
vida aos homens" (S. João, VI, 48 e 51).
A morte é minha, ou a morte. Caríssimos, é verdade que não posso evitá-la, mas posso pôr-me em estado, não só de não a temer, mas, também, de a desejar, como dizia São Paulo: "Tenho o desejo de estar desatado e estar com Cristo" (Filipenses, I, 23). Desde que o meu Salvador venceu a morte, só de mim depende fazê-la minha serva, e tirar dela, grande utilidade; posso constrangê-la a abrir-me as portas da prisão, e a introduzir-me no Céu.
Tudo é, pois, meu: o futuro, assim como o presente; o bem, que Deus me faz, é um penhor seguro do que me prepara.
A morte é minha, ou a morte. Caríssimos, é verdade que não posso evitá-la, mas posso pôr-me em estado, não só de não a temer, mas, também, de a desejar, como dizia São Paulo: "Tenho o desejo de estar desatado e estar com Cristo" (Filipenses, I, 23). Desde que o meu Salvador venceu a morte, só de mim depende fazê-la minha serva, e tirar dela, grande utilidade; posso constrangê-la a abrir-me as portas da prisão, e a introduzir-me no Céu.
Tudo é, pois, meu: o futuro, assim como o presente; o bem, que Deus me faz, é um penhor seguro do que me prepara.
2 - Sou de Jesus Cristo. - Sou de Jesus Cristo, como preço da
sua paixão e morte. Jesus fez a aquisição de todo o meu ser, entregando-se a si
mesmo por mim. Não sou de mim mesmo; como custei caro ao meu amável Redentor!
Pagando o meu resgate, e incorporando-me em si, pelo batismo, Jesus quis ter
mais uma inteligência, para contemplar a seu Pai adorável, mais uma vontade,
para O seguir com amor, mais um coração, para o amar, mais uma boca, para
cantar eternamente os seus louvores. Ser de Jesus Cristo é o meu título de
nobreza. Mas cumpre não esquecer que -
Nobreza, obriga. Para ser de Jesus Cristo, é necessário ter o seu Espírito: "Se alguém não tem o Espírito de
Cristo, este não é d'Ele" (Romanos VIII, 9).
Terminemos com Santo Ambrósio: "Os homens do mundo têm
tantos senhores como paixões. A luxúria vem, e diz: Sois meu, porque cobiçais
os prazeres da carne. A avareza vem, e diz: Sois meu; o ouro e a prata, que
possuís, são o preço da vossa liberdade. Vêm todos os vícios, e cada um diz:
Sois meu. Não pode ser inteiramente de Jesus Cristo, senão aquele que está
livre de todo o apego culpável, e mostra sempre, com o seu procedimento, que é
servo deste adorável Senhor".
Sou vosso, ó Jesus: isto explica os cuidados paternais da
vossa Providência a meu respeito e nisto fundo a esperança da minha salvação. E poderia eu perder-me nas vossas mãos? Não, Senhor; e, salvando-me, será um bem vosso que salvareis. Arrependo-me e espero vossa misericórdia, ó Jesus, por tantas e tantas vezes
que ousei dispor de mim, em detrimento dos vossos direitos mais incontestáveis:
usando do meu espírito, do meu coração, do meu corpo, da minha saúde, do meu
tempo, como se tudo isto me pertencesse; e que uso, meu Deus, fiz eu de tudo
isto? Mas, pela vossa graça, tomo a resolução de combater, energicamente, tudo
o que pode separar-me de Vós. Amém!
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