Leitura medita - Dia 14 de fevereiro
Diz a Sagrada Escritura: "A soberba é o princípio de
todo pecado" (Eclesiástico X, 15) e no versículo 7 diz também o Espírito
Santo: "A soberba é aborrecida por Deus e pelos homens". Santo
Agostinho dá esta razão: Este vício ataca a Deus mais direta e audazmente que
qualquer outro. Este vício capital é a negação dos atributos mais essenciais da
divindade. Como já tivemos ocasião de meditar, o pecado é uma rebelião contra
Deus: "Não servirei". Pois bem, esta rebelião vem da soberba. Na
verdade o homem peca levado por duas coisas: evitar algum desgosto, ou buscar
algum prazer. E, então, o pecador sempre se prefere a Deus. Para o soberbo Deus
não é já o Princípio e o Fim como diz o Espírito Santo no Apocalipse I, 17.
Para o pecador dominado pela soberba, Deus não é já o supremo Senhor de todas
as coisas. Com efeito ele se gloria de suas vantagens reais ou fictícias, como
se a si só as devesse. Debalde ouve São Paulo dizer: "Que tens tu que ,
que não recebestes? E, se recebestes, porque te glorias , como se não o tiveras recebido? (1 Cor. IV, 7). Um
soberbo, longe de referir a Deus e à honra de Deus o que é, o que diz e o que
faz: refere tudo à sua própria glória, e só quer louvor para si; e por isso
Deus não é já para ele o fim último, a
que tudo deve referi-se.
Um soberbo afeta independência, olha como próprios os bens
de que é apenas o depositário; e assim Deus não é já, para ele, o Senhor dos
senhores, a quem tudo pertence.
Grandíssimos são os males que nos causa o vício da soberba,
e, assim, temos razões particulares para a aborrecermos:
1 - PRIVAÇÃO DE
GRAÇAS: "Deus dá sua graça aos humildes e rejeito os soberbos" (1 Pedr. V, 5) . A oração é o canal ordinário por onde as
graças nos vêm. Deus é rico, mas para aqueles que o invocam. Um soberbo ora
pouco, e, pior, ora mal; como há de ele poder participar abundantemente dos
dons divinos?
O soberbo ora pouco porque nem sente necessidade de orar.
Enfatuado com o que é, ou com o que julga ser: que há de ele pedir? Além disto,
orar é confessar a sua miséria, é reconhecer a sua dependência, a sua fraqueza,
o seu nada diante de Deus, é humilhar-se; e não há coisa mais contrária às
inclinações do soberbo.
O soberbo ora mal porque o recolhimento de espírito é
indispensável para a boa oração;; mas, qual o meio de o obter, se a alma não
está tranquila? Buscar a tranquilidade em um coração soberbo, é buscar o
sossego no meio da tempestade.
2 - MERECIMENTOS PERDIDOS: Que fruto tirará o soberbo, por exemplo, das
orações e ações mais santas, como jejuns, esmolas, etc. se o orgulho é o seu motivo determinante. Os
fariseus faziam longas orações e rigorosos jejuns, pagavam o dízimo com
regularidade e levavam até ao escrúpulo a observância da lei; e todavia, Jesus
Cristo amaldiçoa-os. O soberbo lida e trabalha muito, e, no entanto, diante de
Deus é um servo inútil!
3 - RUÍNA DE TODAS AS VIRTUDES: A fé é o fundamento delas;
mas é na humildade que a fé se firma. Quererá um espírito presunçoso respeitar
a venerável obscuridade dos nossos mistérios? Bem sabemos como "se desvaneceram em seus pensamentos"
(Rom. I, 21). Ao menos, sem humildade, ninguém terá jamais aquela fé viva,
e aqueles dons do conselho e da sabedoria. Na verdade, nenhuma virtude é
possível com a soberba: nem a paciência, nem a mansidão, nem a abnegação , nem
a boa harmonia com os próximos. Se a caridade é um vínculo que une, a soberba é
o mais ativo de todos os dissolventes. É o que diz o Espírito Santo: "Entre os soberbos há sempre
contendas" (Prov. XIII, 10). A própria castidade não tem inimigo mais
temível: a soberba da carne quase sempre vai atrás da soberba do espírito. A
paixão da vanglória, é o fogo onde se acendem todas as paixões.
4 - CASTIGOS E
DESGRAÇAS: Deus diz: "Eu não darei a
outro a minha glória" (Isaías 42, 8). É por isso que Deus RESISTE aos
soberbos, porque estes procuram roubar a glória de Deus. Vejam, Deus não diz eu
lhes retiro a minha graça e proteção; muito mais do que isto: resiste-lhes,isto é, combate-os. E, como
entra no plano divino, que pelas coisas em que alguém peca, por essas seja
também atormentado, como diz o próprio Espírito Santo: "Para que soubessem que cada um é punido com o instrumento do
seu próprio pecado" (Sab. XI, 17): quanto mais ávido de glória é o
soberbo, mais oprimido será de humilhações. Quer ser exaltado, será humilhado.
Sempre algum Mardoqueu se encontra na passagem de um Aman, a transformar o seu
triunfo em desesperação.
Mas para estes casos ainda há misericórdia. Mais terríveis
são os castigos eternos. São Gregório tem uma frase que nos faz tremer: "A
soberba é o sinal mais evidente de reprovação". É óbvio também que esta
afirmação só é verdadeira para aqueles que são dominados por este vício, e não
querem e nem se esforçam por combatê-lo até o fim da vida.
Vício tão perigoso este, e no entanto, quão sujeitos estamos
a ele! Trazemos o seu germe ao nascer. Nenhum outro vício sabe melhor
dissimular-se, tomar até as aparências da virtude.
Esta paixão acha por toda a parte o seu alimento;
fortifica-se muitas vezes com aquilo que enfraquece as outras. Por exemplo: a
mortificação refreia a sensualidade; piedosos donativos destroem a avareza; um
trabalho regular doma a preguiça; mas tudo isto, se não houver cautela, pode
tornar-se em proveito da soberba. Ela até das suas próprias derrotas sabe tirar
partido. Por exemplo, tendes alcançado sobre ela alguma vitória? Vem
felicitar-vos por isto, e talvez tirar-vos os frutos dessa vitória.
A soberba ataca de preferência o que há de mais elevado na
ordem da graça e da santidade. Se adiantais na virtude, diz S. Euquério, é uma
razão para vos precatardes da vaidade. Por isso, que não fez o Salvador para
preservar deste vício até os seus Apóstolos e os seus ministros?
Mas, então, como devemos combater a soberba? Tudo é falso
neste vício; daí oponhamos-lhe a verdade. Reine a verdade nos nossos pensamentos
e afetos, e a vaidade não entrará no nosso espírito e coração. Conheçamos a
Deus, conheçamo-nos a nós mesmos; daremos a honra a quem é devida, e
desprezaremos o que é digno de desprezo. Estudemos o nosso corpo, o que ele é,
e o que será brevemente; a nossa inteligência e as suas trevas, a nossa
imaginação e os seus extravios, a nossa vontade e as suas más inclinações.
Consultemos a nossa consciência, as nossas quedas e os nossos perigos.
Meditemos nos opróbrios de Jesus Cristo, a loucura da nossa soberba, e,
principalmente, oremos.
JESUS, MANSO E
HUMILDE DE CORAÇÃO! FAZEI O MEU CORAÇÃO SEMELHANTE AO VOSSO!
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