O ESCÂNDALO DADO PELO SACERDOTE.
PECADO ENORME POR SUA NATUREZA
LEITURA MEDITADA - Dia 21 de fevereiro
"O que escandalizar um destes pequeninos, que crêem em mim, melhor
lhe fora que se lhe pendurassem ao pescoço a mó dum moinho, e que o lançassem
no fundo do mar" (S. Mateus XVIII, 6)
"É inevitável que venham escândalos, mas ai daquele homem pelo
qual vem o escândalo" (S. Mateus
XVIII, 7).
1 - O Sacerdote
escandaloso é o grande inimigo de Deus. - Ofende à Santíssima Trindade,
persegue-A, se assim posso exprimir-me, com uma impiedade que horroriza.
O Eterno Pai elegera-o, para fazer conhecer e honrar o seu
nome, para publicar e fazer observar a sua lei, para trazer à sua obediência as
almas desgarradas, e confirmar no seu amor as almas inconstantes, para lhe
preparar um povo de escolhidos, fazendo-o reinar sobre os corações; para isto o
prevenira com as bênçãos da sua graça, o enchera de seus benefícios. Este
Sacerdote tinha aceitado tão nobre missão, e prometido solenemente
consagrar-lhe toda a sua existência;
ora, se chega a escandalizar, que faz ele? Combate contra a causa de Deus que
prometeu defender. Longe de submeter ao Senhor os súditos fiéis; longe de
induzir os homens a respeitar o seu nome,
leva-os a blasfemá-lo; em lugar de o fazer reinar sobre os corações,
expulsa-o deles; em lugar de lhe preparar escolhidos, é para o inferno que os
recruta!
Deus Filho, Redentor das almas, confiava no Sacerdote, para
lhes aplicar os merecimentos da sua morte e do seu sangue. Para isto o
revestira de inefáveis poderes, e lhe pusera nas mãos todos os tesouros da sua
misericórdia; pois a essas almas, remidas por tão alto preço, não só as deixa
perder, mas ainda, à vista do seu Salvador, as fere, mata e precipita na eterna
condenação; aniquila para elas a obra da Redenção!
Deus Espírito Santo tomara-o para seu instrumento. Queria
servir-se dele, para combater o pecado, purificar as almas, e fazer delas outros
tantos templos onde morasse com o Eterno Pai e com o Filho: "Viremos
a ele e nele faremos morada" (S. João XIV, 23); e o Sacerdote escandaloso, em vez de auxiliar
estes misericordiosos desígnios, destrói-os; em vez de arruinar o império do
pecado, estende-o e consolida-o; em vez de purificar as almas, mancha-as; e
fecha para Deus esses templos espirituais de que era guarda, e abre-os para o
demônio! Não é isto fazer à Santíssima Trindade uma guerra cruel e pérfida?
2- O Sacerdote
escandaloso é inimigo das almas. - Constituindo-nos seus ministros, Deus
queria que cooperássemos para as salvar. Temos rigorosa obrigação; de guiá-los
e ampará-los; de levantá-los, se caem; e de empregar na sua santificação todos
os meios que foram postos à nossa disposição. Como cumpre o Sacerdote
escandaloso esta obrigação? Nós só temos acesso junto das almas, pela confiança
que lhes inspiramos; que confiança pode inspirar aquele que prega uma moral, e pratica
outra? Entre as palavras que dizem: "Não façais o que eu faço", e as ações que clamam: "Não
acrediteis o que eu digo", advinha-se o que impressionará mais fortemente
os espíritos, talvez já mal dispostos. Os corações corrompidos autorizam-se em
suas desordens com o exemplo daquele que devia reprimi-las. E as almas simples
não temerão perder-se, seguindo os maus exemplos do guia que Deus lhes deu. E
neste caso, onde parará a licença de costumes?
Quando à tendência que leva o homem a imitar tudo o que vê,
vem juntar-se o impulso das paixões: o mau exemplo é uma torrente, que rompe
todos os diques. Mas, se esta corrente se precipita dos mais altos montes, o
seu curso será ainda mais impetuoso, e os estragos mais extensos; a alteza da
nossa dignidade é a medida do mal causado com os nossos escândalos. O arbusto,
ao cair, a nada causa dano; mas o carvalho frondoso esmaga, na sua queda, tudo
o que encontra debaixo de si. Assim, o sal da terra tornou-se um princípio de
corrupção, para os que ele devia conservar na inocência; a luz do mundo, que
devia dirigir as almas nos caminhos da
virtude, mete-as nas alfurjas do vício; o Pastor de almas que devia defender o
seu rebanho, faz nele uma horrível carnificina.
3- O Sacerdote
escandaloso é o maior inimigo da Igreja. - Uma só queda no Santuário pode
ter consequências incalculáveis. O mundo, tão indulgente para si, é inexorável
para os ministros do Senhor. Ao mesmo tempo que desculpa os seus próprios
crimes, não perdoa aos Sacerdotes uma fraqueza. E muito longe de encobrir, com
o seu silêncio, os escândalos que neles vê, publica-os aos quatro ventos.
Fá-los correr de paróquia em paróquia, de diocese em diocese. Perpetua-os, e
dá-lhes uma espécie de imortalidade, bem lamentável. O mundo quereria que
durasse cem anos, e talvez até ao fim dos séculos, muitas almas pequem, se
pervertam e se condenem, em consequência de um pecado cometido por um sacerdote
escandaloso. A censura que faz cair sobre o seu mau proceder, recai
indiretamente sobre todos os membros do Clero. Imputa os mesmos vícios aos que
exercem as mesmas funções. Chega até a tratar como fábulas, as verdades mais
sagradas, só porque é testemunha da sua oposição com os costumes daquele que as
ensina. Se este Sacerdote, dizem, cresse o que prega, portar-se-ia assim? Eis,
pois, a honra do Clero manchada, o zelo dos bons Sacerdotes paralisado, a
piedade destruída, os sacramentos abandonados ou profanados, a fé quase extinta
em vastas regiões, milhares de almas perdidas em consequência dos escândalos
dados por um Sacerdote e um Pastor de almas. (...) "Vae homini illi!" Ai daquele homem por quem vier o
escândalo! Se, ó Deus, todo-poderoso, castigais de um modo tão terrível o
escândalo dado a um só dos vossos filhos, que suplício reservais àquele que
tiver escandalizado as multidões, e os povos?
E o escândalo pode
ser dado de de três maneiras diferentes: 1- De intenção e perversidade; 2- De tibieza e de negligência; 3- De
leviandade e de imprudência.
1º) Escândalo de
intenção e de perversidade. - O homem do Santuário, que leva o esquecimento
dos seus deveres até espalhar em volta de si um cheiro de morte, justifica de
sobra a máxima: Corruptio optimi pessima
= a corrupção do ótimo é péssima. Todavia, quando falamos do escândalo de
intenção, não afirmamos que alguém perca as almas, pelo gosto de as perder.
Este escândalo que é propriamente o de Satanás, só seria possível em um
sacerdote que atingisse o último grau de perversidade. Mas, sem chegarmos a
este ponto, sabe-se que certa palavra, certa ação, certo procedimento são
capazes de ferir a consciência do próximo; vêem-se as consequências funestas,
que de certo pecado podem resultar para a honra do Sacerdócio, e não se recua,
comete-se. Este desgraçado Sacerdote ilude-se a si, para pecar livremente;
abusa até da autoridade, do ascendente que lhe dá o seu estado, para abalar uma
virtude, de que ele devia ser o amparo. (...)
2º) Escândalo de
tibieza e negligência. - Este inspira menos horror que o primeiro; mas as
consequências podem ser também deploráveis. Ai! e quão comum é ele! Se os
costumes de um sacerdote não são um modelo, tornam-se um perigo; se não ensina
a piedade com sua vida, inspira, autoriza, multiplica o vício. A vida do
Sacerdote deve ser a censura não só das desordens públicas, mas ainda das
falsas virtudes, que o mundo desejaria substituir às virtudes evangélicas. A
sua separação de tudo o que é profano; sua modéstia, sua santidade devem
recordar incessantemente aos seculares: que os verdadeiros cristãos são homens
mortos para si mesmos, cuja vida está escondida com Jesus Cristo em Deus. Já
conhecemos as exigências do mundo em matéria de santidade sacerdotal. Quer que
o ministro de Deus seja um Anjo, isento de todo o defeito, adornado de todas as
virtudes; se vê qualquer coisa de menos, admira-se, escandaliza-se. Se há
exageração nas suas ideias neste ponto, esclareçamos os juízos do mundo, mas
não os desprezemos. Relações com os seculares, funções desprezadas ou mal
exercidas. Oh! quão numerosas são as ocasiões de escândalo, para um homem do
Santuário, par um pastor de almas!
3º) Escândalo de
leviandade e de imprudência. É uma
grande vitória para o inimigo das almas, se pode servir-se, para as perder,
daqueles mesmos que Deus elegera para as salvar. Pouco lhe importa o modo como
o auxiliam os ministros do Senhor; a leviandade e a imprudência servem-lhe
quase tão eficazmente como o crime. Na realidade, a falta de prudência e de circunspeção
nunca é inocente em um homem encarregado de interesses tão graves, e obrigado,
por tantas leis, a uma vida que deve ser a mais séria e refletida. A um
Sacerdote não se lhe admite, tão facilmente como a qualquer pessoa, a desculpa
de que não pensava nisso; pois ninguém, tanto como ele, deve considerar
atentamente o que diz e faz, quando, e em presença de quem o diz e o faz. Não
basta que seja santo, é necessário que o mostre, e o mostre em tudo. Uma
pergunta, uma palavra indiscreta, um gracejo, uma leviandade, em passo
inconsiderado, têm sido muitas vezes semente de escândalo, desgraçadamente
muito fecunda. Quantos eclesiásticos, em seu trato com o mundo, em suas
viagens, mesmo no interior de sua casa, no meio das crianças e sobretudo no
meio de pessoas de outro sexo etc. porque desprezam precauções que a
malignidade tornou indispensáveis dão lugar a suspeitas, que ofendem a honra do
Clero, e vêm a ser ocasião de ruína para as almas. (O artigo são excertos das "MEDITAÇÕES SACERDOTAIS" de autoria do R. P. Chaignon, S J.).
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