O PECADO EM GERAL,
CONSIDERADO COM RELAÇÃO A DEUS
"Não estejas sem temor nem mesmo dos pecados que te foram
perdoados" (
A gravidade de uma culpa mede-se pela dignidade da pessoa
ofendida. Ora o pecado ofende a Deus que é de uma dignidade infinita. Logo, não
podemos compreender toda a gravidade do pecado. Daí dizer o Espírito Santo nas
Sagradas Escrituras: "Quem pode compreender o pecado? "Peccata quis intelligit? Mas devemos
meditar na gravidade do pecado, para chegarmos até onde for possível. É evidente
que a meditação da Paixão e Morte de Jesus Cristo na Cruz é o meio mais próprio
para vermos a malícia do pecado. Jesus tomou sobre si os nossos pecados, e os
lavou no seu Sangue. O Pai Eterno pôs o seu Filho como demonstração de sua
Justiça. Deus, se Deus quiser, faremos também estas meditações. Nossas
meditações vão num crescendo: primeiro refletimos sobre os pecados dos Anjos,
depois de nossos primeiros Pais, agora, vamos meditar em nossos próprios pecados, considerando-o com relação
a Deus. Em outra meditação considerá-lo-emos em relação ao pecador.
A advertência do Divino Espírito Santo acima enunciada nos
ajuda a compreender melhor a gravidade do pecado. Porque é que os cristãos do
mundo depois de algumas lágrimas, derramadas por grandes pecados, e depois de
uma pequena penitência, muitas vezes mais aparente que real, se julgam
inteiramente pagos para com a justiça do Supremo Senhor? É porque se persuadem
que o pecado é mais um esquecimento do que uma ofensa de Deus; ou julgam talvez
que Deus não é sensível a esta ofensa porque a sua suprema Majestade o põe
infinitamente acima dos nossos ultrajes. A estes dois erros oponhamos duas
verdades: 1 - O pecado faz a Deus a maior injúria; 2 - O pecado faz a Deus a
injúria que mais sente. Vamos meditar baseando-nos sempre na palavra de Deus.
Nada mais seguro!
1 - O pecado faz a
Deus a maior injúria. - Ouçamos, então, a queixa do próprio Senhor Supremo:
"Quebraste o meu jugo, povo infiel,
rompeste os laços que te prendiam ao teu benfeitor, ao teu Pai, e disseste: Não
servirei" (Jeremias II 20). Eis o pecado com seus caracteres mais
odiosos: revolta, desprezo, ingratidão. 1º - Revolta: contra a autoridade mais sagrada. Deus dá as
suas ordens, faz conhecer a sua vontade. É o mesmo Deus que deu a sua Lei no monte
Sinai. Promulga-a também no interior das consciências: É o Criador, o Senhor, o
Pai, o Salvador, o melhor amigo que quer um penhor do nosso amor. E o pecador
responde com suas obras: não vos servirei, só obedecerei a meus apetites. Que
audácia! que injustiça! que impiedade! que desprezo! que ingratidão!
É uma audácia
insolente: pois um homem não receia medir-se com o Todo-Poderoso: "Porque
estendeu sua mão contra Deus, e se fez
forte contra o Onipotente" (Jó XV, 25).
É uma injustiça
clamorosa: quantos direitos desconhecidos! Esquecemos que todo poder vem de
Deus, e que, na verdade, Ele é o nosso único Senhor: "Há um só Deus e Pai
de todos, que está acima de todos".
É uma impiedade
sacrílega: o pecador desejaria destruir a Deus, e dar-lhe a morte, se pudesse.
2º - O pecado é o desprezo da mais augusta de todas as majestades, da
única adorável: "Ouvi, ó
céus, e tu, ó terra, escuta, porque o Senhor é quem falou. Criei filhos [diz
Ele] e engrandeci-os, porém eles desprezaram-me." (Isaías I, 2). Desprezar
a Deus! Fazer pouco caso d'Aquele que é o princípio de toda a excelência e
perfeição! A amizade de Deus, a posse de Deus, eis o tesouro que se tratava de
conservar. O pecador compara o que Deus vale com o que pode valer o prazer
momentâneo. E prefere o aviltamento e o castigo, à honra e ao Céu com a posse
eterna de Deus.
É uma ingratidão
para com o mais generoso de todos os benfeitores. Jesus dizia aos judeus: Tenho feito no meio de vós um grande número
de boas obras... por qual delas me apedrejais?Deus pode dizer o mesmo a
todo pecador. Deus deu-me tudo; e o pecador usa de tudo contra seu benfeitor!
Para possuir o meu coração e todos os meus afetos, poderia Deus fazer mais do
que fez?
2 - Deus sente
infinitamente a injúria que recebe do pecador. - Todo o ensino da religião
tem por fundamento o ódio que Deus tem ao pecado. Com que indignação o castiga
onde quer que o vê, como já meditamos anteriormente: nos Anjos, em Adão e na
sua posteridade. Mas a maior demonstração
da Justiça divina contra o pecado é feita pelo Pai que envia seu Filho
ao mundo para sofrer o morrer numa cruz. Aproximemos estes dois extremos, o
Calvário e o inferno: um Deus morrendo pelo pecador, e o pecador por não ter
aceito a misericórdia de Deus é condenado eternamente. Que é, pois, o pecado,
que gera tanto ódio n'Aquele Coração divino, em que havia tanto amor?
Mas, ó pecador, por enormes que sejam os vossos pecados,
eles serão esquecidos, se, com um sincero arrependimento, pedirdes o perdão
deles em nome das Chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém!
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