LEITURA MEDITADA - Dia 19 de fevereiro
O preço do tempo mede-se pelo que ele custou e pelos bens
que pode alcançar. Perguntemos ao Calvário o que valem os dias e as horas, cuja
perda tantas pessoas se não lembram de lamentar. O tempo não somente é uma
graça; é a primeira , a mais necessária de todas as graças; é o fundamento em
que assentam todas as graças. Por conseguinte, se não recebemos nenhuma graça
que não nos represente um opróbrio de Jesus Cristo e uma gota do seu Sangue, quanto não devemos
estimar o tempo, se cada momento seu nos traz uma graça? Enquanto é tempo (e
não entrei ainda na eternidade), tenho a graça da oração, e com ela posso obter
todas as outras. Enquanto tenho vida, isto é, tempo, posso fazer uma confissão
bem feita e recuperar o tempo perdido no pecado. Se perco os momentos da
misericórdia perdendo tempo, máxime, se no pecado, estarei pisando o Sangue de
Nosso Senhor Jesus Cristo ao invés de me banhar nele. A misericórdia é fruto da
Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo; mas só é distribuída no tempo.
Depois da morte serei julgado pela Justiça divina e darei contas a Deus até por
uma palavra inútil, por ser perda de tempo, e, por conseguinte, desprezo da
misericórdia.
A glória de Deus e a salvação, são os dois frutos do tempo
bem empregado. E sob o ponto de vista da salvação, o tempo não é apreciado
senão no Céu e no inferno. Qual é esse bem, que pode alcançar-me o bem supremo,
e cuja perda traz a irreparável desgraça da condenação?
O vício capital da preguiça é uma das causas da perda de
tempo. É a ociosidade, ou seja, o não fazer nada. Dizia um santo que, enquanto
tem um demônio tentando uma pessoa ocupada em algum trabalho honesto tem muitos
tentando uma pessoa desocupada. Assim, se perco o tempo, sem escrúpulos.
entrego-me a todas as tentações, e a minha vida não é mais que uma desordem
contínua. Diz a Sagrada Escritura: "A
ociosidade ensina todos os vícios(=toda malícia) (Ecli. 33, 29). O demônio
já não tem quase nada que fazer, para lançar nas mais vergonhosas desordens,
àquele que está enervado pela moleza, e cuja alma está aberta a todas as más
impressões. Davi, Salomão, Sansão foram homens santos enquanto estiveram
ocupados e caíram quando estiveram ociosos. A água do regato é pura, enquanto
corre ligeiramente pelo declive da colina; chegando à planície, apenas se detém
estagnada, de límpida, torna-se paludosa, impura. Se remexeis, vereis inúmeros
vermes. Assim acontece com o coração do ocioso.
Uma boa ocupação, podemos dizer, é o escudo do coração e a ociosidade é uma cantina de vícios. A
vigilância e o fervor são, no entanto, meios de reparar o tempo perdido, tanto
quanto pode ser reparado.
Infelizmente é muito comum a perda de tempo. Perde-se tempo
de quatro maneiras como veremos a seguir: 1 - Já falamos um pouco sobre a ociosidade. É o
doce (diria, amargo), não fazer nada! E veja que só isto já é suficiente para
perder uma pessoa. Se me conservo inerte deixo de cumprir com o fim da minha
existência, que é glorificar a Deus, servindo-O; torno-me servo inútil que é
condenado, figueira estéril que é cortada e lançada ao fogo. De que me servirá
não ser condenado pelo mal que fiz, se o sou pelo bem que devia fazer?
2 - Perde-se o tempo praticando
o mal, pecando. Quando peco, converto os dons de Deus em armas contra Ele,
empregando em ofendê-Lo o que devia empregar em servi-Lo. Caríssimos, eis um
ponto de mui séria reflexão! Dado o último suspiro, acabado o último segundo de
tempo, entrarei na eternidade, estarei diante do Juiz Supremo. Dir-me-á dá
conta de tua administração. Que responderei, quando me recordar tantos momentos
que trouxeram a possibilidade de tantos benefícios, e só retribui com
ingratidão.
3 - Perde-se o tempo, não
fazendo o que se deve fazer: Na verdade, todo o tempo que não empregamos no
serviço de Deus, é tempo perdido, façamos seja o que for. Deus quer que façamos
a Sua vontade, cumprindo os mandamentos e também os deveres de estado. Pode
acontecer até que alguém esteja perdendo o tempo e, portanto desagradando a
Deus, ao estar fazendo uma coisa boa, mas com prejuízo do dever de estado. Por ex. uma mulher decide passar a manhã toda
rezando na Igreja e deixa de cuidar de seus filhos e de fazer o almaço para seu
esposo.
4 - Perde-se o tempo ainda, fazendo o que Deus quer, mas não se faz como Ele quer. Manda-nos o
Senhor fazer o bem, e fazê-lo bem. A tibieza e a falta de reta intenção podem
contaminar as obras mais excelentes em si mesmas.
Portanto, caríssimos, procuremos regular o tempo. Esse ponto
é importante. E recordemos sempre que a
nossa vida é breve. O momento presente é o único que possuímos. "A
lembrança do passado, dizia Saint-Beuve, rouba-nos metade do presente, e o
cuidado do futuro rouba-nos a outra metade. Devemos ter muito cuidado em viver
na graça de Deus, ou seja sem pecado mortal, e em purificar e aperfeiçoar
nossas intenções. Fazer a oferta generosa de todo o nosso ser, logo de manhã, e
um exame de consciência no fim do dia.
Quem tempo não espere tempo;
É forçoso do meu tempo já dar conta.
Mas como dar, sem tempo, tanta conta,
Eu que gastei, sem conta, tanto tempo?
Para ter minha conta feita a tempo,
Dado me foi tanto tempo, e não fiz conta.
Não quis, sobrando o tempo, fazer conta;
Quero hoje fazer conta e falta tempo.
Ah! vós, que tendes tempo, sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo.
Cuidai, enquanto é tempo, em fazer conta.
Mas ah! se os que contam com seu tempo
Fizessem desse tempo alguma conta,
Não choravam como eu, em não ter tempo.
Ignotus....
Nenhum comentário:
Postar um comentário