LEITURA MEDITADA - Dia 25 de fevereiro
"Aproximam-se d'Ele os publicanos e os pecadores para O ouvir. Os
fariseus e os escribas murmuravam, dizendo: Este recebe os pecadores e come com
eles" (S. Lucas XV, 1 e 2).
Nosso Senhor Jesus Cristo mostra com três parábolas, a da
ovelha tresmalhada, a da dracma perdida e a do filho pródigo, que assim agia
porque a misericórdia de Deus é infinita. E Deus é infinitamente misericordioso
porque conhece a fundo a nossa miséria. Como a meditação destas parábolas é
confortadora para os pecadores arrependidos!!!
O Nosso Pai do céu espera o pecador com
paciência, busca-o com solicitude e recebe-o quando arrependido, com grande
alegria.
É bom ler todas estas três parábolas. Encontram-se no Evangelho
de São Lucas XV, 1-32. Quanto a parábola
do filho pródigo há três partes distintas: a partida, os desmandos e a volta do
filho pródigo. Vamos meditar aqui apenas a terceira parte.
A primeira operação da graça na conversão do pecador, é
pôr-lhe à vista os seus pecados. Ela descobre-lhe o profundo abismo em que
caiu, e inspira-lhe o desejo de sair dele. O filho pródigo entra em si. Faz, digamos assim, um exame de consciência. Ai!
andava fora de si, havia muito tempo; até onde o tinham arrastado as suas
paixões! Entra em si. Uma luz viva lhe dissipa as trevas; a ilusão cessa. Vê as
coisas como são; já não exagera o valor dos gozos criminosos que tanto desejou.
"Onde estou, diz ele consigo mesmo, e que fiz eu? Que significam estes
vestidos esfarrapados, esta ocupação, esta fome? Que foi feito das minhas
riquezas, da minha liberdade, da minha consciência, da minha honra? Casa
paterna, não te tornarei a ver jamais? Quão longe estão de mim esses belos
dias, em que, nada tendo a exprobrar-me, nada tinha a temer! Agora, a minha
companhia são animais imundos; a mais dura escravidão, eis o meu estado; viver
na miséria, eis a minha triste sorte. Quanto invejo a vossa sorte, ó servos de
meu pai! A sua bondade previne os vossos pedidos, tendes em sua casa a
abundância e eu, seu filho, morro aqui de fome.
A graça prepara assim a conversão de uma alma extraviada;
esclarece-a, ilumina-a. Ao pecador diz o Espírito Santo: "Pobre filho,
onde estás", como Deus perguntou a Adão logo que este pecou e procurou se
esconder envergonhado: "Adão, onde estás, que fizeste?" Deus derrama
uma luz penetrante na sua alma; força-o a lembrar-se do estado de graça, do dia
feliz da primeira comunhão. Então ele era tão feliz! Que doce paraíso estar com
Jesus! Ah! que mudança terrível! Dantes, vencedor do
demônio; hoje, seu mais desgraçado escravo. Antes alimentava-se com a própria
Carne de Jesus pela comunhão. O pecador,
cheio de amargura, atormentado pelos remorsos, pode dizer como o filho pródigo:
"Quantos diaristas há na casa de meu pai, que têm pão em abundância e eu
aqui morro de fome!" Quantos conhecidos e parentes têm a consciência em
paz, gozam santamente com as práticas religiosas, principalmente com a sagrada
comunhão, nada lhes falta na casa de Deus; e eu, pereço de fome!
Para fazermos estas reflexões, tínhamos deixado o filho
pródigo sentado debaixo de uma árvore, cabeça baixa, derramando lágrimas, na
companhia imunda dos porcos. Agora, voltemos a ele novamente. Envergonhado do
passado, receoso do futuro, enche-se de generosidade, e decide-se reparar seus
erros. Seu coração está contrito e humilhado! Diz: "Levantar-me-ei, irei
ter com meu pai, e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou
digno de ser chamado teu filho. trata-me como um dos teus diaristas". E não perdeu tempo! Foi generoso! "E
levantando-se foi para seu pai".
Aqui façamos também algumas reflexões: Eis o modelo do
pecador penitente. Em vez de se entregar a um louco desalento, tem confiança;
mas a sua confiança em nada diminui a sua humildade. "Levantar-me-ei". Se é vergonhoso cair, é honroso
levantar-se. Mas aonde ireis, pobre rapaz? Quem quererá interessar-se pela
vossa sorte? - "Irei para meu pai"; enquanto me restar um pai, cuja
ternura me é conhecida, resta-me um recurso seguro. É verdade que levei muito
longe a minha ingratidão para com ele; mas se eu fui um filho desnaturado, ele
é sempre bom pai. - E que lhe direis vós? - "Dir-lhe-ei:
Pai, esta só palavra comoverá seu coração. Se os soluços me impedirem de
falar, as minhas lágrimas lhe falarão por mim; mas, se eu puder dominar a minha
emoção confessar-lhe-ei todos os meus crimes. Dir-lhe-ei: Pequei contra o Céu,
testemunha das minhas desordens; mas pequei também contra vós, o melhor dos
pais!
"Já não sou digno
de ser chamado teu filho". O filho fez justiça à bondade de seu pai,
esperando que lhe perdoasse; e faz justiça a si mesmo, humilhando-se. Não
reclama as prerrogativas de filho, é indigno delas; basta-lhe ser admitido no
número dos criados: 'Trata-me como a um
dos teus diaristas". Finalmente não se limita a vãos desejos: o que
resolveu, executa-o, e sem demora. Disse: Levantar-me-ei
e já está em pé; irei buscar a meu
pai, e já deixou o vil rebanho, e se dirige para a casa paterna.
Quem esqueceu o seu destino eterno como filho de Deus, imite
este modelo. Humilhe-se primeiramente; a humildade aproximá-lo-á de Deus,
quanto a soberba o afastou d'Ele. A verdadeira penitência gera o desprezo de
si. Deus não resiste aos seus atrativos: Deus
se inclina para o homem humilde. Se o pecador se humilhar na sua presença,
deve contar com a misericórdia divina. Quanto mais indigno for de tão bom pai,
tanto mais excitará a sua compaixão. Perdoará o seu pecado, precisamente porque
é grande: "Por causa de teu nome,
Senhor, me hás de perdoar o meu pecado, porque é grande" (Salmo XXIV, 11).
Caríssimos, Deus, Nosso Senhor e Pai, quis mostrar-nos o seu
próprio coração na terceira parte desta parábola, assim como nas duas primeiras
nos mostrou o nosso. Teria o bom pai esquecido o seu filho? Não absolutamente!
Pelo contrário, pensava nele incessantemente. Como o reconheceu logo, quando o
viu no triste estado, a que o haviam reduzido o crime e a miséria? Como não se
indignou ao dar com os olhos nele? Como pôde esquecer tão depressa todas as
suas desordens, para só se lembrar da sua desgraça? São segredos do amor
paternal. "Quando ele ainda estava
longe, seu pai viu-o, ficou movido de misericórdia". Oh! que belo
espetáculo tenho aqui para contemplar! O pai não espera por seu filho: corre
para ele, abraça-o, beija-o, cobre-o de carícias. Este acolhimento tão terno e
tão pouco merecido aumenta o arrependimento do culpado. Quer fazer a humilde
confissão do seu pecado; mas o pai interrompe-o, e diz aos criados: "Ide buscar o melhor vestido para meu
filho; metei-lhe um anel no dedo, e sapatos nos pés; preparai um festim,
regalemo-nos; e todos os que me querem bem, tomem parte na minha alegria: meu
filho estava morto, e reviveu; tinha-o perdido, e achei-o".
Pecador arrependido, não temas as exprobrações de Deus, que
desejava tanto a tua conversão; restituir-te-á a sua amizade, e com ela todos
os vossos direitos, todos os bens que tínheis perdido, ofendendo-O.
O filho mais velho, voltando do campo, queixa-se, e
indigna-se. Não, ó vós sempre fiéis pela graça, não sejais invejosos. Ninguém
vos tira o que tendes: os vossos direitos, os vossos merecimentos, o amor do
vosso Deus. Vosso irmão, de escravo torna-se rei, mas sem vos destronar a vós;
enriquece-se, mas vós nada perdeis. Convinha que houvesse alegria, porque o
vosso irmão era morto, e reviveu. A conversão de um pecador é motivo de alegria até para
os Anjos do Céu! Amém!
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